Os atrasados mentais de Washington
À beira do abismo
por Paul Craig Roberts
[*]
Existirá vida inteligente em Washington, DC? Nem pó.
A economia americana está em implosão, e Obama está a ser
arrastado pelo seu governo de neoconservadores e de agentes israelenses para um
pântano no Afeganistão que acabará num confronto dos EUA
com a Rússia, e possivelmente com a China, o maior credor dos americanos.
Os números dos salários pagos em Janeiro revelam que, no
mês passado, perderam os seus empregos 20 mil americanos por dia.
Para além disso, as perdas de emprego em Dezembro foram rectificadas em
53 mil postos de trabalho, de 524 mil para 577 mil. Esta revisão eleva a
perda de postos de trabalho nos dois meses para 1 175 000. Se isto continuar,
os três milhões de novos postos de trabalho prometidos por Obama
serão anulados pela perda de postos de trabalho.
O especialista em estatística John Williams (
shadowstats.com
) considera que este número gigantesco é calculado por defeito.
Williams faz
notar que influências intrínsecas nos factores de ajustamento
sazonal provocaram uma subavaliação das perdas de empregos em
Janeiro em 118 mil, o que eleva a perda de empregos real em Janeiro para 716
mil postos de trabalho.
A análise da lista de pagamentos conta o número de postos de
trabalho, e não o número de pessoas com trabalho, visto que
algumas pessoas têm mais do que um emprego. O Household Survey conta o
número de pessoas que têm trabalho. O Household Survey mostra que
em Janeiro perderam os seus empregos 832 mil pessoas e em Dezembro 806 mil, o
que totaliza uma redução de 1 638 000 de americanos com trabalho.
A taxa de desemprego anunciada nos meios de comunicação
americanos é uma falsificação. Williams relata que
através de alterações feitas a partir de 1980,
principalmente na era Clinton, "os trabalhadores desencorajados que
desistiram de procurar emprego porque não havia trabalho, foram
reclassificados de modo a apenas serem considerados se tivessem 'perdido a
coragem' há menos de um ano. Esta classificação de acordo
com o tempo pôs de lado o grosso dos trabalhadores desencorajados. Se
voltássemos a incluí-los no total dos desempregados, o desemprego
real [segundo a metodologia da taxa de desemprego utilizada em 1980] subiria
para 17,5% em Dezembro e 18% em Janeiro".
Por outras palavras, sem todas estas manipulações dos dados, a
taxa de desemprego dos EUA já atingiu níveis de depressão.
Como é que poderia ser diferente, dada a enorme perda de postos de
trabalho provocada pelos postos de trabalho além fronteiras. É
impossível que um país crie postos de trabalho quando as suas
empresas deslocam a produção destinada ao mercado consumidor
americano para fora do país. Quando deslocam a produção
para fora do país, desviam o PIB americano para outros países. O
défice comercial dos EUA durante os últimos dez anos reduziu o
seu PIB em 1,5 milhões de milhões de dólares. Significa
uma quantidade enorme de postos de trabalho.
Há anos que ando a denunciar que graduados universitários
têm sido forçados a aceitar empregos de criados de mesa e de
empregados de bares. À medida que os consumidores super endividados
vão perdendo os seus empregos, passam a ir menos frequentemente a
restaurantes e bares. Por conseguinte, os que têm graus
universitários vão deixar de ter emprêgo a servir à
mesa e a misturar bebidas.
Os políticos americanos têm ignorado o facto de que a procura do
consumidor no século XXI tem sido motivada, não pelo aumento das
receitas reais, mas por um crescente endividamento do consumidor. Este facto
torna inútil tentar estimular a economia socorrendo os bancos para que
eles possam emprestar mais aos consumidores. Os consumidores americanos
já não têm capacidade para pedir mais empréstimos.
Perante o declínio do valor dos seus principais valores patrimoniais
as casas perante a destruição de metade dos seus
activos de pensões, e perante o espectro da falta de trabalho, os
americanos não podem e não continuarão a gastar.
Porque é que se socorre a GM e o Citibank, se estas empresas andam a
transferir para além-fronteiras todas as operações que
podem?
Grande parte da infra-estrutura americana está em mau estado e precisa
de ser renovada. No entanto, os postos de trabalho nas infra-estruturas
não produzem bens nem serviços que possam ser vendidos no
estrangeiro. Um empenhamento maciço na infra-estrutura não
contribui para ajudar os EUA a reduzir o seu enorme défice comercial,
cujo financiamento se está a tornar num problema crucial. Além
disso, quando os projectos de infra-estruturas acabarem, o mesmo
acontecerá com os postos de trabalho.
