A ascensão do preço do petróleo

— Referências temporais indicam o avanço provável para o Pico Petrolífero

por Charles T. Maxwell [*]

Em 2001, estabeleci algumas referências temporais para os desenvolvimentos na energia que eu via se aproximarem ("Nearing the Top of Hubbert's Peak," 8/1/01). Estas referências serviram-me muito bem ao longo dos seis anos seguintes, dando o seu sentido geral. Mas agora penso que precisam ser um pouco mais afinadas e concretizadas. Estamos a aproximar-nos de algumas das datas citadas para certos importantes acontecimentos definidos, tais como o pico da oferta de petróleo não-OPEP, então projectada para 2010. Agora acredito que algumas destas datas deveriam ser modificadas, neste caso para 2008. As razões para isso são mais técnicas do que fundamentais.

Uns 12 dos 30 principais países não-OPEP já atingiram o seu pico de produção de petróleo. Eles compreendem, em conjunto, uns 42% do total da produção não-OPEP de hoje. A produção da China, com aproximadamente 9% do volume dos 30, parece estar num planalto (plateau) de três ou quatro anos e pode-se esperar que comece a declinar em 2008 ou 2009. Sem importar em que data caia, isso seria o sinal de que a maioria dos barris levantados no mundo não-OPEP estaria num modo de produção declinante. A nossa estimativa anterior de um pico em 2010 poderia ter funcionado se Angola e o Equador houvessem permanecido no grupo não-OPEP. Mas em 2007 eles transferiram-se para a coluna da produção da OPEP. Com os seus volumes subtraídos do total não-OPEP, e a produção chinesa a retrair-se como discutido acima, acredito que 2008 seria a data mais provável para o grupo não-OPEP remanescente atingirem o seu pico combinado.

O significado principal desta referência particular é que após 2008 o mundo não-OPEP seria incapaz, no equilíbrio, de produzir um acréscimo líquido para abastecer as suas próprias necessidades, e teria de ir aos países da OPEP e perguntar-lhes se têm qualquer disponibilidade de petróleo, e a que preço ele poderia ser comprado. Esta situação aumentaria o poder da OPEP para discriminar politicamente os possíveis clientes, e para endurecer ou facilitar abastecimentos aos mercados mundiais, guiando assim os preços do petróleo.

A seguir, na ordem cronológica, haveria uma nova rubrica entre as referências: o Pico dos Volume de Bruto das Próprias Companhias. Eu colocaria a data deste pico em torno de 2011 (neste caso o pico pode tornar-se um planalto), e indicaria o fim de 2012 como o momento de transição para o declínio. As companhias de petróleo poderia influenciar modestamente estas datas se gastassem um pouco mais na recuperação aperfeiçoadas (enhanced) do petróleo e se no curto prazo processassem mais gás natural para transformá-lo em líquidos, etc. Algumas das majors também obteriam alguns pequenos ganhos de produção das reservas da OPEP que elas administram em lugares como a Nigéria, Qatar e Angola. Outras poderia acelerar ligeiramente desenvolvimentos de areias petrolíferas. Contudo, a soma destes esforços provavelmente será "demasiado pouco, demasiado tarde".

Para o público investidor, pode ser um choque ver estas grandes companhias a caminharem como grupo para a liquidação a longo prazo. (Cada companhia teria a sua própria data individual de pico.) Haverá provavelmente muitas manobras, muitos acordo, e um renascimento de estratégias engenhosas para companhias forçadas a lidarem com a aceleração do esgotamento e a rápida ascensão dos custos, sem ajuda de volumes em crescimento. Neste período, ainda antes do Pico Final, é que o público geral provavelmente se tornará consciente do que está pela frente no negócio petrolífero. O fim do jogo, acredito, levantaria muitas questões destinadas às companhias de petróleo e aos diferentes governos acerca de como uma questão tão essencial como a energia foi deixada deslizar durante tanto tempo sem atenção adequada.

