A situação na Grécia e o papel anti-povo do SYRIZA
As responsabilidades dos que o aplaudem
Introdução
Na segunda-feira 13 de Julho, o governo SYRIZA-ANEL com o apoio de todos os
partidos políticos burgueses acordaram na Cimeira da Eurozona com um
pacote muito duro de medidas anti-povo, o terceiro memorando, o qual
destruirá todos os direitos dos trabalhadores e do povo que ainda restam.
Na quarta-feira 15 de Julho, o "primeiro governo de esquerda"
aprovou, com os votos dos partidos burgueses ND-PASOK-POTAMI, o acordo da
Cimeira e o primeiro pacote de medidas a serem implementadas para a
concretização do 3º memorando incluindo novas medidas
selvagens de tributação e a abolição de direitos
à pensão. O KKE votou contra isto e pediu uma
votação nominal, durante a qual 32 quadros do SYRIZA votaram
NÃO, 6 votaram "presente"
[NR]
e 1 absteve-se. Estes membros do SYRIZA disseram que "votamos contra o
novo memorando, mas ... apoiamos de todo o coração o governo que
está a por isto sobre a mesa".
A experiência dos cinco meses de governação SYRIZA
demonstra que ele não quer nem foi capaz de preparar o povo para uma
confrontação contra o memorando e os monopólios, tanto
gregos como europeus, precisamente porque não tinha
orientação para a resistência e o conflito. Ao
contrário, enganou o povo [dizendo] que podia abrir o caminho a
mudanças favoráveis ao povo mantendo-se no interior da
aliança predatória da UE.
Estes desenvolvimentos são uma expressão muito clara do fracasso
da chamada "esquerda renovada" ou "esquerda governamental",
da teoria de que a UE pode mudar seu carácter monopolista e anti-povo.
A linha de luta do KKE e sua posição vigorosa e firme, que
rejeitou a participação em tais governos "de esquerda"
que na verdade são governos de gestão burguesa, foi confirmada.
Na base desta experiência específica e da ultrapassagem da
ofensiva dos mass media burgueses, os trabalhadores da Europa e de todo o mundo
devem tentar descobrir a verdade e utilizar os acontecimentos na Grécia
de modo a retirar conclusões úteis.
Eles deveriam examinar e estudar a linha de luta do KKE, romper a muralha da
desinformação das forças burguesas e oportunistas que se
preocupam com a gestão da barbárie capitalista e trabalham
sistematicamente a fim de manipular os trabalhadores.
QUAL É A SITUAÇÃO REAL NA GRÉCIA? QUAL É O
PAPEL REAL DO SYRIZA? QUAIS SÃO AS RESPONSABILIDADES DOS QUE O APLAUDEM?
Primeiramente,
durante a crise capitalista, com as consequências penosas que a linha
política anti-povo do partido liberal ND e do partido social-democrata
PASOK trouxeram à classe trabalhadora e aos estratos populares,
começou uma reforma extensa do sistema político burguês.
Os partidos burgueses tradicionais estavam enfraquecidos e exaustos, e o SYRIZA
e a organização criminosa nazi "Aurora Dourada" foram
fortalecidos.
O SYRIZA, que era um pequeno partido oportunista, rapidamente aumentou sua
votação nas eleições de Junho de 2012 e venceu as
eleições de Janeiro de 2015, constituindo um governo com o
partido da direita nacionalista ANEL.
Ao longo deste período o SYRIZA encurralou os trabalhadores no falso
esquema "memorando anti-memorando", ocultando o facto de que o
memorando faz parte da estratégia mais geral do capital. Ele explorou o
agravamento dos problemas do povo e fez promessas falsas de que aliviaria a
situação dos trabalhadores e satisfaria suas
reivindicações.
Neste quadro, o SYRIZA prometeu que aumentaria de imediato o salário
mínimo, restauraria os acordos de negociação colectiva,
aboliria o imposto sobre a propriedade, aumentaria o patamar de
isenção fiscal, poria fim às privatizações,
etc.
