A NATO e o "caos" planeado do mundo
Nos dias de hoje, muitas pessoas que nem mesmo têm tempo para entender o
que realmente está a acontecer em torno de si particularmente
aquelas absorvidas na luta pela sobrevivência que deixam sobretudo aos
"peritos" da TV a tarefa de pensar por elas habitualmente
têm a impressão de que vivemos num mundo caótico.
Refiro-me, naturalmente, às vítimas da globalização
neoliberal a grande maioria da população mundial e
não aqueles que com ela se beneficiam, incluindo muitos na
intelligentsia que nem mesmo vêem que há uma Nova Ordem Mundial
(NOM) baseada na globalização neoliberal e administrada por uma
Elite Transnacional (ET) basicamente as elites dos países
"G7". Contudo, é só dentro de um quadro
analítico que alguém pode realmente entender porque o nosso mundo
é tudo menos caótico, no sentido comum da desordem
imprevisível.
As decapitações no Iraque repetidas continuamente nos
écrans da TV (com a óbvia intenção dos media
controlados pela ET de incitar a islamofobia e distrair a atenção
do massacre muito maior em Gaza, como contrapeso à ascensão do
anti-sionismo por todo o mundo) estão directamente conectadas à
invasão conduzida pela NATO e a consequente destruição do
Iraque.
[1]
Analogamente, esta última está directamente ligada aos
anteriores bombardeamentos brutais da NATO na Jugoslávia que foram
concebidos para desmembrar aquele país, bem como os bombardeamentos
semelhantes da NATO que se seguiram na Líbia, os quais destruíram
a infraestrutura do país e converteram-no num "estado
fracassado". Vem então a "insurreição"
armada organizada na Síria e ninguém será surpreendido se
bombardeamentos da NATO semelhantes aos da Líbia ali começarem,
sob o pretexto de combater terroristas islâmicos (aqueles mesmos que uns
poucos meses atrás eram apoiados pela ET com o objectivo de derrubar
Assad!). Finalmente, vimos este ano que o modelo de
"insurreições" armadas foi transplantado para o
próprio solo europeu, na Ucrânia, o qual ameaça
lançar todo o continente numa guerra total.
[2]
Ao mesmo tempo, testemunhamos a continuada e desumana limpeza étnica
sionista dos palestinos, ou o "genocídio incremental", como
foi denominado pelo historiador judeu Ilan Pappe,
[3]
o qual é um dos mais importantes historiadores que o fundamentou e
está no primeiro plano dos poucos judeus verdadeiramente anti-sionistas.
Isto está em contraste com a elite sionista internacional
[4]
, a qual está agora ocupada em aprovar leis fascistas pretensamente
"anti-racistas" em parlamentos da UE. Portanto, é introduzido
um modo legalmente obrigatório de perceber até acontecimentos
históricos tais como o "Holocausto", o qual agora deve ser
reconhecido (com a ameaça de aprisionamento) como um genocídio
historicamente único. Isto apesar do facto de que, por exemplo, o
genocídio dos arménios (ou o "Holocausto"
arménio como por vezes é chamado) foi provavelmente muito mais
vasto sem mencionar o genocídio dos índios nas
América, na Austrália, etc., os quais essencialmente liquidaram
nações inteiras! Isto naturalmente é um velho debate que
começou nestes países que introduziram primeiro
legislação semelhante, dado o seu envolvimento ou simpatias para
com a Alemanha nazi (isto é, a própria Alemanha, Áustria,
Suíça, França, etc) mas que voltou agora à
superfície devido ao actual esforços sistemático da UE
para forçar parlamentos europeus a aprovarem legislação
semelhante (sendo a Grécia o exemplo mais recente). A França, em
particular, tornou-se infame quando utilizou uma lei como essa para processar
mesmo o bem conhecido comunista e combatente da resistência Roger Garaudy
como "negador do Holocausto", estabelecendo o princípio
fascista de que acontecimentos históricos não são sujeitos
a investigação histórica e de memória colectiva mas
um assunto a ser tratado pelo Estado e quem quer que seja que o controle!
[5]
A ligação entre todas estas guerras e massacres, mas
também a correspondente guerra económica que agora estrangula o
povo grego, o português, o espanhol (e actualmente mesmo o povo
francês que ainda resiste à globalização), é
o esforço sistemático da ET que dirigem a NOM da
globalização neoliberal a integrar todos os povos ainda
não plenamente integrados nelas. Contudo, apesar das tolices da
"Esquerda" degenerada, a qual fala acerca de "más"
políticas neoliberais etc impostas por alguns "traidores" da
social-democracia, ou a tolice equivalente da Esquerda Marxista
Paleolítica que tenta "explicar" estas guerras com a doutrina
dos "conflitos intra-imperialistas", a consequência é
simplesmente a viragem dos estratos populares para a direita patriótica
ou nacionalista, se não a própria extrema direita, como vimos na
últimos eleições europeias. A bancarrota ideológica
da "esquerda" tornou-se evidente quando foi incapaz de explicar a
unidade sem precedentes da ET no apoio a todas estas guerras, apesar dos
"conflitos intra-imperialistas". A menos, naturalmente, que os
únicos imperialismos disponíveis sejam por um lado o imperialismo
das ET e por outro o "imperialismo" russo, apesar do facto de que a
Federação Russa não começou qualquer guerra
imperialista na história nem tão pouco controla da economia
mundial através de Corporações Transnacionais (CTNs), ou a
organização política do mundo através de centenas
de bases militares por todo o mundo, ou finalmente os media mundiais
através de corporações e magnatas da imprensa.
