O sistema bancário em resumo
O sistema bancário actual funciona de acordo com um princípio
muito simples. Aquele que quer tomar dinheiro emprestado promete ao banqueiro
que o reembolsará e sobre esta promessa o banqueiro lhe cria um activo.
Sobre este activo o tomador do empréstimo deve juros.
É porque poucas pessoas sabem como isso funciona que quase
ninguém vê como o funcionamento bancário baseado no vento
parasita a sociedade como um tumor canceroso e reduz as pessoas a rodas
dentadas a fim de apaziguar sua fome financeira.
O Banco Central Europeu (BCE) obriga os bancos a terem na reserva 2
cêntimos para euro que devem aos seus clientes. Nossos activos
bancários são agora cobertos por uns poucos por cento de dinheiro
real, o resto do dinheiro não existe. Portanto não temos dinheiro
no banco, mas sim um activo do banco, uma promessa do banqueiro, de que nos
dará dinheiro verdadeiro em contrapartida se lhe pedirmos.
Os bancos tomam emprestado o dinheiro verdadeiro do BCE. É o dinheiro no
nosso porta-moedas. O dinheiro verdadeiro é igualmente utilizado sob
forma electrónica nos pagamentos entre bancos.
Os clientes têm um activo bancário, mas isso não é
dinheiro com o qual possam pagar. Eles tão pouco executam pagamentos (se
bem que toda gente pense o contrário). Em vez disso, dão ordem de
pagamento ao seu banco. Sobre esta, os bancos mudam os activos dos seus
clientes e pagam os montantes de um banco para o outro. No tráfego
diário de pagamentos interbancários, os bancos anulam os
montantes que se devem mutuamente e à noite pagam apenas as
diferenças. Assim, com muito pouco dinheiro os bancos, entre si, podem
pagar milhões.
O tomador recebe um activo do seu banco e gasta-o. Assim o activo chega a uma
outra conta bancária. O receptor por sua vez irá gastá-lo
e assim o activo circula na sociedade e nos serve de dinheiro. E no momento em
que o cliente reembolsa o seu empréstimo, o banqueiro deduzirá o
montante do seu activo. Deste modo o activo criado desaparece. Portanto é
preciso que novos empréstimos substituam aqueles que foram reembolsados
a fim de manter suficiente pseudo-dinheiro em circulação. Se a
quantidade diminuir, os tomadores já não podem mais reembolsar
seus empréstimos e os bancos vão à falência.
Mas nem todos os activos continuam a circular. Também há pessoas
que estacionam uma parte do seu activo numa conta de poupança. Os activos
imobilizados em contas de poupança não participam mais na
circulação e, em substituição, novos
empréstimos devem ser emitidos. Naturalmente, destes empréstimos
suplementares haverá igualmente uma parte que acaba como
poupança. Para todos os empréstimos, tanto aqueles estacionados
como aqueles em circulação, os tomadores devem trabalhar para
encontrar dinheiro a fim de pagar os reembolsos e os juros. Eles não
podem encontrar este dinheiro nas contas-poupança. Este dinheiro
não pode ser ganho. Portanto cada vez mais reembolsos e juros devem ser
pagos com o dinheiro em circulação. No fim, estas somas acabariam
mesmo por ultrapassar o dinheiro disponível. A solução dos
banqueiros? Ainda mais empréstimos!
Se se aumentar o dinheiro em circulação à mesma velocidade
que a poupança, haverá sempre bastante dinheiro para os
reembolsos e os juros. É por isso que temos a inflação. No
"dinheiro" em circulação, os empréstimos
acumulam-se cada vez mais.
Os juros para os poupadores são pagos pelos tomadores de
empréstimos. Estes são frequentemente empresas como lojas,
comerciantes grossistas, transportadores, produtores, sub-contratados e
fornecedores de serviços. Eles acrescentam estes custos aos
preços dos seus produtos. Finalmente, são os consumidores que os
pagam. Cerca de 35% de todos os preços consistem de juros e esta
percentagem aumenta sem cessar.
[1]
Os juros que os poupadores recebem saem, em primeiro lugar, do chapéu do
banqueiro como um activo suplementar, acrescentados à sua
conta-poupança. Estes juros também acarretam juros. A 3% de juro
a poupança duplica em 24 anos, a 4% em 18 anos. Portanto os ricos
tornam-se cada vez mais rapidamente mais ricos. Hoje 10% dos europeus mais
ricos detêm 90% das riquezas.
