O apoio à resistência iraquiana continua
por John Catalinotto
O governo espanhol sabotou uma conferência internacional que devia ter
tido lugar na região autónoma das Astúrias, no noroeste do
país, com a presença de representantes da Resistência
iraquiana. Isto significa que a Espanha apoia abertamente o regime de
ocupação imposto pelos EUA em Bagdad.
A haver-se realizado a conferência, o governo espanhol teria aberto a
porta a conversações entre a União Europeia e os
únicos representantes legítimos do povo iraquiano.
A 21 de Junho, uma delegação dos participantes internacionais na
fracassada conferência entregou em Madrid uma
Declaração de protesto
a um grupo de parlamentares espanhóis.
O cancelamento da conferência é o corolário da
instabilidade do regime fantoche iraquiano. Por outro lado, a atitude do
governo de Madrid é a demonstração inequívoca da
subordinação de Espanha, tanto ao imperialismo europeu como a
Washington.
Até meados de Maio a preparação da conferência
seguia o seu curso normal e o Ministério das Relações
Exteriores de Espanha havia garantido os vistos de entrada aos participantes
iraquianos, todos eles representantes legítimos de comunidades do
Iraque, alguns dos quais já haviam visitado anteriormente Espanha com
vistos que o governo então não lhos havia negado.
Contudo, após a visita do vice-presidente dos EUA Joseph Biden, o
governo espanhol deixou de fazer honra à palavra dada aos organizadores
da conferência e negou-se a emitir os vistos. Os organizadores decidiram
então seguir em frente e realizar a conferência com meios
electrónicos, por videoconferência. Contavam com o apoio firme dos
governos da cidade de Gijon e das Astúrias, além do apoio geral
da população asturiana.
O governo espanhol adicionou um passo reaccionário ao converter-se em
veículo de transmissão das ameaças aparentemente
proferidas contra as famílias de alguns organizadores espanhóis
por parte das milícias, esquadrões da morte, próximas do
actual regime de Al Maliki no Iraque. Em nenhum momento Madrid se comprometeu a
tratar da protecção aos cidadãos espanhóis ou aos
iraquianos convidados. Muito pelo contrário, pressionou-os a cancelarem
a conferência. Em tais circunstâncias, a 18 de Junho os
organizadores da Campanha Estatal contra a Ocupação e pela
Soberania do Iraque (CEOSI) tomaram a decisão de a cancelar.
O governo de Espanha actuou desta maneira apesar do apoio generalizado ao povo
e à Resistência Iraquiana entre a população do
país, apoio facilmente confirmado nas Astúrias. Apesar do
cancelamento, os asturianos conseguiram expressar a sua solidariedade de uma
forma alternativa: numa festa anual contra a monarquia e a favor da
República, que por coincidência se celebra anualmente a 19 de
Junho, as intervenções que mais aplausos receberam das centenas
de pessoas presentes foram as que se exprimiram em solidariedade com a
Resistência Iraquiana.
Denúncia da ocupação do Iraque pelos EUA
Nos últimos anos os meios de comunicação corporativos, de
capital norte-americano, dedicaram-se a minimizar e distorcer a realidade do
Iraque. Classificam as acções legítimas da
Resistência iraquiana como sectárias e terroristas,
apesar de a Resistência nunca atacar a população civil e os
seus objectivos serem sempre legítimos: os soldados e os
mercenários das forças de ocupação e os seus
lacaios.
Os meios de comunicação também deram a falsa
impressão de que o actual regime iraquiano é estável e
democrático, eleito nas urnas.
No entanto, não só o regime iraquiano é
anti-democrático e corrupto, como também as pressões
extraordinárias que exerceu sobre o governo espanhol, provavelmente
fabricadas em Washington, indicam que teme pela sua estabilidade.
Tal como acima se mencionou, uma delegação que representava os
participantes internacionais que compareceram em Espanha para a falhada
conferência reuniram-se a 21 de Junho em Madrid com membros do Parlamento
espanhol, a quem entregaram uma declaração assinada por muitos
dos grupos presentes, iraquianos no exílio, e de Espanha, Inglaterra,
Luxemburgo, Bélgica, Alemanha, Suécia, Portugal e EUA.
Na citada declaração podia ler-se o seguinte: o actual
regime iraquiano é sustentado completa e absolutamente na
ocupação; é um regime construído sobre a
corrupção e o saque, sobre o sectarismo e a divisão
étnica da sociedade iraquiana a quem impôs a própria
ocupação e que agora ameaça aniquilar algumas das minorias
e converter o Iraque num Abu Ghraib.
Seguidamente afirmava que os sete longos anos de ocupação
pelos EUA destruíram o Estado iraquiano, a sua economia, os seus
sistemas educativo e sanitário e a infraestrutura iraquiana e
ameaça destruir o que resta do tecido social iraquiano e dava como
exemplo o uso por parte dos EUA de armas de fósforo branco e de
urânio empobrecido.
Três deputados nacionais, Gaspar Llamazares, da Izquierda Unida (IU), um
do Bloque Nacional Gallego (BNG) e outro do partido do governo, Partido
Socialista Obrero Español (PSOE), tomaram nota dos pontos assinalados no
texto. Tanto a IU como o BNG expressaram a solidariedade dos seus partidos com
os iraquianos e prometeram apoiar estes esforços.
Llamazares também prometeu que em sessão parlamentar perguntaria
ao governo qual a razão para entre Abril e Junho ter mudado a sua
posição política a respeito da concessão dos
vistos. Referiu a visita de Biden a Espanha e as pressões exercidas
não só a partir da Zona Verde de Bagdad mas também desde
Washington.
Os participantes internacionais, entre os quais se incluem os iraquianos no
exílio, aceitaram continuar os seus esforços destinados a apoiar
e desenvolver a solidariedade com a Resistência iraquiana, exigindo entre
outras coisas a retirada total e incondicional do Iraque de todas as
tropas e mercenários e o pagamento de compensações pelos
danos da invasão e da ocupação.
A 21 de Junho os sindicatos da Galiza anunciaram greves para o dia 24 contra as
reformas do governo, que baixam os salários e a
segurança social dos trabalhadores. Tal como as greves gerais que se
estão a preparar, poderia dizer-se que os activistas a favor da
Resistência iraquiana unem as suas vozes com as dos demais trabalhadores
sob a mesma palavra de ordem: a luta continua.
15/Julho/2010
O original encontra-se em
www.workers.org
e a tradução em
http://tribunaliraque.info/pagina/artigos/depoimentos.html?artigo=724
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
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