O colapso da União Europeia: Voltar à soberania nacional e a
europeus felizes?
Imagine: a União Europeia entrava em colapso amanhã ou
qualquer outro dia em breve. Os europeus dançariam nas ruas. A UE
tornou-se um buraco enorme de medo e terror: sanções
económicas, penalizações, crescente
militarização, a abolição dos direitos civis para a
maioria dos europeus.
Um punhado de tecnocratas não eleitos, representando 28 países,
muitos deles impróprios para servir no sistema político dos seus
próprios países, mas com ligações suficientemente
boas para conseguirem emprego em Bruxelas, decidem o futuro da Europa, em
pequenos grupos e muitas vezes em gabinetes secretos.
Tomemos o TTIP (parceria de investimento e comércio
transatlântica) sob a pressão dos seus mestres em
Washington, atrás de portas fechadas, sob o maior segredo e
provavelmente contra seu próprio interesse como pessoas um
pequeno grupo de delegados da Comissão Europeia (CE) sem
escrúpulos, sem qualquer respeito pelos seus concidadãos, sem
consideração pelos seus filhos, netos e filhos dos seus netos,
só interessado nos momentâneos louros e nas recompensas do
colonialista, usurpador e guerreiro Número Um, os Estados Unidos do Caos
e Matança, estão prontos para colocar 500 milhões de
europeus e seus descendentes em perigo.
Não há palavras para dizer dos horrores que a TTIP faria ao povo
da Europa, apenas baseando-nos no pouco que sabemos das 248 páginas
trazidas a público pelo Greenpeace Netherlands acerca das
negociações ultra clandestinas que ocorrem.
Negociações é o termo mais injusto
imaginável, dado que todas as regras são impostas por Washington,
o mesmo que com o TPP (Parceria Transpacífica, envolvendo 11
países do Pacífico e os EUA mas não a China e a
Rússia).
Embora as negociações TPP estejam terminadas, nenhum dos 11
parceiros do Pacífico, nem o Congresso dos EUA aprovaram o Tratado.
Há esperança que mesmo se as
negociações secretas entre os traidores da
Comissão Europeia e Washington chegarem ao fim, pelo menos alguns dos 28
Estados-Membros poderão não as aprovar. Para ser válido, o
Tratado precisa ser aprovado por unanimidade. O novo candidato preferido pela
direita austríaca à Presidência da República,
Norbert Hofer, já disse que não assinaria o TTIP.
Observações semelhantes foram feitas pelo ministro francês
de comércio externo, Matthias Fekl, que disse: "Não pode
haver um acordo sem a França e muito menos contra a França".
Sob o TTIP, os cidadãos da Europa iriam perder em todas as frentes. Os
europeus tornar-se-iam literalmente súditos de um império de
empresas transnacionais, liderado pelos EUA. Os países da UE deixariam
de ser nações soberanas ainda menos que do que já o
são sob os atuais ditames de Bruxelas. Como os documentos secretos do
TTIP revelam, o acordo seria o dobre de finados para a Europa. Eis o que Susan
George, filósofa e analista política e presidente do
Comité de planeamento do Instituto transnacional em Amesterdão
tem a dizer:
A comida que importamos seria tratada quimicamente, seria modificada
geneticamente, não teria rótulos indicativos. Não
saberíamos exatamente o que estava na nossa comida. Poderíamos
comprar galinha que tivesse sido lavada com cloro, poderíamos ter carne
criada com hormonas, poderíamos ter alimentos biossintéticos
feitos com genes de uma planta e de um animal, e isto não seria indicado
no rótulo da embalagem.
"Na área da agricultura é muito provável que
perderíamos grande número de agricultores, porque se baixarmos as
tarifas da agricultura teremos uma inundação do que é
americano [OMG altamente subsidiados] milho e cereais básicos arruinando
muitos agricultores, exatamente da mesma forma que os camponeses do
México foram arruinados pelo "Acordo de livre comércio da
América do Norte", o NAFTA."
"Na área da saúde, as empresas farmacêuticas querem
livrar-se dos medicamentos genéricos. Já conseguiram
forçar as empresas de medicamentos genéricos a repetir todos os
ensaios clínicos já realizados com o mesmo medicamento
idêntico, mas com nome de marca. Para torná-lo um medicamento
genérico, têm que começar tudo de novo: ensaios
clínicos, testes cegos e assim por diante. Então a medicina
tornar-se-ia muito mais cara."
Mas ainda mais importante:
"O TTIP permite dar às transnacionais
liberdade para processar os governos se não gostarem de uma lei que o
governo aprove. Temos agora muitos exemplos, porque em centenas de tratados
bilaterais este sistema judiciário privado existe. Por exemplo, o
governo do Egito criou o salário mínimo e uma importante empresa,
Veolia, da França, processou-os porque teriam que pagar mais aos seus
trabalhadores. Este caso ainda não foi decidido, mas, por exemplo, num
caso já decidido o Equador recusou autorização a que uma
companhia de petróleo dos EUA pudesse perfurar numa determinada
região. O governo disse: esta é uma área protegida e
vocês não podem perfurar aqui. E a empresa disse, ah, vamos
processa-los; e ganharam. O Equador tem uma multa de 1,8 milhões de
milhões de dólares, muito dinheiro para um país pequeno e
bastante fraco."
