Bolívar e Chávez:
O espírito da determinação radical
por István Mészáros
1. "Penas levadas pelo vento"
No Verão de 2005 a Venezuela comemorou o bicentenário do
juramento de Simón Bolívar, feito na presença do seu
grande professor, Simón Rodríguez um homem que
posteriormente em Paris, bem antes de Marx, frequentara sociedades secretas
socialistas e regressara à América do Sul apenas em 1823. O
juramento de Bolívar teve lugar em 15 de Agosto de 1895, nos arredores
de Roma. O próprio local a colina do Monte Sacro que foi
escolhido em conjunto para esta ocasião solene constituía
já uma indicação da natureza do compromisso
histórico do jovem Bolívar. Pois fora precisamente na colina do
Monte Sacro, vinte e três séculos antes, que consta ter ocorrido o
protesto revoltoso dos plebeus contra os patrícios da Roma Antiga, sob a
liderança de Sicinio. Diz-se que a rebelião da populaça
romana daquele tempo foi apaziguada graças à retórica
daquele notório pilar da ordem estabelecida, o senador Menenius Agrippa,
que pregou a eterna visão familiar de que o povo "que
não está destinado a governar" deveria aceitar com boa
vontade "o
seu lugar
na
ordem natural
da sociedade". Num firme desafio à visão resignada que
emana das iníquas relações de poder impostas com
êxito por toda a parte, o jovem Bolívar exprimiu no Monte Sacro a
sua determinação em dedicar a sua vida à luta com vista a
um final vitorioso contra o domínio colonial na sua parte do mundo.
Foram estas as suas palavras:
"Juro perante si, juro pelo deus dos meus pais, juro pelos meus
antepassados, juro pela minha honra e juro pela minha pátria que
não permitirei que nem o meu braço nem a minha alma descansem
até termos quebrado as cadeias que nos oprimem por vontade do poder
espanhol".
[1]
Bolívar nunca vacilou na sua determinação radical,
conforme expressa no seu juramento, nem mesmo sob as circunstâncias mais
adversas. Os anos seguintes fizeram-no perceber que era preciso haver
mudanças fundamentais não só nas relações
políticas e militares internacionais como, mais profundamente, na ordem
social existente, se quisesse que o projecto de acabar com a
dominação colonial tivesse êxito. Essas mudanças
radicais incluíam a libertação dos escravos, ao que a sua
própria classe se opunha veementemente. Até a sua querida
irmã o considerou "louco", devido à sua
inquebrantável insistência na
igualdade.
Bolívar considerou a igualdade como "a lei de ouro",
acrescentando que "sem igualdade todas as liberdades, todos os direitos
perecem. Por ela devemos fazer sacrifícios".
[2]
Manifestou tudo isto duma forma verdadeiramente intransigente. E para provar
com acções a validade dos seus profundos princípios e
crenças, não hesitou nem um momento em libertar todos os escravos
das suas próprias propriedades, na sua determinaçao em dar uma
base social tão vasta quanto possível à luta por uma
emancipação completa e irreversível do domínio
colonial profundamente instituído. No seu magnífico discurso no
Congresso de Angostura, em Fevereiro de 1819, destacou a
libertação dos escravos como a mais essencial das suas ordens e
decretos, afirmando que
"Deixo à vossa soberana decisão a reforma ou a
revogação de todos os meus estatutos e decretos, mas imploro a
confirmação da liberdade absoluta dos escravos, como imploraria
pela minha vida e pela vida da República".
[3]
Isto passou-se várias décadas antes de ser levantada e
parcialmente resolvida a questão humana vital da
emancipação dos escravos na América do Norte. Pois os Pais
Fundadores da Constituição dos EUA nunca tiveram a mínima
preocupação, nem no seu espírito nem nos seus
corações, em acabar com o desumano sistema da escravidão
do qual eles próprios eram beneficiários directos. A
terrível herança da sua funesta omissão continuou a
exprimir-se de diferentes formas durante séculos, manifestando-se de um
modo trágico ainda nos nossos dias como pudemos testemunhar em Nova
Orléans aquando do furacão Katrina em Agosto/Setembro de 2005.
Como contra-peso necessário não só à "Santa
Aliança", que incluía também a Espanha, mas ainda
mais notoriamente às crescentes ambições imperialistas dos
Estados Unidos da América do Norte, Bolívar tentou constituir uma
Confederação permanente das nações
latino-americanas. Não é de estranhar, porém, que os seus
esforços destinados a tal objectivo fossem frustrados e totalmente
anulados pelo cada vez mais poderoso país do Norte e pelos seus aliados.
Mostrando grande visão quanto à tendência prevalecente do
desenvolvimento histórico, que chega até aos nossos
próprios dias, Bolívar foi finalmente forçado a reconhecer
que
"os Estados Unidos da América do Norte parecem destinados pela
providência a infestar a América de miséria em nome da
Liberdade".
[4]
Como todos nós sabemos, os discursos de George W. Bush seja
quem for que os escreve são apimentados com a palavra
"Liberdade", untuosamente recitada. A única coisa que mudou
desde os tempos de Simón Bolívar é que hoje os Estados
Unidos da América do Norte afirmam estarem destinados pela
própria divina providência a tratar como lhes apetece, "em
nome da Liberdade", não só a América do Sul mas todo
o mundo, empregando os meios mais violentos de agressão militar contra
aqueles que ousam opor-se ao seu desígnio global imperial.
Até os bispos anglicanos, num documento tornado público em 19 de
Setembro de 2005, rejeitaram tal presunção de virtude e destino
providencial como princípio orientador da política externa
americana, embora eles compreensivel, mas erradamente o tenham
atribuído à influência do fundamentalismo cristão. E
é compreensível porque, nessa base, eles puderam proferir
ex officio
uma condenação autorizada de uma posição
"teologicamente distorcida". Mas está errado, porque esta
orientação da política externa das classes dominantes
americanas é muito antiga na história desde o tempo de
Simón Bolívar, se não mesmo antes. E aqueles que gostam de
a atribuir simplesmente ao Partido Republicano de George W. Bush seriam bem
avisados se recordassem que foi o presidente democrata Bill Clinton que
arrogantemente declarou, enquanto presidente, em uníssono completo com o
seu governo, desde a secretária de Estado Madeleine Albright (que
continuou a repetir a fórmula clintoniana) até ao
secretário do Trabalho, Robert B. Reich,
[5]
que havia
"apenas uma nação necessária: os Estados Unidos da
América".
Com tal afirmação, proclamada nada menos que por uma figura
governamental eleita duas vezes como o presidente Clinton, as outras
nações deveriam ser condenadas pela "única
nação necessária" pelas suas aspirações
totalmente inaceitáveis de tomar decisões soberanas, sem a mais
ligeira preocupação pela democracia e pela liberdade, como
culpadas de
"pandemónio étnico"
nas palavras do senador democrata Daniel Patrick Moynihan.
[6]
Bolívar considerava que a igualdade legal, a sua "lei de
ouro", era absolutamente indispensável para a
constituição de uma sociedade politicamente sustentada contra os
poderes que internamente tendiam a entravar o seu desenvolvimento potencial, e
tentavam violar e até mesmo anular a sua soberania nas
relações internacionais. Repetia que a "desigualdade
física" tinha que ser combatida incansavelmente sob todas as
circunstâncias, porque era uma "injustiça da natureza".
E era suficientemente realista para reconhecer que a igualdade legal não
podia corrigir a desigualdade física para além duma certa medida
e de forma limitada.
[7]
Nem mesmo quando as medidas legais adoptadas pelos legisladores tivessem um
significado social fundamental, como de facto a sua libertação
dos escravos acabou por se revelar.
O que era obrigatoriamente necessário para tornar realmente
viável a ordem social era a transformação de todo o tecido
social muito para além de medidas como a emancipação legal
dos escravos. Não é de surpreender, portanto, que na sua procura
de soluções necessárias para as quais o tempo
histórico ainda não tinha chegado, que Bolívar tivesse
enfrentado grande hostilidade mesmo nos países latino-americanos aos
quais prestou serviços inigualáveis, reconhecidos pelo
título único de
El Libertador
com que foi homenageado na época. Por isso, embora hoje isso nos
pareça ultrajante, acabou por passar os seus últimos dias num
isolamento trágico.
Quanto aos seus adversários dos Estados Unidos da América do
Norte, que se sentiram ameaçados pelo alastrar do seu conceito iluminado
de igualdade tanto internamente como na gestão das
relações inter-estados não hesitaram em
condená-lo e apelidá-lo de
"o perigoso louco do Sul"
[8]
Com um grande
sentido das proporções:
uma virtude absolutamente vital para toda a gente, e especialmente para todas
as figuras políticas importantes que têm o privilégio, nas
nossas sociedades, de tomar decisões que afectam profundamente a vida de
imensa gente, Bolívar disse sobre si próprio que era
"uma pena arrastada pelo vento".
Este tipo de constatação do papel duma pessoa na sociedade
não poderia ser mais estranho aos apologistas da ordem social e
política instituída que gostariam de tornar impossível a
instituição de qualquer mudança significativa, quer seja
provocada por tempestades sociais ou em etapas vagarosas, apesar dos elogios
dispensados por vezes a estas últimas. Para além disso, essas
pessoas estão invariavelmente empenhadas na tarefa fútil de
tentar
desfazer
as mudanças que acabaram por se instalar no decurso do desenvolvimento
histótico. E assim continuam a negar que pode haver
causas
reais bem enraizadas por detrás das impetuosas tempestades sociais e
políticas que transportam nas suas asas, tal como as "penas"
de Bolívar, as figuras políticas que insistem com paixão
radical na necessidade de mudanças sociais fundamentais. E quando os
nossos apologistas incuráveis, todos juntos, não conseguem fechar
os olhos ao facto da erupção periódica das tempestades
sociais, preferem atribuí-las convenientemente à
"irracionalidade",
à "aceitação pela populaça do
populismo ingénuo",
e coisas do género, pretendendo com isso dar uma resposta racional ao
desafio que deveriam enfrentar quando de facto estão a fugir do
verdadeiro problema. Têm que fazer isso porque não têm
absolutamente nenhum sentido das proporções; nem nunca o
conseguirão arranjar.
