Pico petrolífero
A energia alternativa e o Princípio Poliana
O problema de explicar o "pico petrolífero" não depende
da questão do pico petrolífero propriamente dito, mas sim da
questão da "energia alternativa". A maior parte das pessoas
agora tem alguma ideia do conceito de pico petrolífero, mas ele tende a
ser varrido para o lado na conversação devido à
fórmula encantatória habitual: "não importa que o
petróleo acabe, porque por essa altura tudo será convertido para
a energia [seja qual for]". A fé da humanidade naquilo que pode
ser chamado o
Princípio Poliana
tudo dará certo no fim
é eterna.
A informação crítica que falta num tal diálogo
é, naturalmente, que a "energia alternativa" pouco fará
para resolver o problema do pico petrolífero, embora muito poucas
pessoas estejam conscientes deste facto. A situação pode ser
ilustrada por uma conversa representativa que eu próprio tive uns poucos
meses atrás; o discurso também pode ilustrar a medida pela qual
estamos a preparar a próxima geração para as
décadas vindouras.
Pergunta: Não haverá muita gasolina dentro de uns poucos anos.
Será que a sua mãe lhe contou isso?
Resposta (14 anos de idade): Não, mas eu compreendi isso muito bem por
mim próprio. Imagino que estaremos a movimentar carros com óleo
vegetal.
O Princípio Poliana, apesar de tudo, é o que utilizamos ao longo
do dia. Infelizmente, uma rápida vista de olhos em qualquer manual
padrão da história do mundo mostraria que o princípio
não foi aplicado a muitas civilizações que hoje jazem
enterradas na areia. Mas um engenheiro apontar para gráficos da
produção de petróleo é cometer um lapso num
problema psicológico: a maior parte das pessoas não gosta de ser
empurrada muito longe na direcção da lógica.
O principal obstáculo, como notado acima, não é o facto em
si do declínio na produção mundial de petróleo, mas
sim o facto relacionado da impraticabilidade da energia alternativa. As fontes
de energia alternativa têm, naturalmente, certas
utilizações, e elas sempre existiram, especialmente em sociedades
pré-industriais. Contudo, não é possível utilizar
fontes de energia sem hidrocarbonetos para produzir os necessários 400 a
500 x 10
15
de BTUs [422 a 527 x 10
18
joules] por ano, e numa forma que possa ser (1) armazenada convenientemente;
(2) bombeada para carros, camiões, navios e aviões para o
transporte de bens e serviços a longa distância; (3) convertida
em um milhar de produtos da vida diária, desde o asfalto aos
farmacêuticos; e (4) utilizada para movimentar fábricas (as quais
são lugares para máquinas que fazem máquinas) e que
custe tão pouco que possa ser comprada diariamente em grandes
quantidades por milhares de milhões de pessoas.
Também há a questão do tempo. Toda a conversão da
indústria mundial teria de ser feito virtualmente da noite para o dia.
O pico da produção petrolífera mundial foi talvez em 2006.
A data mais importante do pico petrolífero da produção
per capita foi em 1990. Há aproximadamente mil milhões de
automóveis, e aproximadamente 7 mil milhões de pessoas. Ao longo
do século XX, a produção alimentar só escassamente
atendeu às necessidades globais, e nos últimos poucos anos nem
mesmo atingiu aquele nível. Em termos da quantidade de tempo
disponível, a comutação da energia dos hidrocarbonetos
para uma forma alternativa de energia estenderia os limites até da mais
fantástica obra de ficção científica.
Contemplar a despesa também no levará longe no reino da fantasia.
A US$10 mil por veículo, substituir os veículos que agora
estão a circular custaria US$10 x 10
12
(trillion).
A infraestrutura a manufactura corrente, o transporte, a
manutenção e a reparação acrescentaria muito
maior despesa. Os fornos e aparelhos de ar condicionado nos edifícios
do mundo estariam obsoletos. Toda máquina sobre o planeta teria de ser
substituída, toda fábrica redesenhada. Teríamos de
substituir o asfalto nas rodovias de todo o mundo por uma substância
não constituída por hidrocarbonetos. O dinheiro e os recursos
simplesmente não existem.
Já é demasiado tarde; o sistema tem estado em colapso durante
anos. O conceito de reajustar
(retrofitting)
todo um planeta deve ter levado os Faraós (os quais apenas
construíram pirâmides) a rirem nos seus túmulos. Talvez
seja uma felicidade que não haja político ou líder de
negócios desejoso de iniciar uma aventura tão louca.
Na realidade, o mundo do futuro não ficará abarrotado. A
sobrevivência para uns poucos será possível; a
sobrevivência para uma população de milhares de
milhões não será possível. Mas muito poucas
pessoas perguntaram a questão desagradável de exactamente como
esta rápida e dramática redução da
população vai acontecer. Voluntariamente?
Ainda há dois outros problemas com a tentativa de educar pessoas sobre
tais assuntos. O primeiro é que qualquer discussão tanto do pico
petrolífero como da energia alternativa exige uma estrutura de
pensamento científica: um entendimento da investigação
empírica e uma capacidade de compreender estatísticas sem ficar
confundido. É essencial um domínio da ciência
básica a fim de obter uma perspectiva equilibrada dos dados, e a fim de
julgar o que é prático e não é prático.
O segundo destes novos problemas é que os conceitos de pico
petrolífero e energia alternativa são extremamente complicados.
Embora seja possível reduzir estes dois tópicos a um
"ABC" na forma de umas 500 palavras, o problema com uma tal
explicação de página única é que grande
parte da informação vital seria deixada de fora. Se o documento
deixasse de mencionar todo "e / mas / ou", a mensagem quase
certamente seria perdida. Se, por outro lado, o documento fosse expandido a
cerca de 5000 palavras, o redactor provavelmente perderia a pista do leitor,
uma vez que o texto pode exceder a atenção útil
(attention span)
deste último.
Entretanto, para aqueles que estão desejosos de fazer um esforço
para desemaranhar a informação, há certamente diversos
documentos sobre energia alternativa que vale a pena examinar. Um dos melhores
documentos ainda é o livro de John Gever et alii,
Beyond Oil: The Threat to Food and Fuel in the Coming Decades
(1991). Alguns links úteis são:
Jay Hanson, "Energetic Limits to Growth",
http://www.dieoff.org/page175.htm
Walter Youngquist, "Alternative Energy Sources",
http://www.oilcrisis.com/youngquist/altenergy.htm
Kevin Capp, "The End of Las Vegas",
http://www.lasvegascitylife.com/articles/2007/09/27/news/cover/iq_16882035.txt
O problema da "energia alternativa" também pode ser
esclarecido através de um exame de diálogos análogos
acerca de outros
tópicos, especialmente nos casos em que a ciência se choca com o
seu oposto. Uma discussão sobre astrologia, por exemplo, pode implicar
horas de diálogo exaustivo, a serem concluídas quando a parte
pró-astrologia levanta a cabeça, dá um suspiro profundo e
diz: "Bem, eu acredito..." Foi atingida uma barreira, para
além da qual nenhuma viagem é possível. Quando a
comunicação está num estado tão fraco, muitas vezes
há pouca esperança de que um leitor chegue a verificar
citações, bibliografias, "Novas leituras", ou mesmo
fazer algo que exige tão pouco trabalho como clicar um link de uma
página web. Mas o problema de ser professor é que não
há algo como aposentadoria.
05/Dezembro/2007
[*]
Autor de
Survival Skills of the North American Indians
. Contacto:
petergoodchild@interhop.net
O original encontra-se em
http://www.countercurrents.org/goodchild051207.htm
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
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