A mãe de todas as embaixadas
por Stefano Chiarini
Uma verdadeira cidadela fortificada, maior que o estado do Vaticano e
"mais segura do que o Pentágono" está em vias de surgir
em Bagdad. Dia a dia, nas margens do Tigre, na "zona verde" onde se
encontram os palácios de Saddam Hussei, mais de 900 operários e
construtores vindos dos países mais pobres da Ásia ali a
constróem. Trata-se da nova embaixada dos EUA, de mil milhões de
dólares, ainda que o Congresso não tenha por enquanto
"libertado" senão 592 milhões de dólares.
É a maior e a mais fortificada do mundo, estende-se sobre mais de 42
hectares na zona onde outrora se encontravam os gabinetes do partido Baath.
Para ter uma ideia da sua extensão, a área equivale a cerca de 80
estádios de futebol ou seis vezes aquela da sede das
Nações Unidas em Nova York. Os trabalhos efectuam-se na maior
discreção mas, segundo um relatório da Comissão dos
Negócios Estrangeiros do Senado americano, o complexo será
composto por 21 edifícios. Dois serão destinados ao embaixador e
o seu adjunto, os outros aos escritórios, aos empregados e aos
serviços. Em funcionamento pleno, ali trabalharão 8000 pessoas e
ela tornar-se-á o cérebro da administração colonial
do Iraque, apenas escondida por trás de figuras locais dos diversos
líderes iraquianos ocupados em repartir as migalhas que caem da mesa dos
ocupantes.
O facto de a nova embaixada encontrar-se praticamente ao lado do palácio
de Saddam, que ela ultrapassará em grandeza, majestade e funcionalidade
equivalente nas dimensões a três Millenium Dôme
bem como aos edifícios onde se reúnem o parlamento e o
governo iraquianos, é uma mensagem clara para o povo iraquiano, e para o
mundo, sobre quem realmente governa o país, e sobre as
intenções de Washington de continuar a ocupar o Iraque durante
anos.
A cidadela imperial será praticamente inatacável da terra e do
céu, cercada por um muro com cinco metros de espessura, com seis portas
de entradas e saídas ultra-seguras e uma sétima de saídas
de emergência (se as coisas correrem verdadeiramente mal) para o
aeroporto, e defendida por baterias de mísseis terra-ar e terra-terra e
por uma grande caserna de marines.
O aspecto mais impressionante da nova embaixada é o seu isolamento total
do resto da capital iraquiana. Ao contrário dos velhos palácios
coloniais britânicos, a cidadela estadunidense será como uma
astronave aterrada no centro de Bagdad, completamente auto-suficiente: ela
terá seus próprios poços para o abastecimento de
água, uma central eléctrica, um sistema de recolha e tratamento
de lixo, seu próprio sistema de esgotos, a maior piscina da cidade,
restaurantes, snacks, cinemas, ginásios e um sistema de
comunicações interno.
Bagdad cai em ruínas, mas nas bases estadunidenses nesta tal como
nas outras 14 disseminadas por todo o Iraque a vida continua a decorrer
nas mil comodidades de uma tranquila província americana. Uma
província governada pela Bíblia e pelo código militar no
qual, por exemplo, ao contrário do que se passa nos Estados Unidos, o
aborto é estritamente proibido.
Os soldados do império, totalmente ignorantes acerca do lugar onde
estarão, verão assim o Iraque apenas através dos visores
dos seus tanques e das miras ópticas dos seus fuzis. Um projecto que
lembra muito aquele da transformação do exército
estadunidense numa espécie de "cavalaria mundial"
elaborado nos documentos do American Enterprise Institute podendo sair
dos seus fortins, atacar as "forças do mal" e retornar a
seguir às suas cidadelas fortificadas. A nova cidade proibida
estadunidense, já denominada "o palácio Bush", a
"mãe de todas as embaixadas" a megalomania do projecto
fa-lo parecer como os palácios de Saddam poderia ser definida
como a maior estação de combustíveis do mundo,
graças à qual os EUA poderão continuar a dilapidar as
riquezas do planeta e poluir a terra, o ar e a água. Como isto se passa
no Iraque onde, graças aos "acordos desiguais" com o governo
fantoche local, eles não só se apropriaram desta vasta zona sem
pagar um centavo como impuseram a extra-territorialidade de todas as suas
estruturas e a impunidade absoluta para os seus homens.
A nova embaixada, o único projecto de construção
imobiliária estadunidense no Iraque que, por enquanto, está
dentro dos prazos previsto e das despesas programadas, foi confiado na maior
parte a uma empresa kuwaitiana, a First Kuwaiti Trading (dirigida por Wadi al
Absi, um cristão maronita libanês) e a seis outras empresas, das
quais cinco estadunidenses. A sociedade de Wadi al Abdi, com mais de 7000
empregados no Iraque, foi criticada várias vezes por diversos organismos
humanitários, assim como por empreiteiros e responsáveis
estadunidenses, pelas muito más condições de vida e de
trabalho dos seus empregados, transferidos em massa para a Mesopotâmia a
partir dos países mais pobres da Ásia: jornadas de 12 horas de
trabalho, ausência de todas as condições de
segurança. Verdadeiros escravos utilizados para construir as
pirãmides do novo faraó americano.
04/Maio/2006.
O original encontra-se em
http://ilmanifesto.it
. A versão em francês encontra-se em
http://www.legrandsoir.info/article.php3?id_article=3640
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
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