Fortalecer a luta da classe trabalhadora contra a exploração
capitalista, as guerras imperialistas e o fascismo
por Dimitris Koutsoumbas
[*]
Caros camaradas:
Estamos particularmente felizes por estarmos aqui convosco em Istambul para os
trabalhos da 17ª Reunião Internacional de Partidos Comunistas e
Operários.
Gostaria particularmente de sublinhar os laços inabaláveis que
ligam os movimentos comunistas dos dois povos vizinhos, o grego e o turco.
E usar esta oportunidade para exprimir nossos agradecimentos ao Partido
Comunista na Turquia por abrigar a reunião de hoje.
Exprimimos nossa plena solidariedade com a luta do povo turco, nosso apoio
às famílias das vítimas da provocação
assassina que levou à morte e a graves ferimentos de centenas de pessoas
em Ancara, quando se manifestavam por justiça e paz.
No período mais recente, toda a humanidade fita o mar entre a Turquia e
a Grécia. Ali se vêem dezenas de milhares de pessoas a tentarem
cruzar o Mar Egeu de todos os modos imagináveis, para alcançar
alguma ilha grega depois de deixar a costa turca com o objectivo de rumar para
outros países europeus, à procura de um "futuro melhor".
Esta "passagem" demonstrou-se fatal para milhares de pessoas, para
muitas crianças, que pereceram a lutar contra as ondas. Contudo, o
factor que levou tantas pessoas a desenraizarem-se dos seus lares tem um nome.
É a barbárie capitalista que cria crises económicas,
pobreza e desemprego, guerras imperialistas e intervenções.
O KKE luta contra as causas que provocam refugiados e imigração;
luta contra o nazi-fascismo e seus representantes hoje na Grécia, os
quais querem dentre outras coisas utilizar esta importante questão das
ondas de imigração a fim de semear nacionalismo, xenofobia e
racismo entre o povo.
Nosso partido conclama o povo, o movimento do povo trabalhador, a estar
vigilante e a intensificar sua solidariedade para com refugiados e imigrantes,
exigindo:
-
O fim das intervenções e guerras imperialistas da UE, dos EUA e
da NATO. Nenhuma participação grega nas mesmas.
-
A abolição dos Regulamentos de Dublim, do Acordo Schengen, do
Frontex e de todos os outros mecanismos repressivos da UE.
-
Não às medidas da UE para repressão nas fronteiras.
-
Transito imediato de refugiados entre a ilha e pontos de entrada para seus
países de destino final, sob a responsabilidade da UE e da ONU.
-
A criação de centros de recepção decentes. O
aumento de pessoal e fortalecimento da infraestrutura relativa ao resgate,
registo-identificação,
acomodação-alimentação-cuidados e o trânsito
seguro para os pontos de saída do país.
Caros camaradas:
Nossa região, a região entre a Europa e a Ásia, o Mar
Negro e o Médio Oriente, a região do Mediterrâneo Oriental
atrai como um imã centenas de aviões e navios de guerra, bem como
todas as outras espécie de material militar.
Forças militares de dúzias de países, de dentro e de fora
da NATO, estão constantemente a participar em exercícios
militares e algumas delas já foram utilizadas em batalhas na
Síria, Iraque, Ucrânia, etc. O que descrevemos é apenas o
topo do iceberg da intensa competição inter-imperialista que
põe os povos em perigo.
Trata-se de uma competição sobre a divisão das
matérias-primas, das rotas de transporte de
commodities,
das fatias de mercado. Em suma, sobre o lucro capitalista, o qual é a
força motora da sociedade capitalista. Uma sociedade que é
baseada na exploração do homem pelo homem.
Em anos recentes, devido às consequências das
contra-revoluções em países de construção
socialista, e também devido à crise capitalista que reorganizou
tudo, devido ao desenvolvimento capitalista desigual, podemos ver a
competição inter-imperialista a aguçar-se. O famoso assim
chamado "mundo multi-polar" é nada menos do que o mundo de
duras confrontações inter-imperialistas, as quais estão a
ser travadas com meios económicos, diplomáticos e militares, pois
é bem sabido que "a guerra é a continuação da
política por outros meios".