A massa de pseudo-dinheiro não cessa de crescer. Por volta de 1970 ela
havia atingido o estágio em que os activos ultrapassam o Produto Interno
Bruto. Havia muito mais pseudo-dinheiro do que o necessário para a
economia normal. Isso levava ao desenvolvimento de um sector financeiro, onde
se ganha o dinheiro com o dinheiro, ou seja, com juros e a inchar bolhas na
bolsa. Os banqueiros sabiam que a longo prazo seria cada vez mais
difícil manter o crescimento monetário e encontrar suficientes
tomadores fiáveis a quem fornecer empréstimos.
Eles conseguiram convencer os governos de que seria melhor que não
tomassem mais empréstimos junto ao seu banco central (o que na
prática significava tomar emprestado sem juros) e, ao invés
disso, tomar emprestado junto a bancos comerciais, portanto com juros. Em todos
os países que aceitaram isso a dívida pública cresceu
exponencialmente. Não porque estes governos fizessem mais
dívidas, mas devido a juros sobre juros sobre a dívida existente.
[2]
Os governos deviam reduzir suas despesas para enfrentar o encargo crescente dos
juros. Mas contra o efeito do crescimento exponencial dos juros não se
poderá ganhar senão com reduções de despesas. Os
governos deviam vender serviços públicos para reembolsar as
dívidas. Uma longa vaga de privatizações seguiu-se, uma
por um dos grandes empreendimentos, para os quais os banqueiros podiam fornecer
empréstimos a tomadores privados.
Já em 1970 o banqueiro luxemburguês
Pierre Werner
apresentava um
primeiro esboço do euro, que daria aos bancos a possibilidade de
fornecer empréstimos numa região muito mais vasta. Economistas
eminentes advertiam que uma moeda única numa zona economicamente
heterogénea levaria a grandes problemas. Economistas previam que os
países cujas possibilidades de produção fossem menores
seriam inundados por produtos menos caros vindos dos países mais
produtivos, como a Alemanha. As empresas dos países fracos iriam
à falência, ao passo que o dinheiro deixaria o país como
pagamento dos produtos importados.
[3]
Exactamente como aconteceu.
Os países fracos encontram-se endividados, sem possibilidade de
saída. Os bancos lucram com estas montanhas de dívidas crescentes
e fazem com que os riscos sejam suportados pelos pagadores de impostos. Em 2012
os governos da zona euro estabeleceram o Mecanismo Europeu de Estabilidade
(MEE) alimentado sem limite
[4]
pelos impostos dos cidadãos, que reembolsará todas as perdas que
os prestamistas sofram nos países fracos.
A solução de todos estes problemas é tão simples
como a sua causa. Devemos erguer um banco de todos nós, um banco do
Estado, que tenha o direito exclusivo de criar dinheiro. É preciso
proibir os empréstimos de dinheiro inexistente. Um banco de Estado
não tem necessidade de capital, nem de lucros. Além disso, os
juros podem permanecer muito baixos ou serem compensados fiscalmente. Os juros
são destinados à comunidade. Um tal sistema de dinheiro
não tem necessidade de crescimento [da massa] de dinheiro, nem de
competição, nem de exploração e nem de desemprego.
Se decidido democraticamente, o governo poderá retomar os
serviços colectivos e geri-los no interesse dos cidadãos.
Igualmente, poder-se-á privilegiar os investimentos desejáveis
para a sociedade e não para aqueles que proporcionam benefícios
financeiros o mais rapidamente possível. O governo não
estará mais dependente dos bancos. A dívida pública
será do passado. Colectivamente podemos tirar proveito de uma sociedade
durável e de bem-estar ao invés do afundamento, da
dilapidação e da pressão sempre crescente sobre os
trabalhadores para agradar os prestamistas de dinheiro.
Sobrará mesmo dinheiro e tempo para instalar um museu das
estátuas de cera, onde poderemos conservar os lobos financeiros e seus
cúmplices políticos como uma advertência às
gerações futuras: cuidado com os banksters!
07/Maio/2013
Notas e referências
[1] Helmut Creutz &
www.vlado-do.de/money/index.php.de
[2] Ellen Brown:
Canada: a tale of two monetary systems
[3] Uit de euro, en dan?
www.courtfool.info/fr_Sortir_de_l_euro.htm
[4] ver Tratado do Mecanismo de Estabilidade Euroeia, artigos 10.1 e 10.2
www.courtfool.info/ESM_treaty_2_Feb_2012/fi_ESM_14-tesm2.fi12.pdf
[*]
Investigador independente.
O original encontra-se em
www.courtfool.info/fr_Le_systeme_bancaire_en_bref.htm
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
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