Fase de impacto da crise sistémica global:
Os seis aspectos da "Muito grande depressão americana" de 2007
Para a equipe LEAP/E2020, o ano de 2007 verá os Estados Unidos
mergulharem na "Muito grande depressão", ou seja, a rara
conjunção histórica de uma forte depressão
económica, de um colapso estratégico e de uma grande crise
política e social interna, que constituirá o cerne da fase de
impacto da crise sistémica global: crise imobiliária, crise
financeira, crise económica, guerra comercial, escalada comercial e
crise política serão os seis principais aspectos desenvolvidos no
GEAB Nº 11, conforme os eixos abaixo:
1- Taxa de poupança negativa e baixa anual dos preços do
imobiliário a nível nacional: dois importantes indicadores
económicos doravante no seu ponto mais baixo desde a crise dos anos 1930.
2- A "montanha russa" das taxas de juro americanas em 2007: baixa
acentuada na Primavera e grande alta no Outono.
3- O sector financeiro americano já entrou em falência: hoje a
Ownit, Mortgage USA Lenders, amanhã a Ameriquest, Wells Fargo, HSBC
Finances?
4- Médio Oriente: para mascarar seu fracasso no Iraque, a
administração Bush prepara a guerra intra-muçulmana de
xiitas contra sunitas e Israel o bombardeamento nuclear táctico do
programa atómico iraniano.
5- A China e a Rússia empenham-se em 2007 em repelir os Estados Unidos
para fora da Ásia Central e organizar a sequência da queda do
dólar.
6- Mercados emergentes, empréstimos imobiliários em risco: 2007
verá o grande retorno do risco nos mercados financeiros
e a conta
vai ser pesada após os anos de descuido.
Neste comunicado público, o LEAP/E2020 escolheu apresentar extractos dos
capítulos 1 e 4 que permitem ao leitor avaliar a amplitude da
depressão em vias de se desencadear. Mas primeiramente parece
importante precisar correctamente as razões das incertezas sobre o
futuro que dominam as análises neste princípio do ano 2007. A
principal causa pertence ao conceito de "nebulosidade
estatística".
A "nebulosidade estatística" da
entrada em recessão destina a por em dúvida que o Titanic
está mesmo prestes a afundar
A passagem de 2006 para 2007 ilustra perfeitamente a entrada na fase de impacto
da
crise sistémica global anunciada pelo LEAP/E2020. E como em toda
mudança de fase, a passagem pelo ponto zero é caracterizada pelo
que se pode chamar a "nebulosidade estatística", que vê
os indicadores apontarem em direcções opostas e as medidas darem
resultados contraditórios, com margens de erro doravante superiores ou
iguais às próprias medidas
[1]
.
Assim, quando o Titanic já está condenado, os passageiros da
primeira classe ainda dançam, persuadidos pelos oficiais que o
naufrágio é impossível.
No caso, para o planeta em 2007, o naufrágio que vai preocupar todo o
mundo é aquele dos Estados Unidos, que o LEAP/2020 decidiu chamar a
"Muito grande depressão", por um lado porque a
expressão "Grande depressão" já é
utilizada para a crise de 1929 e anos seguintes, por outro porque, para os
nossos investigadores, a natureza e a amplitude daquilo que se vai passar
é de uma dimensão inteiramente diferente.
E não são os discursos oficiais apaziguadores deste
princípio de 2007 que podem alterar grande coisa na
evolução já bem avançada. Basta, para
convencimento, por as declarações actuais em perspectiva com
aquelas anunciadas no princípio de 2006.
Taxa de poupança negativa e baixa anual dos preços do
imobiliário a nível nacional: dois indicadores americanos
principais doravante no seu ponto mais baixo desde a crise dos anos 1930
Assim, quando no princípio de 2006 a Reserva Federal americana e o
conjunto dos principais operadores e agentes de informação
económica e financeira negavam a existência de uma bolha
imobiliária (e portanto rejeitavam formalmente qualquer risco de crise
neste sector), o afundamento dos preços já havia começado
levando o imobiliário americano à sua maior crise desde os anos
1930 (aliás estes analistas falavam doravante da "depressão
imobiliária de 2007")
[2]
com, pela primeira vez desde essa época, uma baixa anual do preço
do imobiliário no conjunto do território dos Estados Unidos
[3]
. E a baixa do imobiliário americano não está terminada
mesmo que os dados oficiais tentem esconder a realidade, ao ponto de até
a CNN se mover e denunciar a desconexão entre números que
descrevem uma "realidade" mitigada e um mercado imobiliário
real a afundar na crise
[4]
. Assim, como relata um interessante estudo da Merryl Lynch, de fins de
Dezembro, o índice de compras imobiliárias da Universidade de
Michigan caiu para 41 (contra 45 anteriormente)
[5]
. O mercado vai portanto continuar a afundar por falta de compradores
[6]
.
Com as taxas de poupança negativas, a baixa anual do preço do
imobiliário é o segundo dado económico fundamental em
menos de um ano, a alcançar níveis jamais observados desde a
Grande depressão dos anos 30.