Todos nós sabemos que na Ucrânia temos a intervenção
aberta dos EUA, da UE e da NATO no quadro da sua competição com a
Rússia, enquanto as anteriores relações de
cooperação socialista e integração no interior da
União Soviética já haviam sido arruinadas. A
intervenção dos EUA-NATO-UE, apoiando-se em forças
nacionalistas e mesmo abertamente fascistas, levou este país ao colapso
e banhos de sangue indescritíveis.
Vemos desenvolvimentos semelhantes na região do Médio Oriente,
onde houve uma tentativa de sequestrar e explorar o desejo do povo por direitos
sociais e democráticos. Através do veículo da assim
chamada "Primavera Árabe", houve uma tentativa de
"recompor" as alianças internacionais na região e
possivelmente realizar algumas modernizações burguesas. Os EUA, a
UE e seus "aliados" na região, como os regimes
autoritários no Golfo e na Turquia, treinaram e apoiaram os jihadistas
dos "Estado Islâmico" a fim de avançar seus planos.
O mesmo é verdadeiro quanto aos desenvolvimentos na Síria, onde
após as intervenções da UE, dos EUA e da NATO, o nó
de antagonismo está a ser mais complicado pela Rússia. Isto
ultrapassou o cheiro da pólvora, a região mais vasta do
Médio Oriente e do Mediterrâneo Oriental está a ser
ameaçada. Há um perigo real de que toda a região possa
explodir.
São precisamente estas grandes contradições na
região que aumentam o perigo de uma generalização dos
conflitos militares, porque na nossa região mais vasta centros
imperialistas como os EUA, NATO e UE, velhas e novas potências emergentes
como a Rússia, China, Turquia, Israel, as monarquias árabes no
Golfo, estão a envolver-se no conflito, com um perigo de real do maior
envolvimento de outros países, como a Grécia.
O governo SYRIZA-ANEL em apenas sete meses de dominação
propôs a criação de uma nova base NATO-EUA nos
Cárpatos, o estabelecimento de um comando multinacional e de uma unidade
controle em Creta, bem como a expansão e reforços da base de Suda.
Além disso, agora está pronto a aceitar o pedido dos EUA de modo
a que os notórios drones da US Air Force possam estacionar no
território grego e especificamente em Creta a fim de bombardear a
região e, naturalmente, criar novas ondas de refugiados e imigrantes. Os
povos, como o povo grego, mais uma vez pagarão o preço disto.
A questão da ZEE [Zona Económica Exclusiva] está mais
claramente a trazer à tona a confrontação selvagem entre
as potências imperialistas, velhas e novas, algo que mais uma vez enreda
nosso país no perigo de ser envolvido numa guerra imperialista ao lado
de uma ou outra aliança predatória.
A participação de governos gregos nestes planos serve os
interesses do capital grego, o qual pretende aumentar a sua fatia na
redivisão dos mercados, isto é, do roubo executado contra os
povos.
O governo grego, em nome da burguesia grega, do capital grego, está a
avançar o objectivo de transformar a Grécia num centro de
distribuição
(hub)
de energia e portanto a envolver-se na competição sobre as rotas
de transporte de energia e pipelines como o
TAP
.
Não podemos entender realmente estes desenvolvimentos e, o que é
importante, examinar o que deveríamos fazes, se não estudarmos
alguns factores:
Por exemplo, o carácter sincronizado da crise económica
capitalista na última década que afectou poderosos estados
capitalistas. É duvidoso que estes estados venham a alcançar uma
reprodução expandida dinâmica aos níveis anteriores
à crise. Esta crise é devida à natureza do sistema
capitalista e demonstra seus limites.
Nestas condições, os realinhamentos na correlação
de forças entre os estados capitalistas estão a acelerar-se.
Estão a emergir novas potências que procuram uma redivisão
dos mercados que seja em seu benefício.
Eles procuram isto, utilizando todos os meios disponíveis,
económicos, diplomáticos, com compromissos e acordos
frágeis, mas quando isto não é possível são
utilizados meios militares. É assim que funciona o capitalismo, o
sistema de exploração.
Que "a guerra é a continuação da política por
outros meios" é absolutamente válido. Quando o sistema, a
classe dominante, não pode atender seus interesses predatórios
ela recorre à guerra aberta. Isto foi demonstrado em muitos momentos da
história.
Não deveríamos esquecer que antes das duas guerras mundiais
anteriores estalaram grandes crises capitalistas globais.
