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							A Europa dança ao ritmo dos EUA
						
							 NATO cria Schengen militar e lança missão no Iraque
						
							 A 
							 reunião
							 dos chefes de defesa da NATO em 14-15 de Fevereiro foi dedicada sobretudo a
							partilhar o fardo da defesa e outras questões discutidas rotineiramente
							nesses eventos. Como de hábito, houve discursos pomposos com significado
							opaco a fim de deixar os ouvintes meditativos acerca do que realmente
							está por trás daquelas lindas palavras. Na realidade, a
							aliança tomou duas decisões de extremo alcance que dão uma
							pista acerca dos seus planos para o futuro próximo. 
 Os ministros disseram sim à criação do Schengen militar a
							fim de facilitar movimentos de forças através do Velho
							Continente. A NATO vai abolir os enfadonhos e morosos procedimentos
							burocráticos que atrasam o transporte de tropas e equipamento
							através dos territórios dos estados membros. Uma das
							soluções é um formulário padronizado utilizado
							pelos aliados europeus e estados parceiros a fim de permitir tais movimentos. A
							Alemanha ofereceu-se para abrigar o centro de comando destinado a implementar o
							conceito de 
							 zona de trânsito livre
							 tendo em vista a sua vasta experiência em apoio logístico.
 
 Não se trata apenas de rotina burocrática. Uma coisa leva
							à outra. O Schengen militar inevitavelmente resultará em despesa
							adicional para adaptar as infraestruturas civis às necessidades
							militares, com a ampliação de estradas, túneis e pontes a
							fim de permitir movimentos de equipamentos e aterragens de aviões
							pesados.
 
 A decisão foi tomada em meio a 
							 preparativos intensos
							 para reforçar infraestruturas militares próximas às
							fronteiras da Rússia. O facto de com a assinatura do NATO-Russia Funding
							Act, em 1997, o bloco se ter comprometido a não instalar forças
							terrestres "substanciais" em bases permanentes próximas da
							Rússia agora parece ser ignorado ou esquecido. Com a
							invalidação daquele documento, o relacionamento militar bilateral
							ficará destituído de qualquer base legal.
 
 Para aumentar as forças na Europa do Leste, no Mar Negro, no
							Báltico e na 
							 Península Escandinava
							 o bloco precisa de 
							 novos centros logísticos
							. Movimentos de transporte em grande escala e sem obstrução
							tornaram-se a prioridade de topo para a implementação dos planos
							de guerra, tais como a concentração de 
							 stocks para uma brigada completa dos EUA
							 pronta para combate na Polónia. Assim, a aliança está a
							limpar os obstáculos que prejudicam a sua capacidade de promover
							rapidamente a presença e a concentração de forças
							para um ataque.
 
 Os ministros anunciaram outra importante decisão utilizando eufemismos a
							fim de ocultar a sua essência. A NATO concordou em lançar uma
							missão de assistência e treino no Iraque, 
							
								"estabelecendo academias militares e escolas especializadas".
							
							 Segundo o seu secretário-geral
							, Jens Stoltenberg, as prioridades da aliança "no Sul" incluem 
							
								melhorar a capacidade para reagir a futuras crises na região, incluindo
								o reforço do planeamento e de exercícios".
							
							 Assim, não se trata de uma pura 
							 missão de treino
							 mas ao invés de um compromisso para juntar-se à campanha dos EUA
							destinada a reverter a influência do Irão. Os EUA 
							 cortam as suas forças no Iraque
							 movendo-as para o Afeganistão, onde a situação
							está a piorar e a NATO vai exactamente para ali a fim de preencher a
							lacuna, sob o pretexto de treino e reforço de ajuda militar. Com
							presença militar, a qual vai a par com missões de treino, a
							aliança procura impedir o Iraque de cair dentro da órbita do
							Irão e também reduz a 
							 influência russa
							 naquele país. O Iraque é demasiado importante para deixar de ser
							pró Ocidente.
 
 A NATO também está a prestar aos EUA uma ajuda amistosa na
							Síria, o país que Washington considera como um campo de batalha
							na campanha para repelir o Irão. O presidente francês, Macron, 
							 acaba de ameaçar
							 atacar a Síria se a informação acerca da
							utilização de armas químicas pelo seu governo for
							confirmada. Os EUA 
							 tornaram claro
							 que não têm planos para abandonar ou mesmo reduzir a sua
							presença na Síria após a derrota do Estado Islâmico.
							Permanecerão indefinidamente. O objectivo é 
							 conter a ameaça do Irão
							. A América silenciosamente 
							 lançou o processo de construção de uma nação
							 nos territórios sírios sob o seu controle.
 
 A reunião dos ministros daquela organização multinacional
							exprimiu a sua prontidão para dançar ao ritmo dos EUA,
							confirmando o seu compromisso de aumentar as despesas com defesa para 2% do
							PIB, acelerar o fortalecimento militar na Europa, incluindo a
							criação de mais dois comandos, e juntar-se aos EUA na campanha
							anti-Irão numa tentativa de refazer o mundo à sua própria
							imagem. Assim, temos a mesma velha canção e a mesma dança,
							pois a aliança militar permanece em pleno modo de
							preparação para o combate.
 
 
								19/Fevereiro/2018
							[*]
								 Analista de defesa e diplomático, russo. 
 O original encontra-se em
								 www.strategic-culture.org/...
 
 este artigo encontra-se em
								 http://resistir.info/
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