Ascensão e morte do capitalismo extractivista
por James Petras e Henry Veltmeyer
Proposição geral: A reprimarização da economia
(ReprE) envolve uma comutação da industrialização
por substituição diversificada de importações para
a dependência agravada das exportações agro-minerais.
A ReprE é especialmente evidente e adoptada por regimes de
centro-esquerda (RCE) resultantes de movimentos populares que derrubaram
regimes neoliberais.
A ReprE é promovida sob as bandeiras do anti-neoliberalismo e até
do anti-imperialismo, mesmo quando os RCE assinam contratos a longo prazo e em
grande escala com uma vasta gama de multinacionais que se tornaram os actores
económicos principais nas suas estratégias de crescimento.
A política da ReprE é uma adaptação
pragmática a várias circunstâncias internas e externas: A
incapacidade ou as dificuldade de sectores privados e estatais para
desenvolverem uma economia nacional industrializada de alta tecnologia e as
oportunidades, altos preços e exploração relativamente
lucrativa de mercados internacionais na Ásia através de parcerias
com multinacionais.
Ao confiarem no capitalismo extractivista os regimes de centro-esquerda
transformam-se em complexos estados rentistas que arrecadam royalties,
"rendas", com a exportação de matérias-primas.
Os ciclos de mercadorias do passado são substituídos por
"mega ciclos", pois preços favoráveis ao longo de uma
década substituem a flutuação de preço anual. A
entrada constante de receitas leva a orçamentos estáveis e
financia importações sem orçamentos e défices
comerciais súbitos e abruptos (e problemas de balança de
pagamentos).
A acumulação de reservas estrangeiras, disciplina
orçamental, responsabilidade fiscal apertada essencialmente
políticas fiscais de estado ortodoxas assegura entradas de
capital e a valorização da divisa local. A
valorização da divisa mais uma vez acentua a ReprE pois os
produtos industriais perdem competitividade de preço devido aos altos
custos de produção.
A ReprE paradoxalmente torna-se parte de uma síndrome de
estabilização na economia mundial. O crescimento estável e
a longo prazo, uma divisa estável, finanças estáveis,
contas externas estáveis, orçamentos estáveis, relativa
estabilidade social e política e reeleição ou continuidade
dos responsáveis executivos (presidentes) são
características essenciais desta síndrome.
Em contraste com a UE e os EUA, a ReprE latino-americana não enfrenta
crises ficais, financeiras e de balança de pagamentos ... nem tão
pouco o nível de inquietação social que se acha no Sul da
Europa.
O resultado divergente entre os EUA/UE e a América Latina decorre de
diferenças nos regimes de desregulamentação: os primeiros
desregulamentarem o sector financeiro prejudicando os sectores produtivos
através da criação de economias hiper-financeiras sujeitas
a grave manipulação de mercado por parte de especuladores. Os
últimos desregulamentaram o sector extractivo em resposta à
ascensão da procura asiática pelos seus produtos, levando a
investimentos em grande escala e a longo prazo, crescimento firme e retornos
lucrativos.
A justaposição da ideologia anti-imperialista e da ReprE levou a
uma polarização dual: por um lado entre os "regimes de
centro-esquerda" e o establishment de Washington e por outro entre
coligações público-privadas extractivistas e as
comunidades eco-indígenas.
Durante a maior parte da última década, os regimes extractivistas
de centro-esquerda (RECE) dependentes de exportações
primárias obtiveram os melhores resultados do conflito tanto com os seus
adversários externos como internos.
Devido à diversificação dos seus mercados, aos
preços sistematicamente elevados para as suas exportações
e a contratos renegociados com as multinacionais que aumentam receitas do
estado, os RECE resistiram com êxito à pressão
económica dos EUA e evitaram depender do FMI. Como têm
balanças comerciais excedentárias e muitas reservas estrangeiras
não têm necessidade de empréstimos para a balança de
pagamentos e formaram alianças regionais latino-americanas (ALBA) que
proporcionam um certo grau de segurança em relação
à intervenção dos EUA.