É uma tremenda imprecisão histórica o que é dito e
escrito nos livros de história, nos livros da economia política
burguesa, com os quais ensinam em escolas e universidades, algo que
várias forças social-democratas, como o SYRIZA na Grécia,
bem como forças oportunistas no movimento comunista internacional
proclamam ruidosamente: que a grande crise capitalista do período
1929-1932 foi resolvida pela gestão keynesiana! Isto é utilizado
para desculpar sua própria fórmula de gestão anti-povo,
sua estratégia anti-povo, como aquela do SYRIZA no nosso país.
A crise, de facto, foi finalmente ultrapassada pela enorme
destruição de forças produtivas na II Guerra Mundial e
depois de a economia ter sido orientada para a indústria militar.
Estas não são questões teóricas e
académicas. São questões que acima de tudo devem ser
aprendidas e entendidas pela juventude. São experiências
históricas que deveriam ser utilizada para ver que desenvolvimentos
estão a ocorrer hoje, para onde as coisas estão a ir, o que
deveria ser feito para livrar-mo-nos desta barbárie.
O sistema capitalista, especialmente hoje quando está na sua etapa
superior e final de imperialismo, nada pode oferecer de positivo para os
trabalhadores, para os povos, mas apenas um intensificar da
exploração de classe, opressão, barbárie crua,
crises económicas e guerras.
Tudo isto demonstra uma grande verdade para os povos de todo o mundo: que a
crise capitalista e a guerra imperialista caminham juntas.
Eis porque é extremamente importante o slogan "o povo e
especialmente a juventude não deveriam derramar sangue pelos interesses
do capital, dos exploradores".
E quanto aos trabalhadores dos nosso países, não estão
salvaguardados pela participação dos nossos países nas
organizações imperialistas, a UE e a NATO que são aceites
por todos os partidos burgueses, liberais e social-democratas, esquerda e
direita, e que na Grécia incluem partidos desde o ND, SYRIZA até
o nazi Aurora Dourada.
Não estão salvaguardados pela lógica cultivada por
vários partidos de que o povo deveria escolher o imperialista,
seleccionar um bloco de potências imperialistas, um bloco de
alianças geopolíticas internacionais.
É algo totalmente diferente para o fortalecimento dos trabalhadores e do
povo utilizar contradições existentes e diferentes interesses dos
estados capitalistas e a outra de atrelarem-se a uma aliança
imperialista, uma união de estados capitalistas, com a ilusão de
que isto poderia beneficiar a classe trabalhadora e o povo e a perspectiva do
poder popular, o socialismo.
Acreditamos que o movimento comunista deve utilizar as
contradições inter-imperialistas, com o objectivo de enfraquecer
alianças imperialistas, desestabilizar o poder capitalista no seu
país ou em outro país, seja o agressor ou um que está sob
ataque.
Para um PC utilizar correctamente as contradições
inter-imperialistas não deve estar preso aos planos de qualquer centro
imperialista, deve defender o trabalho vital dos interesses de classe no seu
país, na região e a um nível internacional.
Neste sentido, o KKE procura activamente salientar as consequências da
participação do nosso país nas uniões
imperialistas, suas intervenções na guerra imperialista, para a
classe trabalhadora e o povo. Combatemos contra os slogans do irredentismo
nacionalista. Combatemos para isolar as forças fascistas e os apoiantes
do Euro-atlantismo, para isolar todos aqueles que trabalham para criar uma
"corrente pró guerra".
Nosso partido levanta directamente a questão da retirada da
Grécia de todas as alianças imperialistas, tais como a NATO e a
UE, sublinhando que isto pode ser assegurado pelo poder dos trabalhadores e do
povo, o caminho do desenvolvimento socialista.
Ao mesmo tempo enfatizamos que a luta para a defesa de fronteiras, para os
direitos soberanos da Grécia, do ponto de vista da classe trabalhadora e
dos estratos populares, está inseparavelmente ligada à luta para
o derrube do poder do capital e, naturalmente, nada tem a ver com a defesa dos
planos dos vários pólos imperialistas ou a defesa da
lucratividade dos vários consórcios monopolistas.
A classe trabalhadora, os estratos populares e sua juventude, na nossa
opinião, têm apenas uma escolha:
Devem por fim ao sistema que causa exploração, crises e guerras,
dirigir as forças insurgentes militantes rumo ao derrube do capitalismo
e à construção da nova sociedade socialista.