Dentro deste espírito, o semanário largamente difundido, o
Economist
de Londres, recusa-se a dar qualquer sentido à expressão
"revolução bolivariana", apesar do facto de que a
chefia política da Venezuela, em conjunto com as suas referências
consistentes ao projecto inacabado da época de Simón
Bolívar, está empenhada em pôr em movimento uma
transformação de longo alcance do país. Na verdade, uma
transformação que continua a repercutir através do
continente e gera reacções significativas também noutras
partes da América Latina. Com uma intenção insultuosa
deliberada,
The Economist
coloca sempre entre sarcásticas aspas a palavra "bolivariano"
como se tudo o que fosse bolivariano devesse ser considerado
obrigatoriamente absurdo em vez de comentar de forma séria as
questões que tenta ansiosamente rejeitar sem quaisquer argumentos. As
aspas pretendem significar uma rejeição, sob a forma duma
desqualificação apriorística dos acontecimentos em curso
na América do Sul, pretendendo fornecer desta forma peculiar uma prova
irrefutável. No entanto, a única coisa que os editores de
The Economist
conseguem provar através do pungente uso repetitivo das suas aspas
sarcásticas é a sua própria estupidez venenosa. Ao serem
totalmente subservientes para com os interesses dos círculos governantes
dos EUA, como propagandistas auto-nomeados do ritual anual da Cimeira
Económica de Davos, parece que ainda hoje pensam que Bolívar
não passou de um
"perigoso louco do Sul".
Dentro do mesmo espírito com que também tentam caracterizar (e
rejeitar perentoriamente) todos os que estão apostados a trazer o seu
projecto de volta.
Contudo, o que é verdade é que só se poderão
instaurar feitos radicais duradouros,
cumulativamente
e de forma conscientemente sustentada, sobre uma apropriação
significativa da tradição progressista que precedeu as tentativas
em curso e se manteve apontando para a mesma direcção, apesar de
todas as adversidades. Não se pode escolher arbitrariamente nem a
natureza do que realmente se pode instaurar sobre essa tradição,
e portanto apropriar-se dela positivamente, nem a direcção geral
a longo prazo do próprio desenvolvimento histórico da humanidade.
O nosso universo social está sobrecarregado de problemas enormes, tanto
no que se refere às desigualdades herdadas do passado e que são
cada vez mais intensamente explosivas, como à invasão cada vez
mais desenfreada do modo de reprodução metabólica social
do capital na natureza, ameaçando-nos com um desastre ecológico.
Estas são as razões por que estão condenadas ao fracasso
as tentativas conservadoras e reaccionárias para
inverter
a direcção do tempo histórico, na medida em que
são
estruturalmente incapazes
de produzir realizações cumulativas, quaisquer que sejam os
sucessos que possam impor temporariamente na sociedade dadas as
relações de poder prevalecentes mas cada vez mais
instáveis,
que acarretam formas de controlo cada vez mais repressivas mesmo em
países antigamente democráticos à custa de grande
sofrimento inflingido a centenas de milhões de pessoas. A fuga e a
repressão intensificada não podem funcionar indefinidamente. Pois
ambas são afinal
completa e catastroficamente devastadoras.
Os tremendos problemas do nosso universo social serão confrontados, mais
tarde ou mais cedo, com as suas dimensões
substantivas,
em oposição à
camuflagem formal da democracia e da liberdade
que todos conhecemos.
Como sabemos bem demais, os ventos históricos que transportam penas como
Simón Bolívar podem acalmar temporariamente sem cumprirem a sua
promessa original. Os objectivos estabelecidos pelas figuras históricas
mesmo as mais ilustres só podem ser atingidos quando chegar realmente a
sua época, tanto em sentido objectivo como subjectivo. Apesar do seu
trágico isolamento final, a contribuição de Bolívar
para resolver alguns dos maiores desafios do seu tempo, e num sentido bem
identificável também do nosso tempo, é monumental, tal
como foi a de José Martí em Cuba que seguiu as suas pisadas.
Não poderemos ter êxito se não construirmos conscientemente
sobre a herança que eles nos legaram como uma tarefa para o futuro,
redefinida no presente de acordo com as circunstâncias vigentes. Nos seus
apelos ao povo nalgumas ocasiões vitais, Bolívar realçou a
sua convicção de que "Chegou o dia da América e
nenhum poder humano pode adiar o curso da natureza guiado pela mão da
Providência"
[9]
Para o fim da sua vida, foi forçado a reconhecer que, tragicamente, o
dia da América, tal como ele tinha anteriormente visualizado, ainda
não tinha chegado.
O principal obstáculo quanto a isto foi o profundo contraste entre a
unidade política dos países latino-americanos defendida por
Bolívar e os componentes profundamente adversários/conflituosos
dos seus microcosmos sociais. Como os seus microcosmos socais estavam
despedaçados por antagonismos internos, os mais nobres e eloquentes
apelos à unidade política só podiam ter êxito quando
se tornasse grave a ameaça feita pelo adversário colonial
espanhol. Mas, só por si, esta ameaça não podia remediar
as contradições internas dos microcosmos sociais existentes. Nem
a situação podia ser alterada radicalmente pela
identificação premonitória de Bolívar do novo
perigo acima citado. Nomeadamente, de que "os Estados Unidos da
América do Norte parecem destinados pela providência a condenar a
América à miséria em nome da Liberdade". Um perigo
sublinhado ainda mais fortemente, dentro do mesmo espírito, por
José Martí seis anos depois.
[10]
Ambos foram tão realistas nos seus diagnósticos dos perigos como
foram generosos na defesa duma solução ideal para os graves
problemas da humanidade. Bolívar, quando propôs uma forma de todas
as nações da humanidade se reunirem harmoniosamente no istmo do
Panamá para fazerem a capital do nosso globo, tal como
"Constantino queria fazer de Bisantium a capital do antigo
hemisfério",
[11]
e Martí quando insistia que "patria es humanidad":
"a humanidade é a nossa pátria".
Mas quando estes ideais foram formulados, o tempo ainda apontava na
direcção oposta: para a terrível
intensificação dos antagonismos sociais e para a horrível
carnificina das duas guerras mundiais que nasceram desses antagonismos.
Além disso, a ameaça concomitante nos nossos dias é maior
do que nunca. Com efeito, é
qualitativamente
maior, porque hoje o que está em jogo é nada menos que a
própria sobrevivência da humanidade. Claro que isto não
quer dizer que os ideais há muito defendidos estejam obsoletos. Muito
pelo contrário, só pode realçar a sua urgência cada
vez maior. Apesar disso, é hoje tão verdade como era no tempo de
Bolívar que não se pode encarar o funcionamento
sustentável do
macrocosmo
social da humanidade sem ultrapassar os antagonismos internos dos seus
microcosmos:
as células adversárias/conflituosas constitutivas da nossa
sociedade sob o modo de controlo social metabólico do capital. Já
que um macrocosmo coeso e sociavelmente viável só é
concebível com base nas células constitutivas correspondentes e
humanamente recompensadortas das relações interpessoais.
As circunstâncias históricas actuais são completamente
diferentes da época dos triunfos de Bolívar e da sua
trágica derrota final. São diferentes porque o perturbante
desenvolvimento social e histórico colocou na agenda a
realização dos objectivos outrora rejeitados num sentido duplo.
Em primeiro lugar, abrindo a
possibilidade
de instituir um macrocosmo potencialmente harmonioso a uma escala
global,
para além dos conflitos devastadores das passadas
confrontações inter-estados que iriam culminar nas pilhagens do
imperialismo. É esta possibilidade que o Forum Social Mundial
está a tentar evidenciar no seu repetido apelo
"É possível um outro mundo"
. O segundo aspecto da mesma proposta é inseparável do primeiro,
eliminando a imprecisão de qualquer conversa limitada apenas à
possibilidade.
Visto que, se a possibilidade em causa não indicar um grau de
probabilidade e necessidade,
não terá qualquer sentido. No nosso contexto actual é
inconcebível um macrocosmo social coeso e globalmente sustentável
em profundo contraste com toda a propaganda capitalista, ansiosamente
publicitada mas irrealizável, sobre a
"globalização" neoliberal sem a
definição teórica e a articulação
prática das células constitutivas da mudança social numa
forma
genuinamente socialista.
É assim que a
possibilidade
e a
necessidade
se conjugam numa unidade dialéctica no nosso universo social,
historicamente específico, dos dias de hoje. A
possibilidade
porque, sem ultrapassar as determinações estruturais dos
antagonismos irreconciliáveis do capitalismo a partir dos quais
emergiu o projecto socialista no decurso do desenvolvimento histórico da
humanidade é completamente inútil sonhar com a
instituição de um universo social globalmente sustentado. E a
necessidade
não uma espécie de fatalidade mecanicista, mas uma
necessidade incontrolável e literalmente vital porque o destino
do ser humano será a aniquilação se no decorrer das
próximas décadas não conseguirmos
erradicar totalmente o capitalismo
do nosso modo instituído de reprodução social
metabólica. A principal lição da implosão
soviética é que só podemos esperar uma
reabilitação capitalista se a definição de
socialismo em termos do derrube do estado capitalista for substituída
pela tarefa muito mais fundamental e difícil de erradicar o capitalismo
de toda a nossa ordem social.
É completamente impossível estar empenhado hoje na grande tarefa
histórica da erradicação do capital, orientada
positivamente para um futuro sustentável, sem activar todos os recursos
do espírito de
determinação radical,
em consonância com as exigências da nossa época, como
Bolívar fez da forma que pôde de acordo com as
circunstâncias do seu próprio tempo. É de facto verdade que
chegou agora a altura para a realização dos objectivos
bolivarianos na sua perspectiva mais lata, como o Presidente Chávez tem
vindo a defender há algum tempo. É por isso que os propagandistas
do capitalismo que usam a expressão
projecto bolivariano
entre sarcásticas aspas fazem apenas figura de tolos. A
continuidade histórica
não significa uma repetição mecânica mas uma
renovação criativa
no sentido mais profundo do termo. Assim, dizer que chegou a altura para a
realização dos objectivos bolivarianos, no sentido de que
têm que ser actualizados de acordo com as nossas próprias
condições históricas, com toda a sua urgência
premente e com um significado claramente identificável também
para o resto do mundo, significa precisamente que tem que se dar um sentido
socialista
às transformações radicais previstas, se estivermos
verdadeiramente interessados em as implementar. Os discursos mais importantes e
as entrevistas do Presidente Chávez nos quais ele realça a
dramática alternativa de
"Socialismo ou Barbárie"
tornam tudo isto muito claro nos dias de hoje.
