Revelações da WikiLeaks sobre a actuação dos EUA na
Síria
|
|
Oposição síria, em 2006, para os EUA:
[Uns] "Sejam mais discretos. Metam os US$ numa mala, e estamos
conversados."
[Outros] "Respeitem-nos! Os EUA não querem parceiros na
Síria: querem serviçais".
|
Telegrama 06DAMASCUS760
http://wikileaks.org/cable/2006/02/06DAMASCUS760.html#
|
Reference ID
|
Created
|
Released
|
Classification
|
Origin
|
|
06DAMASCUS760
|
2006-02-27 09:57
|
2011-08-30 01:44
|
CONFIDENTIAL
|
Embassy Damascus
|
ASSUNTO: Mais dinheiro dos EUA para a oposição síria [em
2006]
REF: DAMASCUS 0701
1. (C) Resumo: A operação "Anunciando a Democracia
Síria", do Governo dos EUA, continua a provocar
reações contraditórias em Damasco, entre a
oposição e outras figuras políticas. Já informamos
em telegrama anterior as primeiras reações negativas. Exame
posterior da mesma questão permite ver um conjunto mais nuançado
de reações. Alguns receberam com entusiasmo a iniciativa, dizendo
que nossa operação envia a mensagem de que os EUA apoiam a
oposição e não farão nenhum tipo de
"negócio" com o governo de Assad; mas mesmo esses ainda
questionam se o dinheiro que estamos oferecendo chegará às
mãos dos membros mais sérios da oposição. Um de
nossos contatos descreveu a reação inicial (negativa) de membros
da oposição como exagerada, "mas típica".
Vários contatos ofereceram sugestões de como podemos ajudar com
dinheiro, apoiando a sociedade civil e o desenvolvimento democrático na
Síria.
Um importante dissidente e ex-prisioneiro político, ecoando suspeitas
generalizadas sobre as intenções dos EUA, considerou nossa oferta
"insultuosa". Para ele, os EUA são hipócritas ao apoiar
a democracia na região; disse que nos interessamos apenas por encontrar
"instrumentos" por aqui, não parceiros. Não se
registrou nenhum (ou quase nenhum) apoio público à oferta de
dinheiro que fizemos à oposição síria. FIM DO
RESUMO.
2. (C) "Metam o dinheiro numa mala, e estamos conversados"
Basil Dahdouh, deputado independente do Parlamento Sírio entende que o
dinheiro agora oferecido envia importante mensagem à
oposição, indicando que os EUA estão sendo
"sérios", na disposição para cooperar. Essa
mensagem estimulará a oposição. Contudo, o deputado
considera o modo como o dinheiro tem sido entregue "burocrático,
legalista e 'público' demais para dar algum resultado". "Aqui
nessa região as coisas não são feitas desse modo"
disse Dahdouh. "Khalid Misha'al vai a Teerã e volta com
alguns milhões numa mala simples. Não precisa assinar recibos,
nem papelada, nem precisa de computadores" disse ele. Para o
deputado, o modo como os EUA entregam o dinheiro é característico
de estado com leis e regulações, "mas nada disso corresponde
à mentalidade nessa região". Por fim, o deputado Dahdouh
disse que o fato de a entrega de dinheiro ser pública, do conhecimento
de vários, dada a imagem dos EUA no mundo árabe, acabará
por destruir a credibilidade de qualquer um que receba o dinheiro. As pessoas
dirão "Ora, claro que ele disse tal ou tal coisa. Ele é pago
pelos norte-americanos".
3. (C) SUGESTÕES MAIS AMPLAS PARA APOIARMOS: Quanto a sugestões
de áreas nas quais os EUA poderiam oferecer apoio mais discreto à
oposição, Dahdouh sugeriu ajuda financeira a famílias de
prisioneiros políticos, algo como algumas poucas centenas de
dólares por mês, por família. Essa ajuda reduziria o
"alto risco de empobrecimento das famílias" que acompanha
sempre a prisão de qualquer dissidente. Embora admita que não
sabe como se poderia implementar esse tipo de programa, Dahdouh indicou o
International Committee of the Red Cross (ICRC) como possibilidade.