Apesar dos slogans que utilizou, na prática o SYRIZA construiu uma
estratégia social-democrata e deixou claro desde o princípio que
administraria o capitalismo e serviria a competitividade e lucratividade dos
grupos monopolistas, implementando a estratégia da UE, à qual
chamava de "nosso lar europeu comum".
Segundo.
Após as eleições de 2015, o governo SYRIZA-ANEL
continuou a linha política anti-povo dos governos anteriores. No dia 20
de Fevereiro assinou um acordo com a UE-BCE-FMI (Troika) e assumiu compromissos
quanto ao reconhecimento e reembolso da dívida que não foi criada
pelo povo, a "rejeição de acções
unilaterais", a não implementação das suas promessas
eleitorais e a promoção de "reestruturações
capitalistas".
O governo SYRIZA-ANEL, durante as negociações que se seguiram em
Bruxelas, apresentou uma série de propostas com duras medidas anti-povo,
incluindo:
A manutenção do memorando e de todas as leis de
aplicação do ND e do PASOK, a imposição de
tributação adicional, a demolição de direitos de
pensão, privatizações e outras medidas no valor de 8 mil
milhões de euros a expensas do povo. Esta proposta era semelhante
àquela da Troika, a qual continha medidas anti-povo no valor de 8,5 mil
milhões de euros.
As confrontações nas negociações e a retirada do
governo SYRIZA-ANEL numa certa fase não estão relacionadas com
resistência para a defesa dos interesses do povo, como alguns no
estrangeiro afirmaram sem qualquer base.
Eram os interesses dos monopólios que estavam na mesa das
negociações e, sobre esta base, manifestavam-se
contradições mais gerais relativas à fórmula para a
gestão do capitalismo, o rumo da Eurozona e a posição da
Grécia nela (incluindo a possibilidade de um Grexit), as
contradições sobre hegemonia na Europa entre a Alemanha e a
França, entre os EUA e a Eurozona e em particular a Alemanha.
Terceiro.
Nestas condições, no sábado 27 de Junho o governo
apresentou ao Parlamento uma
proposta para um referendo, tentando armar uma cilada para o povo com um SIM ou
NÃO ao pacote de medidas anti-povo da Troika, recusando-se a apresentar
a sua própria proposta anti-povo a fim de ser julgada pelo povo.
O KKE (no parlamento) pediu que no referendo fosse colocado o seguinte:
A) A proposta da Troika.
B) A proposta do governo
C) A proposta do KKE para "DESLIGAMENTO DA UE, ABOLIÇÃO DO
MEMORANDO E DE TODAS AS LEIS DE APLICAÇÃO ANTI-POVO".
O governo arbitrariamente recusou-se a colocar a proposta do KKE em
votação. Seu objectivo era chantagear o povo e explorar a
votação popular como aprovação à sua
própria proposta que constituía um novo memorando.
O KKE resistiu, denunciou a chantagem e apresentou o seu próprio boletim
de voto ao julgamento do povo:
"NÃO À PROPOSTA UE-BCE-FMI.
NÃO À PROPOSTA DO GOVERNO.
DESLIGAMENTO DA UE COM O POVO NO PODER".
Este boletim de voto foi distribuído nos lugares de trabalho, nos
bairros populares, junto aos centros de votação no dia do
referendo, e ao mesmo tempo o KKE conclamava o povo a resistir de todas as
maneiras e exprimir sua oposição ao novo memorando.
Nas condições deste falso dilema e desta chantagem, o KKE
explicou ao povo que tanto o SIM como o NÃO seriam utilizados para impor
novas medidas anti-povo.
Esta decisão é uma grande herança deixada ao nosso povo
para que possa continuar sua luta com base nos seus próprios interesses.
Uma secção significativa do nosso povo resistiu. Lançou na
urna o boletim de voto do KKE, outros votaram em branco ou anularam o boletim
de voto (mais de 350 mil, 6%). Uma secção do povo trabalhador
seguiu o caminho da abstenção.
O KKE não estabeleceu um objectivo numérico para este referendo,
sua postura foi uma posição de princípio, enviar uma
mensagem política ao povo para não se submeter a toda chantagem,
a dilemas, quer tivessem origem na troika ou no governo ou nos outros partidos
políticos burgueses.
Quarto.