Tudo isto, no exacto momento em que os media controlados pela ET estão
ocupados a promover o mito da Rússia inclinada a conquistar o mundo
embora qualquer teoria acerca da NOM a globalização neoliberal e
da ET a dirigi-la seja afastada (com a ajuda decisiva da mesma
"Esquerda") como uma teoria da conspiração. Não
surpreendentemente, esta "Esquerda" acusa Hollande por uma meia volta
em relação às suas promessas socialistas esquecendo que o
seu antecessor Mitterrand também foi forçado a fazer exactamente
a mesma meia volta, quem dirá Oscar Lafontaine na Alemanha que foi
forçado a demitir-se quando tentou introduzir políticas
económicas não compatíveis com a
globalização neoliberal.
Isto naturalmente porque agora é inconcebível para qualquer
país plenamente integrado na NOM implementar quaisquer políticas
diferentes das políticas neoliberais universais. Isto não
é alguma espécie de conspiração
[6]
ou apenas uma má ideologia implementada por alguns bandalhos
(banqueiros, políticos, etc). Isto é exactamente a
consequência inevitável da abertura e liberalização
dos mercados para capitais,
commodities
e trabalho e da adesão de instituições internacionais
controladas pela ET (OMC, FMI, BM, etc) cuja tarefa é impor estas
políticas quando, por exemplo, um país membro pede um
empréstimo ou beneficia de um programa de investimento. É
desnecessário acrescentar que o desmantelamento da auto-confiança
pela globalização e pela criação de economias de
exportação por toda a parte transforma a maior parte dos
países integrados na NOM, e particularmente os mais fracos, em mendigos
o investimento das CTNs, de modo a poderem evitar a estagnação e
a contracção de empréstimos. Portanto, todo país
sabe muito bem em que ritmo deveria dançar.
Além disso, não só os BRICS (excepto a Rússia)
estão completamente integrados na NOM, sem partilhar qualquer soberania
transnacional significativa (poder económico, político, militar e
mediático a nível transnacional) como, ainda pior, suas
soberanias nacionais são claramente inferiores àquela da
Rússia. A China, por exemplo, está altamente integrada na
economia global, um facto que levou a um dramático aumento da
desigualdade neste país "socialista", desde que foi plenamente
integrada na NOM,
[7]
ao passo que o seu status como uma superpotência económica
está baseado claramente na sua enorme população (o poder
de compra do PIB per capita da sua população é o 99º
no mundo) e no significativo poder industrial e comercial criado pela
transferência maciça das CTNs dos países da EFT, nos
últimos trinta anos ou mais, em busca da minimização do
custo de produção e da maximização do lucro.
As conclusões acima acerca da Rússia foram confirmadas na semana
passada durante a Cimeira da NATO, numa Cardiff sob a ocupação do
serviços de segurança, onde foram efectuadas discussões
sobre como subjugar
directamente o povo na Ucrânia Oriental (a qual está a resistir
à junta que lhes foi imposta através de um "golpe a partir
de baixo" organizado pela Elite Transnacional) e também como
subjugar indirectamente o povo russo, cuja vasta maioria apoia a luta da
resistência.
Assim, a decisão crítica que determinará o destino
não só da Rússia e da União Euro-asiática
como também de todos nós será tomada dentro da
própria Rússia. Uma opção é que
prevaleça a parte da elite russa favorável à
globalização; a alternativa é a de predominar a
anti-globalização patriótica. Qual das
opções será escolhida determinará se a
Rússia capitulará à governação global da ET
ou se, ao contrário, actuará como líder de uma ordem
mundial alternativa de estados soberanos baseada na União
Euro-Asiática, como fora originalmente concebido, a qual terá
como objectivo alcançar auto-confiança
(self reliance)
nacional e económica em cada país um requisito
prévio para qualquer mudança sistémica no futuro...
[1] Ver Takis Fotopoulos, "ISIS role in destruction of Iraq by
transnational elite",
RT, 11/7/2014
rt.com/op-edge/172084-isis-iraq-destruction-elite/
[2] Ver Takis Fotopoulos,
Ukraine: The attack on Russia and the Eurasian Union
(to be published shortly by Progressive Press).
[3] Ilan Pappe, "Israel's incremental genocide in the Gaza
ghetto",
The Electronic Intifada,
electronicintifada.net/content/israels-incremental-genocide-gaza-ghetto/13562
[4] Para a relação entre a ET e a elite sionista, ver Takis
Fotopoulos, The Zionist Brutalization Within the New World Order and the
Need for a United Multi-national and Multicultural State*, The
International Journal of INCLUSIVE DEMOCRACY, Vol. 10, Nos. 1/2
(Winter-Summer
www.inclusivedemocracy.org/...
[5] Para uma discussão das questões envolvidas nesta
espécie de legislação de inspiração
fascista, ver Norman Finkelstein, The Holocaust Industry, (Verso, 2000) and
for an older discussion, Mark Weber, "Switzerland's Anti-Racism
Law",
The Journal of Historical Review,
July/August 1998 (Vol. 17, No. 4), page 13
www.ihr.org/jhr/v17/v17n4p13_Weber.html
[6] Ver por exemplo best seller de tal teoria da conspiração
em Naomi Klein,
The Shock Doctrine,
(Penguin, 2008)
[7] 'China reveals income gap statistics after 12 year of silence', RT,
18/1/2013
rt.com/business/china-income-gap-reveals-288/
[*]
Editor de
The International Journal of INCLUSIVE DEMOCRACY
. Este artigo é uma síntese de dois outros publicados
originalmente
na coluna semanal do autor em Sunday's
Eleftherotypia
(jornal grego publicado em Atenas) em 31/08/2014 and 07//09/2014. A
tradução para o inglês foi editado por Jonathan Rutherford.
Este artigo também foi publicado em simultâneo por
Pravda.ru
a 10/09/2014
O original encontra-se em
www.inclusivedemocracy.org/...
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
.
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