[12]
A tarefa de renovação radical não está de forma
alguma limitada à América Latina. Os movimentos sociais e
políticos da esquerda europeia, assim como da América do Norte,
também estão a precisar de uma reavaliação profunda
das suas estratégias passadas e presentes, perante as suas dolorosas
derrotas das últimas décadas. O fermento social e político
claramente identificável na América Latina, que vem desde os
tempos da revolução cubana e se manifestou durante décadas
em muitas partes diferentes deste continente, não apenas na Venezuela,
tem muito a dizer sobre a questão fundamental de "o que é
que se deve fazer?". Precisamente por essa razão temos que abrir os
olhos e exprimir a nossa solidariedade com a renovação criativa
da tradição bolivariana na Venezuela nas últimas duas
décadas. Infelizmente, fora da América Latina pouco se sabe sobre
o passado recente deste movimento, apesar da relevância directa de
algumas das suas doutrinas para todos nós. Assim, antes de me virar para
a questão das actuais perspectivas de desenvolvimento, na
secção final deste artigo, vou voltar a publicar já a
seguir, sem qualquer alteração, o que escrevi em 1993 no projecto
bolivariano, cinco anos antes das decisivas eleições
presidenciais na Venezuela,
[13]
e publicado no Outono de 1995 no Capítulo 18 de
Beyond Capital:
"A actualidade histórica da ofensiva socialista"
.
[14]
2. Crítica radical da política por Hugo Chávez em 1993
A crítica do sistema parlamentar segundo uma perspectiva radical
não começou com Marx. Encontramo-la vigorosamente expressa
já no século XVIII nos escritos de Rousseau. Partindo da
posição de que a soberania pertence ao povo e portanto não
pode ser legitimamente alienada, Rousseau também defendeu que pela mesma
razão não pode legitimamente ser transformada em qualquer forma
de abdicação representativa:
"Os deputados do povo, portanto, não são e não podem
ser seus representantes; são apenas seus administradores, e não
podem realizar quaisquer actos decisórios. Qualquer lei que o povo
não tenha ratificado pessoalmente é nula e sem validade legal
de facto, não é uma lei. O povo de Inglaterra considera-se
livre; mas está redondamente enganado; só é livre durante
a eleição dos membros do parlamento. Depois de os eleger, surge a
escravatura, e fica reduzido a nada. O uso que faz dos curtos momentos de
liberdade de que desfruta mostra realmente que merece perdê-la."
[15]
Ao mesmo tempo, Rousseau realça também a questão
importante de que, embora o poder da legislação não possa
estar divorciado do povo mesmo através da representação
parlamentar, as funções administrativas ou "executivas"
devem ser consideradas a uma luz muito diferente. Como afirmou:
"no exercício do poder legislativo, o povo não pode ser
representado; mas no do poder executivo, que é apenas a força que
é aplicada para pôr a lei a funcionar, pode e deve ser
representado".
[16]
Desta forma Rousseau, que tem sido sistematicamente deturpado e insultado por
ideoólogos "democráticos" mesmo do "jet-set
socialista" porque insistiu em que a "
liberdade não pode existir sem igualdade"
[17]
o que portanto excluía mesmo a melhor forma possível de
representação como uma hierarquia obrigatoriamente
discriminatória/iníqua propôs um exercício
muito mais prático de poder político e administrativo do que lhe
atribuem habitualmente ou mesmo de que o acusam. Significativamente, neste
processo de deturpação tendenciosa, os importantes
princípios vitais da teoria de Rousseau, utilizáveis
também pelos socialistas numa forma adequadamente adaptada, foram
desqualificados e atirados borda fora. No entanto a verdade é que, por
um lado, o poder da tomada de decisões fundamentais nunca devia estar
divorciado das massas populares, como ficou demonstrado conclusivamente pela
história de verdadeiro horror do sistema do estado soviético,
dirigido contra o povo da forma mais autoritária pela burocracia
estalinista em nome do socialismo. Ao mesmo tempo, por outro lado, a
realização das funções específicas
administrativa e executiva em todos os domínios do processo social
reprodutivo pode ser claramente
delegada
em membros da comunidade, desde que isso seja feito com normas estabelecidas
autonomamente e devidamente controladas em todas as fases do processo de tomada
de decisões substantivas pelos seus autores associados.
Portanto, as dificuldades não residem nos dois princípios
básicos em si mesmos, tal como formulados por Rousseau, mas na forma
como eles têm que estar ligados ao controlo naterial e político do
processo social metabólico do capitalismo. Será necessário
penetrar e restruturar radicalmente os domínios materiais
antagónicos do capitalismo para estabelecer uma forma socialista de
tomada de decisões, de acordo com o princípio do poder
inalienável de determinação das normas (i.e. a
"soberania" da classe trabalhadora não como uma classe
especial mas como a condição universal da sociedade) e com o
princípio da delegação de tarefas e funções
específicas sob regras bem definidas, distribuídas flexivelmente
e supervisionadas adequadamente. Um processo que terá que ir muio
além do que poderia ser regulamentado com sucesso por
considerações derivadas do princípio de Rousseau de
soberania popular inalienável e o seu corolário de
delegação. Por outras palavras, numa ordem socialista o processo
"legislativo" terá que ser fundido com o próprio
processo de produção de tal forma que a necessária
divisão horizontal do trabalho
discutida no Capítulo 14 de
Beyond Capital
terá que ser complementada com um sistema de
coordenação
auto-determinada do trabalho, desde o nível local até aos
níveis globais. Esta relação contrasta profundamente com a
perniciosa
divisão vertical do trabalho
do capitalismo, que é complementada com a "separação
de poderes" num "sistema político democrático"
alienado e inalteravelmente imposto sobre as massas trabalhadoras. Pois a
divisão vertical do trabalho sob a lei do capitalismo afecta
necessariamente e infecta irremediavelmente também todas as facetas da
divisão horizontal do trabalho, desde as funções
produtivas mais simples até aos processos de equilíbrio mais
complicado da selva legislativa. Esta última é uma selva
legislativa ainda mais densa não só porque as suas
infindáveis regras múltiplas e constituintes institucionais
têm que desempenhar o seu papel vital de manter firmemente sob controlo o
comportamento real ou potencialmente contestatário dos trabalhadores,
mas também estar atentos às reduzidas lutas dos trabalhadores e
ainda, de forma geral, salvaguardar a lei total do capital na sociedade.
Também têm, de certa forma, de reconciliar em determinadas fases
do processo histórico em curso sempre que essa
reconciliação seja possível os interesses distintos
da pluralidade de capitais com as dinâmicas incontroláveis da
totalidade do capital social com vista à sua
auto-afirmação final como uma entidade global.
Numa recente resposta às críticas a Rousseau feitas por uma
representação parlamentar, Hugo Chávez Frias, o dirigente
dum movimento radical na Venezuela o
Movimiento Bolivariano Revolucionário
(MBR-200) escreve em resposta à crise crónica do sistema
sócio-político do país:
"Com o aparecimento dos partidos populistas o sufrágio
transformou-se numa ferramenta para adormecer e escravizar o povo venezuelano
em nome da democracia. Durante décadas, os partidos populistas basearam
o seu discurso em inúmeras promessas paternalistas com a
intenção de amolecer a consciência popular. As mentiras
políticas alienadoras descreviam a chegada à 'terra prometida'
através dum mar de rosas. A única coisa que os venezuelanos
tinham que fazer era irem às urnas eleitorais, e aguardar que tudo fosse
resolvido sem o mínimo esforço popular... Assim, o acto do voto
foi transformado no começo e no fim da democracia"
[18]
O autor destas linhas encontra-se em segundo lugar da estima popular na
Venezuela (logo a seguir a Rafael Caldera) entre todas as figuras
públicas, de todos os estilos de vida, muito acima de todos os
ambiciosos políticos partidários. Assim, poderia facilmente
alcançar um alto cargo político se assim o quisesse, o que
desmente o argumento habitual de que as pessoas que criticam o sistema
político existente só o fazem porque não são
capazes de satisfazer as difíceis exigências das
eleições democráticas. Na realidade, Hugo Chávez na
altura em que escreveu isto (em 1993) rejeita o "canto da sereia" dos
formadores da opinião política que tentam pacificar o povo
dizendo que não há necessidade de se preocuparem com a crise
porque falta "apenas pouco tempo" para as novas
eleições por razões muito diferentes. Chama a
atenção para que, enquanto o conselho político habitual
é para "um pouco mais de paciência" até às
eleições marcadas para daí a uns meses, "em cada
minuto nascem centenas de crianças na Venezuela cuja saúde
está ameaçada pela falta de alimentos e de medicamentos, ao mesmo
tempo que desaparecem milhares de milhões do sistema de saúde
nacional, e no final o país fica completamente empobrecido. Não
há razão para que se dê qualquer crédito a uma
classe política que demonstrou à sociedade que não tem
vontade nenhuma de instaurar qualquer mudança"
[19]
Por isso, Chávez contrapõe ao actual sistema de
representação parlamentar a ideia de que "O povo soberano
tem que se transformar no objecto
e no sujeito
do poder. Esta opção não é negociável para
os revolucionários".
[20]
Quanto ao quadro institucional dentro do qual este princípio deve ser
realizado, prevê-o no decurso duma mudança radical
"O poder eleitoral do estado federal tornar-se-á a componente
político-jurídico através da qual os cidadãos
serão os depositários da soberania popular cujo exercício
se manterá portanto efectivamente nas mãos do povo. O poder
eleitoral será alargado a todo o sistema sócio-político da
nação, estabelecendo os canais para uma verdadeira
distribuição policêntrica do poder, deslocando o poder do
centro para a periferia, reforçando o poder efectivo da tomada de
decisões e a autonomia das diversas comunidades e municipalidades. As
Assembleias Eleitorais de cada municipalidade e estado elegerão
Conselhos Eleitorais que possuirão um carácter permanente e
funcionarão com independência absoluta dos partidos
políticos. Terão capacidade para estabelecer e dirigir os mais
diversos mecanismos da Democracia Directa: assembleias populares, referendos,
plebiscitos, iniciativas populares, vetos, revogação, etc. ...