Devido às suas receitas substanciais e ao crescimento razoavelmente alto
e estável, os RECE têm sido capazes de financiar programas de
pobreza, conceder concessões salariais, expandir despesas sociais e
cooptar sectores da liderança dos sindicatos e movimentos sociais.
Aproveitando a sua retórica anti-imperialista, apelos populistas e
organização eleitoral clientelista, os RECE reiteradamente e
decisivamente repeliram desafios da direita tradicional pró EUA e
isolaram e marginalizaram desafios eleitorais dos movimentos sociais
eco-indígenas e da esquerda radical.
Perfil e desempenho dos RECE
Os RECE presidiram mais de uma década de crescimento constante no PNB
oscilando entre 3 e 8 por cento. O crescimento no sector extractivo, tanto em
termos de investimento, comércio, receitas, produção por
vezes excedeu os dois dígitos. Novos investimentos de longo prazo em
grande escala estão em vias de serem realizados e há poucos
sinais de que o mega ciclo esteja chegar a um fim.
Não é tudo um mar de rosas: protestos de camponeses indianos
levaram a algum bloqueio e mesmo cancelamentos de acordos mineiros e greves em
minas levaram a alguma redução temporária da
produção. O prognóstico para o futuro imediato é de
uma continuação da passada década de crescimento,
mudanças incrementais e dependência continuada do sector
extractivo como força motriz do crescimento.
Contudo, o perfil político e económico apresenta algumas
vulnerabilidades profundas no médio prazo, especialmente devido ao
declínio da diversidade económica e da alta dependência de
mercados para bens primários. Além disso, a maior parte dos
regimes RECE é baseada sobre líderes em exercício
altamente personalistas, cujo papel é limitado e cujo carisma
proporciona a "cola" que mantém juntos os elementos
contraditórios multinacionais e classes populares.
Vulnerabilidades dos RECE
Apesar dos êxitos macroeconómicos e eleitorais dos RECE, a
estratégia de desenvolvimento está sujeita a um certo
número de vulnerabilidades que são prejudiciais à grande
maioria da população trabalhadora e ameaça a
sustentabilidade do modelo.
Prosseguiremos listando os indicadores chave de desempenho em modo
telegráfico acompanhados por um breve comentário.
Indicadores económicos
Produtos primários são uma percentagem crescente dos rendimentos
de exportação da América Latina, especialmente entre os
RECE. Isto é uma causa e consequência do declínio da
actividade industrial e o resultado de uma estratégia deliberada de
regime. Historicamente, a dependência de exportações de
mercadorias primárias levou a grande volatilidade na economia, a uma
estrutura de classe altamente polarizada e ao domínio oligárquico.
A concentração nas exportações de produtos
primários tem sido acompanhada pela crescente concentração
da propriedade, especialmente do capital estrangeiro no sector extractivo
muitas vezes em associação com tecnocratas do sector
público com estreitos laços passado e provavelmente futuros com o
sector privado. Um conjunto paralelo de lucrativas consultorias satélite
emerge juntamente com estabelecimentos de investimento voltados para
negociações, fusões e aquisições, para
ampliar o âmbito de operações de
joint ventures.
A concentração de propriedade está estreitamente
correlacionada com o crescimento de mega milionários e a
concentração de riqueza. Firmas privadas capitalistas nacionais e
bancárias aderem à parceria e beneficiam-se servindo as firmas
extractivas estatais-multinacionais. As multinacionais, tecnocratas, casas de
investimento, consultores e banqueiros tornam-se a nova classe dirigente dos
RECE.
Os pagamentos de royalties e impostos estão longe do óptimo mesmo
que alguns dos contratos passados tenham sido renegociados para aumentar
pagamentos para o país "hospedeiro". "Incentivos
invisíveis", cláusulas de depreciação,
pagamentos por transferência, superfacturação de encargos
operacionais, salários exorbitantes, permitem às multinacionais
reduzir pagamentos de royalties e impostos sobre lucros, embora nominalmente as
taxas tenham aumentando, privando os tesouros locais de receitas.