"Isso simplesmente significa que tribunais privados estariam acima das
leis e dos tribunais das nações soberanas, não sendo
deixada qualquer soberania; nem mesmo a pequena independência que
Bruxelas ainda não destruiu. Todos os povos da UE estariam sob as regras
de um império anglo-americano de transnacionais."
[1]
E depois há o TISA, o "Acordo de comércio de
serviços", de que menos pessoas estão cientes. Está
também a ser 'negociado' em segredo, envolvendo 23 membros da OMC
(Austrália, Canadá, Chile, China Taipé, Colômbia,
Costa Rica, a UE (28 países), China Hong Kong, Islândia, Israel,
Japão, Coreia, Liechtenstein, Maurícia, México, Nova
Zelândia, Noruega, Paquistão, Panamá, Peru,
Suíça, Turquia e Estados Unidos). Ao todo, estamos falar de cerca
de 50 países; 49 deles inclinam-se para se submeterem a uns Estados
Unidos, de guerra, crimes e dominação. Não é
preciso muita imaginação para perceber que, mais uma vez,
Washington é quem manda. Na verdade, as conversações TiSA,
à semelhança das da TTIP, estão infiltradas por agentes
das transnacionais dos EUA e lobistas, representantes do império
empresarial dos EUA e, claro, da Wall Street.
De acordo com a OMC, o TiSA iria abrir o mercado para o "comércio
nos serviços", significando privatizações de todos os
serviços públicos e sociais, como saúde,
educação, sistemas de segurança social, pensões,
transporte, serviços postais, telecomunicações,
abastecimento de água e saneamento, eliminação de
resíduos sólidos e mais todos estariam sujeitos à
aquisição pelas transnacionais.
Basta olhar para a Grécia, esforçando-se por pagar a sua mal
gerada dívida, vendendo o seu capital social nacional ou o capital vital
em detrimento dos pobres, até agora a maioria dos gregos, que dependem
disso. Uma vez que um país assine estes acordos de comércio,
não há via de retorno. O país abre os seus sectores
sociais e públicos à procura de rendas pelas empresas privadas.
Como no TTIP, se um governo numa fase posterior, perceber que a
privatização, digamos de serviços da água,
não trouxe os benefícios prometidos para o povo, não pode
voltar e renacionalizar ou municipalizar este serviço. A
remunicipalização de serviços de água acontece
atualmente em França, o país com os sistemas de abastecimento
público de água mais privatizados, em todos os lugares.
Em 2012, o governo e os municípios das grandes cidades decidiram retomar
estes serviços públicos vitais. Isto está atualmente em
curso. Sob as regras TiSA não seria possível. Pior, uma vez o
TiSA assinado, um país não pode criar exceções para
qualquer sector específico incluído na lista de potencial
'liberalização', por exemplo, saúde,
educação e outros serviços sociais essenciais. Tribunais
de arbitragem empresarial, semelhantes aos da TTIP, seriam criados para o TiSA.
Estas "negociações" estão ocorrendo em Genebra,
sob os auspícios da OMC em segredo em conformidade com as
regras, paus e cenouras, impostas por é fácil adivinhar:
Washington.
Se a UE colapsasse hoje, tanto o TTIP como as conversações TiSA
seriam paralisadas. Qualquer um dos 28 Estados-Membros, ou melhor ainda, dos 19
países da zona euro, poderia derrubar a UE. Um Grexit, um Brexit, um
fiasco emergindo das próximas eleições na Espanha
ou uma decisão firme de um governo quanto ao não pagamento da sua
divida imposta (principalmente) pela troika, poderia fazer cair como um castelo
de cartas o esquema de pirâmide monetária do dólar e
apagar uma vez por todas a escravizante hegemonia dólar-euro.
As dívidas podem ser renegociadas em moedas nacionais restauradas.
Lembremo-nos que o euro tem apenas 15 anos de idade. Portanto voltar às
moedas nacionais não deve ser dramático, mas antes um suspiro de
alívio alívio da armadilha da dívida e o
alívio da opressão das botas de Washington e Bruxelas.
Imagine-se o que o colapso da UE e da zona euro significariam para o povo
grego. No entanto, é dito que mais da metade dos gregos estão
ainda rigidamente agarrados ao destrutivo euro; aposto, que o seu colapso
traria centenas de milhares a dançar nas ruas. O Syriza poderia esquecer
os atualmente em negociação 3 mil milhões de euros
adicionais de austeridade e cortes no orçamento ainda menos
pensões e mais altos impostos para os pobres.
A libertação da dívida grega não virá da
troika da UE/CE. Pelo contrário, o ministro alemão das
finanças, Wolfgang Schaeuble, tem sempre palavras duras para a
Grécia, como se estivesse a ameaça-la empurrar para fora da UE.
Uma ameaça vazia, como todos devem saber. Washington, e também os
donos da Alemanha, não permitirão um Grexit, um Brexit ou uma
saída de qualquer membro da UE. Washington precisa da UE
"intacta" para eventualmente servir como parceiro escravo no TTIP e
TiSA.