Em relação ao Pico de Hubbert (a produção combinada OPEP e não-OPEP), sugeri em 2001 que ele podia cair no intervalo 2015-2020. Dei alguma latitude especial entre estas datas porque anteriormente muitos previsores do pico petrolífero haviam sido demasiado exactos e as suas estimativas haviam sido ultrapassadas pelos acontecimentos. Senti-me mais seguro utilizando um intervalo. Posteriormente, adoptei um intervalo grande por pensar que 2015 provavelmente podia ser a data geológica se o público mundial não pudesse ser alertado para os perigos (políticos, económicos e sociais) que jazem do outro lado do Pico. Entretanto, 2020 pode ser mais preciso se preparativos generalizados para o pico fossem tomados mais cedo em termos de aumento da eficiência energética, programas nacionais de conservação de energia, e programas de armazenagem a longo prazo.

Obviamente, naqueles dias eu tinha falsas esperanças de que tais preparativos pudessem permitir-nos atrasar a aproximação do Pico através de um esforço geral para reduzir a procura mundial por petróleo. Contudo, agora estou convencido de que os governos, o público, as companhias de petróleo e a indústria em geral são estão a reagir suficientemente aos sinais acerca de problemas futuros na disponibilidade e uso da energia. Assim, parece que provavelmente marcharemos directamente para dentro da próxima crise de energia com bandas a tocar e bandeiras a tremular antes de se fechar a cortina final. Por esta razão, agora estou satisfeito em estimar 2015 como a melhor data única para o Pico de Hubbert, embora, de facto, possamos estar a descrever um planalto de dois ou três anos. Minha melhor estimativa para este ano incluiria a produção de todos as ofertas de petróleo, isto é, o fluxo tradicional do óleo, areias betuminosas, barris da recuperação aperfeiçoada de petróleo, xistos oleosos, barris de carvão-para-líquido, petróleo super pesados produzidos através do calor, condensados e líquidos de gás natural (NGLs). Para o fluxo apenas do petróleo tradicional, posso indicar a data de 2013, uns dois anos antes.

Assim, o balizamento temporal acima estabelecido conduz-nos a séries de picos de produção de petrolífera: 2008 para o grupo de países não-OPEP, 2011 para os volumes de petróleo das grandes companhias, 2013 para o fluxo global de petróleo, e 2015 para todos os líquidos (tanto convencionais como não convencionais).

Isto fulmina-me, é como colocar o problema do pico petrolífero praticamente à nossa porta. Uma vez que grandes novos projectos petrolíferos levam 5 a 7 anos para serem completados, agora não há, como vejo isto, grande coisa que a indústria petrolífera ou os governos possam fazer acerca destes picos, tanto para travá-los como para modificar o seu curso. Mais uma vez, é demasiado tarde para isso. Penso que temos de focar sobre o rumo a seguir após o desencadeamento destes duros vendavais. Agora é aparente para mim que é só após o Pico de Hubbert que decisões inteligentes e políticas de longo alcance poderiam ser tomadas por governos e cidadãos no contexto democrático. Quando se tornar claro o que deve ser feito, suspeito que todos nós o faremos, tal como na II Guerra Mundial.

Há de notar que movi várias referências um bocado mais perto de nós no tempo do que estavam antes. Não creio que minhas percepções geológicas de uma crescente tensão da oferta tenham mudado muito nos últimos seis anos. Mas a nossa situação política, económica e social certamente mudou. A minha aproximação das datas também é uma resposta ao mais generalizado nacionalismo de recurso por todo o globo, à falta de preocupação acerca da disponibilidade futura de oferta em muitas companhias petrolíferas nacionais, grandes companhias de petróleo internacionais e muitos governos ("você não pode resolver um problema que não pode perceber"), e a um contínuo senso de insegurança que muitos de nós sentem quanto aos desenvolvimentos no Médio Oriente onde está localizado mais de 60% do petróleo que resta no mundo. Assim, penso eu, é correcto prever que uma tempestade energética está a mover-se na nossa direcção e é útil colocar algumas estimativas quanto ao momento da sua chegada.

14/Janeiro/2008
[*] Analista sénior de energia na Weeden & Co., LP, firma estado-unidense de investigação em acções e investimentos.

O original encontra-se em Peak Oil Review,


Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .
16/Jan/08