O crash no mercado de acções
Sintoma da decadência capitalista
por Deirdre Griswold
Se há algo que mostre dramaticamente a irracionalidade do sistema
económico capitalista, é um crash do mercado financeiro. Isto
acontece após um período de euforia nos mercados que conduziu os
preços a alturas nunca vistas e a enormes somas de dinheiro que mudaram
de mãos nos dias actuais, habitualmente de modo
electrónico.
Então chega o dia do ajuste de contas. O que parecia riqueza
sólida no dia anterior subitamente transforma-se em tinta vermelha. Isto
é o que começou a acontecer na terceira semana de Agosto aos
mercados de todo o mundo.
Em tais tempos, só aquele com bolsos fundos podem permanecer no
"jogo" e manter seus investimentos, à espera de uma alta
renovada. Se os bilionários são capazes de comprar quando os
preços afundaram e outros estão em bancarrota, eles posicionam-se
para fazer uma "matança" real no mercado se ele reagir
em algum momento.
Na segunda-feira, 24 de Agosto, algumas estimativas colocam as perdas à
escala mundial num total de US$10 milhões de milhões. Isto
é um milhar, vezes outro milhar, vezes outro milhar, vezes um milhar
mais uma vez, vezes 10. US$10.000.000.000.000 só para por as
coisas em perspectiva.
Como é que se pode "perder" US$10 milhões de
milhões de riqueza? Ou será que ela realmente existia?
Presumivelmente, este número de US$10 milhões de milhões
representa vagamente o valor real de
commodities
carvão, aço, veículos, alimentos, abrigo, linhas
aéreas, gasolina que teriam sido produzidos para venda em algum
tempo futuro, se o processo de produção e
acumulação capitalista tivesse continuado numa rota ascendente.
Que tanto possa ser "perdido" tão rapidamente mostra a
natureza precária do capitalismo. Isto ilustra do modo mais absoluto
como o sistema do lucro vai contra qualquer planeamento racional da actividade
económica humana nesta era de alta tecnologia quando o fosso
entre ricos e pobres, entre classes sociais e entre todos os países se
expande na medida em que a produtividade dá saltos em frente.
Quando isto está a ser escrito, os media e muitos sabichões
económicos estão a tentar falar com entusiasmo ao mercado,
enfatizando sua recuperação parcial dos recordes baixistas de
ontem. Ninguém nos media quer fazer previsões tipo profeta da
desgraça, sabendo que poderiam ser considerados responsáveis por
causar um pânico e mais um mergulho para baixo.
O jogo da culpa
Seja como for, os lançadores de culpas já escolheram o seu alvo.
Quase todos os órgãos de propaganda das classes dominantes
imperialistas apontaram o dedo para quem atribuem responsabilidade: a China. O
mercado de acções da China, após uma grande
ascensão de preços baseada em esperanças de futura
expansão económica igual ao seu crescimento fenomenal da
década passada, tomou um melhor a partir de meados de Junho, de acordo
com o Shanghai Composite Index.
Havia então uma concordância geral em que as acções
chinesas, especialmente no imobiliário, estavam com preços
demasiado altos e o declínio era considerado uma
"correcção". Mas agora redactores financeiros
estado-unidenses começam a descrever a queda continuada das
acções chinesas como uma "praga" que de certo modo
infectou mercados ocidentais. A suposição aqui é que as
condições económicas subjacentes nos países
imperialistas do Ocidente eram saudáveis antes de este agente
patogénico chinês se infiltrar nos mercados de todo o globo.
Façamos uma pausa.
O que há de saudável acerca dos salários dos trabalhadores
nos EUA que hoje compram menos do que o faziam em 1967? O que há de
saudável acerca da economia de um país onde um polícia
pode prender e matar um homem negro pelo "crime" de sobreviver
vendendo cigarros na rua? Como aconteceu com Eric Garner em Staten Island, N.Y.
O que há de saudável acerca de um pai ter de trabalhar em duas
ocupações a tempo parcial, empregos de baixo salário,
só para alimentar seus filhos?
E por falar em salários, não vamos por na média os poucos
executivos corporativos que administram actos criminosos deste sistema
cão-come-cão e obtém assim lindos prémios com
"salários" na casa dos milhões.
Crash das acções, ascensão e crash outra vez
Os crashes no mercado de acções capitalista não têm
nada de novo. A China era um país empobrecido, semi-feudal, dominado por
senhores da terra quando no século XIX o primeiro grande colapso do
mercado começou a sacudir o povo na Europa e nos EUA. A China ainda
estava naquelas condições quando em 1929 aconteceu no Ocidente o
crash global do mercado, levando a uma década de extrema pobreza para os
trabalhadores a Grande Depressão.
Desde então tem havido crashes do mercado a cada sete ou oito anos.
Alguns investidores ganharam, muitos mais perderam. Mas aconteceu uma coisa
interessante com o crash de 2008-09. Neste, desde então, nunca houve uma
"recuperação" capitalista real.
O desemprego permaneceu alto, mesmo nos países capitalistas
desenvolvidos especialmente na Europa, mas também nos EUA.
Milhões de trabalhadores simplesmente cessaram de procurar um emprego e
milhões mais ainda tentam entrar no mercado de empregos pela primeira
vez.
Os trabalhadores estão sobrecarregados de dívidas que se tornam
cada vez mais impagáveis. Hipotecas de casas, hipotecas de carros,
dívidas de cartões de crédito, empréstimos a
estudantes são agora vistas como as próximas bolhas a
estourarem.
Quando os super-ricos atenuarem seu domínio apertado sobre o seu
dinheiro e investirem na produção, é provável que
uma fábrica super-automatizada que custa milhares de milhões
empregue no máximo uma pequena centena de trabalhadores.
Isto foi o que nos trouxe o capitalismo e não há nenhuma
saída fácil
Deitar abaixo o sistema!
Todas as gloriosas expectativas criadas pelos enormes feitos científicos
e tecnológicos do último século e meio reduziram-se a
isto. Os ricos ficaram inacreditavelmente mais ricos, os pobres estão a
ficar mais pobres enquanto são batidos por polícias e guerras. E
o ambiente, o planeta em que vivemos, está a ser arruinado por um
sistema económico baseado na cobiça e na exploração.
Isso não é uma falha da China. Esperançosamente, as
lições deste colapso do mercado incentivarão aqueles na
China que querem reorientar seus planos de desenvolvimento afastando-se da
utilização do mercado capitalista para estimular a economia. Esta
é um estimulante que demasiado rapidamente pode tornar-se um deprimente.
E também rompe a solidariedade das massas a qual tornou
possível a transformação da China para o primeiro lugar.
A China não causou esta crise. Ao contrário, foi o êxito do
desenvolvimento admiravelmente rápido da China ao longo das
últimas décadas que manteve a flutuar as economias capitalistas
no resto do mundo. Elas afluíram à China para explorar trabalho
barato e permaneceram devido à moderna infraestrutura em expansão
rápida e à disponibilidade de milhões de trabalhadores
jovens, educados e qualificados. Mas estas coisas vieram da capacidade da China
para planear o seu desenvolvimento o resultado da sua
revolução socialista.
Agora verifica-se como o impulso temporário que o crescimento da China
deu ao capitalismo ocidental após o crash de 2008 não foi
suficiente para manter este sistema em andamento. Todas as leis do
desenvolvimento social dizem que é tempo de organizar e combater aqui
por um derrube total do sistema de baixo para cima.
25/Agosto/2015
Ver também:
O original encontra-se em
www.workers.org/articles/2015/08/25/stock-market-crash/
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
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