O quatrilião de dólares de derivativos: Os bail-ins vêm
aí
Quando depositamos dinheiro num banco, ele passa a pertencer ao banco
por Bill Holter
O mundo está inundado de "promessas". Para aproximadamente tudo o
que pensamos como tendo "valor" isso se deve a uma promessa que o
respalda. Alguns exemplos: suas contas bancárias, fundos de
pensões, títulos e mesmo as notas de dólar no seu bolso. A
sua conta bancária por exemplo: uma vez que deposita o dinheiro ele
não é mais seu. Você pode discutir se quiser mas agora
sabemos com certeza que isto é verdade após as recentes
legislações de
"bail-in"
aprovadas por todo o ocidente. Quando você deposita fundos num banco,
ele passa então a ser "do banco" mantido para si ... o banco
é "seu devedor".
Não considere isto com ligeireza. Legisladores de todo o mundo fizeram
esta nova realidade. Um facto pouco conhecido: em 1845 a Grã-Bretanha
aprovou uma lei bancária que tornava os depositantes credores não
segurados. Isto ainda é um precedente nos dias de hoje. Quando
você deposita dinheiro está a "aceitar um passivo"do seu
banco e é classificado como um credor não assegurado. Por outras
palavras, "entre na fila com todos os outros"!
O mesmo se passa com muitas contas de aposentação. Pense acerca
da Segurança Social. Quando recebe seu formulário de
declaração anual, ele vem com um asterisco. Este é para
informá-lo de que eles "podem precisar reduzir
benefícios". Com qualquer conta de reforma está a confiar em
que o custodiante lhe faça pagamentos no momento da
aposentação. Pense acerca de contas de aposentação
estaduais e municipais a prometerem boa vida, elas estão quase TODAS
sub-financiadas. Isto significa que não há dinheiro suficiente
para fazer os (prometidos) pagamentos futuros a menos que alguma espécie
de retornos magicamente mais altos seja realizada. Estas contas estão
sub-financiadas em TRILIÕES de dólares!
Títulos são uma classe de activos que obviamente repousam numa
"promessa". Dólares, por outro lado, parecem incompreendidos
pelo público apesar de serem o maior salto de fé em todas as
classes de activos. Dólares repousam "na fé e no
crédito plenos" quanto ao governo dos EUA (uma entidade em
bancarrota) mas a plebe dorme a noite toda segura por saber que possuem
dólares. TODAS as divisas sem lastro do passado, as moedas
fiduciárias, fracassaram. O dólar é a moeda
fiduciária mais amplamente alastrada e possuída que o mundo
já conheceu, o seu fracasso será espectacular quando acontecer!
Queria destacar as "promessas" acima a fim de falar acerca da
confiança ou da segurança. O mundo financeiro gira em torno da
"confiança". Esta confiança foi quase rompida em 2008 e
é a razão porque o Federal Reserve precisou emprestar
secretamente US$16 milhões de milhões
(trillion)
por todo o mundo. Se o Fed não produzisse estes fundos, os fracassos
ter-se-iam alastrado e a confiança do mundo teria rompida entre os
bancos/outras instituições financeiras e mesmo entre os
próprios bancos centrais! A dádiva do Fed funcionou e a
confiança foi mantida.
Agora, acredito que estamos destinados a um outro "teste" de
confiança. Andámos com mais cinco anos com QE isto e QE aquilo, a
realidade sendo a absoluta monetização. De facto, hoje os bancos
centrais estão a comprar mais títulos soberanos do que
estão a ser emitidos. O público e mesmo os fundos profissionais
tem-se afastado dos mercados da dívida. Não se pode
culpá-los porque os juros recebidos nem mesmo cobrem a
inflação, sem mencionar o prémio de risco. Globalmente o
ritmo do comércio e da actividade de negócios está a
arrefecer ou mesmo a declinar, o que trará à tona as dificuldades
em cumprir serviços de dívida e outras "promessas".
Pergunto: o que acontecerá quando inevitavelmente a
"confiança" começar a desvanecer-se? Ou mesmo a acabar
completamente? É neste ponto que o sistema entra na "Grande Procura
Adicional de Fundos"
("The Great Call").
Procura adicional
(Margin Call)
? Naturalmente, porque quase toda finança tem alavancagem por
trás mas há mais do que isto. A "procura"
("call")
de que falo é por contratos de toda espécie de
"desempenho". Estou a pensar em particular que contratos
"derivativos" serão convocados
(called on)
ao cumprimento dos seus deveres contratuais.
Em suma, há mais de
um quatrilião de dólares
(10 elevado a 15) de derivativos pendentes. O problema com isto é que a
"cauda" é maior do que o cão. Por outras palavras, o
montante dos derivativos pendentes amesquinha o montante total de moeda
pendente e portanto a capacidade para "pagar" e honrar os contratos.
O outro lado desta moeda são contratos que prometem entregar alguma
coisa. Aqui estou a pensar tanto no ouro como na prata. Há muito mais
obrigações pendentes do que onças
[1]
ou quilos disponíveis para entrega. Isto é um incumprimento
simplesmente à espera de acontecer.