Lucros é o nome do jogo que torna as commodities primárias um
negócio atraente. Multinacionais dedicadas a indústrias
extractivas têm conseguido lucros agregados recordes ao longo da
década em múltiplos pontos da cadeia produtiva: primeiro na venda
de matérias-primas, depois no seu marketing e processamento, bem como na
venda inicial de inputs (maquinaria, produtos químicos, etc). A fatia
multinacional do preço final de uma matéria-prima processada
excede de longe o retorno para o "país fonte".
Os lucros são, no melhor dos casos, só parcialmente reinvestidos
no sítio da exploração de bens primários. O grosso
dos lucros é exportado de volta para a matriz e tomado como
salários executivos, bónus, dividendos ou reinvestido em sectores
diversos, em sítios além-mar, com um efeito multiplicador
mínimo no país hospedeiro. Uma fracção diminuta dos
lucros é investida na melhoria da qualificação local, na
tecnologia e na diversificação da economia do país
exportadores da
commodity
com acréscimo de valor à matéria-prima.
A percentagem de matérias-primas processadas localmente como bens
acabado, com alto conteúdo de valor, é mínima. A maior
parte das multinacionais e dos seus parceiros estatais tomam o "caminho
fácil" burocrático-rentista da exploração da
matéria-prima e, no melhor dos casos, refinação e
fundição, acrescentando pouco valor. Em consequência os
empregos de alto valor são criado no mercado interno da multinacionais
ao passo que o sítio dinâmico da exploração das
matérias-primas permanece um enclave privilegiado em meio à
pobreza e ao subdesenvolvimento económico. A
especialização em matérias-primas leva a um padrão
de desenvolvimento extremamente desigual entre o enclave e o resto da economia
e da sociedade. Isto por sua vez cria uma estrutura de classe geograficamente e
socialmente polarizada na qual blocos multi-classes de base regional competem e
entram em conflito para a obtenção das riquezas e receitas
acumuladas pelo estado. O papel do estado como "mediador" ou
redistribuidor entre o enclave rico em recursos e o resto da economia social
é comprometido pelos seus laços e contratos com as multinacionais
e os interesses de classe e de "carreira" de tecnocratas com uma
biografia de ligações com o capital internacional.
Se bem que exportações de produtos primários,
especialmente numa era de preços elevados, geralmente crie uma
balança de pagamentos favorável, no entanto o facto de que a
maior parte dos bens de capital e intermediários e serviços
profissionais e de tecnologia serem comprados de fabricantes estrangeiros,
banqueiros e consultores resulta na infiltração em grande escala
dos rendimentos para além-mar e na reprodução do atraso
tecnológico interno. Os fertilizantes, produtos químicos,
maquinaria agrícola, sementes e sistemas de irrigação,
treino de agrónomos e especialistas locais produzidos pelos RECE para
proporcionar perícia técnica e dirigir programas de
extensão criariam uma economia competitiva de classe mundial com
capacidade para diminuir a sua dependência de financiamento externo e
decisões externas com poder para alterar os sítios de
investimento e produção.
Indicadores sociais e capitalismo extractivista
Apesar de a maior parte dos regimes de capital extractivo prestarem homenagens
verbais a "transferir os rendimentos" para programas sociais, na
melhor das hipóteses a maior parte destes regimes só empenha em
aumentos incrementais de gastos sociais destinados a "bolsões de
pobreza extrema" e subsídios de sobrevivência. Com a
excepção da Venezuela, poucos programas abrangentes a longo prazo
e em grande escala são concebidos e financiados a fim de proporcionar
emprego bem remunerado, cuidados de saúde e educação
universais e gratuitos, pensões que cheguem para viver, alimentos a
baixo custo e subsídios de habitação. Ao invés
disso o gasto social é destinado a criar programas de pobreza
clientelistas que servem estreitos interesses eleitorais ao invés de
criar uma cidadania saudável, educada e participante. A imagem de um
camponês pobre sentado sobre uma montanha de metais preciosos
mantém relevância na maior parte das economias extractivistas.
