por Yanis Varoufakis
								
							
							
							 O desvelar oficial de uma crise sistémica
							
								O desvelar oficial de uma crise sistémica
							
							
							
							Pode-se saber que há algo podre na economia mundial quando o destino de
							um primeiro-ministro grego faz manchetes por todo o mundo durante uma semana
							inteira. A Grécia não é, e não pode ser, tão
							importante. Mas a Itália é. E também é, numa
							perspectiva global, a Europa. Durante algum tempo, a Europa esteve a esconder
							seus males por trás do seu dedinho (helénico). Finalmente, a
							verdade (a qual tenho estado a esforçar-me por gritar em cima dos
							telhados durante mais de 18 meses) agora sai cá para fora. Esta é
							uma crise sistémica que ameaça não só o euro como a
							economia mundial na sua totalidade.
							
							
							Se bem que a Grécia seja insignificante, a eurozona, não nos
							esqueçamos, é a maior economia do globo, um bloco que para a
							China representa a maior fatia de exportações, que representa um
							quinto das exportações da América, mais de US$120 mil
							milhões das exportações da América Latina, sem
							mencionar mais da metade do comércio monetário da África
							(desde frutos frescos e flores até minerais). Uma recessão
							profunda no Norte da Europa (o que certamente resultará da morte do
							euro) está, portanto, destinada a desencadear ventos
							deflacionários que desestabilizarão uma economia global já
							desequilibrada.
							
							
							É por esta razão que todos os olhos estiveram, recentemente,
							fitos no Acordo de Bruxelas da UE de 27 de Outubro. Pois, como todos nós
							sabemos, este é o Acordo que estava destinado a impedir o colapso do
							euro-sistema, um colapso que forçará a Alemanha a forjar uma nova
							divisa cuja apreciação imediata será o disparador das
							forças recessivas acima mencionadas.
							
							
							Infelizmente, enquanto o mundo olhava ele não via. A julgar pelas
							manchetes, os media do mundo, os mercados, os líderes políticos e
							os fazedores de opinião estavam a morder as unhas até chegar da
							Grécia a notícia de que um governo de unidade nacional seria
							formado de modo a que o Acordo de Bruxelas pudesse ser implementado. É
							como se todo o vasto mundo estivesse a orar para os gregos darem uma
							oportunidade ao Acordo de Bruxelas. E desde que Sílvio Berlusconi
							anunciou que seguirá o caminho do sr. Papandreu, esperanças
							semelhantes têm-se erguido em relação à
							Itália.
							
							
							O objectivo deste artigo é argumentar que as preces do mundo têm
							sido mal aplicadas. Que a ansiedade em ver a Grécia e a Itália
							retornarem às dobras do Acordo de Bruxelas é um sinal da
							calamidade a abater-se sobre a economia global. Pois este Acordo, como
							argumentarei abaixo, é mais provável que se demonstre o maior
							inimigo do euro sistema, ao invés da sua cura. Se eu estiver certo, as
							visões e os sons de um mundo atormentado sobre o destino do Acordo de
							Bruxelas será seguido pelas visões e sons de um mundo a
							preparar-se para uma nova grande viragem numa crise já devastadora. 
							
							
							
								Sobre a pré-história e os três objectivos do Acordo de
								Bruxelas
							
							
							
							Esta fase particular da saga da Euro Crise começou em 21 de Julho
							quando, em meio a alegres celebrações, a última
							"solução final" foi apregoada. Como alguns de
							nós indicaram quase instantaneamente, aquele acordo estava condenado
							pois tentou relutantemente tratar um problema relativamente menor (a
							insolvência da Grécia) colocando demasiada carga sobre os ombros
							do problemático EFSF de modo que um foi criado um problema muito maior
							(a crise de liquidez e de solvência da Itália e da Espanha).
							Pasmem: as [dívidas] soberanas da Espanha e Itália foram
							lançadas na turbulência dois dias depois. Durante o Verão,
							enquanto nas suas férias, os líderes da Europa sabiam que em
							Setembro teriam de voltar à mesa de desenho. Na verdade, por essa altura
							as férias estragaram-se pois não só a Itália e a
							Espanha estavam no compartimento do pecado como, para agravar, o colapso do
							Dexia havia apregoado o princípio da desagregação do
							sector bancário da eurozona. E quando o secretário Tim Geithner e
							o presidente Obama, ajudados a cometer o crime pelo resto do G20, disseram aos
							europeus que tinham uma semana para conseguir uma actuação
							conjunta, a Europa começou a actuar em conjunto para produzir o que
							agora conhecemos como o Acordo de Bruxelas.
							