Também sugeriu que os EUA ampliem o alcance dos programas culturais,
programas de conferências, bolsas para estudo de inglês e acesso
à internet. Na opinião dele, os EUA podem usar
relações culturais para canalizar pequenas quantias de dinheiro
para bolsas de estudo, prêmios, remuneração de
conferencistas e painelistas e coisas desse tipo. A chave é não
procurar a controvérsia, mas manter programas regulares com
reuniões, através das quais pequenas quantidades de dinheiro
possam ser distribuídas. Dahdouh também sugeriu que se crie um
centro de traduções que se concentraria não nas manchetes
e nas opiniões "das vozes mais ouvidas" (quase todas de apoio
ao regime), mas em ideias alternativas, com bom conteúdo intelectual
sério. Esse centro também poderia ser usado como veículo
para distribuir alguns subsídios informais. (...)
9. (C) CRÍTICA DOS DISSIDENTES: Yassin Haj Saleh, prisioneiro
político por 18 anos, foi quem apresentou a crítica mais
consistente contra nossa proposta de oferecer dinheiro à
oposição. Disse que a oferta é "insultuosa".
Pede que os EUA "parem de negociar com os sírios desse modo
desrespeitoso". Solicitado a explicar-se melhor, Saleh disse que os EUA
são hipócritas quando oferecem apoio à democracia no mundo
árabe, mas só apoiam a democracia na Síria, e não
apoiam democracia alguma na Palestina onde os EUA ignoraram
completamente o governo democraticamente eleito do Hamás.
"Vocês cortam milhões de ajuda à democracia na
Palestina e oferecem centavos à democracia síria. Vocês
só querem instrumentos, subordinados, não querem nem parceiros
nem amigos" Saleh insistiu.
10. (C) Na opinião de Saleh, os EUA "continuam a ser
profundamente hostis a qualquer ideia de independência no mundo
árabe, mesmo hoje", anos depois do fim da Guerra Fria e
décadas depois de Nasser ter desaparecido do cenário. O
"maior presente que os EUA poderiam dar, para ajudar a democracia na
Síria, seria uma proclamação pública em que
criticassem a ocupação israelense no Golan, exigissem a imediata
retirada de Israel e oferecessem apoio a negociações"
disse Saleh. Saleh também observou que as pessoas que aceitarem dinheiro
dos EUA "são as menos confiáveis de toda a
oposição síria." Disse que os EUA dariam melhor uso
ao seu dinheiro se oferecessem bolsas para estudantes sírios pobres
estudarem nos EUA.
11. (C) NENHUM APOIO POPULAR: Figuras do campo das Relações
Públicas tendem a dividir-se entre declarações
categoricamente críticas (dos nacionalistas tradicionais), e
formulações um pouco mais nuançadas mas sempre
rejeitando qualquer ajuda, por princípio , dos que parecem mais
simpáticos ao apoio ocidental. Hassan Abdul Azim, porta-voz do Grupo
Democrático Nacional, coligação de cinco partidos da
oposição constituído de pan-arabistas e ex-comunistas,
disse que seu grupo recusaria qualquer "financiamento vindo do lado
ocidental" e puniria membros que aceitassem aquele dinheiro.
Michel Kilo, ativista, disse que os problemas da oposição
síria são políticos, não financeiros. Acrescentou,
porém, que a oposição não quer receber apoio
financeiro dos EUA, por causa "da política dos EUA no Oriente
Médio e sobre a Palestina". [assina] SECHE
Ver também:
UNDERSTANDING THE SYRIAN CRISIS: Selection of Key Articles and News Reports
SYRIA: Moscow and Tehran to Provide Military Aid to Curb US-NATO Supported Armed Insurrection
Exposed: The Arab Agenda In Syria
Le CCG et l’OTAN perdent leur leadership
Syria Assassination Plot: 1957 Intel. Documents Reveal How Eisenhower and Macmillan Conspired against Syria
O original encontra-se em
http://wikileaks.org/cable/2006/02/06DAMASCUS760.html#
Este telegrama encontra-se em
http://resistir.info/
.
|