O que aconteceu e continua a acontecer à Grécia pode servir como
exemplo (aprendizagem) para outros países do sul "fracos" que
se seguirão a menos que, sim, a menos que, a Grécia ou
outro país sob as stressantes imposições económicas
e financeira da CE-troika agarre o touro pelos chifres e tome uma
decisão drástica: saída da UE e da zona do euro,
impulsionando a economia local com moeda local e negociando os termos da
dívida ilegal e fraudulenta que foi imposta. Isso poderia levar ao fim
da nefasta-zona euro e da UE criada pelos EUA.
Estejamos cientes que a UE, como existe hoje, não é a
invenção dos europeus; é uma construção
pensada imediatamente após a Segunda Guerra Mundial, pelos EUA, a fim de
manter a Europa sob seu controle e para criar um zona tampão face
ao comunismo, à União Soviética. Funcionou até
agora. Essa ideia ainda prevalece, como vemos todos os dias com a Rússia
e o seu líder demonizado e caluniado pelos media ocidentais. Sejamos
francos, se não fosse a lucidez estratégica e prospectiva do
Presidente Putin nós a Europa estaríamos pela
terceira vez em 100 anos, enredados numa guerra mundial. E se deixarmos que
esta via imposta por Washington continue, a Europa tornar-se-á uma zona
escrava dos interesses anglo-americanos. Basta olhar para TTIP e TiSA.
Uma verdadeira federação de países soberanos europeus,
talvez até mesmo com uma moeda comum e um verdadeiro banco central,
poderia ser uma solução viável a longo prazo para a
Europa. Mas, e isto é o mais importante, essa Europa teria de ser
concebida por europeus verdadeiros honestos estarei a sonhar? e
sem absolutamente nenhuma influência dos EUA. Nenhuma.
Qualquer um dos 28 Estados-Membros poderia devolver a felicidade aos povos da
Europa; poderia eliminar a dor, frustração, medo e ansiedade,
poderia restabelecer a soberania nacional, poderia trazer o orgulho nacional e
local, em vez de economia global como prioridade, saindo da UE, abandonando o
euro, estabelecendo o poder do povo nas mãos de um governo
democrático e soberano.
A simples saída de um país Grécia, Portugal,
Espanha, Irlanda, Reino Unido, França
pode escolher qualquer um,
poderia fazer parar a máquina feroz da dívida, abrindo a
oportunidade de ingressar num novo, mais justo e mais igual regime
monetário o nascente espaço económico da China,
Rússia, BRICS, SCO (organização de
cooperação de Xangai) e o EEU (União Econômica da
Eurásia).
Por certo o tempo é importante. Não é por acaso que Obama
é pressionado para a conclusão rápida da vergonhosa
assinatura do TTIP. A predatória assinatura desses acordos, TTIP, TiSA,
TPP, é um item chave da agenda da Presidência de Obama; do seu
legado empresarial e militar a expansão da NATO em parte pode
depender disso.
Uma vez estes tratados assinados, não há via de retrocesso. Se o
TTIP for ratificado apesar de toda a lógica, e se posteriormente a UE se
desfizer, mesmo assim cada país seria ainda responsável com os
termos do acordo. Portanto, é essencial o tempo para o colapso da UE
antes da assinatura do TTIP e TiSA
Esta radical solução pode parecer excessiva mesmo para
adversários da UE e do Euro. Muitos deles ainda procuram, esperam e
sonham com uma UE reformada. Ainda vivem sob a ilusão de que "as
coisas" podem ser trabalhadas. Acreditem, não podem.
Este mefistofélico empreendimento inventado pelos EUA, chamado
União Europeia com uma moeda comum igualmente inventada pelos EUA
a zona euro chegou ao fim. Está quase a chocar com o proverbial
iceberg. O navio UE-Euro é pesado demais para se desviar do desastre.
É preferível a Europa ganhar tempo para se recompor; tendo cada
nação o objetivo de recuperar soberania política e
econômica e, talvez possamos prever para daqui a um par de
gerações uma nova Europa unida de Estados soberanos federais,
independentes, totalmente desligada dos jogos diabólicos do
Império anglo-americano.
[1] O texto completo do artigo de Susan George pode ser lido em
www.defenddemocracy.press/...
bem como o meu republicado recentemente em
www.globalresearch.ca/...
[*]
Economista e analista de geopolítica. Antigo quadro do Banco Mundial
trabalhou intensamente em todo o mundo nas áreas de meio ambiente e
recursos hídricos. Escreve regularmente para a Global Research, ICH, RT,
Sputnik, PressTV, meios de comunicação chineses 4, TeleSUR, The
Saker Blog e outros sites da internet. É autor de
Implosion An Economic Thriller about War, Environmental Destruction and Corporate Greed
, um livro de suspense económico sobre a guerra, a destruição ambiental
e a ganância empresarial com base em factos e em 30 anos de
experiência no Banco Mundial em redor do globo. É também
co-autor de
The World Order and Revolution! Essays from the Resistance
.
O original encontra-se em
www.globalresearch.ca/...
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
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