Na melhor das hipóteses, partindo do princípio que os imigrantes
mexicanos não vão ocupar a maior parte dos postos de trabalho na
construção, o mais que o programa de estímulo de Obama
pode fazer é reduzir temporariamente o número de desempregados
A não ser que seja possível exigir que as empresas americanas
utilizem mão-de-obra americana para produzir os bens e serviços
que vão vender nos mercados americanos, não há
esperança para a economia americana. Ninguém na
administração Obama tem lucidez para tratar deste problema.
Portanto, a economia vai continuar a implodir.
A acrescentar ao desastre em fermentação, Obama foi induzido
pelos seus conselheiros militares e neoconservadores a expandir a guerra no
Afeganistão, um país enorme e montanhoso. Obama tenciona utilizar
a retirada dos soldados americanos do Iraque para enviar mais 30 mil efectivos
americanos para o Afeganistão. Isto elevaria as forças americanas
para 60 mil 600 mil a menos do que é definido nas linhas de
orientação contra-revolução do Marine Corps
americano e do Exército americano como o número mínimo de
soldados necessários para ter êxito no Afeganistão e
menos de metade das forças de um exército que não
conseguiu ocupar o Iraque.
Os iranianos tiveram que socorrer o regime Bush refreando os seus aliados
xiitas e encorajando-os a recorrer às urnas para conquistar o poder e
expulsar os americanos. No Iraque as tropas americanas apenas tiveram que
combater uma pequena rebelião sunita surgida duma minoria da
população. Mesmo assim, os EUA "ganharam" colocando os
rebeldes na lista de pagamentos dos EUA e pagando-lhes para eles não
combaterem. O acordo de retirada foi ditado pelos xiitas. Não era o que
o regime Bush pretendia.
Poder-se-ia pensar que a experiência com o "passeio" no Iraque
faria com que os EUA hesitassem em tentar ocupar o Afeganistão, um
empreendimento que exige que os EUA ocupem áreas do Paquistão. Os
EUA tiveram muita dificuldade em manter 150 mil efectivos no Iraque. Onde
é que Obama vai arranjar mais meio milhão de soldados para juntar
aos 150 mil a fim de pacificar o Afeganistão?
Uma das respostas é o desemprego maciço nos EUA, em crescimento
galopante. Os americanos preferirão alistar-se para irem matar no
estrangeiro do que ficarem na sua terra, sem casa e com fome.
Mas isto só resolve metade do problema. De onde vem o dinheiro para
alimentar um exército de 650 mil efectivos no terreno, um
exército 4,3 vezes maior do que as forças americanas no Iraque,
uma guerra que já custou 3 milhões de milhões de
dólares desembolsados ou já comprometidos em despesas futuras.
Este dinheiro terá que ser arranjado para além dos 3
milhões de milhões de dólares do défice
orçamental dos EUA, défice este resultante da
operação de salvamento de Bush ao sector financeiro, do pacote de
estímulo de Obama e da rápida queda da economia. Quando as
economias estagnam, conforme está a acontecer com a americana, caem as
receitas fiscais. Os milhões de americanos desempregados não
estão a pagar a Segurança Social, os Cuidados Médicos e os
impostos sobre rendimentos. As lojas e negócios que vão fechando
deixam de pagar impostos sobre rendimentos, federais e estatais. Os
consumidores sem dinheiro nem crédito para gastos não
estão a pagar impostos sobre vendas.
Os Atrasados Mentais de Washington, e são mesmo atrasados mentais,
não pensaram como vão financiar um défice fiscal de cerca
de dois ou três milhões de milhões de dólares no
orçamento do ano 2009.
A taxa de poupanças americana, praticamente inexistente, não
poderá financiá-lo.
Os excedentes comerciais dos nossos parceiros comerciais, como a China, o
Japão e a Arábia Saudita, não podem financiá-lo.
O governo dos EUA só tem de facto duas possibilidades para financiar o
seu défice orçamental. Uma delas é um segundo colapso no
mercado de acções, que fará com que os investidores
sobreviventes acorram, com o que lhes restar, aos títulos do Tesouro
americanos, considerados "seguros". A outra é que o Federal
Reserve monetarize a dívida do Tesouro.
Monetarizar a dívida significa que, quando ninguém está
disposto ou tem capacidade para comprar os títulos do Tesouro, é
o Federal Reserve que os compra criando depósitos bancários na
conta do Tesouro.
Por outras palavras, o Fed "imprime dinheiro" com que compra os
títulos do Tesouro.
Quando isto acontecer, o dólar americano deixará de ser a divisa
de reserva.
Além disso, a China, o Japão e a Arábia Saudita,
países que detêm quantidades enormes da dívida do Tesouro
dos EUA, para além de outros activos em dólares americanos,
irão vendê-los, na esperança de se livrarem deles antes de
outros.