Em 6 de Julho, um dia após o referendo, os desenvolvimentos confirmaram
do modo mais característico as posições e a linha de luta
do KKE e comprometeram os partidos no estrangeiro que celebraram em conjunto
com o SYRIZA ou enviaram mensagens de apoio ao primeiro-ministro grego.
No dia seguinte ao referendo houve uma reunião dos líderes
políticos por iniciativa do primeiro-ministro, Tsipras, com a
participação do Presidente da República. Esta
reunião tornou a situação ainda mais clara.
O SYRIZA, ANEL, ND, PASOK, POTAMI, isto é todo os partidos burgueses,
assinaram uma declaração conjunta que entre outras coisas
mencionava: "O veredicto recente do povo grego não inclui um
mandato de ruptura, mas um mandato para continuar e fortalecer o esforço
de alcançar um acordo socialmente justo e economicamente
sustentável",
confirmando que os partidos burgueses como um todo estavam prontos para assinar
um acordo/novo memorando com a Troika contra o povo.
O secretário-geral do CC do KKE, cda. Dimitris Koutsoumpas discordou,
tornou clara a sua posição diferente. Após a
reunião dos líderes políticos declarou dentre outras
coisas: "De nossa parte exprimimos claramente, mais uma vez, os pontos de
vista do KKE quanto à avaliação do resultado do referendo
e principalmente quanto aos enormes problemas que estão a ser
experimentados pelo povo grego dentro da aliança predatória da
UE, a qual tem uma linha política que agrava continuamente os impasses
para o povo, o rendimento do povo, o curso do país e o curso do nosso
povo como um todo.
Foi demonstrado, mais uma vez, que não pode haver
negociações favoráveis ao povo e aos trabalhadores dentro
dos muros da UE, dentro do caminho capitalista de desenvolvimento...
Ninguém autorizou qualquer organismo a assinar novos memorandos, novas
medidas para o nosso povo".
Quinto. Após o referendo o governo SYRIZA-ANEL enviou ao Mecanismo
Europeu de Estabilidade (MEE) um pedido para um programa de empréstimo
por três anos no valor de cerca de 50 mil milhões de euros, com um
novo acordo de empréstimo e um novo memorando.
Na sexta-feira 10 de Julho, o governo propôs à Troika (UE, BCE,
FMI) um pacote provocador de duras medidas anti-povo com um 3º memorando
no valor de mais de 12 mil milhões de euros! Isto quer dizer 4 a 5 mil
milhões de euros a mais do que a proposta que estava a ser discutida
antes do referendo.
No mesmo dia, na discussão no Parlamento, o governo pediu e recebeu o
apoio e a autorização dos partidos burgueses, ND-PASOK-POTAMI, a
fim de assinar o acordo anti-povo, o 3º memorando.
Enquanto isso, na madrugada de segunda-feira 13 de Julho, o primeiro-ministro
Tsipras acordou na Cimeira da Eurozona um novo empréstimo no valor de 85
mil milhões de euros e um muito perigoso memorando anti-povo, o qual
realmente esmagará qualquer coisa que tenha restado dos direitos do povo.
Aqui estão alguns exemplos característicos:
Manutenção
do ENFIA, o imposto sobre a propriedade e outras duras medidas fiscais da ND e
do PASOK que levaram milhões de famílias das camadas populares ao
desespero e um
aumento adicional
das taxas de IVA, transferindo alimentos empacotados e outros ítens de
consumo popular em massa para a taxa mais alta de 23%, abolição
de isenções fiscais para agricultores, um aumento significativo
do IVA para as ilhas, etc.
A propaganda do governo diz que aumentar impostos sobre grandes negócios
e proprietários de navios não tem fundamento, que é uma
gota no oceano. As isenções fiscais para os proprietários
de navios e o grande capital como um todo estão a ser mantidas em vigor.
Manutenção
das medidas anti-segurança social na sua totalidade, as quais reduzem
pensões, aumentam a idade de reforma, isentam o patronato de
contribuições para a segurança social e também a
introdução de novas medidas que anulam o restante das reformas
antecipadas estabelecendo uma única idade de reforma de 67 anos,
abolindo os benefícios para pensionistas com pensões muitos
baixas, aumentando as contribuições dos trabalhadores para a
segurança social, fundindo fundos da segurança social com uma
corrida para baixo em termos de direitos. Estão a ser examinadas duras
medidas adicionais em nome da sustentabilidade do sistema de segurança
social.