Assim, o conceito de democracia
participada
sertá transformado numa forma em que a democracia baseada na soberania
popular se constitua como
protagonista
do poder. É precisamente nestas fronteiras que temos que traçar
os limites do avanço da democracia bolivariana. Então estaremos
muito próximos do territorio da
utopia".
[21]
Se estas ideias podem vir a ser realidade ou se se mantêm ideais
utópicos, isso não pode ser decidido dentro dos limites da esfera
política. Porque esta está a precisar do tipo de
transformação radical que se anuncia com o aparecimento da
perspectiva do "enfraquecimento do estado". Na Venezuela, não
se pode considerar demasiado agressiva a condenação do oco
paternalismo parlamentar, quando em muitos pontos do país
90 por cento da população
demonstra a sua "rebelião contra o absurdo do voto através
da abstenção eleitoral",
[22]
as práticas políticas tradicionais e o uso legitimatório
apologético com que se apresenta o "sistema eleitoral
democrático", que reclama falsamente para o sistema a
justificação sem discussão dum "mandato conferido
pela maioria". Nem se pode argumentar seriamente que uma alta
participação eleitoral é por si mesma prova de existir
realmente um consenso popular democrático. No fim de contas, nalgumas
democracias ocidentais o acto de votar é obrigatório e pode de
facto, no seu valor legitimatório, acrescentar apenas as formas mais
extremas de um abstencionismo abertamente crítico ou pessimistamente
resignado. Apesar disso, a medida de validade para submeter o sistema
representativo parlamentar à necessária crítica radical
é a obrigação estratégica de exercer a
"soberania dos trabalhadores" não apenas nas assembleias
políticas, independentemente de quão
directas
estas possam ser no que se refere à sua organização e
modo de tomada de decisões políticas, mas na auto-determinada
actividade da vida diária, produtiva e distributiva, dos
indivíduos sociais em todos e cada um dos domínios e a todos os
níveis do processo social metabólico. É isto que
traça a linha de demarcação entre a
revolução socialista que é socialista nas suas
intenções
como a Revolução de Outubro de 1917 e a "
revolução permanente
" da efectiva transformação socialista. Pois que, sem a
progressiva e finalmente transferência total da tomada de decisões
reprodutiva e distributiva para os responsáveis associados, não
pode haver esperança para os membros da comunidade
pós-revolucionária de se transformarem no
sujeito
do poder.
3. Perspectivas de desenvolvimento
Como podemos ver pelas citações feitas na secção
anterior do
Pueblo, Sufragio y Democracia,
a teimosia em pretender uma transformação socialista
sustentável nos nossos dias, dentro do espírito de uma
determinação radical, é deveras notável. E com
razão. Pois que, após tanta luta e tantos sacrifícios
dedicados em todo o mundo, ao longo de séculos, à causa da
emancipação humana, é ainda mais profundamente verdade, e
hoje mais do que nunca no meio da profunda crise estrutural do sistema
capitalista que ameaça a nossa própria sobrevivência
que "O povo soberano tem que se transformar no objecto
e no sujeito
do poder. Esta opção
não é negociável
para os revolucionários". Uma verdade firmemente sublinhada por
Hugo Chávez Frias no seu panfleto de 1993, cinco anos antes de ser
eleito para a Presidência.
Sem esta transformação, no sentido mais profundo e mais duradouro
do termo que significa nada menos do que a necessidade de os
indivíduos sociais adquirirem um
controlo consciente
sobre as suas condições de existência é
inevitável que a velha ordem da dominação
hierárquica se volte a impôr mesmo contra as melhores
intenções de uma mudança radical. É isto que coloca
a questão do socialismo na ordem do dia com uma urgência
inegável no século vinte e um. Uma forma de socialismo em que
e através do qual o povo possa não só
vir a ser
mas também
manter-se
o sujeito soberano do poder em todos os domínios. Só dessa forma
é possível enfrentar com sucesso os enormes desafios e os perigos
cada vez maiores do nosso tempo. Claramente, não pode haver outra forma.
Neste aspecto, o fermento social e intelectual na América Latina
promete mais para o futuro do que o que podemos encontrar por agora nos
países de capitalismo avançado. E é compreensível
que assim seja, porque a necessidade duma mudança deveras radical
é muito mais premente na América Latina do que na Europa e nos
EU. Porque as soluções infindavelmente prometidas de
"modernização" e "desenvolvimento" mostraram
ser promessas ocas e um completo fracasso em relação ao povo no
extremo final das políticas efectivamente adoptadas. Assim, embora seja
verdade que o socialismo como ordem reprodutiva social alternativa se deve
classificar como uma abordagem viável universal, abrangendo
também as áreas capitalistas mais desenvolvidas do mundo,
incluindo os EUA, não podemos pensar neste problema em termos duma
sequência temporal na qual uma futura revolução social nos
países de capitalismo avançado tenha que tomar a
precedência sobre a possibilidade de mudança radical geral. Longe
disso. Visto que, perante a inércia maciça gerada pelos
interesses adquiridos do capital nos países capitalistas privilegiados,
juntamente com a cumplicidade consensual reformista dos sindicatos no seu
desenvolvimento auto-satisfatório, é muito mais provável,
num futuro não muito distante, que se verifique o rebentar duma
revolução social na América Latina e não nos
Estados Unidos ou na Europa Ocidental, com implicações de longo
alcance para o resto do mundo.
Numa entrevista, em Janeiro de 2003, o dia nacional do Brasil, a
Folha de São Paulo,
colocou-me esta questão:
"Qual é a sua opinião sobre os paralelos traçados
entre Luis Inacio Lula da Silva e outros líderes latino-americanos, como
Fidel Castro e Hugo Chávez?".
Eis a minha resposta:
"Os paralelos são de longo alcance, apesar das óbvias
diferenças entre as circunstâncias sob as quais estes
líderes radicais vieram a ocupar a sua posição actual como
chefes dos seus respectivos governos. Os paralelos são dominantes porque
sublinham forçosamente que toda a América Latina mostra
necessidade duma mudança mais profunda, verdadeiramente radical... A
vitória por maioria esmagadora do Presidente Lula seguiu-se e
não foi por acaso ao colapso estrondoso de todo o tipo de
tentativas de acomodação na Argentina; um país considerado
durante muito tempo como o modelo insuperável da América Latina.
E quando falamos dos três líderes radicais: Lula, Fidel Castro e
Chávez, não podemos esquecer o Presidente Allende, que
também tentou introduzir uma mudança radical no seu país,
e morreu por ela. Sem dúvida, aqueles que se recusam a considerar a
simples ideia de uma mudança significativa vão continuar a tentar
apagar o tempo em que aparecem na cena histórica líderes radicais
latino-americamos. Mas também sem dúvida, esses líderes
voltarão a aparecer, vezes sem conta, enquanto as profundas
razões sociais e históricas para a sua chegada não
estiverem positivamente resolvidas".
Evidentemente, podemos agora acrescentar à lista dos líderes
radicais latino-americanos o nome de Evo Morales que foi eleito Presidente da
Bolívia com uma votação maciça nas
eleições de Dezembro de 2005. A sua campanha foi seguida com
grande expectativa pelas massas populares do seu país há muito
tempo exploradas, especialmente porque ele prometeu levar a cabo uma
revolução bolivariana
de longo alcance. O apoio esmagador que ele recebeu por conta do seu programa
anunciado é por si mesmo uma clara indicação do forte
desejo na Bolívia duma mudança radical. Naturalmente, à
luz das dolorosas desilusões do passado noutras partes da América
Latina, teremos que ver até que ponto Evo Morales irá satisfazer
as expectativas do seu povo, em circunstâncias sem dúvida muito
difíceis e que ninguém pode ignorar. Mas qualquer que venha a ser
o veredito sobre esta questão, podemos ter a certeza absoluta que,
à medida que o tempo passa, aparecerão sempre mais líderes
políticos radicais em diversas partes do continente latino-americano,
incluindo os países em que as forças radicais sofreram algumas
desilusões importantes no passado recente em resultado da
acomodação cobarde dos seus governos aos ditames políticos
e financeiros dos EUA. Aparecerão forçosamente em resposta ao
aprofundamento da crise das suas sociedades assim como do sistema capitalista
global em geral, com um empenho inevitável na instauração
duma alternativa viável mesmo contra o obstrucionismo mais hostil do
exterior e contra os graves problemas estruturais herdados do passado nos seus
próprios países. Só a articulação e a
intensificação duma alternativa radical ancorada nas largas
massas populares, com uma estratégia intransigente para impulsionar uma
transformação da sociedade verdadeiramente abrangente, pode
prometer uma saída do actual labirinto de contradições
agora obviamente paralizante.
Naturalmente, seria uma ilusão esperar um desenvolvimento ascendente
linear a este respeito. Temos que enfrentar com bom senso o facto de que os
adversários do socialismo têm enormes recursos à sua
disposição para proteger o poder capitalista profundamente
entrincheirado. Esta é a dimensão
negativa
do grande desafio histórico que temos que encarar. Mas ao mesmo tempo, a
condição
positiva
para um sucesso duradouro ainda tem mais peso. Pois que a
elaboração de estratégias socialistas viáveis,
assim como a articulação e consolidação bem
sucedidas das correspondentes formas organizacionais tanto internamente como no
plano internacional, continuam a ser um desafio fundamental para o futuro.
Dadas estas razões, não se podem pôr de parte atrasos
realistas e mesmo retrocessos importantes, independentemente de quão
grande seja a necessidade de soluções positivas e de quão
prometedoras forem as realizações iniciais.