O dólar americano deixará de ter valor, passará a divisa
de uma república de bananas.
Os EUA deixarão de poder pagar as importações, um problema
grave para um país dependente das importações para a
energia, bens manufacturados e produtos de tecnologia avançada.
Os conselheiros keynesianos de Obama aprenderam com uma lição
vingativa de Milton Friedman que a Grande Depressão foi
consequência de o Federal Reserve ter permitido uma
contracção do fornecimento de dinheiro e de crédito. Na
Grande Depressão as dívidas boas foram destruídas pela
contracção monetária. Hoje, são as dívidas
más que estão a ser aguentadas pela expansão do dinheiro e
do crédito, e o Tesouro dos EUA está a pôr em perigo a sua
posição de crédito e a posição do
dólar como divisa de reserva com os enormes leilões trimestrais
de títulos, conforme estamos a assistir.
Entretanto, os russos, a transbordar de recursos energéticos e minerais,
e sem dívidas, perceberam que o governo dos EUA não é de
fiar. A Rússia assistiu à tentativa dos sucessores de Reagan para
virar clientelas da União Soviética em estados marionetas dos EUA
com bases militares americanas. Os EUA estão a tentar cercar a
Rússia com mísseis que neutralizem a dissuasão
estratégica da Rússia.
Putin entendeu bem o "camarada lobo". Conseguiu que o presidente do
Quirguistão, uma antiga república da União
Soviética, desalojasse os EUA da sua base militar. Esta base é
essencial para a capacidade de a América abastecer os seus soldados no
Afeganistão.
Para impedir a intromissão da América na esfera de
influência da Rússia, o governo russo criou uma
organização de aliança de segurança colectiva
formada pela Rússia, Arménia, Bielorrússia,
Cazaquistão, Quirguistão e Tajiquistão. O
Uzbequistão é participante parcial.
Por outras palavras, a Rússia organizou a Ásia Central contra a
penetração dos EUA.
A que agenda é que o Presidente Obama está a ficar amarrado? Num
artigo na versão de língua inglesa do jornal suíço
Zeit-Fragen,
Stephen J. Sniegoski assinala que as figuras de proa da
conspiração neoconservadora Richard Perle, Max Boot, David
Brooks, e Mona Charen ficaram em êxtase com as
nomeações de Obama. Não encontram qualquer
diferença entre Obama e Bush/Cheney.
Não são só os homens nomeados por Obama que o estão
a empurrar para uma guerra alargada no Afeganistão, o poderoso
lóbi israelense também está a empurrar Obama para uma
guerra com o Irão.
É difícil de acreditar no irrealismo com que o governo dos EUA
está a manobrar. Um governo na falência, que não consegue
pagar as contas sem imprimir dinheiro, está a correr precipitadamente
para guerras no Afeganistão, Paquistão e Irão. Segundo o
Centro de Análise Estratégica e Orçamental, o custo para
os contribuintes americanos de enviar um só soldado para combater no
Afeganistão ou no Iraque é de 775 mil dólares por ano!
A guerra de Obama no Afeganistão é o Chá do Chapeleiro
Maluco
[1]
. Após sete anos de conflito, ainda não há qualquer
missão definida nem cenário de fim de jogo para as forças
americanas no Afeganistão. Quando lhe perguntaram qual era a
missão, um militar americano disse à NBC News, "Francamente,
não temos nenhuma". A NBC noticia: "estão a trabalhar
nela".
Ao falar na Câmara dos Democratas em 5 de Fevereiro, o presidente Obama
reconheceu que o governo americano não sabe qual é a sua
missão no Afeganistão e que para evitar "o arrastamento de
uma missão sem parâmetros claros", os EUA "necessitam de
uma missão clara".
Gostariam de ser enviados para uma guerra, cuja intenção
ninguém conhece, incluindo o comandante do estado-maior que vos envia
para matar ou ser morto? Caros contribuintes, gostam de estar a pagar o custo
enorme em enviar soldados para uma missão indefinida enquanto a economia
desaba?
09/Fevereiro/2009
[1] Em 'Alice no País das Maravilhas', o Chapeleiro Maluco apresenta uma
adivinha: "Em que é que se parece um corvo com uma
escrivaninha?". Quando Alice desiste, o Chapeleiro reconhece que
também não sabe a resposta (N.T.)
[*]
Paul Craig Roberts foi secretário Auxiliar do Tesouro na
administração Reagan. É co-autor de 'The Tyranny of Good
Intentions'.
O original encontra-se em
http://www.counterpunch.org/roberts02092009.html
.
Tradução de Margarida Ferreira.
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
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