Pentágono começa guerra furtiva na Síria
"Quarta-feira passada [05/Out], numa reunião de Comité de
Deputados na Casa Branca, responsáveis do Departamento de Estado, da CIA
e da Joint Chiefs of Staff
[1]
discutiram ataques militares limitados contra o regime (de Assad) ... Um
caminho proposto para contornar a antiga objecção da Casa Branca
a atacar o regime de Assad sem uma resolução do Conselho de
Segurança da ONU seria executar ataques encobertos e sem reconhecimento
público"
Washington Post
Chame-se a isto guerra furtiva, chame-se espicaçar o urso, chame-se o
que quer que se queira. O facto é que a guerra síria está a
entrar numa fase nova e mais perigosa aumentando as probabilidades de uma
confrontação catastrófica entre os EUA e a Rússia.
Este novo capítulo do conflito é a invenção do
senhor da guerra do Pentágono, Ash Carter, cujo ataque a um posto
avançado sírio em Deir Ezzor matou 62 soldados regulares
sírios pondo um fim rápido ao frágil acordo de
cessar-fogo. Carter e seus generais opuseram-se ao acordo de cessar-fogo
Kerry-Lavrov porque ele teria exigido "cooperação militar e
de inteligência com os russos". Por outras palavras, os EUA teriam
precisado de obter o sinal verde de Moscovo para os alvos dos seus
bombardeamentos, o que teria minado sua capacidade para apoiar seus combatentes
jihadistas no terreno. Para o Pentágono este foi o motivo real para
romper o acordo. Mas o bombardeamento de Deir Ezzor consertou tudo isso. Ele
tirou o Pentágono da enrascada, torpedeou o cessar-fogo e permitiu a
Carter lançar o seu próprio tiroteio sem
autorização presidencial.
Missão cumprida. Mas a espécie de escalada que Carter tem em
mente, afinal de contas, é uma confrontação directa entre
os Estados Unidos e a Rússia que a maior parte dos analistas assume
levar a uma guerra nuclear. Estará ele realmente desejoso de assumir
esse risco? Demónio, não mas nem todos concordam em que
mais violência levará a um intercâmbio nuclear. Carter, por
exemplo, parece pensar que pode elevar as apostas consideravelmente sem
qualquer perigo real, razão pela qual pretende conduzir uma guerra
furtiva de baixa intensidade principalmente sobre activos sírios que
forçarão Putin a aumentar o compromisso militar da Rússia.
Quanto maior o compromisso militar da Rússia, maior a probabilidade de
um atoleiro, o qual é o objectivo primário do Plano C,
também conhecido como Plano Carter. Dê uma olhadela a este recorte
de um artigo do
Washington Post
de terça-feira, o qual ajuda a explicar o que está a acontecer:
"Ataques militares contra o regime Assad estarão outra vez sobre a
mesa quarta-feira na Casa Branca, quando responsáveis de topo da
segurança nacional na administração Obama vão
discutir opções quanto ao caminho a seguir na Síria... No
interior das agências de segurança nacional, reuniões
têm estado a decorrer durante semanas a fim de considerar novas
opções a recomendar ao presidente para tratar da crise em curso
em Alepo ... Uma reunião do Conselho de Segurança Nacional, a
qual poderia incluir o presidente, poderia acontecer logo neste fim de semana.
Na quarta-feira passada, numa reunião do Comité de Deputados na
Casa Branca, responsáveis do Departamento de Estado, da CIA e da Joint
Chiefs of Staff discutiram ataques militares limitados contra o regime... As
opções sob consideração... incluem bombardeamento
de pistas da Força Aérea Síria utilizando mísseis
de cruzeiro e outras armas de longo alcance disparadas de aviões e
navios da coligação... Um meio proposto de contornar a consagrada
objecção da Casa Branca a atacar o regime Assada sem uma
resolução do Conselho de Segurança da ONU seria executar
os ataques encobertamente e sem reconhecimento público, disse o
responsável".
(
Obama administration considering strikes on Assad, again
,
Washington Post
)
Não pensa que o
Washington Post
teria mencionado o sórdido pequeno empreendimento de Carter se ele
já não estivesse a caminho? Considere o bombardeamento de Deir
Ezzor, por exemplo. Será que ele não cumpre o padrão do
Post de "ataques militares dos EUA contra o regime Assad"? Certamente
que sim. E quanto às duas pontes sírias sobre o Eufrates que
aviões de guerra dos EUA deitaram abaixo na semana passada? (tornando
mais difícil atacar fortalezas do ISIS no quadrante leste do
país) Eles não contam? Naturalmente que sim. E não vamos
esquecer o facto de que os amigos jihadistas de Carter sobre o terreno
lançaram um ataque de morteiro sobre a embaixada russa em Damasco na
terça-feira. Trata-se de outra parte da guerra de baixa intensidade que
já está em curso. Assim, todo este lixo acerca de Obama pensar
profundamente estas "novas opções" para "ataques
militares" são asneiradas completas. O Plano Carter já
está em plena actividade, o comboio já deixou a
estação. A única coisa que falta é
autorização presidencial, a qual provavelmente não
é necessário uma vez que o
II Duce
Carter decidiu que era a sua vez de dirigir o país. Agora verifique
este recorte de um memorando ao presidente de um grupo de ex-agentes de
inteligência dos EUA que se impuseram advertir Obama acerca (entre outras
coisas) de "afirmar o controle civil da Casa Branca sobre o
Pentágono". Aqui está um excerto:
"Em observações públicas que beiram a
insubordinação, oficiais superiores do Pentágono
manifestaram extraordinariamente cepticismo aberto quanto a aspectos chaves do
acordo Kerry-Lavrov. Podemos assumir que o que Lavrov contou ao seu superior em
privado está próximo das palavras incaracteristicamente brusca na
NTV russa em 26 de Setembro: "Meu bom amigo John Kerry ... está sob
crítica feroz da máquina militar dos EUA. Apesar do facto de que,
como sempre, [eles] dão garantias de que o Comandante em Chefe dos EUA,
presidente Barack Obama, o apoiava nos seus contactos com a Rússia...