No Brasil, a ala radical do movimento da classe trabalhadora, tanto nos
sindicatos como nos partidos políticos, desempenhou um papel crucial
para pôr fim à ditadura militar apoiada pelos EUA há bem
mais de duas décadas. Dessa forma inspirou também alguns
movimentos radicais por todo o lado na América Latina. Mais ainda,
subsequentemente o PT registou um grande sucesso eleitoral com a subida de Luiz
Inacio Lula da Silva à Presidência. E no entanto, apesar de
algumas inegáveis realizações tangíveis em
áreas limitadas, a ordem capitalista há muito estabelecida no
Brasil conseguiu manter-se firmemente no controlo do processo de
reprodução social geral, marginalizando os seus opositores
também na política, para grande desapontamento das forças
populares por todo o país. Compreensivelmente, portanto, os militantes
socialistas no Brasil vêem-se forçados a argumentar hoje que ainda
há um longo caminho a percorrer antes que se possa afirmar que as
restrições herdadas da esquerda histórica organizada
que tendiam a ser confinadas em
todos
os países capitalistas a um espaço e papel políticos
dificilmente compatíveis com o modo de operação da velha
ordem se alteraram significativamente, para não dizer que foram
ultrapassadas numa base duradoura.
Mas mesmo assim, apesar de todos os atrasos identificáveis e potenciais,
seria completamente errado pintar um quadro pessimista no que se refere
às perspectivas dos desenvolvimentos em geral, no que se refere à
viabilidade contínua (ou não) do sistema capitalista no seu todo.
Porque é muito importante sublinhar que, apesar dos sucessos espantosos
do capital nas últimas duas décadas em diversas partes do mundo,
principalmente nas antigas sociedades de "socialismo realmente
existente", as forças que concorrem para a
instituição duma ordem social radicalmente diferente encontraram
manifestações encorajantes em diversos locais do "quintal
geopolítico" dos Estados Unidos, que incluem não apenas a
Venezuela mas também os militantes que continuam a desafiar as vantagens
mais injustas que ainda favorecem a ordem estabelecida na Colômbia.
Além disso, também é muito significativo que os movimentos
sociais radicais em diversas partes do mundo, independentemente de poderem ser
relativamente fracos no actual momento, estão apostados em livrar-se das
limitações organizativas da esquerda política tradicional,
geradas historicamente mas que agora são completamente
anacrónicas. Pois já não estão dispostos a aceitar
por mais tempo a explicação simplista de que o fracasso de
algumas estratégias acarinhadas no passado, juntamente com a
correspondente implosão sofrida pelo movimento socialista, foi acidental
ou simplesmente uma questão de traições pessoais.
Aprecebendo-se de que é necessário um novo exame crítico
e auto-crítico de algumas importantes
concepções estratégicas e organizativas do passado nas
actuais circunstâncias históricas, estão empenhados num
processo doloroso mas necessário de reorientação das suas
forças. Estão a tentar fazê-lo para poderem implementar
pela acção não apenas a necessária
negação do que existe mas também a dimensão
positiva duma
alternativa hegemónica
sustentável. É importante sublinhar esta circunstância para
poder combater a profusa propaganda da ordem instituída que continua a
apregoar o seu triunfo permanente sobre os seus adversários socialistas
de outrora.
Quando a primeira-ministra Margaret Thatcher dedicada partidária
ideológica e política do neo-liberalismo na Grã-Bretanha
conseguiu derrotar a longa greve de um ano dos mineiros ingleses,
gastando impiedosamente contra os mineiros todos os recursos económicos
e policiais do estado capitalista, com uma ajuda nada de desprezar do
próprio Partido Trabalhista (apesar do facto de que nessa altura o
Partido Trabalhista ainda estava na oposição), gabou-se de que se
tinha
"despedido do socialismo para sempre".
Esta declaração foi uma presunção ridícula,
apesar de parecer ser confirmada pela apressada transformação
submissa do Partido Trabalhista britânico em "Novo
Trabalhista": o "amigo dos negócios" nas palavras dos
seus líderes, ou melhor ainda o Big Business. Na realidade, o
alastramento relativamente fácil do neo-liberalismo a partir dos anos 70
não foi apenas um fenómeno britânico mas uma impressionante
evolução internacional, que se estendeu duma ou doutra forma a
todo o nosso planeta.
O que é ainda mais importante de realçar neste aspecto é
que o reforço brutal dos princípais dogmas do neo-liberalismo
praticamente por toda a parte mesmo surpreendentemente nas sociedades de
"socialismo realmente existente", como se lhes chamava antigamente
não foi de forma alguma a manifestação duma
revitalização irresistível do capitalismo e a sua
saúde assegurada permanentemente em direcção ao futuro.
Pelo contrário, foi provocado pelo aparecimento da
crise estrutural
do sistema, devida às
margens perigosamente reduzidas
da
expansão capitalista
sustentável. Em resposta a esta crise estrutural qualitativamente nova
só era possível assumir uma postura ainda mais agressiva.
Deste modo, no decurso da sua evolução nas últimas
três décadas, o capital teve que pôr de lado as
"concessões" do Estado Previdência anteriormente
concedidas aos trabalhadores pelas quais não teve que pagar
absolutamente nada na altura em que o Estado Previdência começou a
existir, já que as alegadas "concessões" faziam parte
das dinâmicas da expansão capitalista despreocupada e altamente
lucrativa do período pós-guerra. O insensível
espírito do neo-liberalismo redifiniu a orientação
estratégica da ordem instituída implementando a prática de
políticas cada vez mais exploradoras e repressivas ditadas pela
grosseira rotação autoritária do capital e pela sua
cínica justificação ideológica.
Com efeito, o que torna muito piores estes factos para os adeptos do
capitalismo é que não é possível de forma alguma
afirmar que, através da sua postura abertamente autoritária, o
neo-liberalismo conseguiu de facto resolver a crise estrutural do sistema
abrindo as portas a uma nova fase de expansão da riqueza, como
repetidamente prometeu mas nunca cumpriu. O facto de nos últimos anos os
poderes dominantes do capital global tere tido que ir ao ponto de se empenharem
nas mais agressivas e catastróficas aventuras esbanjadoras, incluindo o
desencadear de guerras genocidas cínica e hipocritamente em nome
da "democracia e liberdade" das quais parece não haver
"estratégia de saída"
[23]
(para usar as suaves palavras críticas dos próprios apoiantes do
sistema), demonstra o total fracasso das soluções experimentadas
e o significativo agravamento da própria crise.
Outra dimensão do mesmo problema diz respeito directamente às
perspectivas de evolução da força do trabalho como o
antagonista estrutural do capital. Em contraste com todo o falatório
sobre a propalada "integração da classe trabalhadora",
encontramos actualmente uma deturpação total da
indubitavelmente concretizada capitulação da tradicional
liderança política
dos trabalhadores como sendo uma integração necessária e
inalterável para todo o sempre da
própria classe
trabalhadora, i.e. como sendo a integração irreversível da
única força social capaz de oferecer uma alternativa
hegemónica à lei do capital. Uma lei que deixou de ser
sustentável numa base duradoura por causa das suas
determinações internas cada vez mais destruidoras
É verdade que a transformação submissa do Partido
Trabalhista britânico em "Novo Trabalhista" não foi de
forma alguma um fenómeno isolado. Na mesma época, alguns Partidos
bem à esquerda dos Partido Trabalhista britânico por
exemplo os Partidos Comunistas francês e espanhol tiveram uma
sorte igualmente negativa. Os apologistas da ordem instituída festejam
todas estas metamorfoses tal como festejaram a bem sucedida
imposição do neo-liberalismo por todo o lado. Ou seja, como a
feliz prova da revitalização duradoura do sistema capitalista e,
por consequência, como o triunfo sem contestação da
opinião arbitrariamente proclamada segundo a qual
"não há alternativa".
No entanto, tal interpretação destes acontecimentos e
evoluções, que formam um todo, não pode ser mais
míope e errada. A própria evidência histórica aponta
na direcção oposta não apesar de mas, paradoxalmente,
precisamente porque em muitos países as tradicionais forças
predominantes da esquerda se subordinaram incondicionalmente aos ditames do
capital em altura de crises estruturais. A verdade, pensamento que deve ser
desconfortável para os defensores da ordem existente, é que mesmo
a mais submissa acomodação da tradicional liderança dos
trabalhadores na ausência duma estratégia viável
própria desde os tempos do oco slogan de "socialismo
evolutivo" velho de mais de um século, mas agora significativamente
abandonado é completamente incapaz de remediar a
situação. Neste sentido a verdade mais perturbandora é que
nada parece funcionar mesmo a curto prazo nas actuais circunstâncias
históricas sem a intensificação da agressividade
sócio-económica do capital e o seu alargamento directo a um
estado de violência crescente.
O que aconteceu realmente através da imposição do
neo-liberalismo, com a mais activa contribuição dos
próprios sindicatos reformistas em diversos países na
Grã-Bretanha, no governo de Harold Wilson, já com o ministro dos
assuntos económicos do Partido Trabalhista, Dennis Healy, que iniciou o
primeiro assalto das brutais políticas neo-liberais bem antes de
Margaret Thatcher foi o abandono final da "grande
ilusão" segundo a qual uma
acomodação de classe
e uma
reforma gradual
eram as únicas respostas para os graves problemas
estruturais
da sociedade.
Apresentar a solução necessária desta forma ou
seja, fazer depender a eliminação dos graves
defeitos estruturais
do
sistema
capitalista de
remendos graduais
possíveis temporariamente e limitados conjunturalmente foi,
evidentemente, uma
contradição de palavras
desde o início. Claro que esta circunstância ditou o destino do
"socialismo evolutivo", embora passasse bastante tempo antes de as
promessas dessa abordagem mistificadora terem sido abertamente abandonadas
mesmo pelos seus principais proponentes. Como é hoje dolorosamente
óbvio, também através do fracasso humilhante das
estratégias mais acomodatícias que se viram em toda a
história dos sindicatos reformistas, na realidade a
acomodação de classe e a reforma gradual não foram
resposta nenhuma para os cada vez mais graves problemas
sistémicos
da
estrutura social
instituída. Nem nunca poderiam ser.
A raiz do neoliberalismo agressivo é a perigosa redução
de margem da despreocupada expansão capitalista e do crescimento
amortecedor de conflitos, e daí a capacidade cada vez mais restrita do
sistema para gerir sem aventureirismo destrutivo os seus problemas estruturais
principais, apesar da cumplicidade activa dos sindicatos anteriormente
reformistas ao lado do capital neo-liberal. Tudo isto realça a gravidade
da crise dos nossos tempos e o total absurdo de todo o palavreado sobre
"despedir-se do socialismo para sempre". Pois que a despreocupada
expansão capitalista
em conjunto com o
crescimento amortecedor de conflitos,
e a tranquila
acomodação submissa
dos sindicatos reformistas à lei do capital são dois lados da
mesma moeda.
