O petróleo e o futuro
A nossa indústria está numa encruzilhada. Nestes últimos
anos a oferta de petróleo lutou para se manter ao ritmo da procura. Mas
a crise financeira reduziu a procura em 2 milhões de barris por dia,
criando stocks excessivos e preços mais baixos. Mas uma vez recuperado o
crescimento económico, é provável que venhamos a retornar
às condições de mercado de um ano atrás. O
preço de US$140 por barril de petróleo não era uma
aberração; era uma advertência.
Ao longo dos últimos anos, muitas pessoas no nosso ramo expressaram
confiança em que podemos corresponder aos desafios pela frente. Os
produtores de petróleo têm sugerido que a dotação
remanescente global de mais de 3 milhões de milhões
(trillion)
de barris de petróleo recuperável significa que não
deveríamos estar preocupados com uma perspectiva de escassez.
Preços mais altos, tecnologia avançada e políticas
governamentais sadias permitiriam à oferta manter-se a par da procura.
Os países consumidores encaravam estas questões de modo bastante
diferente, criticando produtores por elevarem preços, culpando o
petróleo pela mudança climática e implementando
políticas para desenvolver hidrocarbonetos alternativos.
As abordagens tanto dos consumidores como dos produtores são baseadas na
esperança, mas o que precisamos é de uma realidade sóbria.
Dados os longos períodos de tempo, de 5 a 10 anos, desde a descoberta do
petróleo até à produção, precisamos actuar
agora para impedir uma crise petrolífera.
Quando meu bom amigo Nick Brady era secretário do Tesouro dos Estados
Unidos, por vezes referia-se à necessidade do "Soro da
verdade". Nick sabia que factos bons levam à boa política;
factos maus levam à má política. No interesse de criar boa
política energética, vamos administrar o soro da verdade e
estabelecer os factos.
Facto Nº 1:
Oitenta e cinco por cento da energia mundial vem de hidrocarbonetos. Apesar de
a energia renovável ser necessária para atender à procura
de energia futura e contribuir para reduzir a nossa pegada carbónica, os
hidrocarbonetos alimentarão a economia do mundo nas próximas
décadas. A energia renovável não tem a escala, o prazo
temporal ou as condições económicas para mudar este
resultado materialmente.
Facto N- 2:
Uma vez recuperada a economia, a procura de petróleo está
projectada para aumentar em 1 milhão de barris/dia a cada ano, pois a
população mundial cresce dos 6,8 mil milhões de hoje para
9 mil milhões em 2050. A introdução de padrões de
quilometragem mais altos nos EUA e o faseamento gradual da energia
eléctrica para a tracção automotiva apenas moderará
o crescimento da procura de combustível automotivo. Isto é assim
porque aproximadamente os mil milhões de veículos hoje na estrada
poderiam crescer para aproximadamente dois mil milhões nos
próximos 30 anos. Ter em mente que os EUA tem 1000 carros para cada 1000
pessoas; a China tem 10 carros por 1000.
Facto Nº 3:
Oferta. Não estamos exauridos de petróleo. A questão
não é a nossa dotação de recursos
petrolíferos e sim a capacidade de produção mundial.
Acréscimos de exploração finalmente substituíram a
produção anual em 1987. O petróleo mais fácil foi
descoberto. Os custos estão a aumentar para novos barris, em que os
poços podem ser perfurados em águas profundas de mais de uma
milha [1,609 km] para até seis milhas de profundidade, e as descobertas
podem levar mais de uma década para desenvolver.
O declínio dos campos petrolíferos está a verificar-se a
mais de 5 por cento ao ano. Isto significa que temos de acrescentar pelo menos
4 milhões de barris por dia a cada ano só para manter a
produção constante. Mas a produção não-OPEP
está em processo de, se não de atingir o pico, alcançar um
planalto. O Energy Research Centre do Reino Unido acaba de publicar um
relatório em que afirma haver risco significativo de que a
produção mundial de petróleo convencional possa atingir o
pico antes de 2020
[NR 1]
e entrar em declínio terminal. Se não actuarmos agora, teremos
uma devastadora crise petrolífera nos próximos 5 a 10 anos.
Precisaremos de coragem para actuar a fim de impedir a crise e assumir o
compromisso de mudar o nosso comportamento não apenas na procura;
não apenas na oferta; mas em ambos.
Os Estados Unidos devem assumir um papel de liderança. Com cinco por
cento da população do mundo mas 25 por cento do seu consumo de
petróleo, os EUA não podem mais culpar os produtores
de petróleo pela ascensão dos preços. Precisamos ter a
coragem para exigir 50 milhas por galão [4,7 litros aos 100 km] como
padrão nacional para todos os veículos; os híbridos a
gasolina e a gasóleo poderiam levar-nos a isso. Um imposto sobre a
gasolina de US$1 por galão promoveria a conservação e
ajudaria a pagar o défice federal de US$120 mil milhões por ano.
