A cadeia de televisão Al Manar,
a face mediática do Hezbollah
por María Laura Avignolo
[*]
Seu edifício foi totalmente destruído pela aviação
israelense logo no início do conflito. Só esteve dois minutos fora do
ar e agora transmite a partir de um lugar secreto.
Al Manar, a cadeia de televisão do Hezbollah, é hoje uma lenda de
sobrevivência e nesta batalha em todas as frentes, a cara
mediática da guerrilha islâmica na guerra contra Israel.
Ninguém imagina de onde emitem, como o conseguem e menos ainda quem
é o corajoso que se atreve a participar nos seus programas. Mas
continuam no ar, com sua programação habitual e até seus
"talk shows" com convidados.
Com seu edifício de cinco pisos destruído pelas bombas no
"perímetro" de segurança da milícia xiita no sul
do Líbano, o canal de televisão do Hezbollah só esteve
dois minutos fora do ar após o ataque. Móvel e organizado como
os milicianos que combatem Israel, começou a transmitir de "algum
lugar" de Beirute imediatamente após.
Al Manar foi um "target" israelense no início da crise. Seu
edifício veio abaixo como um acordeão sob uma chuva de
mísseis, mas houve apenas um ferido. O canal pôs em andamento seu
plano de acção: como na guerra, cada jornalista e técnico
sabia o que devia fazer e aonde ir em caso de emergência. O telefone
passou a ser um instrumento estritamente necessário e as chamadas
duravam apenas uns segundos.
"Em algum de Beirute", o chefe de Relações
Públicas da Al Manar, Ibrahim Farhat, conversou com
Clarín
para contar a aventura de fazer "jornalismo comprometido" em plena
guerra e quando sua cadeia é para Israel um objectivo fundamental a
silenciar.
Calmo, com um elegante traje beije e uma camisa azul, este jornalista
que decidiu trabalhar na Al Manar por estar ideologicamente convencido da sua
missão nem sequer, afirma ele, sente temor. É essa
"capacidade de sacrifício xiita" que os ocidentais e
especialmente os israelenses não entendem e temem.
A entrevista implica certas medidas de segurança. É Farhat quem
chega, discretamente, como qualquer transeunte, a um lugar público.
Escusa-se de dar pormenores por razões óbvias de
sobrevivência pessoal.
"A Al Manar é uma equipe de 350 pessoas. Quando estalou a crise a
direcção do canal ordenou a 70 delas, especialmente os
administrativos, que não viessem trabalhar. Os outros 270 estão
todos no lugar, motivados, nenhum quer ir embora", explicou.
O canal preparou-se conscientemente para a guerra. Quando as antenas,
localizadas em diferentes regiões do país, são atacadas
existem equipes técnicas que as reparam imediatamente, apesar dos
pedidos de espera da direcção.
"Nossa equipe técnica é realmente heróica",
afirma Farhat com orgulho.
Para os jornalistas de Al Manar, resistir é continuar com a
emissão, é o comandante da batalha da opinião
pública do Hezbollah. Todo o seu pessoal tem a mesma ideia e a mesma
paixão. É sua guerra, sua luta.
Têm correspondentes no sul do Líbano e também o
último jornalista que resta em Majajuhm, onde estava a base da
ocupação no sul do país. Todos os jornalistas
estrangeiros partiram da zona devido ao perigo dos bombardeamentos.
"Assume riscos como todos os correspondentes de guerra, mas é um
jornalista. Nem mais nem menos que os outros, mas mais comprometido",
responde Farhat, ao ser perguntado se eles são jornalistas e
simultaneamente milicianos.
"Nós somos jornalistas, comprometidos, mas jornalistas. Temos um
compromisso público efectivo. Estamos na Al Manar porque cremos na
causa. Não somos nem milicianos nem combatentes. Não dizemos
que as forças israelenses atacaram e sim que o 'inimigo israelense'
atacou".
"Tudo é móvel na Al Manar. Nas condições em
que trabalhamos, tem de ser", esclareceu.
A Al Manar primeiro foi proibida na Europa nas suas emissões pelas
antenas de satélites e a seguir foi atacada pelos bombardeamentos
israelenses. Seus jornalistas estão bastante decepcionados pela escassa
solidariedade da imprensa internacional diante das agressões que
sofreram.
[*]
Do jornal argentino
Clarín,
enviada especial a Beirute,
mlavignolo@clarin.com
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O original encontra-se em
http://listas.nodo50.org/cgi-bin/mailman/listinfo/diariodeurgencia
Esta entrevista encontra-se em
http://resistir.info/
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