Como a via para a tranquila e sustentável expansão do capital
está reduzida e acabará por ficar bloqueada pelo aprofundamento
da crise estrutural do sistema, a principal força motivadora para a
auto-acomodação voluntária dos trabalhadores
acabará por enfraquecer quando os factos começarem a
esclarecer-se. Isto é mesmo assim, mesmo que no início desta
espiral descendente a liderança dos sindicatos reformistas que
nunca teve outro conceito de melhoria sócio-económica a
não ser a aceitação agradecida da mão benevolente
do capital duma fatia maior do "bolo crescente" da sociedade: um bolo
proverbial que outrora se considerava cegamente ser do tipo de
crescimento eterno
tente fazer tudo o que puder para minimizar as consequências
negativas e fatalmente desestabilizadoras do fracasso do capitalismo em
"cumprir as promessas". Adopta uma posição
incondicional e humilhantemente serviçal para com o capital, na
vã esperança de contribuir com êxito para a
revitalização e funcionamento saudável do sistema. E
fá-lo com o espírito untuoso de "não há
alternativa" para manter a ordem sócio-económica e
política instituídas. Claro, nestas circunstâncias volta-se
a recitar vezes sem conta o esconjuro podre de velho do "keynesianismo de
esquerda". Mas não pode haver nada que lhe confira realidade.
Assim, tanto a permanência do neo-liberalismo (muitas vezes associado
mesmo à grotesca pseudo teoria que prega um "fim de
história" feliz no aplaudido momento da chegada do neo-liberalismo)
como a proclamada necessidade absoluta da eterna auto-acomodação
dos trabalhadores, nada mais são do que
ilusões ópticas
enganadoras, desenhadas para grande conveniência da ordem
instituída. São temporariamente reforçadas por duas vias.
Por um lado, pela bem compreensível aliança positiva do
neo-liberalismo com o seu recém achado interlocutor ideal, os sindicatos
submissos. E por outro lado, pela necessidade de os trabalhadores
auto-acomodatícios terem um adversário um tanto engrandecido
(poderoso mas "razoável" e benevolente), promovido ao estatuto
dum verdadeiro "parceiro" que é agora respeitavelmente
descrito como "produtor de riqueza", apesar do crescente parasitismo
da sua dimensão agora dominante: capital financeiro especulativo. Desta
forma os sindicatos reformistas justificam perante os seus apoiantes eleitorais
a sua cumplicidade aberta com a perpetuação da grosseira ordem
exploradora tal como existe, nada embaraçados agora por terem abandonado
as suas antigas aspirações reformistas de "mudança
gradual" para uma ordem justa alternativa outrora prometida, em favor duma
base hoje proclamada ainda mais ocamente de que "
não pode haver
qualquer alternativa".
Na realidade, porém, apareceu na agenda histórica a necessidade
vital de uma
alternativa hegemónica
à lei do capital. Visto que todas as modalidades conhecidas de
acomodação reformista, ao longo de cento e trinta anos de
história (desde o tempo do "Programa Gotha"), não
conseguiram ter o mais pequeno impacto nas graves contradições e
desumanidades do sistema capitalista. Este estado de coisas podia manter-se,
apesar dos antagonismos e desumanidades do sistema, se o capital se conseguisse
impor se possível com a ajuda de realizações
produtivas, ou mesmo pela força bruta como o controlador
incontestado da reprodução social. Mas é precisamente isto
que se está a tornar extremamente problemático nos nossos dias.
Extremamente problemático mesmo, em parte porque, mesmo a postura mais
autoritária do capital, ao lado duma acomodação submissa
dos trabalhadores hoje total, não consegue produzir a prometida
expansão económica da riqueza. E ainda mais importante, porque os
agressivos acontecimentos aventureiros em curso puseram nitidamente em relevo a
perigosa direcção do capital para a destruição da
humanidade, irracionalmente no interesse da sobrevivência a todo o custo
da ordem reprodutiva instituída, para a qual o capital na verdade
não pode conceber,
quanto mais
aceitar,
qualquer alternativa.
Seguir a "linha da menor resistência" é, por
definição, sempre muito mais fácil do que lutar pela
instituição duma alternativa hegemónica realmente
possível. Pois que esta última requer não só um
empenho activo à causa escolhida pelos participantes mas também a
aceitação de prováveis sacrifícios. É este o
grande trunfo dos nossos adversários, o que realça a
importância vital da elaboração e
implementação de estratégias políticas e sociais
viáveis para combater a significativa vantagem posicional da
inércia institucionalizada. Já que, num aspecto, não
é possível o necessário afastamento das ilusões
ópticas enganadoras acima mencionadas em especial a
permanência absoluta do neo-liberalismo e da benéfica
auto-acomodação dos trabalhadores para com ele sem uma
consciência absoluta do que hoje está realmente em jogo para
garantir a sobrevivência da humanidade e, noutro aspecto, sem um
empenhamento prático na necessária transformação
fundamental da actual ordem social no seu todo, dentro do espírito duma
determinação radical.
Remendar aqui e ali, nos tempos actuais, não conduz a parte alguma.
Só conseguirá reforçar a posição de vantagem
dos que detêm hoje o controlo do sistema capitalista historicamente
anacrónico. Por outras palavras, combater com sucesso as
mistificações da invincibilidade neo-liberal activamente
sustentada pelos trabalhadores acomodatícios não é apenas
uma questão de esclarecimento ideológico. A batalha não
pode ser ganha apenas no terreno da persuasão política, visto que
as convicções consistentemente críticas coexistem
frequentemente com a impotência prática. Só é
possível um êxito duradouro através da
mobilização organizadamente sustentada das grandes massas do povo
para a realização duma
alternativa hegemónica abrangente
ao modo de reprodução social metabólico existente.
O espírito de determinação radical hoje é
inseparável dum empenhamento firme exigido pela necessidade de
enfrentar os perigosos desenvolvimentos históricos para a
instauração da desejada alternativa hegemónica à
lei do capital cada vez mais aventureirista e destrutiva. É por isso que
o Presidente Chávez sublinhou repetidamente a inevitabilidade do dilema
de
socialismo ou barbárie
nos nossos dias, e a correspondente necessidade de envolvimento na única
forma possível de acção bem sucedida: uma
ofensiva estratégica
sustentável, dada a magnitude e a urgência literalmente vital da
tarefa histórica. Na sua intervenção no Fórum
Social Mundial em Janeiro de 2003, em Porto Alegre, alertou com toda a
razão para a prejudicial tentativa de permitir que as reuniões
mundiais dos principais movimentos sociais se transformem em
acontecimentos folclóricos
ritualizados anualmente. E repetiu o mesmo alerta no Fórum Social
Mundial em Janeiro de 2006, em Caracas, insistindo que essa
transformação dos movimentos sociais potencialmente radicais num
"encontro turístico/folclórico seria terrível, porque
estaríamos apenas a perder tempo, e não temos tempo a perder.
Creio que não nos é permitido falar em termos de séculos
futuros... não temos tempo a perder; o desafio é salvar as
condições de vida neste planeta, salvar a espécie humana,
modificar o curso da história, mudar o mundo".
[24]
Neste sentido, para ir ao encontro do desafio histórico dos nossos dias,
radicalmente novo, que põe em causa a própria sobrevivência
da humanidade, o projecto original bolivariano tem que ser modificado em duas
das suas dimensões fundamentais. Num primeiro aspecto, a
necessária mudança qualitativa afecta directamente a
super-importante questão da
igualdade,
e noutro aspecto, tem que considerar o dilema não resolvido nem mesmo
pelos maiores e mais radicais pensadores políticos do Iluminismo,
incluindo Rousseau (que foi em muitos aspectos o modelo insuperável para
o próprio Bolívar). Ou seja: como ultrapassar numa base duradoura
ou pelo menos como arranjar um denominador comum sustentável para
um inevitável período de transição os
conflituosos e potencialmente desintegradores interesses produtores em
acção na sociedade.
Como é óbvio, estas duas dimensões fundamentais duma
solução historicamente viável para os grandes dilemas da
humanidade que apareceram nas suas primeiras fórmulas
utópicas milhares de anos antes do Iluminismo, mas se mantiveram sempre
frustradas e marginalizadas desde esses dias longínquos
estão estreitamente entrelaçadas. Pois é impensável
conseguir ultrapassar as contradições, potencialmente mais
ameaçadoras, explosivas mesmo, e os interesses que se excluem
mutuamente, condições perpetuadas pela há muito
antagónica estrutura social instituída, sem encontrar uma
solução viável de
forma substantiva
para o problema da igualdade que, historicamente até hoje, se tem
mostrado rebelde, cujas formas (em principio reversíveis) de tratamento
legal apenas arranham a superfície. E vice-versa: é
impensável arranjar uma solução
substantiva,
e portanto
irreversível legalmente,
para a questão seminal, sobre a qual repousam todos os outros valores
sociais recomendáveis nas palavras memoráveis de
Bolívar "de todas as liberdades para todos os direitos",
incluindo a justiça sem relegar permanentemente para o passado
histórico os conflitos e antagonismos gerados necessariamente e
reproduzidos duma forma ou doutra pelas relações sociais
substantivas
(e não apenas legalmente codificadas), entrincheiradas
estrutural/hierarquicamente e salvaguardadas.
No mais profundo sentido das questões em jogo, as duas dimensões
fundamentais dos grandes dilemas da humanidade, são uma e única,
apenas distintas porque foi assim que foram tratadas no discurso
político do passado. E mais importante ainda, têm que ser
distintas para efeitos da elaboração duma solução
prática viável e duradoura e hoje historicamente
possível e necessária para as explosivas
contradições da sociedade. No entanto, hoje em dia, à luz
das desilusões passadas, temos que estar conscientes do facto
extremamente complicado de que são inseparáveis na sua
substância mais íntima. Pois ficou a dever-se à
indiferença passada determinada socialmente quanto
à sua inseparabilidade substantiva que até as
intenções mais nobres para ultrapassar as violações
da igualdade através duma reforma legislativa (que pode ser
necessária como primeiro passo sob determinadas circunstâncias
históricas),
[25]
mas deixando ao mesmo tempo as
hierarquias substantivas
entrincheiradas no seu lugar na sociedade, acabaram por sofrer os maiores
revezes mais cedo ou mais tarde.