A prática comum dos regimes extractivistas é concentrar
rendimento, receitas, despesas e altos salários nas cidades capital. Em
contraste, as economias e regiões locais da exploração
extractivas recebem uma proporção infinitamente pequena de
investimentos do estado em infraestruturas sociais e económicas.
Estradas e transportes são instalados para ligar os sítios de
exploração ao seu destino além-mar, na forma dos raios de
uma roda. A alternativa de um padrão "grelha" ligaria os
sítios de exploração com o mercado interno, cidades e
aldeias do interior, assim como a fábricas a produzirem inputs interno e
processamento de matérias-primas.
Apesar de o Estado e as multinacionais mencionarem os salários
relativamente elevados que se acumulam para assalariados no sector extractivo
em comparação com os trabalhadores de fora do enclave, a
comparação mais relevante são os rácios
trabalho/lucro dentro do enclave, o rácio dos rendimentos em
relação à produtividade e ao valor gerado e o rácio
de salários, bónus e pagamentos de dividendos à elite,
comparados com o rendimento médlo dos trabalhadores assalariados. As
disparidades entre salários de administradores e os dos trabalhadores da
mineração, agricultura e energia dispararam quando os
preços e lucros realizados cresceram durante a última
década.
A maior parte dos projectos de grande mineração, agricultura e
energia são capital intensivos: altamente mecanizados, com grandes
inputs de tecnologia avançada e empregando um pequeno quadro de
engenheiros, funcionários, administradores (divididos entre estrangeiros
e nacionais) e uma pequena percentagem da força de trabalho. Cada
milhão de dólares investido cria um emprego. A
relação capital-trabalho, especialmente após a fase
inicial de construção que é mais trabalho intensiva,
provoca pouco impacto sobre os desempregados. A força de trabalho
voltada para a economia local de trabalho intensivo, que foi perturbada pelos
investimentos extractivos, é marginalizada. Se bem que em termos
agregados o capital investido na economia extractiva ultrapasse de longe o
capital investido na economia local, os custos para produtores locais tanto em
termos da perda de meios de vida como em rendimento e enfermidades é
substancial e provavelmente conduz a um resultado líquido negativo. Por
outras palavras, do ponto de vista de uma análise
custo-benefício, as multinacionais e o Estado podem acumular ganhos
substancias ao passo que os produtores locais sofrem uma perda líquida
em termos materiais e pessoais: ruptura de laços comunitários e
relações recíprocas, assim como perturbações
familiares.
As mulheres são visivelmente os grandes perdedores
"invisíveis" resultantes das perturbações na
economia local provocados pelo capital extractivo em grande escala. As mulheres
desempenham um papel importante na agricultura familiar, artesanatos locais,
têxteis, cerâmicas, tecelagem e produção leiteira bem
como no marketing e comércio ligado à pequena
produção de mercadorias. Quando o capital extractivo
através de contratos multinacionais-Estado desloca ou mina a economia
local (via contaminação) ele, quase exclusivamente, contrata
trabalhadores homens, confinando mulheres a um papel marginal, forçando
as jovens a migrarem, procurarem trabalho em serviços pessoais ou
ocupações semi-lícitas ou ilícitas
(prostituição, garçonetes). Além disso os
"efeitos colaterais" muito exigentes quanto ao tempo e energia das
mulheres para tratar as doenças propagadas pelo uso de produtos
químicos. Uma multidão de contaminantes tem um grande impacto
sobre crianças, mulheres grávidas, idosos e empregados directa e
indirectamente envolvidos em ocupações extractivas de alto risco
a "enfermagem" familiar é esmagadoramente uma
obrigação não paga das mulheres. Um avanço do
capital extractivo significa, para as mulheres, perda de rendimento, status,
vida social (marketing) e maior subordinação dentro da
família.