							
							Sua tarefa era tratar ao mesmo tempo de três problemas relacionados: o
							colapso do sector bancário da Europa, o problema com a dívida
							soberana italiana e espanhola (e seus efeitos potencialmente
							catastróficos sobre a classificação triplo A da
							França a qual, por sua vez, arruinaria o EFSF) e a abandonada economia
							grega. Após dias e noites de deliberações, foi remendado o
							Acordo de Bruxelas. Naquela noite, depois de ter lido o documento preliminar, o
							meu julgamento foi este:
							
								
								
									Nada disto [os três problemas da eurozona] foram sequer remotamente
									abordados na noite passada. O sector bancário exigia
									recapitalização agressiva e obrigatória a um nível
									central europeu. Isto não acontecerá (não só a soma
									é reduzida à impotência como, primariamente, aos banqueiros
									será dada uma multidão de oportunidades para se esquivarem
									à perda de controle sobre os seus bancos em bancarrota através de
									vários meios que tornarão a recapitalização uma
									letra morta). O EFSF com esteróides anabólicos (o que é
									aquilo que a sua versão alavancada por capital privada acaba por se
									tornar) que foi anunciado não diminuirá o fardo sobre a
									Itália (nem remove as nuvens negras sobre a França). Finalmente,
									haircut grego é uma mera concha vazia de um número (50% é
									a regra empírica acordada nas primeiras horas da manhã, só
									para ter um número) uma vez que está baseado numa série de
									suposições ridículas e negociações que
									negociam com os banqueiros que os políticos estão muito longe de
									completar.
								
							
							
							Agora que assentou o pó e novos governos estão a emergir na
							Grécia e na Itália, com o propósito expresso de endossar o
							Acordo de Bruxelas, é tempo de dar um olhar mais atento àquilo
							que este Acordo pretende fazer para enfrentar cada um destes três
							problemas.
							
							
							
								O primeiro objectivo do Acordo: Recapitalizar o sector bancário europeu
							
							
							
							Depois de ter, finalmente, reconhecido que bancos da Europa estão em
							desesperada necessidade de recapitalização, o Acordo de Bruxelas
							alegadamente reserva até 110 mil milhões para essa
							finalidade. Isto soa razoavelmente encorajador, apesar da quantia baixa (a qual
							segundo o FMI deve ser de pelo menos 200 mil milhões, ou
							três vezes isso se tomarmos em consideração os
							veículos especiais 
							
								(special vehicles)
							
							 que nossos sábios banqueiros criaram a partir de 2009 e que multiplicam
							por um factor em torno de 5 a exposição dos bancos a
							dívidas podres e perdas variadas). 
							
							
							Ignorando por enquanto a quantia baixa destinada aos bancos no Acordo de
							Bruxelas, a causa real de preocupação encontra-se alhures.
							Primeiro, ela repousa no alvo declarado e, em segundo lugar, nos meios
							propostos (pelo quais será implementada a
							recapitalização). Assim, vamos começar com o objectivo
							deste exercício. Ele é, declaradamente, elevar o rácio de
							capitalização dos bancos para 9% sobre os seus
							activos/exposição. Isto constitui uma tragédia em
							formação. Deixe-me explicar.
							
							
							
								A ESCOLHA DO DIABO
							
							
							