Caros camaradas,
Hoje a burguesia, beneficiando da correlação de forças
negativa internacionalmente, está a executar uma ofensiva
ideológica, procurando ganhar não apenas a tolerância
passiva mas o apoio activo das massas da classe trabalhadora e populares para
seus planos imperialistas quanto às questões relacionadas a
intervenções imperialistas e guerras.
Aqui, para além da questão da defesa da "pátria"
outros novos pretextos estão a ser utilizados tais como a
"promoção da democracia", "razões
humanitárias", a "guerra contra o terrorismo",
"combater a pirataria", "a não disseminação
de armas de destruição maciça", "a
prevenção da imigração e corrente de
refugiados", "a protecção de minorias religiosas e
nacionais", etc.
Infelizmente, ainda há forças que se dizem "de
esquerda", "progressistas" e favoráveis ao trabalho que
aceitam estes pretextos imperialistas.
Consideramos que as forças que participam no Partido da Esquerda
Europeia e votaram a favor da intervenção da NATO na Líbia
e aceitaram os argumentos dos imperialistas respeitantes à Síria
arcam com enormes responsabilidades. Eles tiveram uma posição
semelhante em relação a intervenções imperialistas
anteriores na Jugoslávia, Afeganistão e Iraque.
Em condições em que as contradições
inter-imperialistas estão a aguçar-se, os trabalhadores
não devem ter ilusões de que é possível impedir a
guerra através de "mesas redondas" ou "sistemas de
segurança regional". Os acontecimentos na Síria,
Ucrânia, etc demonstram que o "caminho pacífico" para a
resolução do problema da divisão de mercados por vezes
está fechado ao capitalismo, o imperialismo. Há então
só um caminho de saída: a nova divisão dos mercados e
esferas de influência através da violência, conflitos
militares, novas guerras imperialistas.
O movimento comunista deve manter uma posição
ideológico-política de classe decisivamente independente e
combater qualquer tentativa de cooptar os povos para os objectivos das
burguesias, sejam elas as mais velhas ou as novas secções
emergentes desta classe.
É particularmente importante para o movimento comunista ter uma frente
ideológico-política consistente contra toda potência
imperialista, pouco importando como ela se apresente.
Caros camaradas,
Não devemos passar por alto o facto de que no contexto da
competição feroz, a qual exprime-se alternativamente como uma
guerra económica, política ou diplomática, há a
confrontação sobre a Parceria Transatlântica sobre
Comércio e Investimento (TTIP). O TTIP está a avançar
muito vagarosamente, pois secções das burguesias francesas e
alemãs consideram que as propostas estado-unidenses são um
"Cavalo de Tróia" a fim de assegurar a hegemonia dos EUA na
Europa a médio prazo.
Os actos recentes dos EUA ao revelar o escândalo das emissões
poluentes da Volkswagen e as tentativas semelhantes por parte dos EUA para
revelar os financiamentos ilegais da Siemens são exemplos do
aguçamento da competição entre os EUA e a Alemanha na
esfera da economia. Está a tornar-se óbvio que a pressão
dos EUA sobre a Alemanha está a aumentar a fim de avançar o TTIP.
Uma outra frente é a confrontação em curso dentro da
própria UE em torno de questões relativas a novo aprofundamento
ou não da unificação capitalista, onde a França,
Itália e também, mais discretamente, a Grã-Bretanha (a
médio prazo) estão a disputar o primado da Alemanha.
Além disso, a confrontação dos EUA-UE contra a
Rússia sobre a Ucrânia e uma questão importante e especial
que está conectada a políticas energéticas na Europa e
alhures.
Uma outra questão importante é a exacerbação das
contradições entre os EUA e a China, na primeira fase
economicamente, se bem que haja intensa actividade ao nível militar
assim como pelo controle do Pacífico.
Dentro do quadro da competição entre os estados capitalistas mais
fortes e os menos poderosos, um certo número de
contradições e conflitos sobre a demarcação de
direitos soberanos na região do Mediterrâneo Oriental, o qual
é rico em hidrocarbonetos, permanece por resolver. Exemplos
característicos disto são: a guerra em Israel-Líbano, a
questão de Chipre, a questão palestina e a natureza
contraditória das relações entre Israel e a Turquia.
Tudo isto aponta para o perigo de uma confrontação imperialista
geral no Médio Oriente, na Eurásia e na generalidade do mundo e
são justificadamente motivos de preocupação para os
comunistas.
