por EMC
Em 31 de Maio será pedido ao povo da Irlanda que vote o "Tratado
sobre a estabilidade, coordenação e governação na
união económica e monetária" que só
pode ser chamado como Tratado de austeridade permanente. Enquanto o debate
público centra-se neste tratado, o governo está a pressionar no
Dáil [câmara baixa do Parlamento irlandês] o seu
irmão, o "Tratado sobre o Mecanismo Europeu de Estabilidade"
(MEE). Eles são gémeos; não podem ser separados.
O Tratado de austeridade permanente está a ser apresentado como o meio
de trazer estabilidade ao euro e à UE. Como em todos os casos, tratados
e lei nacionais não são senão politica congelada. Aqueles
que têm poder económico e com isso poder político
assegurarão que as leis reflictam seus interesses fundamentais. Eles
não se importam demasiado com questões acessórias desde
que elas não interfiram com suas estruturas de poder e os seus lucros.
O que faz este tratado é remover a capacidade de governos nacionais
não importa o povo de determinar o que deveriam ser as
prioridades económicas e sociais. No nosso caso a prioridade é
pagar a dívida corporativa transformada em "dívida
soberana". Para chegar a isto, a equilibragem da contabilidade torna-se a
grande prioridade e parte do orçamento deve ser para o reembolso, mais o
juro, desta dívida corporativa.
Como sempre na nossa sociedade, temos de olhar para a política
subjacente e aqui se revela o que tudo isto significa para o povo trabalhador,
não apenas aqui na Irlanda mas por toda a União Europeia. Angela
Merkel, a chanceler alemã, declarou: "Os travões à
dívida [regras do Tratado] serão vinculativos e válidos
para sempre. Você nunca será capaz de alterá-los
através de uma maioria parlamentar".
Isto só pode levar a uma situação pela qual, se houver
pouco dinheiro na caixa do governo, o dinheiro será tornado
disponível para o serviço da dívida e só o que
restar será disponibilizado para atender as necessidades do povo. Assim,
quando o custo do serviço da dívida ascende, o montante
disponível para o povo será reduzido não há
meio de contornar porque teremos de operar dentro de controles
constitucionalmente determinados.
O Tratado do MEE é um assalto ainda maior à democracia nacional.
Sob este tratado um Conselho de Governadores está a ser estabelecido
para "supervisionar" o fundo de estabilidade um conselho
constituído por banqueiros. O governo irlandês terá de
contribuir com aproximadamente 11 mil milhões, os quais
terá de tomar emprestados a fim de dá-los ao fundo.
O MEE constitui um assalto ainda maior à democracia e a
transferência de ainda mais poderes para um organismo externo a este
Estado e para além da influência do povo.
É por esta razão que precisa ser apoiado o processo levado por
Thomas Pringle
, do partido TD, ao Supremo Tribunal, argumentando que devido às
disposições do Tratado do MEE este deve ser submetido ao povo.
Sob as disposições do MEE, os "governadores" e seus
agentes estarão acima de todas as leis nacionais e isentos de
responsabilidade. Nenhum dos seus documentos pode ser examinado ou interceptado
por governos nacionais ou qualquer outro organismo. Os governos terão de
submeter disposições orçamentais para a sua
supervisão. Se os governadores considerarem necessário podem
pedir fundos adicionais aos governo, os quais eles têm de responder
dentro de sete dias sem ses nem mas. Os governos nacionais terão
de se submeter às suas exigências e prioridades.
Dentre os principais elaboradores deste tratado está a Goldman Sachs
corporação financeira internacional. Isto é um
golpe de estado virtual por parte do capital financeiro. Por que? Porque cada
vez mais a democracia torna-se um estorvo à tomada de decisão:
é demasiado lenta e incómoda no mundo do movimento
instantâneo do dinheiro e das estratégias de investimento. O seu
mundo virtual corre muito mais suavemente, não perturbado por ter de
consultar o povo.
Os países periféricos tornar-se-ão com efeito
protectorados dos poderes económicos dominantes, com constantes
transferências de riqueza numa base estrutural a longo prazo em
consequência da maciça dívida corporativa imposta sobre o
povo. Mais uma vez, o reembolso de dívida é o papel
primário para os governos. A elite quer manter o povo trabalho numa
"armadilha da dívida" indestrutível.
O governo irlandês e, infelizmente, alguns líderes sindicais
parecem acreditar que democracia e soberania podem ser comerciadas numa
espécie de regateio na esperança de obter algum alívio no
fardo da dívida. A decisão de quatro sindicatos
Mandate
,
TEEU
,
CPSU
e
Unite
de vir a público e apelar a um voto pelo
Não é portanto bem vinda. Isto é um novo e significativo
desenvolvimento e assinala um possível afastamento do impacto
amortecedor da "parceria social".
A democracia e a soberania não são bagatelas negociáveis a
serem entregues em troca de algumas migalhas de alívio. Temos de lutar
por
nós próprios, rejeitar esta dívida imposta e exigir
-
que acabem com a destruição do nosso serviços de
saúde
-
que os pacientes não sejam abandonados sobre carrinhos nos hospitais
-
que os cortes na educação sejam cancelados, de modo a que
nossos filhos possam ter as escolas que merecem
-
que serviços e empresas públicas não sejam privatizadas
-
que seja proporcionado trabalho para os desempregados
-
que os nossos filhos não tenham de emigrar
-
que recuperamos para o controle público nossos ricos recursos naturais
-
que repudiamos a dívida corporativa acorrentada no nosso povo.
A UE não é um veículo para a mudança e sim, ao
contrário, o principal veículo de servidão pela
dívida e de controle corporativo. Ela é o veículo de
opção da classe dominante e dos grandes monopólios
através de toda a Europa para a defesa e o avanço dos seus
interesses económicos e políticos.
A democracia e a soberania são as ferramentas próprias de que
precisamos para enfrentar a profunda crise económica, social, cultural e
moral em que o nosso país está atolado e na qual se
afunda rapidamente.
Toda a conversa do establishment sobre os tratados vindouros é apenas
tontice e desinformação para levar-nos a aceitar as cadeias da
dívida em torno dos nossos pescoços. Eles dizem-nos que podemos
precisar de outro salvamento e, assim, os tratados são uma
apólice de seguro. O problema é que não podemos pagar o
preço do primeiro salvamento como ele é, muito menos um segundo
ou um terceiro. Tudo isso significa que contraímos empréstimo de
mais dinheiro dos mesmos a quem já devemos uma montanha dele e a quem
temos de
devolver-lo com altos juros.
Um voto pelo Não é um voto contra a armadilha da dívida e
um voto para defender a democracia.
O original encontra-se em
http://www.communistpartyofireland.ie/cenfath-en/01-vote-no.html
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
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