Nos países não-OCDE, os subsídios à energia, que a
International Energy Agency (IEA) estima custarem US$310 mil milhões por
ano, incham desnecessariamente a procura mundial e obscurecem o verdadeiro
custo da energia, o que resulta em desperdício na
utilização da energia.
Em termos de oferta, a indústria do petróleo gasta cerca de
US$400 mil milhões por ano para descobrir e produzir óleo, mas
isso não é suficiente. Com 80 por cento das reservas globais
basicamente inacessíveis a investidores externos e apenas 6 por cento
dos rendimentos petrolíferos da OPEP reinvestidos em infraestrutura
energética, alguma coisa tem de mudar. O papel das companhias nacionais
de petróleo é crítico; elas precisam investir mais ou
permitir a outras que com elas façam parceria.
Precisamos de uma abordagem equilibrada daqui em diante. Não se trata de
uma decisão de "uma ou outra" mas de "e".
Além de mais oferta de petróleo e eficiência
energética, precisamos de um papel maior para o gás natural
E
carvão mais limpo
E
energia nuclear
E
renováveis.
Enquanto isso, devemos também estabelecer objectivos realistas para
reduzir emissões de gás com efeito estufa
[NR 2]
que não lancem a economia mundial em retrocesso. Muitos governos querem
limitar o aquecimento global a não mais de 2 graus Celsius. Para cumprir
este objectivo, as emissões anuais de CO2 teriam de ser reduzidas dos
níveis de hoje em mais de 80 por cento em 2050. Mas será isto
realista? Com a população mundial em crescimento e a
elevação de padrões de vida, manter as emissões
globais de CO2 constantes em 2050 seria uma enorme proeza.
Como o sistema global fica cada vez mais tenso na competição por
recursos, há cada vez mais proteccionismo entre países
consumidores e nacionalismo de recursos entre países produtores. Os
países estão a construir muralhas para se desligarem uns dos
outros quando deveriam estar a construir pontes para colaborar.
Para progredir, precisamos de novos modelos de colaboração. Ao
longo de muitas décadas, as companhias internacionais de petróleo
e os países produtores trabalharam em conjunto de um modo puramente
financeiro através de contratos que são ou imposto +
royalty ou partilha de produção. No futuro, precisamos construir
laços de confiança mais fortes. O modelo de investimento precisa
ser centrado não apenas sobre recursos petrolíferos como na
construção de capacidades em recursos humanos do país
hospedeiro. Devemos redefinir o que significa obter um retorno sobre o
investimento.
Em segundo lugar, também precisamos de um fórum global dedicado a
política energética. Sem uma estrutura comum acerca da energia, o
desenvolvimento económico sustentável será
impossível. Eu sugeriria este desafio para o G-20, o qual representa
seis dos sete maiores produtores de petróleo e os 14 maiores
consumidores do óleo. A sua missão é o crescimento
económico sustentável. A energia não só se ajusta a
este objectivo como é essencial para o seu êxito.
Em conclusão, que espécie de mundo queremos deixar aos nossos
filhos? Se nada fizermos, haverá consequências severas. O disparo
dos preços poderia tornar-se habitual numa crise do mundo todo.
Num mundo em que todos fizermos concessões e colocarmos os interesses
globais em primeiro lugar, todos venceremos. Se os países consumidores
liderados pelos Estados Unidos se comprometerem a conservar energia,
poderíamos poupar 5 milhões de barris por dia de procura
incremental ao longo dos próximos 10 anos. Se os países
produtores liderados pela OPEP se comprometerem a instalar mais capacidade de
produção de petróleo, acrescentaríamos mais 5
milhões de barris por dia de oferta incremental ao longo dos
próximos 10 anos. Neste mundo, os preços seriam estáveis e
a nossa economia global poderia prosperar. Será que este cenário
soa impossível? Não penso assim.
As apostas nunca foram tão elevadas. Devemos montar uma abordagem
equilibrada e abrangente para a segurança energética e a
protecção do ambiente para assegurar o desenvolvimento
sustentável. Devemos unir-nos e trabalhar em conjunto como uma
indústria, comunicando uma mensagem, tendo a coragem de actuar e
colaborar para o bem global. Neste mundo, haverá um futuro brilhante,
não só para o petróleo, mas para muitas
gerações.
[NR 1] O autor é optimista. Muitos analistas consideram que na verdade o
pico máximo da produção já foi
atingido: em 2005 para o petróleo convencional e em 2008 para
todos os
petróleos.
[NR 2] Trata-se de um falso problema. O autor, que não é
climatologista, é induzido pela ideologia mistificatória do
aquecimento global e por isso repete o que dizem funcionários &
burocratas do IPCC.
[*]
Presidente da Hess Corporation, uma companhia integrada de petróleo e
gás natural com operações em 18 países. A companhia
explora, produz, transporta e refina petróleo bruto, bem como gás
natural. O texto acima é uma versão abreviada da sua
intervenção em 21 de Outubro na Oil & Money Conference.
O original encontra-se em
www.aspousa.org
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
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