Manutenção
das relações de trabalho "medievais" que prevalecem
nos lugares de trabalho, congelamento de acordos colectivos,
manutenção de salários reduzidos e também novas
medidas adicionais anti-trabalhador em nome da adaptação
às directivas da UE para a expansão de contratos individuais
entre trabalhadores e patrões, reforço do trabalho em tempo
parcial e temporário, relações de trabalho
flexíveis.
Implementação da caixa de ferramentas da
organização imperialista OCDE (a qual o governo considera ser um
parceiro estratégico)
que prevê a liberalização das profissões, a
abolição dos feriados de domingo, etc.
Manutenção
das privatizações que se efectuaram e a promoção de
novas, nos portos, em 14 aeroportos regionais, nas ferrovias, na companhia que
administra o gás natural, etc.
Criação
de um mecanismo para hipotecar e vender a propriedade pública a fim de
obter 50 mil milhões de Euros para reembolsar os empréstimos, etc.
Criação
de excedentes primários de 1% em 2015, 2% em 2016, 3% em 2017, 3,5% em
2018 e a implementação de um mecanismo para automaticamente
cortar salários, pensões, gastos sociais se houver
divergência em relação aos objectivos orçamentais.
O governo SYRIZA-ANEL utilizou a chantagem e o dilema que a ND e o PASOK haviam
utilizado a fim de convencer o povo a aceitar as medidas: um novo memorando
mais duro ou a bancarrota do estado através de um grexit?
Ele repete o mesmo dilema que foi apresentado por ocasião do primeiro e
segundo memorandos e todas as vezes em que uma prestação estava a
ser desembolsada. Toda a vez que o povo tem de escolher o mal
"menor", no fim este acaba por levar ao mal maior.
Mesmo agora, quando a linha política anti-povo do SYRIZA está
completamente evidente, Tsipras ainda tenta promover falsas expectativas,
afirmando que o acordo inclui um ajustamento da dívida (a qual aumentou
devido ao novo empréstimo) e aos chamados "pacotes de
desenvolvimento". Apesar do facto de ser bem sabido que em qualquer caso o
povo pagará pela dívida e que os pacotes serão mais uma
vez destinados a grandes grupos monopolistas, os quais colherão grandes
lucros.
Sexto. A linha política anti-povo do SYRIZXA não se restringe
apenas a estas questões mas exprime-se também na sua
política externa.
O governo grego em cinco meses proporcionou apoio significativo à NATO,
aos EUA, o eixo Euro-Atlântico.
Ele não só manteve como também assumiu compromissos para
fortalecer as bases EUA-NATO em Suda, o centro de comando para
intervenções e guerra imperialistas, Aktio (centro de radar) e
também assumiu compromissos para fortalecer os centros de comando em
Salónica, Larissa, etc.
O governo anunciou que em consulta com os EUA instalará uma nova base da
NATO no Mar Egeu, na ilha de Carpatos.
O governo assumiu oficialmente um compromisso de disponibilizar suas
forças armadas e bases militares para novas guerras imperialistas na
região, a fim de enfrentar os jihadistas e "proteger as
populações cristãs".
Ele participa em exercícios militares juntamente com os EUA e Israel e
fortalece suas relações militares, políticas e
económicas com o estado israelense que continua a ocupação
e os tormentos do povo palestino.
A chamada "política multi-dimensional" com a Rússia e a
China, com os BRICS, está a ser executada do ponto de vista do
avanço dos interesses dos grupos monopolistas a fim de fortalecer suas
posições no campo da energia, no quadro geral da
competição imperialista, enredando nosso povo em novos perigos.
CONCLUSÕES IRREFUTÁVEIS
Os trabalhadores da Europa e de todo o mundo podem retirar importantes
conclusões deste curso dos acontecimentos na Grécia a fim de
denunciar as forças políticas que defendem o caminho de
desenvolvimento capitalista e a União Europeia, a união
imperialista inter-estatal.