aparentemente os militares realmente não ouvem o Comandante em
Chefe". As palavras de Lavrov não são mera retórica
... Diferenças políticas entre a Casa Branca e o Pentágono
raramente são tão abertamente expressas como o são agora
sobre a política na Síria". (
Obama Warned to Defuse Tensions with Russia
, Consortium News)
Quão chocante será isto? Quando foi a última vez que
você leu um memorando de agentes de inteligência reformados a
advertir o presidente que o Pentágono estava a usurpar sua autoridade
constitucional? Isto soa bastante grave, não é? Resultado
líquido: O Pentágono está basicamente a processar a sua
própria pequena guerra na Síria e então a tagarelar acerca
da política com Obama quando eles actuam como querem. Aqui há
mais do
Washington Post:
"A CIA e a Joint Chiefs of Staff ... manifestou apoio a tais
opções "cinéticas", disse o oficial ... O que
assinalou um aumento do apoio ao ataque a Assad em comparação com
a última vez que tais opções foram consideradas". (
Washington Post
)
Naturalmente que querem bombardear Assad. Eles estão a perder! Toda a
gente quer bombardear alguém quando está a perder. É da
natureza humana. Mas isso não significa que seja uma boa ideia. É
uma ideia muito má. Assim como apoiar extremistas sunitas é uma
ideia má. Assim como dar mísseis portáteis terra-ar
lançados do ombro (
MANPADS
) a loucos fanáticos é uma
má ideia. Quão louco é isso? E quanto tempo
demorará antes de um destes religiosos chanfrados utilizarem seus novos
brinquedos para deitarem abaixo um avião de carreira israelense ou
americano? Não muito tempo, aposto. A ideia de reforçar a aposta
em maníacos homicidas (proporcionando-lhes mais armas letais) é
realmente uma das mais estúpidas de todos os tempos. E ainda assim o
Pentágono e a CIA parecem pensar que é estratégia militar
excelente. Aqui está uma última pérola do artigo do
Washington Post:
"O vice de Kerry, Antony Blinken, testemunhou na semana passada que a
alavancagem dos EUA na Rússia decorre da noção de que esta
finalmente ficará esgotada com o custo da sua intervenção
militar na Síria. "A alavancagem é as consequências
para a Rússia de estar fincada num atoleiro que está em vias de
ter um certo número de efeitos profundamente negativos", contou
Blinken ao Comíté de Relações Exteriores do
Senado".
(Washington Post)
Vê? Está a branco e preto: "atoleiro". A
estratégia do novo "Plano C" é concebida para criar um
atoleiro para Putin ao gradualmente incrementar a violência
forçando-o a prolongar sua permanência e aprofundar seu
compromisso. É uma armadilha esperta e poderia funcionar. A única
dificuldade é que Putin e seus aliados parecem estar a fazer
avanços firmes no campo de batalha. O que vai tornar um bocado mais
difícil para os inimigos da Síria continuar suas
provocações e incitamentos sem disparar retaliações
maciças.
Mas talvez Carter ainda não tenha pensado acerca disso.
NOTA: A Rússia emitiu advertência ao Pentágono:
Aviões hostis que ameacem tropas sírias serão deitados
abaixo.
Isto está numa notícia na
Sputnik International
de quinta-feira:
"O Ministério da Defesa russo disse que "sistemas de defesa
aérea russos S-300 e S-400 instalados na Síria em Hmeymim e
Tartus têm amplitudes de combate que podem surpreender quaisquer alvos
aéreos não identificados. Operadores dos sistemas de defesa
aérea russos não terão tempo para identificar a origem dos
ataques aéreos e a resposta será imediata. Quaisquer
ilusões acerca de jactos "invisíveis" [ao radar]
inevitavelmente serão esmagadas pela realidade decepcionante".
NÃO MAIS DEIR EZ-ZORS
"Saliento a todas as "cabeças quentes" que a seguir ao
ataque aéreo da coligação ao Exército Sírio,
em 17 de Setembro, tomámos todas as medidas necessárias para
excluir que quaisquer "acidentes" semelhantes aconteçam a
forças russas na Síria", disse Konashenkov. (
Sputnik
)
09/Outubro/2016
[1] O mais alto organismo de aconselhamento militar do presidente dos EUA
(inclui os chefes do Exércilto, Marinha, Força Aérea e
Fuzileiros Navais).
[*]
fergiewhitney@msn.com
O original encontra-se em
www.informationclearinghouse.info/article45633.htm
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
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