Os investimentos em mineração e energia trazem capital para uma
região mas também acrescentam custos sociais. Para cada
dólar investido, a economia regional é sobrecarregada com o custo
de lidar com o influxo de criminosos, prostitutas, alcoolismo, uso de drogas,
jogo, doenças venéreas, crime e outros "custos gerais"
anti-sociais. Enquanto os lucros são privatizados, os custos das
consequências sociais sobrecarregam a comunidade, o governo e a economia
locais.
A indústria extractiva é caracterizada por uma estrutura de
classe de múltiplas camadas, altamente desigual e polarizada. Na
cúspide estão as multinacionais e seus parceiros nacionais
os 1% de multi-milionários que ganham um múltiplo de todo o resto
da força de trabalho. O nível a seguir de
administração sénior superior é uma mistura de
directores estrangeiros e locais, recrutados fora da região e que
interagem com os circuitos internacionais. Abaixo deles estão os
engenheiros e a administração média que operam os
processos de produção diários e supervisionam as
relações de trabalho estes podem incluir também um
"local" que tenha alguma experiência como antigo advogado
trabalhista ou sindicalista. A seguir na hierarquia estão os
trabalhadores de escritório, os quais incluem empregados regionais e
transferidos de cidades. Conforme o grau de mecanização eles
variam em número, até um terço da força de
trabalho, com pagamentos, escala de benefícios e
organizações sociais específicos que os diferenciam dos
trabalhadores manuais. O extracto seguinto são os trabalhadores
"estáveis" ou "permanentes" (uma categoria relativa)
com contratos a longo prazo e benefícios que incluem
habitação e outros subsídios. Eles constituem até a
metade da força de trabalho manual. Abaixo deles estão os
trabalhadores temporários com o pagamento mais baixo, maior
insegurança de emprego, com poucos se é que algum
benefícios e colocados no trabalho mais arriscado e insalubre.
Além disso há trabalhadores temporários
"migratórios" que são contratados para projectos
específicos como construção de estradas,
reparações e outros projectos de curto prazo. Além disso
há um exército de reserva de "migrantes" desempregados
que proporcionam "serviços" de dúbio valor social e
produtivo e poderiam servir como fura greves.
A segmentação do trabalho é uma estratégia dos
empregadores para diminuir o poder colectivo do trabalho e fortalecer o poder
de negociação do capital. A fragmentação e a
competição contrapõe trabalhadores uns contra outros. O
capital extractivo dissolve solidariedade e esforços na
cooperação envolvendo todos os membros de uma comunidade. Na
melhor das hipóteses, a solidariedade e unidade depende da capacidade de
trabalhadores manuais sindicalizados forjarem ligações com as
classes contíguas, assim como produtores e retalhistas de pequena escala.
O ponto é que o capital extractivo cria poucos empregos qualificados
estáveis com rendimento decente e um grande número de empregos
auxiliares sem benefícios definidos e poucas perspectivas futuras,
especialmente para aqueles empregados em ocupações de alto risco
e sujeitas a doenças.
A expectativa de vida em muitas ocupações extractivas é
limitada. Isto significa que os ganhos no tempo de vida dos trabalhadores podem
acabar por ser menores do que seriam para trabalhadores voltados para uma
actividade mais saudável baseada na família. O mesmo poderia ser
dito para a segurança da família: enquanto trabalhadores
empregados na actividade extractiva compram aparelho electrónicos e
domésticos, as doença profissionais podem levam ao afastamento
prematuro, privação e rendimento mais baixo ao longo do tempo de
vida (a longo prazo).
