A crise que se aproxima
Durante mais de uma década o geólogo inglês Colin Campbell
[NR]
tem estado a tocar a campainha de alarme acerca do Pico Petrolífero
que se aproxima e das suas perturbadoras ramificações para o
mundo. A partir de 2005 o Dr. Robert Hirsch emitiu advertências
específicas para os Estados Unidos numa série de
relatórios patrocinados pelo Departamento da Energia que delineiam os
perigos para a América se o pico nos encontrar despreparados. E no ano
passado o GAO, o National Petroleum Council e muitas outras
organizações e governos de todo o mundo têm relatado as
severas consequências com que o mundo se pode deparar uma vez atingido o
pico.
A questão não é simplesmente a preocupação
de que teremos de pagar preços ultrajantes por um galão de
gasolina. Se isto fosse o pior de tudo, a situação seria
difícil mas administrável. A realidade, contudo, é mais
profunda e muito mais perturbadora. Há múltiplos
problemas a afectarem o mundo que estão a ter um efeito líquido
decididamente negativo: uma ascensão global na procura de
petróleo bruto, o plateau na produção de petróleo
bruto (o qual pode indicar que o Pico já foi atingido) e o
contínuo crescimento da população global. Em conjunto,
estes três factores estão a servir para empurrar o mundo para uma
crise que tem ominosas possibilidades.
Quando não há bastante óleo para satisfazer a procura
global, o preço obviamente ascende. Talvez menos óbvio, contudo,
seja o efeito que este preço sobre a capacidade do mundo para produzir
alimentos. Toda etapa do ciclo de produção alimentar é
afectada pelo petróleo e uma ascensão no preço do barril
tem efeitos cumulativos: Custa mais movimentar maquinaria agrícola,
comprar fertilizantes, levar ao mercado e processar. Nos Estados Unidos, isto
resulta em choques nas mercearias. Em partes do mundo em que a compra de
alimentos salta para 75 por cento do rendimento familiar, isto resulta em
inquietação social e perturbações.
As Nações Unidas estimam que a população global
está a crescer à taxa de 78 milhões de pessoas por ano
grosso modo o equivalente ao acréscimo da população
da Alemanha ao mundo a cada ano. De acordo com dados da Energy Information
Administration divulgados este mês, a produção global de
petróleo tem estado relativamente ao nível de um plateau durante
os últimos 44 meses consecutivos.
Mas ao mesmo tempo, as economias da China e da Índia têm
continuado a crescer, o que acelera o consumo de produtos relacionados com o
petróleo e aumenta a quantidade e qualidade dos alimentos que come cada
pessoa. Estes três factos conspiraram para produziram uma escassez
global de petróleo bruto a qual exacerbou a incapacidade do mundo para
alimentar-se a si próprio. Se o mundo não puder produzir um
número significativamente maior de barris de petróleo por dia,
enquanto ao mesmo tempo o apetite do mundo em desenvolvimento continua a
aumentar e a população global continuar a ascender, então
não haverá bastante petróleo para ir de um lugar para
outro ou bastante alimentos para comerem todos.
Nas últimas duas semanas foi-nos dada uma antevisão do que isto
pode significar quando novas organizações relataram tumultos e
inquietação social em países em desenvolvimento de todo o
mundo devido à escassez alimentar. O analista Jeff Rubin, do Canadian
Bank, previu que os preços do petróleo "altearão para
US$225 por barril em 2012". Muitos peritos esperam que estas duas
aflições gémeas permaneçam no futuro
previsível.
Já não é tempo para mais conversa e meias medidas. Os
factos no terreno exigem acção urgente, robusta e sustentada aos
mais altos níveis do governo. O público americano entendeu isso,
pois o inquérito de 20 de Abril da
WorldPublicOpinion.org
revelou que 76
por cento dos americanos "acredita que o seu governo deveria fazer planos
a longo prazo para substituir o petróleo como fonte primária de
energia". Com uma percentagem tão alta da população
a concordar com tal necessidade, onde estão os nossos líderes
nacionais acerca desta questão? Enquanto os nossos candidatos
presidenciais continuam a satisfazer-se a discutir questões tão
críticas como aquilo que terá dito algum pastor (quem está
amargurado em quem ficou nervoso), não tem havido qualquer
diálogo significativo quanto à mais premente questão que o
nosso país enfrenta.
Alguém deve avançar e liderar antes que uma crise de
proporções globais seja precipitada sobre nós e a nossa
única opção seja a implementação de medidas
draconianas para controle de danos. Rezem para que um tal líder
apareça logo.
05/Maio/2008
[NR]
Colin Campbell é irlandês, não inglês.
[*]
Oficial de cavalaria do U.S. Army.
O original encontra-se em
http://www.washingtontimes.com/article/20080505/EDITORIAL/845942063
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
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