Novembro/2006:
Princípio da fase de impacto da crise sistémica global
por Europe 2020
Laboratoire européen d'Anticipation Politique (LEAP)
[*]
Em Maio último, no
Global Europe Anticipation Bulletin
N°5, o estudo LEAP/E2020 pormenorizou as quatro fases da crise
sistémica global, indicando que a fase conhecida como de
aceleração começaria em Junho e estender-se-ia ao longo de
um período máximo de seis meses, após a qual
começaria a fase explosiva da crise, a "fase de impacto".
A acompanhar os desenvolvimentos destes últimos meses e o papel central
desempenhado pelos Estados Unidos no actual sistema global, o LEAP/E2020
anuncia na sua edição de Outubro do GEAB
(GlobalEurope Anticipation Bulletin
N°8) que a fase de impacto começará em Novembro de 2006 e
que o catalisador desta fase serão as eleições
intercalares para o Congresso dos Estados Unidos
[1]
as quais são o ponto nodal das principais linhas de fractura do
actual sistema global.
A fase da aceleração consistiu na percepção
generalizada de que o sistema global com o qual nos familiarizámos ao
longo de várias décadas está a mudar radicalmente e
permanentemente como ilustram as seguintes tendências, agora amplamente
reconhecidas, em relação a todo o planeta
[2]
: agravamento das crises nucleares com a Coreia do Norte e o Irão,
falta de poder geral dos Estados Unidos em relação a todas as
grandes crises destes últimos meses, incluindo o conflito
israelense-palestino
[3]
, guerra civil no Iraque e estagnação americana até pelo
menos 2010
[4]
, sentimento crescente da derrota do ocidente para progredir no
Afeganistão
[5]
, colapso do mercado imobiliário dos Estados Unidos
[6]
, aumento da volatilidade do sistema de "hedge funds"
[7]
, recessão da economia dos EUA a começar
[8]
, agravamento dos défices comerciais e de balança de pagamentos
americanos
[9]
, enfraquecimento contínuo do dólar
[10]
, endividamento crescente das famílias americanas
[11]
.
Gráfico 1 Taxa dos fundos federais.
Os pontos vermelhos indicam períodos em que o Fed financia.
Fonte: NoSpinForecast
A fase de impacto que se segue à fase de
aceleração caracteriza-se pelo desencadeamento
de uma série de crises brutais que afectam por contágio todo o
sistema global. Esta fase explosiva da crise, a qual perdurará de seis
meses a um ano, afectará directamente e muito fortemente os operadores
e os mercados financeiros, os possuidores de activos com
rendimentos fixos em dólares, os fundos de pensão e as
relações estratégicas entre os Estados Unidos, de um lado,
e a Europa e a Ásia do outro.
De acordo com a nossa análise, o seu impacto será muito mais
forte no sector financeiro do que as nossas previsões do primeiro
semestre de 2006 sugeriam, porque a mobilização deste sector nos
Estados Unidos (juntamente com os seus relays de comunicação)
levou a "euforizar" a opinião pública americana e a
imensa maioria dos actores nestes sector, permitindo aos líderes deste
partido apregoarem uma boa avaliação económica (o
único tópico de campanha à sua disposição
desde o verão de 2006)
[12]
. A utilização desta face do sistema global para finalidades
eleitorais impediu assim a maioria dos actores de anteciparem as rupturas a
virem e, por isso, aumentou consideravelmente o potencial explosivo da fase de
impacto neste sector, uma vez que os operadores serão apanhados
"sobre o pé errado".
No centro do processo de "euforia" dos eleitores americanos
encontrar-se-á, em particular, o banco de negócios Goldman Sachs.
Este, cujo antigo presidente, Henry Paulson, há poucos meses tornou-se
o ministro das Finanças dos Estados Unidos, está na origem de uma
decisão técnica que levou a um colapso artificial dos
preços do petróleo nas últimas semanas. Na verdade, a
Goldman Sachs mudou abruptamente a composição do seu indicador
GSCI (Goldman Sachs Commodity Index), uma referência no mercado de
matérias-primas de Chicago, obrigando portanto os
traders
a venderem mais de US$ 100 mil milhões de contratos de petróleo
"futuro" entre Agosto e Setembro de 2006.
Gráfico 3 Gasolina sem chumbo - Nymex.
Fonte: AT-Bourse.
Além disso, a influência proeminente deste banco de
negócios (o qual tornou-se o mais importante nos "hedge funds"
globais) também está presente no Working Group on Financial
Markets, (muitas vezes chamado "Plunge Protection Team"),
criado pela Ordem Executiva 12631
[13]
com o objectivo de "manter a confiança dos investidores", e
que, sob a direcção das pessoas nomeados por G. W. Bush, e
dirigido por Henry Paulson, está em posição de activar
todos os actores influentes da Wall Street ou de Chicago.
No número de Outubro dedicado à "Fase de impacto da Crise
sistémica global", o LEAP/E2020 analisa os pormenores deste
processo de "euforia" dos actores através da
decomposição dos mecanismos utilizados para convencer os
eleitores americanos e os operadores do mundo financeiro de que o futuro
é radioso, quando todos os indicadores objectivos estão a tocar
alarmes
[14]
em termos de crescimento americano, emprego
[15]
,
inflação, controle de riscos estratégicos, etc...