Indicadores ambientais
O capitalismo extractivista é provavelmente o maior poluidor do planeta
e os trabalhadores mineiros e comunidades adjacentes às minas são
os mais gravemente afectados. Testemunhos e estudos de ecologistas a
trabalharem comunidades indígenas no Equador, Peru e Bolívia
documentaram doenças generalizadas devido a fugas de petróleo,
aquíferos e ribeiros contaminados e em terras agrícolas vizinha e
entre residentes, especialmente crianças. Se bem que a indústria
extractiva tenha aumentado os recursos do estado, os custos em termos de
recursos naturais destruídos devido à poluição,
infraestrutura de desenvolvimento e dano colateral para vida comunitária
pesa muito na balança. Isto é especialmente verdadeiro se
consultarmos taxas de mortalidade e o declínio na qualidade de vida de
trabalhadores e residentes afligidos com doenças induzidas pelo capital
extractivo. O âmbito e profundidade da contaminação e os
custos económicos na maior parte dos casos provoca um empobrecimento das
comunidades locais que vai muito além de qualquer ganho monetário
acumulado devido aos salários de uma força de trabalho reduzida.
A mentalidade dos capitalistas extractivos, voltada unicamente para a
exploração de matérias-primas, leva-os a tratar com
arrogância a actividade económica pré existente. A
agricultura local, o cultivo de víveres básico e
criação de gado, são devastados quando os produtores
locais são deslocados, a água para irrigação
é desviada para as minas e plantações, e as estradas e
mercados são congestionados pelo transporte pesado. Os venenos
químicos minam a saúde de produtores locais. A
irrupção do capitalismo extractivista é combinada com a
ruptura da produção local, com graves deslocações
sociais e um aumento na marginalidade social. Quando as minas crescem em
dimensão e receitas, a economia familiar declina.
Afirmações de advogados do capital extractivo de que a
força de trabalho deslocada da produção familiar
será reabsorvida em novos empregos criados pelo sector da
mineração constituem a excepção e não a
regra. O trabalho agrícola intensivo, o artesanato e a
criação de gado empregam muito mais trabalhadores, de ambos os
géneros, do que o capital intensivo do sector mineiro. Além
disso, o complexo acidentes-doenças que acompanha a
mineração cria um ciclo de trabalho mais curto, trabalhadores
postos de lado tornam-se um fardo em famílias com rendimento em
contracção e recursos em declínio. O resultado
líquido é que o capital extractivo beneficia da maior parte do
tempo produtivo do ciclo de vida e à comunidade/família é
imposto o custo da manutenção do trabalho na sua fase menos
produtiva.
Indicadores políticos
As decisões referentes à entrada, localização,
condições de operação, impacto ambiental do capital
extractivo são tomadas através de acordos entre uma pequena elite
de executivos na capital e os administradores principais da multinacional.
Um exame das estruturas de tomada de decisão revela a exclusão
daquelas comunidade, cidadãos locais e líderes mais afectados. A
iniciativa de investir é habitualmente influenciada por uma
combinação de incentivos e concessões da elite
às custas do tesouro local e concessões de terra em termos
favoráveis à multinacional. Pouco cuidado é tomado com
impactos locais sobre condições de vida, saúde e sistemas
produtivas pré existentes. A estrutura da tomada de decisão
é centrada na elite, urbana e corporativa; os estudos de impacto
ambiental são executados por "consultores" patrocinados pela
elite que invariavelmente aprovam projectos lucrativos.
A participação cidadã inicialmente é mínima,
especialmente em relação ao âmbito, concepção
e operações de projectos extractivos. Contudo, quando o projecto
avança para o status operacional, cidadãos, comunidades e
sectores vastos da sociedade civil são mobilizados a vários
níveis. A influência negativa sobre a economia existente, o
impacto danoso sobre o ambiente, a distribuição de rendimentos
desigual, os baixos níveis de emprego local, a pequena
contribuição para o bem estar da comunidade e outras
questões relacionadas levantam a ira da comunidade local e
frequentemente levam a protestos em massa.