Os homens e mulheres comunistas, os trabalhadores, devem examinar os
desenvolvimentos na base dos dados reais.
Eles deveriam apreciar a posição de dúzias de Partidos
Comunistas que tentam analisar os desenvolvimentos na Grécia com base em
critérios de classe, mantiveram o princípio do internacionalismo
proletário, contribuíram para apoiar luta do KKE, publicaram seus
boletins de informação e entrevistas, escreveram seus
próprios artigos e combateram contra a confusão semeada pelo
SYRIZA e pelo Partido de Esquerda Europeu (PEE).
O KKE agradece às dúzias de partidos comunistas e
organizações de juventude comunista de todo o mundo que
exprimiram sua solidariedade de muitos modos diferentes e permaneceram ao lado
da luta do nosso partido e da KNE (Juventude Comunista Grega).
Agradecemos aos trabalhadores e trabalhadoras, sindicalistas e outras
organizações do movimento popular do estrangeiro que apoiam a
luta do movimento com orientação de classe na Grécia.
Nosso partido continuará a travar lutas árduas e a honrar a vossa
confiança.
Nas condições da forte pressão exercida pelo aparelho
ideológico burguês e pela intervenção das
forças oportunistas, a expressão em massa de solidariedade
internacionalista é um elemento muito importante. Ela contribui para a
nossa luta comum. Trata-se de uma experiência valiosa que
frutificará no período seguinte.
Ao mesmo tempo, os comunistas e trabalhadores devem examinar cuidadosamente e
denunciar as forças oportunistas e outras que durante todo este
período ocultaram as posições do KKE e alinharam-se com o
SYRIZA, embelezando a essência de classe anti-povo da sua linha
política, seu carácter social-democrata.
O PEE desempenha um papel particularmente perigoso na manipulação
dos trabalhadores. O Partido de Esquerda Europeu reconheceu a sua
própria mutação estratégica rumo à
gestão burguesa nas posições sociais-democratas do SYRIZA,
as suas próprias posições favoráveis à
assimilação dentro da UE.
Isto era expectável.
Este grave problema refere-se a certos PCs que reproduziram as
posições do SYRIZA, apresentaram-no como força de
resistência contra a UE, ocultando o facto de que este partido é
um defensor da aliança predatória da UE e da NATO, um
administrador da barbárie do sistema capitalista.
Estas forças saudaram o "NÃO" do referendo mas
ocultaram o facto de que por trás disto estava o SIM do SYRIZA a um novo
memorando, novas medidas que continuarão a sangrar o nosso povo.
Elas desinformaram intencionalmente ou não intencionalmente
os trabalhadores nos seus países. Estas forças ligaram a
posição do governo grego à defesa da "soberania
popular", mas a realidade demonstra que o povo não pode ser
soberano quando está sitiado pela chantagem das forças do
capital, quando está faminto, desempregado, vítima do capitalismo
e dos capitalistas que mantêm o poder e possuem os meios de
produção e roubam a riqueza produzida pelos trabalhadores.
A postura destes partidos objectivamente foi contra a luta do KKE e a expensas
do interesse da classe trabalhadora, das camadas populares na Grécia, em
todo país, porque apoiar a nova social-democracia significa fortalecer o
adversário dos trabalhadores, promove ilusões e confusão.
Não há desculpa. Eles arcam com sérias responsabilidades.
Os partidos que ocultaram as posições do KKE, organizaram eventos
para apoiar o SYRIZA e saudaram a social-democracia foram revelados.
Na realidade, as manifestações, como em Paris, Roma, Bruxelas,
Nicósia, Lisboa e outras cidades, pouco importando quem as organizou e
os slogans usados, foram utilizadas pelo SYRIZA como um álibi "de
esquerda" para fortalecer a sua posição, para apresentar-se
como um "salvador" e impor novas duras medidas anti-povo sobre os
trabalhadores gregos.
Esta não é a primeira vez que falamos acerca destas
questões. As consequências da influência oportunista nas
fileiras do movimento comunista, consequências da
contra-revolução, continuam a ser penosas.