Caros camaradas,
É verdade que a burguesia do nosso país não está
unida quanto à fórmula que contribuirá para a
recuperação capitalista mais rápida e estável. Isto
também é verdadeiro para a burguesia a um nível europeu e
internacional. Toda a teia de contradições inter-imperialistas
está a manifestar-se no contexto destas fórmulas e
variações. Eixos e anti-eixos estão a alterar-se bastante
frequentemente e enquanto se entende que o sistema capitalista, especialmente
na Europa capitalista, não se podem usar medidas keynesianas,
investimentos produtivos para o estado geral e benefícios sociais a fim
de promover o mercado do mesmo modo como se fez no passado.
As fórmulas keynesiana e liberal de gestão das crises
estão a confrontar-se uma com a outra neste terreno, ambas com os mesmos
objectivos de classe. Estes modelos de gestão frequentemente alternados
durante o século XX naturalmente não impediram ciclos de crises
económicas, dúzias de guerras locais pela redivisão de
mercados ou para mudanças a primeiras posições na
pirâmide imperialista.
O carácter da estratégia e das tácticas de partidos
não é determinado pelo modo eles se definem ideologicamente
(esquerda, socialista, comunista) mas sim pelo modo como actuam em
relação aos interesses básicos das classes na sociedade. E
principalmente em relação às duas classes básicas
em oposição, a burguesia e a classe trabalhadora. Além
disso eles são definidos pelo modo como tratam com os estratos sociais
intermediários, os quais são caracterizados por
estratificações e diferenciações significativas de
interesses entre si bem como em relação a que interesses comuns
eles têm com a classe trabalhadora.
Uma política de apoio aos interesses gerais da classe burguesa
está a ser seguida não apenas pelos partidos burgueses liberais
como também por partidos com referências de esquerda, socialistas
ou mesmo comunistas que estão a apelar à classe trabalhadora e
aos estratos populares para contribuírem e apoiarem os objectivos da
classe capitalista, tais como "reconstrução produtiva",
"o fortalecimento da produção-economia nacional",
"modernização" de estruturas económicas e
políticas burguesas, etc. Por outras palavras, eles estão a
pressionar o povo ao combate sob uma falsa bandeira ao invés da sua
própria bandeira, a escolher entre os vários governos anti-povo
para a gestão do sistema.
Como também é o caso no nosso país, o povo está a
ser aprisionado pela questão do governo; está a ser aprisionado
no apoio à reforma do sistema político burguês, quando os
mais velhos partidos burgueses e sociais-democratas estão em
declínio.
Nestas condições podemos observar fluidez e mobilidade nos
partidos burgueses, tanto naqueles que são liberais como naqueles que
são sociais-democratas quanto à ideologia.
Nas condições da prolongada crise económica na
Grécia, por um lado vemos a emergência do nacional
socialismo-fascismo como partido parlamentar, extraindo forças da ND, e
por outro lado vemos o reagrupamento da social-democracia, através da
formação do SYRIZA, assimilando também força
oportunistas que surgiram ao longo dos últimos 25 anos.
Ao mesmo tempo, continua a haver fluidez no centro-esquerda, na
social-democracia (PASOK) e no pólo oportunista quando uma corrente do
movimento comunista (ANTARSYA, Unidade Popular, outras forças que
afirmam que formarão um novo partido revolucionário de
trabalhadores).
Nosso partido estudo estes realinhamentos os quais tiveram consequências
negativas sobre a influência eleitoral do próprio KKE durante os
últimos três anos, apesar do facto de ele manter forças
significativas nos parlamentos nacional e da UE, e principalmente de manter a
capacidade para intervir militantemente em condições de uma
grande recuo do movimento e da combatividade. Ele é capaz de influenciar
forças bem além da sua influência eleitoral, nas lutas dos
trabalhadores, agricultores e povo pela sobrevivência.
Certos "simpatizantes", os quais estão alegadamente
interessados no fortalecimento do KKE principalmente no período
anterior, agora após o fracassado experimento do SYRIZA eles
naturalmente estão mais quietos criticaram-nos porque não
promovemos cooperação com o SYRIZA ou algumas
secções dele com o objectivo de travar a espiral descendente dos
padrões de vida do povo e a seguir examinar como a luta
progredirá para o socialismo, porque alegadamente estas forças
permaneciam estáveis em favor desta perspectiva.