Temos que recordar a este respeito que para Bolívar a igualdade era
"a lei de ouro"
porque "sem igualdade, todas as liberdades, todos os direitos desaparecem.
Por ela devemos fazer todos os sacrifícios". Definindo o problema
desta forma, Bolívar faz um apelo directo ao espírito de
esclarecimento e moral
dos seus colegas legisladores. Assim como caracterizou as duas exigências
básicas duma forma de legislação politicamente
viável, no seu Discurso perante o Congresso de Angostura:
"A moral e o esclarecimento são os polos de uma República; a
moral e o esclarecimento são as nossas necessidades
primárias".
[26]
Embora esta fosse uma fórmula indubitavelmente válida de alguns
princípios políticos vitais orientadores num dado contexto
social, a forma de Bolívar de definir o problema da igualdade como uma
igualdade promulgada legalmente,
dependente da visão esclarecida e da compreensão moral dos seus
colegas legisladores (muitos dos quais na verdade pouco dispostos a fazer os
sacrifícios estipulados), impôs inevitavelmente
restrições à abordagem radical de Bolívar. Com
efeito, as qualificações por ele expressas nalgumas
ocasiões
[27]
indicaram, pelo menos nas suas implicações, a sua
consciência dos limites sociais do nível de igualdade
efectivamente atingido. Afinal de contas, até a
emancipação legal dos escravos podia vir a ser posteriormente
cancelada por uma diversidade de alternativas pseudo-contratuais legalmente
estabelecidas, que cinicamente mantinham muitas das características da
escravatura anterior, incluindo o acordo brutalmente escravizante chamado de
"trabalho indentado", para não falar do
triunfo substantivo da escravatura salarial
por todo o lado, glorificado nos anais da economia política liberal
como "trabalho livre". E mais uma pequena nota: sob as
circunstâncias prevalecentes na época de Bolívar na
América Latina, o grau do radicalismo social e político por ele
defendido provou-se estar longe demais para muitos dos seus
contemporâneos.
Quanto à
igualdade substantiva,
[28]
a sua realização é sem dúvida a maior e a mais
difícil de todas as tarefas históricas. Por isso mesmo, o
avanço real na direcção duma igualdade substantiva
só se torna possível quando as
condições objectivas materiais
da sua realização incluindo a
potentialidade produtiva positiva
da sociedade, historicamente atingida forem adequadamente acompanhadas
ao nível de ideias e valores. Estes últimas bem podem ser
chamades de
condições espirituais
para a derrota das antigas hierarquias sociais, estruturalmente
entrincheiradas durante milhares de anos, que foram reforçadas pela mais
problemática cultura da
desigualdade substantiva
mesmo nos escritos de alguns dos maiores intelectuais da burguesia
progressista. Dadas as circunstâncias, o êxito só é
possível se forem satisfeitas historicamente algumas
condições vitais. Pois por um lado, a
"distribuição justa da pobreza", na ausência de
requisitos materiais favoráveis, não pode ser sustentada
socialmente como uma condição de normalidade durante muito tempo.
Simultaneamente, por outro lado, a pretensa realização da
"abundância material" i.e., o pernicioso mito da
"sociedade abundante", - não pode resolver absolutamente nada
se faltar uma dedicação genuína à solidariedade
mutuamente benéfica (e valores associados), sejam quais forem as
razões, no conceito de avanço produtivo do indivíduo,
independentemente do grau do conhecimento disponível da prática
tecnológica e científica que possa existir dadas as
circunstâncias. Pois que, na ausência de valores que possibilitem
o desenvolvimento global duma individualidade rica, em vez da actual
competitividade antagonista dominante, toda a abundância material
fetichistamente festejada é transformada invariavelmente numa
escassez
que nunca poderá ser eliminada, e daí que o círculo
vicioso auto-justificante do "progresso" devastador para a
conversão irracional duma
potentialidade produtiva
cada vez maior numa
realidade destrutiva
pode continuar livremente até que uma catástrofe global a
faça parar.
É aqui o ponto em que podemos ver a linha de demarcação
que nos separa do passado em que só poderá haver
preocupação com a igualdade, mesmo para os estadistas mais
esclarecidos, como um objectivo político legalmente definido (e
exclusivo). Foi também forçosamente o caso quando as
questões em jogo tinham importantes conotações sociais,
tal como a libertação formal mas de forma alguma a
verdadeira emancipação sócio-económica dos
escravos. O que é radicalmente novo nas nossas condições
de existência na actual época histórica é que
não pode haver êxito duradouro na luta pela sobrevivência da
humanidade sem o estabelecimento duma
ordem social
baseada numa
igualdade substantiva
como princípio orientador central da esfera da
produção
e
distribuição.
E é assim porque a
capacidade de destruição
incorrigível do capital afecta, nos nossos dias, todas as pequenas
facetas da nossa vida, desde a irresponsável dilapidação
de objectivos produtivos orientados para o lucro até à
degradação suicida da natureza, assim como a exaustão
irreversível dos seus recursos reprodutivos vitais, e desde a
desumanizante produção maciça de "gente
supérflua", sob a forma de desemprego crónico, até
às mais extremas variedades do actual aventureirismo militar,
acompanhado da ultrajante justificação de nada menos do que o uso
de armas nucleares pelo país imperialista dominante, os EU, feita
não só retrospectivamente, em relação ao atentado
inesquecível contra o povo de Hiroshima e Nagasaki, mas de forma mais
sinistra também em relação ao futuro. Neste sentido, a
defesa tradicional das personificações do capitalismo de
"imaginar o inimaginável" no seu espírito
auto-congratulatório que proclama as virtudes duma
"destruição produtiva" levada a bom termo
encontra a sua realização final numa forma em que a
contemplação e a ameaça da destruição da
humanidade,
absurdamente no interesse da sobrevivência do sistema
sócio-económico a qualquer preço, é
legitimada
como um
objectivo estratégico
necessário pela mais poderosa formação estatal do capital.
Na raiz de todas estas manifestações destrutivas encontramos os
imperativos inultrapassáveis que emergem das
hierarquias estruturais
auto-perpetuantes da ordem instituída que excluem obrigatoriamente
qualquer
alternativa racional
ao modo de controlo social metabólico do capital. Evidentemente,
compreende-se que as considerações de igualdade substantiva
não podem fazer parte do quadro do capitalismo das tomadas de
decisão quando está em jogo o essencial. Isto torna extremamente
grave a crise estrutural do nosso sistema de controlo reprodutivo social na
presente conjuntura histórica, indicando ao mesmo tempo a única
forma viável de a ultrapassar. Já que as
determinações destrutivas da ordem instituída exigem hoje
uma
mudança estrutural
fundamental no interesse da sobrevivência humana.
Como a
desigualdade estruturalmente imposta
é a característica definidora acima de todas do sistema
capitalista sem a qual este não poderia funcionar nem um só dia,
torna-se necessária a instauração duma
mudança estrutural fundamental
para produzir uma
alternativa substantivamente justa
como única forma futura viável para o controlo social
metabólico da humanidade. Além disso, como se compreende,
não pode estar em jogo nenhum marco mais elevado para os seres humanos
do que garantir e salvaguardar a sobrevivência e o avanço positivo
da humanidade, a possibilidade de instituir uma ordem humanamente
satisfatória de
igualdade social substantiva
que, nas actuais circunstâncias, não é uma
possibilidade abstracta
mas uma
necessidade vital.
Por isso as forças dedicadas a esta grandiosa tarefa histórica
podem aspirar à realização do seu objectivo com a
racionalidade totalmente do seu lado, confiantes da total
justificação dos valores por elas defendidos na sua luta contra o
imperialismo, o monopólio, e a opressão, em profundo contraste
com os seus adversários. Na verdade, vivemos numa época a que se
pode chamar de confronto de imperativos, embora de forma alguma de
"confronto de civilizações". Pois que a
confrontação crítica dos nossos dias afirma-se como um
imperativo para criar uma ordem justa e social sustentável i.e.
uma ordem que seja sustentável historicamente precisamente por causa da
sua determinação mais íntima como sendo justa em todas as
suas dimensões substantivas como contra os imperativos
insuperáveis do capital de auto-preservação destrutiva.
Dada a natureza das questões envolvidas e a urgência da sua
concretização, nunca houve uma perspectiva comparável nem
sequer de perto para tornar realidade a defesa já antiga da igualdade
substantiva como a principal determinação da
alteração humana.
Neste sentido também têm que ser reexaminadas as razões
para a questão cronicamente por resolver de como ultrapassar numa base
duradoura os interesses produtores conflituosos e potencialmente
desintegradores que actuam na sociedade. A resposta dada no passado até
pelos estadistas mais esclarecidos, incluindo Bolívar, era
equilibrar
politicamente as diferentes forças sociais, de forma "a manter o
equilibrium
não só entre os membros do Governo mas também entre as
diferentes fracções que compõem a nossa sociedade".
[29]
Esta estratégia acabou por se revelar frágil nos seus
próprios termos de referência, resultando em convulsões
periódicas e retrocessos no seu cenário político apesar do
facto de que o que estava em jogo se referia apenas à
redefinição parcial e redistribuição do
quinhão relativo
das diferentes forças sociais nas relações de poder
estruturalmente dadas. No entanto, os parâmetros estruturais
hierárquicos da ordem social dada não foram eles mesmos postos em
questão. Pelo contrário, tinham que ser considerados como
garantidos pelos princípios orientadores do
"equilíbrio"
. Em contraste, está hoje na ordem do dia a discussão radical dos
parâmetros estruturais do sistema social instituído. Pois,
evidentemente, até o equilíbrio político mais hábil
das forças sociais sob a lei do capital não consegue realizar a
tarefa de instituir a exigida
mudança estrutural fundamental,
independentemente de quão forte seja a sua necessidade, como acontece
ser hoje o caso. É por isso que só a procura consistente do
objectivo para estabelecer uma ordem social de igualdade substantiva consegue
responder ao desafio histórico dos nossos dias, sob as
condições da irreversível crise estrutural do sistema
capitalista.