Além disso, a equipe do LEAP/E2020 tenta antecipar o modo de
desenvolvimento e as consequências da fase de impacto sobre sectores ou
operadores particularmente expostos, tais como os operadores de mercadores
financeiros, os possuidores de fundos de investimento americanos com
rendimentos fixos, os operadores envolvidos na indústria
imobiliária e no financiamento do mercado imobiliário e em fundos
de pensões.
Gráfico 3 Mediana dos preços de venda - Casas
monofamiliares
O LEAP/E2020 também tentou antever o papel dos "hedge funds"
no processo explosivo da fase do impacto, o qual transformará a sua
"mutualização de riscos" num "contágio do
risco sistémico". Sobre este assunto, o LEAP/E2020 toca o alarme
para todo o sector financeiro americano e em particular para os principais
"hedge funds", os quais passaram a ser bancos de investimento como a
Goldman Sachs ou Lehman Brothers bem como os principais "primary
dealers" autorizados pela Reserva Federal dos Estados Unidos.
Segundo a equipe do LEAP/E2020, chegou o momento em que as
motivações do Fed americano para cessar a
publicação do M3, em Março último, serão
reveladas; e as consequências desta estratégia
"apanharão sobre o pé errado" aqueles que ingenuamente
optaram por partilhar da euforia geral construída na perspectiva das
eleições americanas de Novembro. A partir daí, como se
explica no GEAB Nº 8, começa uma estória totalmente nova.
Aquela da fase de impacto da crise sistémica global.
16/Outubro/2006
Notas:
(1) Cf análise em
GEAB N°7
: "American legislative Elections -
November 2006: Towards a politico-institutional blocking in Washington, with
important political , economic, and commercial consequences"
(2) Apesar de no primeiro trimestre de 2006, quando o LEAP/E2020 produziu as
suas
primeiras projecções sobre o assunto, a grande maioria dos
actores envolvidos e das opiniões públicas de todo o mundo
estarem convencidos das tendências opostas, e negassem mesmo que aquelas
que hoje são óbvias pudessem simplesmente surgir no futuro.
(3) Mesmo a opinião pública israelense tornou-se muito
crítica quanto à incapacidade dos Estados Unidos na
região, como explicado no artigo de Gideon Levy
"The Mystery of America"
publicado no Haaretz, 09/10/2006
(4) Isto é o líder americano das forças conjuntas, General
Peter J. Schoomaker, declarou. Fonte:
CBS News
, 11/10/2006
(5) 89% dos europeus sondados pela GlobalEurometre estimam que a NATO
está a perder a guerra no Afeganistão.
(6) Sobre este assunto, é interessante ter em mente a
projecção do actual presidente do American Federal Reserve, que
declarou um ano atrás que "não havia bolha
imobiliária real que pudesse explodir" (fonte:
Washington Post,
27/10/2005).
(7) Mesmo a China juntou-se às vozes que manifestam
preocupação acerca do aumento dos riscos provocados pelo
desenvolvimento fora de controle dos hedge funs. Fonte:
West Australian/Daily Telegraph
, 29/09/2006
(8) Ler a nota sobre o emprego nos EUA do Center for Economic and Policy
Research (
CEPR
, 06/10/2006)
(9) Fonte: Roubini Global Economics services,
RGE
, 12/10/2006
(10) Este número do Global Europe Anticipation Bulletin explica em
particular porque a tendência declinante do dólar está
actualmente temporariamente estabilizada devido à proximidade da
eleição americana.
(11) Para além da dívida pessoal continuamente em crescimento,
uma vez que a taxa de poupança continua a ser negativa, o
USA Today
calculou que, ao incorporar a dívida nacional, cada família
americana tem agora uma dívida de mais de US$ 500 mil. Fonte:
USA Today,
24/05/2006
(12) É muito útil observar que os tópicos das
intervenções públicas de G. W. Bush, tal como registado no
sítio web do Partido Republicano, afastaram-se do "combate ao
terrorismo" em direcção à "boa saúde da
economia". Fonte:
Speech of September 2006
,
Speech of October 2006
,
Republican Party
(13) Fonte: Federal Register, US National Files, 11/1998,
Executive Order 12631/Working Group one Financial Markets
(14) Por exemplo, o número de 9/10/2006 do
Chicago Tribune
titula a sua página de negócios com o crescimento dos riscos de
recessão. É o caso de um grande número de media regional
americanos, os quais são muito sensíveis às
consequências directas do colapso imobiliário.
(15) Ler a nota sobre o emprego americano do Center for Economic and Policy
Research (
CEPR
, 06/10/2006)
[*]
Think tank
europeísta com sede em França.
Nota: A publicação deste texto por resistir.info não significa
necessariamente um endosso às suas previsões datadas, nem
tão pouco ao seu conteúdo total.
O original encontra-se em
www.leap2020.eu/
Esta análise encontra-se em
http://resistir.info/
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