Eles estão a propor que nós adoptemos outra vez uma linha
política que já foi tentada e testada também na
Grécia, como por exemplo a cooperação com o governo de
George Papandreu após a libertação em 1944, o apoio
proporcionado à União de Centro pelo EDA (a Frente de Esquerda
Unida onde os comunistas eram activos) na década de 1960 antes da
ditadura militar. Formas alternativas de gestão do sistema foram
testadas em muitos estados capitalistas europeus antes da crise (tanto
fórmulas de centro-esquerda como de centro-direita foram tentadas), com
a participação de partidos comunistas e outros oportunistas,
renovadores como eles se chamam a si próprios, partidos que provêm
de divisões nos PCs. Também temos visto governos, mesmo que de
vida relativamente curta, com a participação de partidos de
extrema-direita na Áustria, Holanda, Noruega, etc. Vimos também
alternação entre partidos com diferentes fórmulas de
gestão burguesa na América Latina.
Eles estão a propor que ignoremos o relacionamento entre política
e economia; estão a dizer-nos para esquecer que os monopólios
prevalecem por toda a parte na economia e na superestrutura e que estão
a ser reforçados através da centralização do
capital, que a integração da Grécia na UE na realidade
impõe maiores compromissos e dependências, novas
restrições e concessões de direitos e poderes.
Eles estão a sugerir que passemos por alto o facto de que
relações capitalistas estenderam-se à
produção agrícola, educação, saúde,
cultura, desportos, aos mass media. Que há uma maior
concentração de capital na manufactura, no retalho, na
construção, no turismo. Que com a abolição do
monopólio de estado nas telecomunicações, na energia e nos
transportes, desenvolveram-se negócios e principalmente aqueles baseados
no capital privado. Enormes monopólios europeus estão a atacar
como abutres a fim de comprar propriedade, negócios, terra, enquanto
está em crescendo o interesse em torno da perspectiva da
extracção de hidrocarbonetos nos mares Egeu e Jónico,
assim como na região ao Sul de Creta.
Que deveríamos esquecer que os capitalistas, os monopólios,
são a classe economicamente dominante, ao passo que o governo e o
parlamento são os seus órgãos.
E que o SYRIZA, como partido de governo, aceita os monopólios, a UE, os
negócios capitalistas, sua competitividade, como a força motora
da economia.
O SYRIZA desempenhou um papel especialmente valioso para a classe burguesa,
principalmente a fim de evitar instabilidade política nas
condições de uma crise económica prolongada e da grande
redução do rendimento dos trabalhadores e do povo. Só um
partido com referências social-democratas, como o SYRIZA, podia
restringir os protestos da massa popular, como também Juncker admitiu.
Certos partidos, de vários matizes políticos, elevam a
questão principal, capaz de constituir a base para a
cooperação de forças anti-memorando, a de
lidar com a situação "neo-colonial" que envolveu o
país, pois está sob a tutela, a bota da Troika. Eles dizem que o
país perdeu ou está em perigo de perder sua independência e
status nacional.
Naturalmente, a Grécia tem uma posição subordinada no
interior das alianças imperialistas estabelecidas de que participa (UE,
NATO, FMI, etc). Esta posição, contudo, decorre da sua
força económico-político-militar como estado capitalisa.
Esta é a fonte das relações desiguais que prevalecem entre
estados capitalistas aliados (relações antagónicas que
podem mesmo levar à ruptura e à guerra), a qual não nega a
base comum da aliança. A história tem mostrado os perigos
relacionados com o desenvolvimento desigual de estados capitalistas. As
relações antagónicas desiguais entre eles, quando as
diferenças não são resolvidas por métodos
políticos e económicos, levam estes estados a escolher
métodos militares, guerra, violência de estado. O capitalismo
não avança apenas a internacionalização
capitalista, as várias formas de uniões imperialistas, sejam
formais ou informais, e não é permeado apenas pelo
cosmopolitismo, mas também pelo nacionalismo e por tensões
beligerantes.
Todos os partidos realçaram o problema grego como sendo um problema
europeu.
Esta visão é acompanhada pela posição de que
não pode haver mudanças a favor do povo a um nível
nacional, além da alternância de governos, isto é,
mudanças no pessoal político do sistema e não na economia.
Ou seja, que o povo não pode lutar por uma outra sociedade socialista.