							Os rácios têm um numerador e um denominador. Se alguém quer
							trazer um rácio para mais perto de um certo número, é
							possível fazer isto tanto pelo ajustamento do numerador como do
							denominador (ou, naturalmente, de ambos). Por vezes, grandes fracassos
							acontecem quando a política ou o decisor ajustam um rácio
							assumindo falsamente que o outro permanecerá constante. [Por exemplo: em
							ambientes recessivos, governos que tentam reduzir o rácio da
							dívida em relação ao PIB descobrem que tentativas austeras
							de contrair o numerador levam a uma diminuição mais rápida
							do denominador (pois a recessão custa caro), sendo o resultado um
							rácio dívida-PIB persistente]. No caso de bancos da Europa, a
							repercussão de utilizar o rácio de capitalização
							como o alvo político está destinado a ser prejudicial para a
							economia real. Banqueiros já nos advertiram: Farão tudo o que
							puderem para evitar tomar do novo capital público. O que significa,
							naturalmente, que (uma vez que sector privado não lhes dará
							qualquer capital, cortesia do perigoso estado) o único meio pelo qual
							eles podem alcançar o rácio de 9% de capitalização
							é pelo encolhimento do... denominador. O que significa isto? Significa
							que eles tentarão vender seus empréstimos, seus derivativos, seus
							activos de papel em geral para quem quer que seja que queira comprá-los.
							Ao mesmo tempo, evitarão como a praga emitir novos empréstimos
							(uma vez que empréstimos aumentam o denominador). O efeito destes
							movimentos será reduzir maciçamente a liquidez no mercado num
							momento em que a eurozona está a entrar numa nova fase recessiva. Em
							uma, se o Diabo quisesse empurrar a Europa para um mar de ainda maiores
							perturbações, ele não poderia ter escolhido um alvo
							político (respeitante ao sector bancário) melhor do que o que
							encontramos no Acordo de Bruxelas.
							
							
							Mas há mais aflições do que as esboçadas acima:
							Elas aparecem uma vez que nos aprofundemos nos meios pelos quais o rácio
							de 9% de capitalização será alcançado. De acordo
							com o Acordo de Bruxelas, haverá três etapas as quais devem ser
							completadas no próximo Verão. Primeiro, será pedido aos
							bancos para procurarem mais capital de investidores privados. [Isto é
							absurdo, uma vez que nenhum investidor privado sensato alguma vez
							investirá em bancos insolventes  a menos que eles obtenham uma
							posição de controle que os actuais banqueiros não
							desejarão partilhar]. Segundo, se os bancos não podem assegurar
							injecções de capital privado [as quais eles não
							terão!], então devem voltar-se para os seus governos nacionais
							para capital. E, terceiro, se estes últimos estão eles
							próprios em bancarrota ou fiscalmente sob tensão, o último
							porto de abrigo é o EFSF.
							
							
							O problema com este processo é duplo. Primeiro, no cenário
							hipotético em que os banqueiros aceitam dinheiro público, mesmo
							dinheiro do EFSF, estas somas serão acrescentadas às contas
							públicas já sob tensão dos estados-membro relevantes. Mais
							uma migração do mesmo problema que se mantém em idas e
							vindas entre o sector privado e o público. Segundo, como mencionado
							antes, banqueiros combaterão com unhas e dentes para evitar capital
							público o qual diluirá o seu próprio controle sobre os
							bancos, preferindo ao invés reduzir seus activos. Assim, o passo
							três do processo encarado pelo Acordo de Bruxelas dará aos
							banqueiros a desculpa de que eles precisam para adiar qualquer conversa de
							tomada de novo capital. Com efeito, foram-lhes dados cerca de dez meses durante
							os quais [deverão] contrair seus empréstimos e activos enquanto
							tomam apenas uma quantia mínima de capital público.
							
							
							
								Julgamento:
							
							
								O Acordo de Bruxelas levará bancos a darem passos que reduzem a
								liquidez, assoprarão os fogos da recessão por todo o euro sistema
								e, crucialmente, impedirão qualquer recapitalização
								séria do nosso aflito sector bancário.
							
							
							
							
								O segundo objectivo do Acordo: Ressuscitar a Grécia em estado de coma
							
							
							
							A peça central do Acordo de Bruxelas é, tal como a do acordo de
							21 de Julho, o seu proposto resgate grego. Grande parte disto centra-se em
							torno do 
							
								haircut
							
							 de 50% dos títulos anteriores a Maio de 2010 que ainda não
							amadureceram  que ainda não foram comprados pelo BCE (o qual de
							certo modo coloca-se a si próprio acima de outros possuidores de
							títulos da dívida grega). 
							
							
							Como sabemos todos, a sra. Merkel trabalhou até altas horas da noite,
							com o sr. Sarkozy e o representante dos banqueiros, um certo sr. Dallara, em
							negociações cujo propósito era apoiar os últimos
							para que aceitassem que o haircut fosse declarados
							"voluntário" (de modo a impedir o disparo dos CDS emitidos no
							último par de anos sobre a dívida grega). A estratégia
							negocial da sra. Merkel era simples: "Consinta num corte de 50% ou tome
							bofetada de uma insolvência plena a 100%". Não
							surpreendentemente, o sr. Dallara aquiesceu.
							
