Os iraquianos deveriam e poderiam proclamar um governo de salvação
por Abdul Ilah Al Bayaty
[*]
Todos os observadores as Nações Unidas, as
instituições internacionais, as organizações, os
movimentos e partidos árabes e internacionais, os iraquianos fora dos
círculos do poder em vigor no Iraque apontam a dedo e alertaram
mesmo a comunidade internacional, a ONU, os membros da Liga Árabe, os
movimentos internacionais e árabes, para a situação
trágica e as condições de vida dos iraquianos que vivem
sob a ocupação, para a diminuição drástica
de todas as possibilidade de viver uma vida normal se as
condições que a invasão americana criou forem mantidas. E
se os governo Al Maliki sustentado pelos Estados Unidos, pelas
lideranças curdas e pelos partidos sectários pró-iranianos
mantiverem suas políticas de repressão e corrupção
generalizada, de falsificação de acontecimento e de mentiras como
justificação.
O plano inicial de destruição do Iraque e da sua divisão
em três entidades, dependendo de uma aliança entre os separatistas
curdos, os religiosos iranianos fascistas e as actividades clandestinas dos
serviços secretos israelenses, já era em si próprio um
plano de
engenharia social criminosa
contrária a todas as obrigações de uma
ocupação sob o direito internacional. A partir do mesmo que o
exército iraquiano e os iraquianos empenharam-se em resistir à
ocupação, esta e seus aliados afundaram em acções
genocidas desastrosas não só para os iraquianos como
também para os EUA, os países vizinhos do Iraque, a economia
internacional, as relações, normas e padrões
internacionais.
Aquilo a que se chama "processo político" não tem como
fim senão efectuar esta divisão do Iraque. Mas todos aqueles que
conhecem a região sabem desde o princípio que o plano dos EUA de
destruir a identidade árabe-muçulmana do Iraque e de dividi-lo
numa entidade sunita, numa sunita e numa curda irá directamente para o
fracasso. A correr atrás desta miragem, os EUA produziram sete anos de
mortes incessantes, de destruição e de terror para o Iraque e
sete anos de derrota no combate aos iraquianos e à sua
Resistência: um verdadeiro banho de sangue para o Iraque e um abismo
financeiro para os EUA. Os Estados Unidos não ganharam senão a
vergonha, uma crise financeira, as mortes injustificáveis dos seus
filhos, uma agressão imperdoável, o declínio da sua imagem
e uma desconfiança generalizada dos seus valores e das suas
políticas.
Sim, os EUA conseguiram destruir o Iraque. Mas conseguir reconstruir um novo
Iraque dividido em três entidades semi-autónomas, projecto que os
think tanks estado-unidenses criaram para si próprios e para Israel,
revela-se impossível. O Iraque é inquebrável. Os
iraquianos, sua identidade e sua vontade, assim como a realidade
geopolítica da região, não permitem nenhuma divisão
do Iraque. Após sete anos de fracassos, ao invés de negociar com
a Resistência e as forças anti-ocupação que ficaram
fora do processo político americano para estabelecer a paz e as
condições de uma retirada das suas forças armadas e
devolver o Iraque aos iraquianos a fim de que possam reconstruir seu
país, sua sociedade e sua vida, a administração Obama
decidiu reviver o processo político falhado através de
eleições falsificadas.
Com Obama, os EUA os primeiros responsáveis pela
situação trágica no Iraque apresentaram as
eleições iraquianas como o remédio para os problemas que
eles próprios criaram e mantiveram. Na realidade, as regras que dominam
o processo político, a repressão, a expulsão de todos os
oponentes, a deportação forçada da maior parte da classe
média para fora do Iraque reduziram estas eleições a uma
simples peça de teatro que reproduz o mesmo processo político
falhado a fim de que os EUA possam prolongar e consolidar seu controle sobre o
Iraque e ao mesmo tempo isentar-se da sua responsabilidade quanto à
situação trágica do país. Conseguir um dia de
eleições nada tem a ver com as vidas quotidianas atormentadas dos
iraquianos.
Para os EUA, as assinaturas do governo Maliki sobre o acordo do estatuto das
forças
(Status of Forces Agreement)
e sobre os contratos petrolíferos libertaram-no de
preocupações com quem governa, de como governa e para que fim
governa. Como todos estes acordos são legalmente nulos e sem valor, e
apesar das declarações inteiramente retóricas sobre a
retirada das forças de combate americanas, os EUA terão à
sua disposição dentro mesmo do processo político, processo
dirigido pelos ladrões, chefes de guerra e agentes, forças que
lhes asseguram que nenhuma força de oposição aos EUA possa
existir sem ser imediatamente eliminada por outras forças do processo
político ou directamente pelos EUA ou pelas suas forças de
operações especiais. As forças no processo político
são todas elas abertamente encorajadas a lutar uma contra a outra a fim
de que não se oponham à ocupação e não
apoiem a construção de um estado iraquiano unificado.