Nosso partido, como é bem sabido, tem exprimido firmemente (durante
muitos anos) sua solidariedade internacionalista com PCs que hoje se alinham
com os seus oponentes políticos. O KKE segue uma posição
de princípio e continuaremos a assim actuar.
Contudo, deve começar uma discussão no Movimento Comunista
Europeu e Internacional acerca das escolhas de PCs que tomam o lado da
social-democracia e dela devem ser retiradas conclusões.
Quem quer que perca a bússola revolucionária de classe
será levado a administrar o capitalismo, mesmo que o nome comunista seja
mantido, mesmo que haja referências formais ao socialismo.
A experiência histórica revela isto e este é o problema
para certos partidos que usam a calúnia do "sectarismo" a fim
de incriminar a luta revolucionária, esconder o seu próprio recuo
dos princípios do marxismo-leninismo e a sua opção por
administrar o sistema burguês.
Os desenvolvimentos recentes trouxeram à tona questões
sérias que devem ser discutidas ainda mais.
Os partidos sociais-democratas da variedade SYRIZA e Podemos trabalham para
manipular a classe trabalhadora, salvaguardar a gestão capitalista com
falsos slogans de esquerda.
Na prática, o exemplo do SYRIZA demonstra mais uma vez que os chamados
"governos de esquerda" são uma forma de gestão e
reprodução da exploração capitalista, que eles
cultivam ilusões, desarmam as forças populares e levam ao
fortalecimento de forças conservadoras, para o retorno de governos de
direita. Os exemplos de "governos de esquerda" em França,
Itália, Chipre, Dinamarca e países da América Latina
confirmam esta avaliação.
A posição que apresenta a substituição do Euro por
uma divisa nacional, a exemplo do dracma na Grécia, como um
desenvolvimento a favor do povo, uma posição apoiada por
vários grupos de ultra-esquerda e quadros do SYRIZA que no parlamento
votaram contra o 3º memorando, obscurece a situação real
para os trabalhadores. A [mudança de] divisa não pode por si
própria resolver favoravelmente qualquer dos problemas do povo. A
exploração capitalista continuará a dominar, bem como o
factor que determina o curso dos desenvolvimentos, isto é, qual classe
social tem o poder e os meios de produção nas suas mãos.
A tentativa de interpretar os desenvolvimentos com posições que
apresentam a Grécia como sendo uma "colónia" não
tem uma base objectiva. Ela omite os objectivos e interesses da burguesia,
não toma em conta o desenvolvimento capitalista desigual
(uneven)
e as relações desiguais
(unequal)
entre estados capitalistas.
A continuada participação na NATO e na UE é a
posição dominante na classe burguesa e as concessões de
direitos soberanos são uma escolha consciente que objectiva
reforçar o capitalismo e servir os interesses dos monopólios no
interior de alianças imperialistas.
Centrar toda a atenção sobre a postura da Alemanha, a tentativa
de interpretar os desenvolvimentos através do prisma do "golpe de
Schauble" oculta a essência da competição
inter-imperialista, dos interesses que estão envolvidos no conflito.
A escolha de aliados do governo SYRIZA-ANEL, exemplo: os EUA e a França,
nada tem a ver com os interesses do povo mas sim com os interesses dos grupos
monopolistas, enredando nosso povo ainda mais na teia da
competição imperialista.
As recentes declarações de um quadro do SYRIZA e vice-presidente
do governo são características. Ele fez a seguinte
referência: "Tenho de agradecer publicamente ao governo dos EUA e ao
Sr. (Presidente Barack) Obama pois sem a sua ajuda e persistência em que
o acordo tem de incluir a questão da dívida e o horizonte de
desenvolvimento poderíamos não ter tido êxito".
A LUTA DO KKE
O KKE avançou em frente, tendo enriquecido sua estratégia na base
das exigências contemporâneas da luta de classe, ultrapassando a
teoria respeitante a "etapas intermediárias" na gestão
do sistema explorador e as diferentes formas para a manutenção da
democracia burguesa, defendendo as lei da revolução e
construção socialista.