							
							Há aqui um certo número de questões não resolvidas
							mas, no entanto, já sabemos bastante para chegar a um julgamento um
							tanto deprimente sobre as probabilidades de a economia grega, mesmo que o
							Acordo de Bruxelas seja implementado plenamente e mesmo que as exuberantes
							suposições que o acompanham sejam confirmadas na prática.
							Para abreviar uma longa história, o 
							
								haircut
							
							 acordado demonstrar-se-á um alívio insignificante para a
							Grécia (outro caso de demasiado pouco demasiado tarde) enquanto a
							austeridade extra que lhe está associada (e será imposta ao novo
							governo em troca do pacote de empréstimo do 
							
								haircut
							
							) dilapidará mais uma vez o PIB da Grécia. Em suma, a minha
							estimativa é que, mesmo que tudo vá de acordo com o plano do
							Acordo de Bruxelas, o rádio dívida-PIB da Grécia
							permanecerá bem acima dos 140% em 2020 ao passo que o muito
							necessário crescimento do PIB não será visto em parte
							alguma. Em breve, talvez dentro de seis meses, uma outra Cimeira de Crise
							terá de ser convocada para encontrar mais uma
							"solução final" para a derrocada da dívida grega.
							
							
							Ironicamente, a única razão porque uma tal Cimeira possa
							demonstrar-se desnecessária é que o euro-sistema pode ter
							implodido por razões encontráveis em outras das suas partes
							constituintes. Mas mesmo sob circunstâncias menos dramáticas, a
							parte grega do Acordo de Bruxelas não estará nem aqui nem ali se
							as outras duas tábuas (recapitalização da banca, ver
							acima, e remodelação do EFSF, ver abaixo) fracassarem. Assim como
							a parte grega do Acordo de 21 de Julho nada significam uma vez que a
							dívida italiana e espanhola explodiram, da mesma forma com o Acordo de
							Bruxelas todo o trato será remetido para o caixote de lixo da
							história se algo semelhante acontecer no sector bancário, nas
							finanças do EFSF, na classificação triplo A da
							França, nos esforços de refinanciamento da Itália e da
							Espanha, etc.
							
							
							Mas vamos, para argumentar, concentrar-nos só sobre a
							situação grega, assumindo aquilo que não podemos,
							sensatamente, assumir: que as outras duas partes do Acordo de Bruxelas se
							mantêm juntas. O que seria o 
							
								haircut
							
							 grego mais os novos empréstimos alcançados? A estória
							oficial é que isto eliminaria cerca de 100 mil milhões da
							dívida activa grega. Soa impressionante? Sim, mas espere. As coisas
							parecem bastante diferentes sob um olhar mais atento. Pois a fim de incitar o
							sr. Dallara a sra. Merkel atirou-lhe um "adoçante" na forma de
							cerca de 30 mil milhões. Destes, 15 mil milhões
							será produzidos pelo estado grego através de
							privatizações [as quais a cada dia que passa exigem que seja
							chicoteado ainda mais duramente o cavalo moribundo dos activos públicos
							da Grécia] e outros 15 mil milhões que serão
							emprestados pela... Grécia (a partir do EFSF). A soma dos 30 mil
							milhões será então investida no bolo habitual de activos
							classificados AAA para serem mantidos à parte como colateral (no caso de
							o estado grego fracassar em reembolsar mesmo os 50% remanescentes do valor dos
							títulos). Em suma, o 
							
								haircut
							
							 está em vias de reduzir a dívida pública da
							Grécia, na melhor das hipóteses, em 70 mil milhões.
							Isto é uma redução efectiva da dívida de menos de
							19%, em termos de rácio dívida-PIB da Grécia (o total de
							380 mil milhões de dívida activa será reduzida, na
							melhor das hipóteses, para 310 mil milhões ao passo que o
							PIB, já diminuído para 217 terá contraído
							para 206 em 2012). Em suma, uma ninharia. Muito barulho para nada. Toda
							esta comoção, e negociações até altas horas
							da noite, a fim de reduzir o rácio dívida-PIB da Grécia
							para... 140%.
							