Se ouvir os Harry Dents
[2]
do mundo, o dólar será o paraíso seguro para onde
irá todo o capital receoso. Num mundo baseado sobre nada além de
confiança e promessas, os capitais receosos realmente acumulam-se DENTRO
de
uma divisa SÓ na base da confiança e de promessas ... quando
"confiança" é exactamente o que está em causa.
Realmente, pode-se dizer que o dólar originalmente foi estabelecido, em
1971, sobre um modelo de "nunca pagar". O dólar (e
títulos) só promete pagar "mais dólares" e nada
mais. Este jogo funcionou durante muitos anos, agora olhe como os sauditas
depois de fazerem muitos acordos tanto com a Rússia como com a China
podem estar prestes a transaccionar em outras divisas diferentes do
dólar. Estarão eles a exibir confiança?
Os chineses são agora vendedores líquidos de Títulos do
Tesouro dos EUA
(U.S. Treasuries).
Faça-lhes esta pergunta: se a China
pudesse vender todos os seus Treasuries e transformá-los em ouro, prata,
petróleo, cobre e outros activos reais tangíveis (sem destruir o
mercado de Títulos do Tesouro ou deixarem o ouro e a prata sem oferta),
será que o fariam? Digo que sim, eles certamente gostariam de estar fora
da sua posição actual com Treasuries. Outros defensores do mesmo
podem dizer que a China está confortável, logo veremos.
Porque neste ponto a confiança é a única coisa que impede
o jogo de se desconjuntar ... e a sua natureza é volúvel,
é importante ver isto a fundo. O que acontecerá quando se quebrar
a
confiança? Podem os bancos sobreviver globalmente a "corridas"
quando depositantes vierem bater às suas portas? Podem os
intercâmbios de commodities cumprirem tudo o que prometeram? Podem
os tomadores de empréstimos "tomarem mais ainda emprestado" se
não puderem resgatar questões passadas com nova dívida?
É para aí que nos dirigimos, tanto sistemicamente como
globalmente.
Antes de acabar quero ligar duas ideias conectadas. Primeiro, o grande Paul
Craig Roberts disse na semana passada temer que metais preciosos pudessem ser
suprimidos para sempre. Recebi muitos emails assustados quanto a esta ideia. O
sr. Roberts estaria inteiramente correcto se não fosse por um pormenor:
ouro REAL e prata REAL devem estar disponíveis para entrega. Do
contrário o jogo acaba e a fraude é revelada. Ele está
totalmente correcto: o "preço" pode ser pressionado ou
manipulado desde que haja bastante "margem". Dan Norcini
[3]
outrora foi preciso quando disse: nada enervará mais os
shorts
[4]
do que prazos longos para entrega ... e fazer um pedido do produto. Gostaria
de recordar que o COMEX
[5]
tem actualmente apenas 11,7 toneladas de ouro para entrega. Isto equivale
aproximadamente a US$400 milhões. Se eu estivesse
short,
esta mísera soma não aumentaria a minha confiança.
Outro pensamento que se segue a este é onde estamos agora em
relação a 2008. Naqueles tempos estávamos a poucas horas
de todo o sistema vir abaixo, isto é facto. O que mudou desde
então? "Nada", mas na realidade muito. Nada mudou do ponto de
vista das "ferramentas utilizadas". Não alterámos ou
fizemos quaisquer mudanças que "nos afastassem da beira do
precipício" ... apenas fizemos mais do mesmo! Agora temos muito mais
dívida e mais derivativos pendentes. De facto, bancos centrais e
nações soberanas chegaram a sacrificar seus balanços para
prolongar o jogo. Isto funcionou ... até agora. O único problema
é que todo o arsenal dos bancos centrais já foi tentado e
fracassou em proporcionar qualquer estímulo à economia real. O
resultado foi que o capital introduziu-se à força dentro dos
mercados financeiros e inchou as bolha(s) muito mais do que já estavam.
Agora, temos mercados muito maiores com muito mais alavancagem do que em 2008.
Isto precisará reflectir-se em balanços mais fracos de bancos
centrais e tesouros soberanos com quase nenhuma capacidade para contrair
empréstimos num esforços para reflacionar. É uma receita
para o desastre.
Já sabemos que os mercados de dívida soberana estão muito
magros pois a liquidez secou. Também sabemos que os mercados de
acções estão a exibir horrível amplitude interna. A
China está realmente a aproximar-se de um cenário 1929 e
estará aí em breve se não puder firmar-se. A
confiança é uma garota volúvel, se ela se romper voltamos
então ao cenário de 2008 e descobriremos quão poderosos
são realmente os bancos centrais. Acredito que a "Grande
Procura"
("Great Call")
vindoura não pode nem será atendida e só então se
verá o que é deixado de pé. É imperioso aqui e
agora nos posicionarmos em activos que se sustenham por si próprios, tudo o mais
serão promessas quebradas!
03/Agosto/2015
[1] 1 onça troy = 31,103 gr
[2] Analista financeiro conhecido nos EUA.
[3] Analista de mercados conhecido nos EUA.
[4] Os que venderam algo (títulos, etc) que não possuem, v.
en.wikipedia.org/wiki/Short_(finance)
[5] Bolsa de Mercadorias, Commodity Exchange
O original encontra-se em
www.globalresearch.ca/...
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
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