Os cenários de dissolução do Euro
por Jacques Sapir
Este estudo foi realizado por Philippe Murer e por mim próprio com a
colaboração de Cédric Durand.
Ele estará disponível a 2 de Setembro de 2013 na
Fundação Res Publica
(52, rue de Bourgogne, 75007 Paris, info@fondation-res-publica.org).
Extracto
"Supusemos nestes estudo que as tensões no seio da zona Euro possam
atingir um nível tal que os países afectados decidam, por um
acordo comum ou de maneira dispersa, renunciar à moeda única.
Neste caso, os países da ex-zona Euro deverão adoptar, ainda que
de maneira transitória, medidas drásticas de
controle dos capitais a fim de poder "pilotar" a
depreciação ou a apreciação da sua moeda.
Supõe-se também que mecanismos residuais de
coordenação se mantêm ao nível dos
Ministérios das Finanças e dos Bancos Centrais e que cada
país pode colaborar com os seus vizinhos para evitar uma explosão
dita desordenada da moeda única. Quanto à evolução
da dívida, ela é regida pela jurisprudência do direito
internacional que pretende que em caso de desaparecimento de uma moeda comum a
vários países, estas dívidas sejam redenominadas na moeda
de cada país, para aquelas que foram emitidas neste país
[1]
. Isso implica que as taxas de câmbio efectivas correspondam a taxas de
câmbio "alvos" que permitam aos países da Europa do Sul
reequilibrar o mais rapidamente possível a sua balança comercial.
Estes dois postulados correspondem ao que chamamos uma dissolução
"controlada" da zona Euro (hipótese
H1
). Não nos limitamos ao estudo deste caso limite e estudamos
também a possibilidade de uma cisão da zona Euro em duas
(hipótese
H2
conhecida sob o nome dos "dois Euros" ou combinação
Euro do Sul / Euro do Norte), assim como encaramos a possibilidade de uma
dissolução "não controlada" da zona Euro
(hipótese
H3
). No caso de uma cisão da zona Euro em duas, consideramos que a
França seria o país central
(pivot)
da zona "Euro do Sul". Para cada um dos três cenários
assim retidos, testámos três opções de
política económica: a opção
a
será qualificada de "pró consumo"; a
opção
b
chamada "pró investimento"; e a opção
c
de "pró redução dos défices". Obtemos
portanto um conjunto de nove trajectórias que serão em seguida
comparadas sob os seus diferentes aspectos.
A partir da estrutura do comércio exterior, do montante das
importações e das exportações no PIB e das
elasticidades, recalcula-se para uma taxa de desvalorização
ou de revalorização dada, a variação
da balança comercial e sua contribuição para o PIB tendo em
conta a existência da ex-zona Euro, de uma zona Dólar e de uma
zona intermédia. Entretanto corrigiu-se em alta as
importações a partir da constatação de que um forte
aumento das exportações implicará necessariamente o
aumento das
importações tendo em conta o fenómeno da
reexportação das matérias-primas importadas (energia e
matérias-primas) e também de certos subconjuntos. Corrigiu-se
também as importações e as exportações em
função do crescimento ou da recessão dos países
parceiros na zona Euro.
Obtém-se assim um primeiro nível de PIB. Este nível de PIB
faz aparecer um ganho fiscal potencial, do qual se estima que uma parte
será redistribuída
à economia (em função das hipóteses definidas mais
acima). Entra em conta então o multiplicador das despesas
públicas, que foi estimado em 1,4 com base em trabalhos recentes. A
aplicação deste multiplicador nos dá então um
segundo estádio do PIB. Entretanto, seguindo os cenários, tem-se
também uma alta mais ou menos forte do investimento produtivo. Ora, esta
alta implica mecanicamente uma alta do PIB, o que nos fornece um terceiro, e
definitivo, estado do PIB e portanto, por comparação, um
esboço do crescimento total que se pode esperar de uma tal
desvalorização.
Obtemos portanto um conjunto de nove trajectórias que serão em
seguida comparadas sob seus diferentes aspectos. Esta acumulação
dos efeitos tem resultados espectaculares. Constata-se então que a
opção (
b
) dita "pró investimento" é aquela que engendra o
crescimento mais forte nas três hipóteses (
H1
,
H2
e
H3
) de taxa de câmbio. A maior diferença de crescimento é
entre a opção (
b
) e a opção (
c
) que surge no médio prazo (cinco períodos de doze meses cada um)
como a pior.
O efeito do forte crescimento do PIB engendrado pela acumulação
dos efeitos directos e indirectos de uma forte desvalorização
deveria ser muito importante sobre o emprego e o desemprego. Adoptámos
aqui a hipótese de que todo crescimento superior a 1,3% no primeiro ano
e a 1,5% nos anos seguintes induzia criações de emprego
proporcionais ao crescimento. Estas hipóteses implicam movimentos de
redução do desemprego que são muito fortes no decorrer dos
dois primeiros períodos. A criação de emprego pode
mesmo, em alguns dos cenários, esgotar as reservas de trabalho
existentes. É uma mudança radical considerável para a
sociedade francesa que reencontraria assim uma situação de
desemprego moderado e mesmo fraco que já não conhece desde o
fim dos anos 1970. As consequências desta mudança radical sobre o
equilíbrio dos diferentes orçamentos sociais
doença, aposentação são potencialmente
consideráveis.
26/Agosto/2013
[1] O que é o caso, concretamente, de 85% da dívida
pública francesa.
O original encontra-se em
http://russeurope.hypotheses.org/1486
Este extracto encontra-se em
http://resistir.info/
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