								
								1. Se bem que a aceitação dócil do proposto 
								
									haircut
								
								 seja obviamente um problema, ele não é o único. A
								principal fonte de preocupação é a insistência em
								que o 
								
									haircut
								
								 seja declarado voluntário. 
								
								
								2. Assegurar o consentimento dos banqueiros significa que o 
								
									haircut
								
								 não é suficientemente profundo (ver parágrafo anterior).
								Muito mais preocupante, contudo, é o que se segue:
								
								
								3. Desde que foi anunciado o Acordo de Bruxelas, um certo número de
								hedge funds tem estado a comprar títulos do governo grego (especialmente
								os que atingem a maturidade em 2012 e 2013). Por que? Porque planeiam
								desafiar a fanfarronada europeia. Se, na verdade, o 
								
									haircut
								
								 é para
								ser declarado voluntário, não há nada a impedir os hedge
								funds que acabaram de comprar títulos gregos a 35% do seu valor facial
								de exigirem reembolso pleno, ameaçando ir ao IDSA a fim de ter o 
								
									haircut
								
								declarado involuntário (disparando então os temidos CDSs) se o
								seu reembolso em pleno não for cumprido. Se o seu estratagema funcionar
								(e funcionará se o Acordo de Bruxelas for implementado com êxito)
								o alívio da dívida da Grécia cairá muito abaixo da
								quantia de 70 mil milhões!
								
								
								4. A ideia de suprimir o disparo dos CDSs, confiando nos bancos, mina
								verdadeiramente a estratégia do Acordo de Bruxelas para tratar da crise
								das dívidas italiana e espanhola  ver abaixo.
								
								
								5. Finalmente, enquanto fica claro do exposto acima que o 
								
									haircut
								
								 é lamentavelmente inadequado como meio de tratar da dívida
								grega, a nova série de medidas de austeridade que é parte
								integrante do Acordo de Bruxelas, especialmente na ausência de qualquer
								compromisso tangível na frente do investimento, raia a negligência
								criminosa. Colocando isto directamente, eles garantirão uma
								aceleração da queda livre do PIB grego a um nível que pode
								muito bem cair abaixo dos 200 mil milhões, num momento em que a
								dívida pública estará a flutuar acima dos 350 mil
								milhões (uma vez que os novos empréstimos, os adoçantes
								para os bancos e o repagamento pleno de vários hedge funds sejam tomados
								em conta).
							
							
							Em suma, a imprensa internacional (e grega) conta aos seus leitores que a
							"salvação" da Grécia está baseada na
							aceitação e implementação do Acordo de Bruxelas.
							Pelo licença para discordar. À vista do acima exposto, o
							consentimento grego à estratégia do Acordo de Bruxelas para o
							tratamento da crise da dívida grega é equivalente ao
							suicídio de uma nação. A alternativa óbvia é
							incumprir dentro da eurozona (um 
							
								haircut
							
							 de 100% sobre os títulos emitidos antes de Maio de 2010), utilizar
							todos os rendimentos das privatizações internamente e cortar
							pagamentos a todos os sectores de cima para baixo até que as contas do
							governo fiquem equilibradas.
							
							
							
								Julgamento:
							
							
								O Acordo de Bruxelas levará a Grécia ainda mais para dentro do
								atoleiro, arruinando não só o que resta da economia social grega
								como, talvez mais significativamente da perspectiva dos europeus do norte,
								destruindo a credibilidade remanescente da orientação
								política da Europa tanto junto aos eleitorados como junto aos mercados.
							
							
							
							
								O terceiro objectivo do Acordo: Impedir a saída da Itália e da
								Espanha dos mercados
							
							
							
							Esta sempre será a maior das três tarefas, tendo em vista a firme
							objecção da Alemanha a ter o BCE a monetizar qualquer parte da
							dívida destes países, tanto directa como indirectamente (via
							alavancagem do EFSF). A questão é: Como podem as garantias
							remanescentes de 240 mil milhões do EFSF estender-se para colmatar
							um buraco de 3000 mil milhões sem o envolvimento do BCE? A
							resposta, naturalmente, é que não é crível que isto
							possa acontecer e a evidência vem na forma do disparo de spreads desde
							que foi assinado e anunciado o Acordo de Bruxelas.
							