Nosso partido utilizou a linha de luta anti-capitalista
anti-monopolista, a linha para a concentração e
preparação da classe trabalhadora e forças populares para
o derrube do capitalismo, para o poder dos trabalhadores e do povo, o
socialismo, rejeitando a cooperação com o partido
social-democrata SYRIZA e qualquer participação em governos de
gestão burguesa.
Ele deu uma resposta decisiva nas eleições de 2012, continuando
em condições difíceis sua luta
político-ideológica e de massa independentes, com as necessidades
das famílias da classe trabalhadora e estratos populares como seu
critério.
Ele travou a batalha das eleições em 2015, aumentou suas
forças e utiliza seu grupo parlamentar de 15 membros para destacar os
problemas do povo, apresentando importantes projectos e propostas de lei, como
o projecto de lei para a abolição do memorando e das leis de
aplicação as quais o governo desde há cinco meses tem-se
recusado a discutir no Parlamento.
Ele utiliza o seu grupo parlamentar na UE ao lado dos trabalhadores,
alcançando um novo nível nas suas intervenções
políticas significativas após a sua retirada do GUE/NGL, o qual
foi transformado num apêndice do PEE.
A orgulhosa posição do KKE no referendo recente é uma
continuação desta luta política. Esta
posição revelou a linha política anti-povo do governo
SYRIZA-ANEL, da Troika e dos partidos políticos burgueses que apoiam a
permanência na UE "a qualquer custo", apresentando sua
própria proposta ao povo.
Nosso partido intervém decisivamente nos desenvolvimentos
políticos, combate contra dificuldades e deficiências e trabalha
incansavelmente nos lugares de trabalho, no interior do movimento trabalhista e
popular, desempenha o papel principal nas lutas da classe trabalhadora, dos
agricultores, dos estratos intermediários, da juventude. Ele continua
sua actividade internacionalista, fortalece suas relações com
dúzias de PCs de todo o mundo e tenta discutir sua experiência com
os comunistas e as principais forças da classe trabalhadora no exterior.
Estes deveres são muito sérios. O KKE centra-se em organizar a
resistência dos trabalhadores contra o acordo anti-povo do governo
SYRIZA-ANEL, de modo a que o nível das exigências populares seja
elevado e de que se desenvolva um movimento militante para exigir de um modo
maciço a recuperação das perdas e a
satisfação das necessidades contemporâneas.
O movimento com orientação de classe, PAME, e os demais
agrupamentos militantes estão a escalar as mobilizações de
massa, estão a fazer esforços para organizar um movimento de
solidariedade para apoiar aqueles que estão a sofrer devido ao
desemprego e à pobreza, para apoiar os pensionistas, os trabalhadores
que estão de pé nas filas junto aos bancos para receberem uma
pequena parte da sua pensão ou salário devido às
restrições sobre transacções bancárias.
Através de comités de luta nos lugares de trabalho,
fábricas, hospitais, supermercados, serviços, através da
mobilização dos "comités populares" nos bairros.
Estas são ferramentas valiosas para o fortalecimento da luta popular.
Continuaremos neste caminho e apelamos à classe trabalhadora, aos
estratos populares, a adoptarem em massa e de modo decisivo a proposta
política do KKE para a melhor organização possível
dos trabalhadores, para o reagrupamento do movimento trabalhista, para o
fortalecimento da aliança popular da classe trabalhadora com os
agricultores, os outros estratos populares a fim de intensificar a luta por
mudanças radicais profundas. Para a socialização dos
monopólios, com planeamento científico central da economia,
desligamento da UE-NATO e o desenvolvimento de relações
mutuamente benéficas com outros estados e povos, com o cancelamento
unilateral da dívida, com a classe trabalhadora e o povo segurando as
rédeas do poder.
[*]
Membro da Comissão Política do Comité Central do KKE
[NR] A figura do voto "presente" é uma especificidade do
Parlamento grego. O voto "não" significa uma
oposição frontal e total. O voto "presente" significa
que em princípio se está contra uma proposta (um projecto de lei,
por exemplo) mas que se reconhece algumas ideias úteis na mesma. De
certo modo o voto "presente" é quase o equivalente à
abstenção, mas não exactamente a mesma coisa.
A versão em inglês encontra-se em
inter.kke.gr/en/...
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
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