O padrão típico é aquele em que as elites decidem e as
comunidades locais respondem. Confrontado com oposição tenaz o
regime responde com violência repressão do estado
apoiando o poder, privilégios e prerrogativas dos capitalistas
extractivos. Em segundo lugar, confrontado com a oposição
generalizada, o regime a multinacional tenta negociar e cooptar líderes
locais, fazendo concessões limitadas respeitantes a projectos sociais
locais, mas nunca abrindo mão do acordo básico da elite ou da
estrutura de tomada de decisão. São escolhidos "grupos
consultivos" simbólicos mas sem qualquer poder para rever ou
controlar o processo de extracção.
A estrutura de tomada de decisão que acompanha a entrada do capital
extractivo e os termos de exploração é altamente
centralizada e autoritária. Em contraste, a oposição local
a escala de participação dos cidadãos locais é
elevada, assumindo a forma de assembleias, debates, formulações
de políticas e acção social tendo em vista a
resolução por negociações.
Eleições e debates dão pouca ou nenhuma
atenção à entrada do capital extractivo. Tecnocratas,
banqueiros e investidores não eleitos desempenham o papel dominante fora
do domínio público sem qualquer supervisão
democrática. Em contraste a oposição comunitária
é conduzida por líderes eleitos, com um mandato
(revogável) de uma assembleia geral e responsáveis perante uma
reunião de eleitores.
Os decisores da elite estão preocupados exclusivamente com
decisões a curto prazo referentes aos mais baixos custos para explorar,
extrair e transportar recursos primários. Eles deixam para a comunidade
local o enfrentar dos desastres a longo prazo que habitualmente se abatem em
consequência da erosão: deslizamento de terras, colapsos de
montanhas de escórias, inundação subterrânea e
outras adversidades a "longo prazo". Em contraste, as comunidades
locais estão preocupadas com efeitos a longo prazo e decisões
estratégicas que terão impacto sobre a sobrevivência a
longo prazo e a prosperidade local. Há um conflito básico de
interesses entranhado no relacionamento entre o capital extractivo e seus
patrocinadores no estado central e comunidades locais, sociedade civil e
movimentos indígenas.
Conclusão
O capital extractivo na sua estrutura realmente existente, nas suas
operações em impacto tem um efeito agudamente polarizador, quando
medido por indicadores económicos, sociais, ambientais e
políticos precisos.
A chave é a desigualdade: a distribuição desigual de
benefícios e custos, a distribuição desigual de poder
político e os custos desiguais da poluição ambiental. A
desigualdade deriva da concentração do poder económico nas
estruturas internacionais hierárquicas do capital, reforçadas e
ampliadas pelo executivo político local (o regime) que impõe por
decreto os termos pelos quais o capital extractivo explora recursos naturais.
As comunidades locais e o trabalho enfrentam o maior custo em termos das
consequências adversas de uma economia baseada nos recursos naturais, que
acumula a fracção mais pequena dos lucros e rendimentos e as
maiores perdas em termos de saúde, cidadania e cultura cívica. As
fortunas contrastantes entre o capital e o trabalho são mais agudas nas
"cidades da companhia" onde o "controle total" virtual pela
multinacional e o estado força comunidades a mobilizações
em grande escala para corrigir um mínimo de injustiças
diárias.
Enquanto o sítio da exploração provoca conflito, a
resolução do mesmo depende em grande parte da capacidade de cada
lado de mobilizar apoio político mais vasto nacional e internacional. As
multinacionais mobilizam suas ligações junto aos sectores
"financeiro-import-export", a comunidade local mobilizar as capitais
provinciais e aldeia e os partidos urbanos de esquerda, sindicatos e ONG
ecológicas.
A resolução do conflito depende da força das partes
contendoras. O resultado tem consequências vitais não só
para aquelas comunidades directamente afectadas mas sobre toda a estrutura da
economia e da estrutura de classe. O capital extractivo no comando tende a
polarizar a sociedade em dois; cria uma economia "mono-cultural"
vulnerável a ciclo (mega ou não); reduz a
participação cidadã; acentua fluxos especulativos de
capital para e a partir de commodities.
O original encontra-se em
http://petras.lahaine.org/?p=1895
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
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