Com esta "esquerda radical" os capitalistas podem dormir tranquilos
O chefe do SYRIZA oferece-se para colaborar com a UE
Carta de vassalagem a Barroso, Rompuy & Draghi
por AC
Alexis Tsipras é a nova coqueluche dos media franceses e europeus.
Estranha complacência da parte dos media ao serviço da ideologia
dominante para com um líder que se pretende da "esquerda
radical".
É preciso dizer que as declarações e propostas do
líder do SYRIZA não são para inquietar nem a classe
dominante grega nem a europeia.
Para além das viragens tácticas e das posições
cambiantes ao sabor das oportunidades políticas, o SYRIZA e o seu
líder permanecem firmes acerca de certos princípios:
a reforma do sistema capitalista e a defesa da União Europeia.
Sem tentar enumerar a lista das propostas oportunistas de Tsipras ao longo
destes últimos anos um único artigo não seria
suficiente se se limita às últimas semanas, é
edificante a constatação da
compatibilidade desta "esquerda radical" com o sistema dominante
e o teor das propostas de "governo de esquerda" lançadas ao
KKE:
UM GOVERNO DE ESQUERDA NO INTERESSE DO CAPITAL GREGO E EUROPEU
Um "governo de esquerda" em colaboração com o grande
capital:
"Um governo de esquerda necessita dos industriais e dos investidores. Ele
tem necessidade de um ambiente económico saudável. Tem
necessidade de leis meritocráticas (...) Os investimentos podem ser
positivos num quadro meritocrático, com leis neste sentido, e não
num quadro gangrenado pela corrupção e as
maquinações". (Tsipras, Alexis, na cadeia de TV
pública NET, 05/Maio/2012).
Um governo de esquerda ampliado... até à direita:
"Se temos necessidade de cinco votos da parte do sr. Kammenos (presidente
de uma nova formação direita neoliberal, os Gregos Independentes)
e se ele vier para nós e nos der um sinal de abertura e de apoio,
nós não o rejeitaremos; não lhe diremos que não o
queremos". (Tsipras, Alexis, na cadeia TVXS, 25/Abril/2012)
Um "governo de esquerda" para salvar a Europa do capital:
"Só a esquerda europeia pode garantir uma União Europeia
baseada na coesão social". (Tsipras, Alexis, no jornal TA NEA,
02/Maio/2012).
QUANDO O LÍDER DA "ESQUERDA RADICAL" PROPÕE SEUS
SERVIÇOS AOS DIRIGENTES DA UNIÃO EUROPEIA PARA SALVAR A EUROPA !
Alexis Tsipras foi mais além das declarações de
princípio quanto ao apoio à União Europeia. Numa carta
dirigida pessoalmente a José Manuel Barroso (
aqui em grego no sítio web do Synapsismos
)
, a Herman van Rompuy e a Mario Draghi, ele revela a sua verdadeira
missão: a de participar no salvamento da União Europeia.
Com efeito,
esta carta de queixas transforma-se rapidamente numa proposta de
colaboração
dirigida às altas instâncias da União Europeia.
Ele principia pela constatação: a da rejeição do
Memorando, dos partidos que o defenderam nas eleições de 6 de
Maio. A seguir, sublinha "o fracasso económico destas
políticas, incapazes de tratar as desigualdades e desequilíbrios
estruturais da economia grega".
Vem então a ocasião de propor os serviços do SYRIZA,
única formação a ter "notado suas fraquezas inerentes
à nossa economia", uma economia que afundou pois a classe dirigente
grega "ignorou nossas recomendações em termos de reformas
estruturais".
Ler entre as linhas:
connosco no comando, a estabilidade da economia capitalista grega teria sido
assegurada.
Que receita económica propõe o SYRIZA? Nenhuma medida precisa
é evocada entre aquelas que por vezes o SYRIZA avança diante do
povo grego (alta dos salários, das prestações sociais,
etc). O Tsipras evoca apenas a necessidade de inverter a "dinâmica
da austeridade e da recessão".
Qual a perspectiva para corrigir a austeridade de que é vítima o
povo grego?
Primeiro, "Restaurar a estabilidade social e económica do
país", dito de outra forma, restaurar a ordem capitalista na
Grécia.
A seguir, numa perspectiva de
restauração da estabilidade económica e social à
escala europeia.
Trata-se "de repensar toda a estratégia actualmente executada,
pois ela ameaça não só a coesão e a estabilidade da
Grécia como também é fonte de instabilidade para a
União Europeia e a própria zona euro".
Tsipras acaba com um vibrante apelo à
colaboração de todas as forças para salvar a Europa
, e à concentração das decisões no escalão
europeu:
"O futuro comum dos povos da Europa está ameaçados por estas
escolhas desastrosas. É nossa convicção profunda que a
crise económica é de natureza europeia e que a
solução não pode ser encontrada senão ao
nível europeu".
A habilidade dos media dominantes, na Grécia, em França e
alhures, consiste e fazer passar um servidor zeloso da União Europeia do
capital, a nova personagem de uma social-democracia de
substituição, como o chefe da oposição de esquerda
ao consenso liberal e europeísta dominante.
Com uma tal oposição oficial, a classe dominante europeia pode ao
mesmo tempo continuar sua política de super-austeridade enquanto neutraliza a
emergência de uma alternativa política a este sistema
económico predador, que é o capitalismo, e esta
construção política anti-democrática que é a
União Europeia.
O original encontra-se em
solidarite-internationale-pcf.over-blog.net/...
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
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