Isto promove a visão utópica e comprometida de que
mudanças radicais, derrubes, ou acontecerão simultaneamente por
toda a Europa como um todo ou globalmente, ou em parte alguma. Governos
"de esquerda", como o SYRIZA-ANEL, com este slogan, pedem
a submissão quanto à nova deterioração dos
padrões de vida dos trabalhadores e do povo.
A Grécia hoje tem um grande potencial produtivo inutilizado o qual
só pode ser libertado através da socialização dos
meios de produção pelo poder da classe trabalhadora e do povo,
com o Planeamento Científico Central da produção e
o controle dos trabalhadores a todo o nível da sua
organização.
Sustentamos que existem as pré-condições a fim
de satisfazer não só as necessidades do povo em geral como
também as necessidades do povo hoje. Para abolir o desemprego, reduzir
as horas de trabalho, aumentar o tempo livre. Assegurar um futuro certo para os
filhos dos trabalhadores, para melhorar de modo estável e substancial os
padrões de vida do povo. De modo a que o desenvolvimento não
venha a entrar em conflito com o ambiente, de modo a que a saúde seja
baseada na prevenção, a que haja uma extensa rede de
serviços exclusivamente públicos e gratuitos, bem como outras
questões sobre as quais temos posição. A família e
principalmente as mulheres deveriam ser libertadas dos exclusivamente privados
cuidados infantis, de idosos e de doentes crónicos . Haveria
então extensos serviços sociais para apoiar a maternidade,
discriminação positiva de modo a que a maternidade fosse combinada
com trabalho social, de modo a que as mulheres tivessem mais tempo
disponível para actividades culturais e sociais e para participar no
controle dos trabalhadores.
A Grécia possui importantes fontes internas de energia,
consideráveis recursos minerais, industriais, de produção
artesanal e agrícola, os quais podem atender uma grande parte das
necessidades do povo: na alimentação e energia,
transportes,
construção de trabalhos de infraestrutura pública e
habitação popular. A produção agrícola pode
apoiar a indústria nos seus vários sectores.
A posição apoiada pelo SYRIZA e outros partidos que pedem um novo
"haircut" da dívida, adoptando a posição do FMI,
é completamente diferente da posição do KKE a favor do
cancelamento unilateral de toda a dívida e não a sua
redução através de novas medidas equivalentes, novos
memorandos, novos programas anti-povo, com privatizações de
sectores estrategicamente significativos e de propriedades, etc.
A retirada da Eurozona, como proposto por alguns, ou a visão de que o
euro não é um fetiche, nada tem a ver com a posição
do KKE pelo desligamento da UE.
A posição do KKE de que não deveria haver
participação em qualquer união imperialista, algo que
será assegurado pelo poder dos trabalhadores, é completamente
diferente da posição pela retirada da UE a fim de reforçar
a participação em outros centros.
A proposta do KKE para a governação do poder dos trabalhadores e
do povo nada tem em comum com a proposta do SYRIZA para um governo "de
esquerda". Especialmente agora que o povo grego pôde conhecer em
primeira-mão "pela primeira e segunda vez" que [isso
significa] voto pelo memorando e por medidas anti-povo.
No primeiro caso estamos a falar acerca da mudança radical no poder
político, no segundo de uma mera mudança em figuras do governo
que operarão dentro do mesmo quadro dos governos anteriores, pois os
monopólios e o capital determinarão as decisões e
opções feitas para a recuperação económica.
Camaradas,
Nosso partido desde o princípio da década de 1990 confrontou a
visão reformista e oportunista de que estamos a viver na era do retorno
do liberalismo, o qual é chamado de neoliberalismo. Esta visão
argumentava que nesta base é necessário estabelecer uma frente
anti-neoliberal. Esta posição também prevalece hoje e na
verdade é usada para explicar a causa básica da crise. Isto
é um constructo ideológico que é amplamente utilizado pelo
SYRIZA e pela social-democracia em geral. Nós revelámos,
utilizando argumentos concretos, que o abandono da gestão keynesiana era
uma escolha necessária a qual correspondia às necessidades do
capital para a reprodução ampliada, após a crise geral no
princípio da década de 1970.