Médio Oriente: para mascarar seu fracasso no Iraque, a
administração Bush prepara a guerra intra-muçulmana de
xiita contra sunitas e Israel o bombardeamento nuclear táctico do
programa atómica iraniano
Assim, quando, há apenas um ano, o governo americano louvava o
êxito das eleições legislativas no Iraque e a
formação do novo governo, negando todo risco de
conflagração interna no país, a guerra civil já
havia começado para resultar hoje na escalada militar americana na
região e nas premissas de uma grande crise política interna nos
próprios Estados Unidos
A confrontação entre o Congresso democrata e a
administração Bush começou desde a entrada em
função dos novos eleitos, como anunciado em Setembro de 2006 no
GEAB Nº 7
. E isto não é senão o começo. A
aproximação das eleições presidenciais de 2008 vai
implicar uma radicalização dos dois campos na Primavera de 2008.
A tendência pró-israelense de grande parte dos tenores democratas
acumulada com a escolha pró-sionistas da administração
Bush coloca a crise israelo-iraniana na agenda washingtoniana dos
próximos três meses. Uma vez que G. W. Bush terá
constatado (na Primavera) que o acrescento de 20 mil soldados americanos no
Iraque em nada terá impedido (ao contrário) a extensão da
guerra civil, num contexto de depressão económica e de conflito
interno crescente, ele não encontrará "solução
política" senão numa nova aventura militar no Médio
Oriente. Seu aliado israelense Ehud Olmer tendo também necessidade
desesperada de "refazer" uma imagem de líder forte,
estão reunidas as condições ideais para a escalada contra
o Irão.
Para a equipe LEAP/E2020, parece pois claramente que se os Estados Unidos
aceitam a ideia de uma confrontação militar com o Irão ela
terá lugar na Primavera de 2007 e tentará assumir duas formas
complementares: por um lado, um ataque nuclear táctico israelense sobre
as instalações atómica iranianas, por outro, um conflito
"de terreno" sobre o solo iraquiano dissimulado sob a roupagem de uma
nova guerra de religião intra-muçulmana de xiitas contra sunitas
[7]
.
Além de este cenário estar na lógica guerreira das
decisões de G. W. Bush, todos puderam constatar que ele ignorou
soberbamente os conselhos diplomáticos da Comissão Baker-Hamilton
ou as vontades do novo Congresso democrata. Ele está igualmente em fase
com a relação incestuosa desta administração
americana com os grandes interesses financeiros e petrolíferos uma vez
que não só é um militar que está na origem do
"novo" plano para o Iraque, o general
Jack Keane
, como ele o redigiu
em cooperação com um universitário do American Enterprise
Institute, Frederik W. Kagan
[8]
, e, sobretudo, este general na reserva dirige uma empresa de consultoria,
é um consultor sénior da firma KKR e tem assento no conselho de
administração de grandes grupos americanos como a companhia de
seguros Metlife ou o grupo de armamentos General Dynamics e a socieade de
segurança
Allied Security Holdings
[9]
. Esta última é uma das principais firma privadas americanas no
domínio da segurança; a
General Dynamics
é a 6ª
sociedade mundial no domínio do armamento; e a
KKR, Kohlberg, Kravis Roberts & Co.
é um dos principais fundos de investimentos mundiais, que
em 2006 pagou as mais importantes indemnizações (US$ 837
milhões) aos principais bancos de negócios que o aconselham
(Goldman Sachs, de que em números anteriores já se descreveu as
relações estreitas com a administração Bush).
Notas
1- Como a equipe LEAP/E2020 pôde constatar para as estimativas dos
números do emprego americano em Dezembro de 2006 ou as previsões
de vendas a retalho nos EUA em Novembro de 2006: ver
Chiffres de décembre 2006 sur l'emploi américain : une dés-information de masse camouflant une forte diminution de l'emploi américain
e
Seul le Père Noël connaît le vrai chiffre des ventes de détail aux Etats-Unis pour Novembre 2006
. Assim, para as
vendas a retalho nos Estados Unidos em Novembro de 2006, o número
"afinado" (mas não ainda definitivo) foi fixado em 12 de
Janeiro de 2007 em 0,6% ao invés dos 1% anunciados. Aguardemos portanto
algumas semanas para ver quanto vão-se tornar os 167 mil empregos novos
de Dezembro de 2006. Depois de a "nebulosidade estatística"
se dissipar.
2- Fonte:
The real estate depression of 2007
, Alex Gabor, OpEdNews,
06/01/2007
3. Fonte:
Standard and Poor's / BusinessWeek
, 04/01/2007
4- Fonte:
Housing market pain not revealed by stats
, CNN Money,
11/01/2007
5- Fonte:
Merrill Lynch
, 22/12/2006
6- Todo resultado abaixo dos 50 indica uma contradição do
mercado; e quanto mais o número se afastar dos 50 para a baixa, mais se
degradará a situação.
7- Fonte « Exit US, Enter Saudi in Long Intra-Muslim War », Claude
Salhani,
WhiteHouse Chronicle
, 30/11/2006 and
Washington Times
, 02/12/2006
8- Fonte:
The Redhunter
, 19/12/2006
9- Fonte:
Metlife
[*]
Global Europe Anticipation Bulletin, N°11, 15/Jan/2007
O original encontra-se em
http://www.leap2020.eu/
Este texto encontra-se em
http://resistir.info/
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