A "nudez odiosa" das guerras imperiais
A doutrina de choque de Rosa Luxemburgo
A "Doutrina de choque", de Naomi Klein, publicada em 2007, trata de
um modo suave a dependência da economia capitalista quanto a eventos
cataclísmicos para o seu progresso. Estes eventos deslocam
milhões e provocam sofrimentos pessoais a um número ainda maior,
enquanto asseguram a sobrevivência do capital.
Um século atrás houve uma outra mulher que levou esta
observação mais além e dedicou a sua vida para acabar com
o capitalismo. Seu nome era Rosa Luxemburgo. Era uma polonesa que dedicou a
vida à revolução socialista e foi assassinada em 1919 pelo
governo social democrata da Alemanha pela sua crença sem compromissos
naquela revolução. A editora Haymarket Books de Chicago divulgou
recentemente uma nova edição de dois dos seus ensaios mais
conhecidos sob o título
The Essential Rosa Luxemburg
. O volume é editado por Helen Scott, professor de literatura da
Universidade de Vermont, e inclui uma introdução sua com
várias páginas. O seu resumo histórico que antecede os
dois panfletos reimpressos não só proporcionam ao leitor
visão do momento histórico em que as peça foram escritas
como também uma breve biografia de Luxemburgo e relaciona os seus
argumentos políticos às circunstâncias de hoje. O livro
inclui dois ensaios de Luxemburgo: "Reforma ou
revolução" e "A greve de massa".
Se bem que ambos sejam historicamente interessantes, é o primeiro ensaio
deste livro que tem relevância particular para o mundo de hoje. Em
especial, a discussão de Luxemburgo quanto ao capitalismo e a democracia
fala ao mundo em que hoje vivemos. Como residentes do país que nunca
cessou de auto-proclamar-se como o mais democrático do mundo, é
importante prestar atenção às observações de
Luxemburgo referentes à natureza das formas democráticas e da
verdadeira democracia. Quando Washington exportava a sua versão de
democracia para todo o mundo no rastro da Segunda Guerra Mundial, as
populações de muitos países do terceiro mundo descobriram
que esta democracia não era nada mais que um eleição
destinada a pavimentar o caminho para a exploração imperial e a
dominação estado-unidense. Não havia democracia para
aqueles que não faziam parte das elites dominantes. Isto é
democracia capitalista e isto é o que Washington leva a outros
países em nome da liberdade.
Além disso, Luxemburgo argumenta que quando aquelas formas
democráticas contrariam os interesses da elite
capitalista elas também são desfeitas. Países do Terceiro
Mundo dominados por golpes militares/da CIA, como o Chile e a Grécia,
sabem isto demasiado bem. Ainda assim, mesmo aqui nos EUA aquelas formas
estão a ser desfeitas. Sob o disfarce da segurança interna,
muitas das liberdades garantidas na democracia estado-unidense foram
dissolvidas. Muitas outras desapareceram sob o disfarce de uma guerra contra
as drogas. Na verdade, mesmo o processo eleitoral dos EUA foi usurpado em 2000
sob o disfarce de proteger os supostos direitos minoritários de George
Bush e aqueles que por ele votaram na Florida. Tal como o liberalismo, uma vez
que já não sirva aos propósitos do capitalismo, ele
é descartado. A história dos EUA e da Grã-Bretanha ao
longo dos últimos trinta anos certamente prova isto uma
história em que mesmo liberais são conservadores (como Blair e
Clinton) e os candidatos liberais de hoje modificam suas
declarações para agradar a maior parte dos comentadores e redes
da extrema direita.
Outro assunto tratado por Luxemburgo e bastante relevante para os dias de hoje
é a utilização do crédito para expandir o poder de
compra da classe trabalhadora. No seu ensaio "Reforma ou
revolução", o qual é escrito como uma
argumentação contra o reformista social democrata Bernstein,
Luxemburgo ridiculariza sua caracterização do crédito como
uma "adaptação" do capitalismo. Na realidade,
argumenta ela, o crédito não apenas uma adaptação,
mas reproduz "todos os antagonismos fundamentais do capitalismo". Na
verdade, escreve ela, ele acentua aqueles antagonismos. O leitor de hoje
não precisa senão olhar o actual colapso económico que
começou no mercado habitacional porque os bancos e suas agências
avançaram crédito a pessoas que eles sabiam não serem
capazes de cumprir os acordos que assinaram como prova da
declaração de Luxemburgo.
O auge disto tudo é a guerra imperial. Luxemburgo foi mais clara sobre
o papel que esta forma de assassínio em massa desempenha para facilitar
a expansão do capital do que qualquer outra pessoa. Ela sabia e
escreveu abundantemente sobre como a guerra é essencial para o
desenvolvimento capitalista. A guerra imperial, escreveu ela, mostra o
capitalismo em "toda a sua odiosa nudez". Esta nudez sangrenta
não é apenas essencial para o desenvolvimento capitalista, mas
este depende dela. Como escrevi, o actual regime em Washington está a
progredir na sua mobilização para a guerra ao Irão,
enquanto os seus opositores liberais no Partido Democrático dão
palavras de apoio a este esforço para ganhar o controle da banha que
movimenta os motores do capital petróleo.
Enquanto isso, outras guerras por energia do imperialismo estado-unidense
continuam a arrastar-se, em parte porque a oposição a tais guerra
está confundida e impotente. Tal como a guerra no tempo de Luxemburgo,
o actual impulso rumo a uma guerra maior é primariamente acerca do
lucro. É uma desgraça (para dizer o mínimo) que ainda
tenhamos de aprender as lições que Luxemburgo e seus
contemporâneos entenderam a uma centena de anos atrás acerca de
tais guerras, especialmente porque as armas hoje utilizadas são ainda
mais mortais do que aquelas da Primeira Guerra Mundial. Igualmente
desgraçado é o facto de que aqueles que se opõem à
guerra imperialista tenham de aprender outra vez as lições de
outras partes do mundo do incrível movimento contra tais guerras.
Autor de
The Way the Wind Blew: A History of the Weather Underground
e
Short Order Frame Up
. O seu ensaio Big Bill Broonzy é apresentado na colecção
do CounterPunch,
Serpents in the Garden: Liaisons With Culture & Sex
. Email:
rjacobs3625@charter.net
.
O original encontra-se em
http://www.counterpunch.org/jacobs05102008.html
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
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