Nada mais claro quanto a esta estratégia do que o discurso do embaixador
Hill em Washington. Todos os candidatos às últimas
eleições, Allawi inclusive, estavam de acordo. As suas
diferenças referiam-se à partilha do poder e à sua parte
do bolo: o Irão e seu agentes recusam-se a integrar os sunitas na
máquina política; os curdos não querem que os
árabes se unam a fim de integrar Kirkuk na sua região ao Norte;
Allawi e muitos outros criticam o sectarismo e o fascismo religioso mas
não são hostis à invasão nem a uma
desbaatificação suave; Maliki quer permanecer primeiro-ministro
por eleições ou pela força. Aparentemente os resultados
das eleições truncadas servem muito bem os planos
estado-unidenses. O parlamento estará tão dividido quanto antes e
o futuro governo será tão fraco quanto antes.
Há pelo menos dois aspectos que poderiam por em perigo e perturbar estes
planos agradáveis aos EUA. O primeiro: enquanto os EUA nada fizeram para
alterar a situação trágica do Iraque, deixando o trabalho
sujo da repressão, da corrupção e das mentiras para os
seus aliados locais, estes recusam-se agora a qualquer mudança. Utilizam
meios e subterfúgios legais e ilegais (assassinatos, prisões,
deportações e terror) para que os poderes possam permanecer nas
mãos da aliança entre os dois partidos curdos e os dois partidos
xiítas. A política de espera curda, as intervenções
iranianas, as violências sectárias e as ameaças de Al
Maliki de não reconhecer os resultados das eleições
vão nesta direcção.
O segundo perigo para os planos estado-unidenses é a
posição da resistência popular e das forças
anti-ocupação em relação às
eleições. Nenhuma destas forças apresentou uma lista ou
candidatos oficiais, o que torna as eleições ilegítimas.
Nem o partido Baath, nem o Taa'sisee, nem as associação dos
Sábios Muçulmanos no Iraque, nem a esquerda
anti-ocupação participaram mas deixaram a opção de
boicotar ou votar aos seus partidários em função da
situação local.
Se se analisa o número de votos por lista e por tema, pode-se
imediatamente ver que o projecto de movimento anti-ocupação para
um Iraque unificado obteve mais êxito e, portanto, que é a
primeira força política do país.
Os votos em Kirkuk, Mosul, Diyal e Salheddin provam que os planos curdos de
expansão não recebem o aval da população destes
departamentos. Os partidos puramente religiosos, que sonham com um estado
religioso, receberam menos de 2,5 milhões de votos num total de 12
milhões apesar de durante sete anos terem utilizado o poder em
seu próprio benefício com a bênção dos EUA.
Aqueles que apoiam a divisão no Iraque numa entidade xiita, uma outra
sunita e uma terceira curda ou seja, o Iraqi National Accord (INA) e a
Aliança Curda não conseguiram arrecadar mais de um quinto
de todos os votos elegíveis. É preciso mencionar que os Sadristas
que fazem parte do INA apresentam-se como que a recusar a
divisão do Iraque.
O número de eleitores que aceitam a hegemonia iraniana sobre o Iraque
é muito fraco. O INA, que é o principal aliado dos EUA, obteve
cerca de 2.095.000 votos em 18 milhões de elegíveis e em 12
milhões de votantes. Poder-se-ia acrescentar a metade da lista de Maliki
se ela se desintegrar. Maliki, uma criação americana,
apresenta-se a si próprio como sendo contra a hegemonia iraniana.
Ver-se-á o que ele será quando não estiver mais no poder.
A situação faz com que o Iraque se encontre numa encruzilhada
crucial. Uma das possibilidades é que os iraquianos ainda revivem quatro
anos sangrentos após estes últimos sete anos de banho de sangue.
A segunda possibilidade é que respeitando o seu desejo, os iraquianos
possam finalmente repousar, viver em segurança e começar a
construir um estado secular e novamente unificado. Os votos provaram que
não haverá qualquer salvação a partir do processo
político actual. A Resistência armada que é o
exército legal iraquiano , além daqueles que boicotaram as
eleições, daqueles que votaram por Allawi e pelas outras listas
que a favor de uma mudança e de um Estado secular, dos refugiados
cuja maior parte são da classe média , dos curdos
não-separatistas que estão fora dos partidos governos, dos
turquemenos, dos pobres que votaram pelos sadristas, dos cristãos, dos
yazidis, dos intelectuais honestos, todos representam um público para o
qual se crie um governo de salvação, governo que poderia
reconstruir um Iraque democrático, independente e unificado. É
dever das Nações Unidas, da Liga Árabe, dos países
vizinhos do Iraque e dos iraquianos progressistas trabalhar a fim de permitir o
nascimento deste governo.
A partir do momento em que os iraquianos se batem pela paz, pela estabilidade e
pela democracia resistindo e procurando um meio para reconstruir seu
Estado soberano na base da igualdade dos cidadãos eles defendem
também os interesses dos países vizinhos, Irão inclusive,
do mundo árabe, de todos os povos, de todos os países e de todas
as forças que querem por fim às guerras, à
violência, às relações baseadas na força, na
exploração e na hegemonia do Ocidente nos assuntos
internacionais, cuja primeira vítima verifica-se sempre ser o Terceiro
Mundo. O Iraque está na primeira fila da luta por um mundo melhor.
Analista político iraquiano e membro do Comité Executivo do
BRussells Tribunal.
O original encontra-se em
http://www.brussellstribunal.org/Newsletters/Newsletter4FR.htm
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
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