No entanto, muitos PCs promoveram entusiasticamente programas keynesianos e,
nesta base, a cooperação com a social-democracia. Esta
posição foi baseada sobre se a social-democracia estava ou
não a ser arrastada para o neoliberalismo. Deste modo, a frente
ideológica contra ela foi em grande medida enfraquecida. E nome da
unidade da classe trabalhadora (a qual encarava a criação de
governos conjuntos com a social-democracia ou uma secção dela) os
PCs realizaram graves recuos ideológicos e políticos, enquanto as
declarações de unidade por parte da social-democracia não
encaravam o derrube do sistema capitalista, mas sim a alienação
de classe da classe trabalhadora e o seu afastamento da influência de
ideias comunistas.
A grande herança leninista é oportuna, a lição de
que a vitória da classe trabalhadora, do povo explorado, e mesmo a
elevação da luta de classe não é possível
sem uma luta contra o oportunismo que é implacável e
intransigente. Que o conteúdo da luta era diferente nas
condições do desenvolvimento da revolução burguesa
e que é diferente hoje na era da transição do capitalismo
para o socialismo, nas condições da etapa superior do capitalismo.
Em qualquer caso, nenhum partido pode tornar-se um partido de governo se
não apresentar credenciais relevantes para os capitalistas como
classe, para o seu pessoal interno e internacional. Isto foi confirmado pelas
acções do SYRIZA. É um mito que o sufrágio
universal no capitalismo possa mudar a correlação de
forças entre as classes opostas. Por esta razão a questão
de [saber] se um governo com base no parlamento pode contribuir para o
princípio do processo revolucionário é infundada e
utópica, diríamos que completamente enganosa com base na
experiência do século XX e da primeira parte do XXI.
O KKE dá importância a todas as formas de luta em
condições não revolucionárias, tais como as de
hoje, e utiliza luta eleitoral e sua presença parlamentar para informar
o povo, revelar o que está a ser planeado às suas expensas, para
impedir tanto quanto possível na base da correlação
de forças as medidas anti-trabalhadores, anti-povo, acima de tudo
para fortalecer a luta de classe de modo que a necessidade do conflito total
seja entendido por mais pessoas.
Neste quadro, o KKE centra-se no reagrupamento do movimento dos trabalhadores e
do povo, na construção da aliança social com uma
elevação da luta de classe, na expansão dos laços
do partido comunista com novas forças trabalhadores e trabalhadoras,
outros empregados, agricultores e auto-empregados, principalmente juventude e
mulheres das famílias populares, com a construção de
organizações do partido robustas em todos os lugares de
trabalhos, em sectores estratégicos da economia.
A luta contra o capitalismo, intervenções imperialista e guerras,
o nazismo-fascismo, que está a erguer a cabeça outra vez, exige
partidos comunistas fortes nos nossos países, com uma estratégia
de conflito e derrube, com coordenação e acção
comum, assegurando principalmente actividade estratégica comum e a
preparação de forças para combater a
exploração capitalista, a barbárie imperialista e abrir
caminho para o único futuro com esperança da humanidade, o
socialismo.
Hoje é o período que determinará a existência,
manutenção e reagrupamento da vanguarda revolucionária, de
modo a que seja capaz de dirigir as massas insurgentes da classe trabalhadora e
popular rumo à solução revolucionária, quando o
estado de espírito das massas e a situação amadurecer
devido à crise geral e agravada do poder burguês.
O KKE, que assumiu a responsabilidade de organizar as reuniões
internacionais após as contra-revoluções,
continuará os esforços, apesar das dificuldades, tanto no
interior da reuniões internacionais como também através de
outras formas, as quais nas nossa avaliação não só
não estão em contradição com a Reunião
Internacional de Partidos Comunistas e Operários como actuam de um modo
que reforça e promove a actividade conjunta e a formação
da estratégia revolucionária unificada do movimento comunista,
sob os princípios do marxismo-leninismo e do internacionalismo
proletário.
Como disse o grande poeta comunista turco, Nazim Hikmet, "Nós temos
um ímpeto com a idade de séculos... Emergiremos vitoriosos mesmo
que nossos sacrifícios sejam grandes". Sim, por maiores que sejam
os sacrifícios, este mundo apodrecido, "este navio pirata,
afundará venha o inferno ou a maré-alta, ele
afundará. E nós construiremos um mundo tão
esperançoso quanto livre".
30/Outubro/2015
[*]
Secretário-geral do KKE. Discurso pronunciado na 17ª reunião
internacional de partidos comunistas e operários, em Istambul,
30/Outubro 1/Novembro
A versão em inglês encontra-se em
inter.kke.gr/...
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
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