Como se fica a saber que o debate do Pico Petrolífero já está (quase)
ultrapassado
Os protestos nos media de referência de que tão cedo não
nos precisamos preocupar acerca de um pico na taxa da produção
mundial de petróleo estão subitamente a tornar-se rápidos
e furiosos. Em consequência, isso recordou-me tanto Shakespeare como
Gandhi.
"Os media protestam demasiado", pensei (com desculpas à Rainha
Gertrudes, em Hamlet). Quanto a Ganhi, uma citação que lhe
é habitualmente atribuída lança luz sobre a
posição em que estamos no debate do Pico Petrolífero:
"Primeiro eles ignoram-no. A seguir riem-se de você. A seguir
atacam-no. A seguir você vence".
Assim, parece que estamos na terceira etapa de um processo de quatro. Isto pode
não estar tão distante quanto parece. Recordo-me de quando
comecei a escrever regularmente acerca do Pico Petrolífero, em 2004. O
principal problema era que os media simplesmente ignoravam a questão.
Ela simplesmente não se ajustava a qualquer categoria que a vasta
maioria dos repórteres reconhecia.
Aquilo foi seguido por um período de ridicularização por
parte de representantes da indústria petrolífera, economistas e
uns poucos redactores da imprensa comercial, mas quase ninguém nos media
de referência. "Caramba", pareciam dizer em coro, "nenhuma
pessoa sensata tomaria a sério a ideia de um pico a curto prazo na
produção mundial de petróleo" (Não importa que
a maior parte destas pessoas entendia mal o problema do Pico Petrolífero
como estando relacionado com a dimensão remanescente do recurso ao
invés da taxa de extracção).
Agora chegamos ao ponto em que há ataques abertos nos media de
referência. Sim, houve ataques antes, principalmente na imprensa
comercial e em sítios e blogs especializados na Internet. Foi o mais
mortífero conflito no interior da indústria, em estreitos
círculos profissionais e na comunidade activista. Mas aquilo realmente
representava uma briga pública pois a verdadeira audiência desta
é a massa de não especialistas. Agora, temos o equivalente disto
com a publicação de uma peça importante na
Nature,
uma respeitada revista científica mas que simples mortais são
capazes de ler. A
peça em causa
tem as forças reaccionárias em modo de ataque total.
Um
editorial
em
The National,
uma publicação em inglês no Abu Dhabi, põe a
fasquia muito baixa no que concerne a factos e lógica. A. Bloomberg
Businessweek emitiu uma peça intitulada
"Everything You Know About Peak Oil Is Wrong"
no mesmo dia em que apareceu o artigo na
Nature
quase como se o redactor soubesse que estava para aparecer. A
peça da Bloomberg repete argumentos cansados, irrelevantes e uns poucos
que são relevantes mas factualmente errado.
Gail Tverberg
fez um bom
trabalho ao criticar esta peça medíocre. Chris Nelder, no
Smartplanet, confronta a peça da Bloomberg bem como um certo
número de respostas argumentadas no artigo da
Nature.
Mas o contra-ataque mais recente veio realmente de Daniel Yergin, o optimista
do petróleo com falas e escritas suaves que os activistas do Pico
Petrólifero detestam.
Yergin sentiu-se obrigado a recorrer às ideias sobre o Pico Petrolífero de The Wall Street Journal na promoção do seu novo livro.
Obrigado, sr. Yergin, por trazer
o assunto à tona.
Muitos leitores conhecem o ditado: "Não há uma coisa tal
como má publicidade". Isto corresponde perfeitamente à fase
três da luta de Gandhi. A oposição é agora
forçada, por circunstâncias óbvias isto é,
o não aumento na oferta de petróleo apesar de anos de preços recorde
, a explicar algo que a teoria do Pico Petrolífero explica
perfeitamente.
Pode ser desanimador ver tanta desinformação lançada nos
media por pessoas que deviam saber melhor das coisas. Mas é sempre
delicioso contemplar o desespero que se esconde por trás da suas
dissimulações irritadas e fórmulas encantatórias.
Quase posso ouvi-las dizer: "Não pode ser assim, não pode
ser assim... simplesmente não deve ser!" Eles parecem acreditar que
se disserem "
Bakken
, Brazil, offshore, areias betuminosas,
tecnologia" bastantes vezes numa linha isso fará com que se afaste
os US$100 por barril. Mas entoar essas fórmulas encantatórias
não fará com que os dados desapareçam e, assim, devemos
continuar a destacar que a tendência [da produção]
permanece estagnada apesar de tudo.
Talvez o sinal mais seguro de que a mensagem do Pico Petrolífero
está agora em forma de combate é que
o antigo presidente da Shell Oil, John Hofmeister, acedeu a um debate na semana passada com uma das mais eminentes vozes científicas no campo do Pico Petrolífero
. Pode
ser que Hofmeister seja apenas um bom cidadão sem preconceitos a pensar
que a questão deveria ser ventilada. Mas o facto de que tenha optado por
dar o seu imprimatur à noção de que o Pico
Petrolífero precisa ser debatida brada muito alto.
Investidores mediáticos tais como
T. Boone Pickens
e
Richard Rainwater
já há muito deram o seu imprimatur ao Pico Petrolífero.
Grandes bancos tais como o
Macquarie Bank
da Austrália e o
Deutsche Bank
da Alemanha também estão a abraçar a tese do pico a
curto prazo. E, fugas embaraçosas do governo, como
esta recente na Austrália
e
esta outra do governo britânico no ano passado
, demonstram que atrás dos bastidores os planeadores e políticos
do governo estão gravemente preocupados.
Será que isso significa que os activistas do Pico Petrolífero
atingiram o seu objectivo de informar o público e os decisores
políticos acerca dos riscos e oportunidades apresentados pelo Pico
Petrolífero? Naturalmente que não. É aqui que o trabalho
árduo começa porque o debate agora foi elevado ao cenário
nacional e internacional. E isso significa que podemos daqui em diante esperar
um choque contínuo que está, cada vez mais, à vista do
público.
Agora é o momento oportuno para uma estratégia bem financiada e
coordenada de comunicações (que propus
aqui
em 2008) que possa
aproveitar de um novo ambiente nos media, mais abertos à ideia de
constrangimentos de recursos.
Longe de estar desencorajado pela erupção de denúncias do
Pico Petrolífero verificadas ultimamente nos media, estou estimulado por
ela. Lembrem-se: agora estamos nós na ofensiva, eles na defensiva. A
oposição tem de explicar porque a produção de
petróleo tem estado estagnada desde 2005 apesar dos altos preços.
E, as afirmações com lógica enviesada e demonstravelmente
falsas que eles apresentam proporcionam ainda melhores oportunidades para
vencê-los reiteradamente.
Sempre sustentei que quando se está num combate de cães
nos media,
se você está a explicar já está a perder
. O
movimento Pico Petrolífero precisa agora centrar-se em instalar a
dúvida acerca da estória oficial da abundância. E o melhor
caminho para isso é cavar buracos nos argumentos dos optimistas,
argumentos que se pode mostrar serem ridículos ao combinar a simples
lógica com dados que estão publicamente disponíveis.
20/Fevereiro/2012
[*]
Autor do romance "Prelude", sobre o Pico Petrolífero.
Colaborador de Scitizen, Energy Bulletin, The Oil Drum, 321energy, Common
Dreams, Le Monde Diplomatique, EV World e outras publicações
O original encontra-se em
resourceinsights.blogspot.com/2012/02/how-you-can-tell-that-peak-oil-debate.html
e em
http://www.countercurrents.org/cobb200212.htm
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
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