Como vimos atrás, para o fim da sua vida Bolívar foi
forçado a reconhecer que, tragicamente, o dia da América, tal
como ele tinha previsto anteriormente, ainda não tinha chegado. Hoje, a
situação é muito diferente, devido a uma série de
determinações fundamentais. Por outras palavras, o "dia da
América" de Bolívar já chegou no sentido em que as
condições antiquíssimas da dominação quase
colonial da América Latina pelos Estados Unidos não se podem
perpetuar no futuro. Quanto a isto, os interesses da soberania nacional,
sócio-economicamente e politicamente, dos países
latino-americanos coincidem totalmente com o impulso necessário para
ultrapassar os descontentamentos gerais, já que o domínio
nacional de muitos países, há muito prevalecente, por alguns
poderes imperialistas se tornou num anacronismo histórico
irremediável.
Esta nova condição histórica não pode ser desfeita
pelo facto de os antigos poderes imperialistas, e acima de tudo o mais poderoso
de todos, os Estados Unidos da América, estarem a tentar fazer andar
para trás as rodas da história e
recolonizar
o mundo. O seu desígnio para este fim é já visível
na forma como empreenderam recentemente algumas aventuras militares
devastadoras sob o pretexto da chamada "guerra contra o terrorismo".
Com efeito, a nova panaceia dos poderes mais agressivos é afirmar que
embarcar no que de facto representa uma grosseira aventura re-colonizadora
em África e no Sudeste da Ásia, assim como na
América Latina é uma condição essencial de
êxito da sua virtuosa "guerra contra o terrorismo
internacional" na "nova ordem mundial". Mas estão
condenados a fracassar nesta empresa.
No passado, muitas tentativas com o objectivo de corrigir justificáveis
descontentamentos nacionais foram sabotadas pela tomada de estratégias
chauvinistas. Visto que, dada a natureza dos problemas em jogo, os interesses
nacionais
reprimidos não podem prevalecer à custa dos objectivos sociais
viáveis doutras nações, violando assim as
necessárias
condições internacionais totalmente justas
das relações inter-estados. Assim, não podia ser mais
clara a validade histórica a longo prazo do projecto bolivariano,
reivindicando a unidade estratégica e a igualdade dos países
latino-americanos não apenas contra os EUA mas no seio do quadro mais
lato da desejada associação internacional harmoniosa de todos
(ver nota nº
11
). Com efeito, concretizando a sua unidade social e
política baseada na sua solidariedade, os países
latino-americanos podem desempenhar hoje um papel pioneiro, no interesse de
toda a humanidade. Nenhum deles pode vingar isolado mesmo negativamente, contra
o seu poderoso antagonista na América do Norte, mas em conjunto podem
mostrar a todos nós uma saída para a frente de forma exemplar.
Pois que só a renovação histórica adequada e a
busca consistente da estratégia capaz de reduzir as dimensões
nacionais e internacionais da mudança social a um denominador comum por
todo o lado, no espírito duma determinação radical, pode
resolver a grave crise estrutural da nossa ordem social.
NOTAS
1- "Juro delante de usted; juro por el Dios de mis padres; juro por ellos;
juro por mi honor, y juro por mi patria, que no daré descanso a mi
brazo, ni reposo a mi alma, hasta que haya roto las cadenas que nos oprimen por
voluntad del poder español."
2- "La ley de las leyes: la
Igualdad.
Sin ella perecen todas las libertades, todos los derechos. A ella debemos hacer
los sacrificios."
3- "Yo abandono a vuestra soberana decision la reforma o la
revocación de todos mis estatutos y decretos; pero imploro la
confirmación de
la libertad absoluta de los esclavos,
como imploraría mi vida y la vida de la República."
4- "Los Estados Unidos de Norteamérica parecen destinados por la
providencia para plagar la América de miseria a nombre de la
Liberdad."
5- Robert B. Reich, Secretário do Trabalho de Clinton, antigo
Professor da Universidade de Harvard defendia a adopção
efectiva do
"nacionalismo económico positivo"
no seu próprio país. Ver o seu livro,
The Work of Nations: A Blueprint for the Future,
Simon & Schuster, Hemel Hempstead, 1994, p. 311.
6- Moynihan afirmou de forma autoritária que a democracia não
é "uma opção universal para todas as
nações" no seu livro,
Pandaemonium: Ethnicity in International Relations,
Oxford University Press, 1993, p. 169.
7-
"La igualdad legal es indispensable donde hay desigualdad física,
para
corregir
en cierto modo
la injusticia de la naturaleza".
8- "El peligroso loco del Sur."
9- "El día de la América ha llegado, y ningún poder
humano puede retardar el curso de la naturaleza, guiado por la mano de la
Providencia."
10- Ver José Martí, "Discurso", proferido em 'Hardman
Hall', Nova Iorque, em 10 de Outubro de 1890, e "La Verdad Sobre los
Estados Unidos",
Patria,
17 de Abril de 1884.
11- "Acaso sólo allí podrá fijarse algún
día la capital de la tierra, como pretendió Constantino que fuese
Bizancio la del antiguo hemisferio."
12- Ver em especial: "Hay que ir organizando un gran movimiento
continental", discurso proferido na Universidad Nacional de
Asunción, República do Paraguai, em 20/Junho/2005,
2005, e "La Revolución Bolivariana y la construcción del
socialismo en el siglo XXI," proferido em Caracas em 13/Agosto/2005.
Para uma importante entrevista recente ver Manuel Cabieses: "?Qué
diferenciaría al socialismo del siglo XXI de aquel socialismo que se
derrumbo? / ?Donde va Chávez?", publicado em
Punto Final,
No. 598, 19/Agosto/2005.
13- Em 6 de Dezembro de 1998 Hugo Chávez Frias foi eleito Presidente da
Venezuela na primeira volta das eleições, com uns retumbantes
56,24% dos votos. Assim, todos os outros candidatos em conjunto tiveram que se
contentar com apenas 43,76% dos votos expressos.
14- As páginas aqui reimpressas constituem a Secção 18.4.3
de
Beyond Capital.
A Secção 18.4 do Capítulo 18 intitula-se "A
necessidade de combater a força extra-parlamentar do capital", pp.
709-712 da primeira edição inglesa, pp. 815-819 da
edição espanhola
(Más allá del capital),
e pp. 827-831 da tradução brasileira
(Para além do capital),
Boitempo Editora. O capítulo 18 também está em
http://www.resistir.info/meszaros/meszaros_cap_18.html
15- Rousseau,
The Social Contract,
Everyman Edition, p.78.
16-
Ibid.,
p.79.
17-
Ibid.,
p.42.
18- Hugo Chávez Frias,
Pueblo, Sufragio y Democracia,
Ediciones MBR-200, Yara, 1993, pp.5-6.
19-
Ibid.,
p.9.
20-
Ibid.,
p.11.
21-
Ibid.,
pp.8-11.
22-
Ibid.,
p.9.
23- Muito pelo contrário, visto que os dirigentes políticos mais
reaccionários do poder imperialista hegemónico defendem
repetidamente novos objectivos militares para continuar a desencadear "
guerras preventivas"
desavergonhadamente agressivas,
como uma alegada solução da crise, contra países que
vão desde o Irão e da Síria até à Coreia do
Norte e outros membros arbitrariamente designados do chamado "Eixo do
Mal". São encorajados pelos ainda mais extremistas homens dos
bastidores, considerando assim esperançosamente mas de forma absurda que
a necessária solução benéfica será a
imposição ditatorial duma forma de acção que
só poderá agravar os problemas do sistema até à
explosão global catastrófica.
24- "seria nefasto, así lo creo, que permitamos que el Foro Social
Mundial se folklorice, que se convierta en un encuentro folklórico de
todos los años. Encuentro turístico, folklórico, eso seria
terrible, porque estaríamos sencillamente perdiendo el tiempo y no
estamos para perder el tiempo.
Creo que a nosotros no nos está
dado el pensar en los siglos futuros
no estamos para perder tiempo, se
trata de salvar la vida en el planeta, se trata de salvar la especie humana,
cambiando el rumbo de la historia, cambiando el mundo." Hugo Rafael
Chávez Frías,
Closing Speech at the VIth World Social Forum,
27th January, 2006.
25- Por exemplo, quando um líder político radical chega à
posição de chefia do governo do seu país através
dum processo eleitoral a que se segue a instituição duma
Assembleia Constitucional e não através duma abrangente
revolução social e política. Basta pensar, quanto a isto,
no contraste entre a Venezuela e Cuba.
26- "Moral y luces son los polos de una Republica; moral y luces son
nuestras primeras necesidades."
27- Por exemplo, quando se dirigia a uma assembleia de soldados desta forma:
"¡Soldados! Vosotros lo sabeis.
La igualdad, la liberdad y la independencia
son nuestra divisa. ¿La humanidad no ha recobrado sus derechos por
nuestras leyes? Nuestras armas, ¿no han roto las
cadenas de los esclavos? La odiosa diferencia de clases y colores,
¿no ha sido abolida para siempre? Los bienes nacionales, ¿no se han
mandado repartir entre vosotros? ¿La fortuna, el saber y la glória
no os esperan? ¿Vuestros méritos no son recompensados con
profusión, or
por lo menos por justicia?
" Ver pp. 76-77 do vol. 2. de Felipe Larrazabal,
Vita y escritos del Libertador.
28- Ver "The Challenge of Sustainable Development and the Culture of
Substantive Equality", a minha conferência feita na "Cimeira
sobre a Dívida Social e a Integração
latino-americana" do Fórum Cultural dos Parlamentos
Latino-Americanos, realizada em Caracas, Venezuela, em 10-13 de Julho de 2001,
publicada em
Monthly Review,
vol. 53, No. 7, Dezembro de 2001, pp. 10-19.
29- "mantener el
equilíbrio,
no sólo entre los miembros que componen el Gobierno, sino entre las
diferentes fracciones de que se compone nuestra sociedad".
Este ensaio encontra-se em
http://resistir.info/
.
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