							
							
								ESTE PORCO NÃO VOARÁ
							
							
							
							Segundo o Acordo de Bruxelas, o EFSF tentará preencher esta tarefa
							hercúlea de duas maneiras. Primeiro, pela oferta de seguro de
							"primeira perda" a investidores que comprem títulos italianos
							e espanhóis incluindo um haircut de 20%. Por outras palavras, qualquer
							um que compre uma nova emissão de tais títulos será
							segurado pelo EFSF de uma perda de até 20% do valor facial. Isto com
							efeito equivale a um contrato de seguro CDS digital (digital no sentido de que
							eles ou pagam a perda total ou nada) a ser oferecida livre de encargos pelo
							EFSF, por conta da eurozona, a qualquer um que compre estes títulos
							indesejados. A esperança é de que estes títulos,
							subitamente, venham a tornar-se desejáveis. Em segundo lugar, o EFSF, um
							Special Purpose Vehicle (SPV) estabelecido pela UE em Maio de 2010,
							montará... um outro SPV o qual atrairá (ou tentará atrair,
							mais provavelmente) fundos privados os quais, em conjunto com algum do capital
							próprio do EFSF, será utilizado para recapitalizar os bancos,
							assistir a Grécia, continuar a conceder empréstimos à
							Irlanda e Portugal, etc. Aqui estão algumas razões porque este
							porco não voará:
							
								
								1. Estão a pedir a investidores que apoiem duplamente a eurozona.
								Primeiro, ao proporcionar capital para o EFSF de modo a que o EFSF possa emitir
								os CDSs digitais para os novos títulos italianos e espanhóis. E,
								em segundo lugar, para comprar estes mesmos títulos!
								
								
								2. Estão a pedir a investidores que se comportem loucamente: Por um
								lado, para aceitar a ideia de que possuidores de dívida grega sejam
								forçados pela UE a aceitar um haircut de 50% sem o benefício dos
								pagamentos que eles estavam à espera dos CDSs que compraram junto com os
								títulos gregos enquanto, ao mesmo tempo, confiam na emissão
								própria da UE de CDSs digitais sobre futuras emissões de
								títulos italianos e espanhóis.
								
								
								3. Espera-se que o mundo em geral, e a China em particular, feche os olhos
								à natureza tóxica do EFSF a qual significa que ou ele é
								demasiado pequeno para tratar dos buracos negros de capital que confrontam a
								eurozona (tanto nas suas dívidas soberanas como nos seus bancos) ou o
								seu impacto será demasiado tóxico se lhe for dada uma quantia
								demasiado grande para actuar. (Para este argumento clique
								 aqui
								).
							
							
							
								Julgamento:
							
							
								O Acordo de Bruxelas vem de perto no rastro do Acordo de 21 de Julho o qual
								empurrou, inconscientemente, a Itália e a Espanha para fora do
								proverbial despenhadeiro. E ao invés de puxá-los para fora do
								precipício, o Acordo de Bruxelas equivale a uma declaração
								oficial de que a Europa não pode ajudar estes países. A
								própria alusão à ajuda potencial da China e do FMI
								equivale a uma declaração de fracasso. O que se seguiu nos
								leilões de títulos italianos após o anúncio do
								Acordo de Bruxelas era um resultado inevitável.
							
							
							
							
								Observação conclusiva
							
							
							
							A Grécia e a Itália estão em vias de adquirir governos
							tecnocráticos cujo objectivo declarado é assegurar que o Acordo
							de Bruxelas seja implementado. Se a minha análise acima estiver certa, a
							sua tarefa é sem esperança. Tecnocratas podem servir um objectivo
							quando trabalham a partir de um plano racionalmente concebido. Mas o quando o
							plano é da espécie aqui discutida, estão destinados a
							supervisionar o colapso do próprio euro edifício que foram
							encarregados de salvar. Eles serão então recordados como os
							alquimistas invertidos da Europa (aqueles começaram com uma pepita de
							ouro e que então, quase misteriosamente, transformaram-na num
							pedaço de chumbo).
							
							
								11/Novembro/2011
							
							
								Ver também:
								
								
								 Spreads franceses atingem 1,7%, os espanhóis 4,2%  a crise da eurozona está à beira de sair do controle
								, 11/Nov/11
								
								 Porque os dias da Itália na eurozona podem estar contados
								, 10/Nov/11, de Nouriel Roubini
								
								
								O original encontra-se em
								 yanisvaroufakis.eu/...
							
							
							
							
								Este artigo encontra-se em
								 http://resistir.info/
								.