Os polícias de tráfego "de esquerda" do capitalismo
O governo do partido "de esquerda" SYRIZA e do partido nacionalista
ANEL tem sido confrontado desde Janeiro/2016 com importantes
mobilizações populares, as quais foram provocadas pela
insuportável situação económica experimentada pelos
trabalhadores e outros estratos populares. O povo grego está a enfrentar
as graves consequências da crise capitalista que perdura já
há sete anos, como por exemplo o desemprego. O governo SYRIZA-ANEL
procura implementar um terceiro memorando, o qual foi aprovado também
com os votos dos outros partidos burgueses, que se destina a impor novos fardos
sobre os ombros da classe trabalhadora, dos agricultores pobre e médios,
dos auto-empregados. Ele continua no caminho da pesada tributação
do povo, reduzindo os ganhos dos trabalhadores e procura fazer o mesmo
através da nova lei de segurança social.
Mas como pode um partido "de esquerda" gerir o capitalismo nestas
condições?
O governo SYRIZA afirma que não há outro caminho para o
país, não há outro senão no interior da UE, dentro
do capitalismo. Ele acusa o KKE de argumentar em favor de políticas
"fantásticas", "irrealistas", em favor de
"coisas que não podem ser implementadas, etc. E argumenta mesmo que
por ser um governo "de esquerda" pode implementar esta linha
política específica muito melhor do que os anteriores governos
"de direita" e sociais-democratas.
Ao mesmo tempo, eles afirmam, como num artigo recentemente publicado no jornal
do SYRIZA, o
Avgi,
que "o capitalismo globalizado rouba o árduo trabalho dos
agricultores, não o governo". Este tipo de análises
"reflexivas" tenta justificar o governo e sua linha política.
Além disso, poucos dias antes, o ministro do Trabalho, Giorgos
Katrougalos, na sua resposta à questão posta na mesa pelo
deputado do KKE quanto ao que fará o governo acerca do caso da companhia
"Softex", a qual decidiu encerrar sua fábrica na
Grécia, despedindo centenas de trabalhadores, declarou o seguinte:
"nós esgotámos toda possibilidade de exercer pressão
que um ministro do Trabalho num país capitalista pode exercer",
entretanto o patronato respondeu que o encerramento "é uma
decisão final tomada pelos accionistas". Ele também disse
que "Há limites para o que um ministro do Trabalho pode fazer num
estado capitalista".
Assim, os quadro do SYRIZA estão a implementar a seguinte
táctica: Quando a decisão atinge as causas mais profundas dos
problemas dos trabalhadores e dos agricultores pobres, a questão do
lucro capitalista, o papel da União Europeia, sua Política
Agrícola Comum, eles apresentam-se como "realistas" e como
estando "em contacto com as realidades" e acusam aqueles que
sublinham a necessidade de chegar a uma ruptura com a UE e também com a
propriedade e o poder capitalista de estarem fincados em ... 1917 e proporem
coisas "que não podem acontecer".
E quando a discussão centra-se nas responsabilidades do governo, eles
descobrem o "capitalismo globalizado", "os limites que existem
no capitalismo". Mas o SYRIZA deve responder à seguinte
questão: Se o capital globalizado deve ser culpado, como é que se
deveria descrever aqueles que aprovam leis que servem este sistema
miserável, aqueles que como governo nacional servem seu funcionamento e
os seus objectivos, expulsando os pequenos e médios agricultores da
terra? Como deveríamos etiquetar os serviçais do capitalismo?
Talvez como os seus "polícias de tráfego de esquerda"?
Unidade Popular (LAE) e "boas" privatizações
Entretanto, a outra secção do SYRIZA, o "SYRIZA marca
2", chamada "Unidade Popular", segue passo a passo a linha
socialdemocrata-reformista de promover ilusões entre os trabalhadores.
Assim, o deputado da Unidade Popular N. Chountis, numa pergunta à
Comissão Europeia relativa à privatização da
companhia de electricidade (IPTO), indagou: "Como é que descartar
companhias não europeias de licitar para [a aquisição] de
20% da companhia que será concedida a um investidor estratégico
é consistente com a legislação da UE e a necessidade de
alcançar um preço melhor". Poucos dias antes, no seu
discurso sobre o mesmo assunto no plenário do Parlamento da UE, ele
caracterizou o "modelo da Comissão para
privatizações" como sendo um "fracasso".
O deputado da Unidade Popular parece ter assumido a tarefa de
"corrigir" o "fracassado modelo da UE de
privatizações", trazendo outros "actores"
("players") para o jogo de modo a que possa ser alcançado um
preço melhor na venda da IPTO.
É aparente que os quadros da Unidade Popular foram bem treinados
através da sua participação na gestão burguesa,
durante o primeiro governo SYRIZA-ANEL, e tornaram-se peritos em
privatizações e em avançar a barbaridade capitalista.
15/Fevereiro/2016
[*]
Secção de Relações Internacionais do CC do KKE
O original encontra-se em
inter.kke.gr/en/articles/The-left-traffic-cops-of-capitalism/
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
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