A História diz-nos que uma das mais insustentáveis
combinações políticas, é um país como
são hoje os Estados Unidos tentar ser internamente uma democracia
e externamente um império. A razão porque isto é assim,
pode ser bastante abstracta. Talvez a melhor forma de exprimir o meu pensamento
seja dizer algumas palavras sobre meu novo livro,
Nemesis
e explicar porque lhe dei o subtítulo:
"Os últimos dias da república americana".
Nemesis
é o terceiro livro que resultou da minha pesquisa realizada ao longo
dos últimos oito anos. Nunca tive a intenção de escrever
uma trilogia sobre a nossa democracia, cada vez mais posta em perigo, mas como
me tenho deparado continuamente com evidencias de um legado resultante da
pressão imperialista que exercemos sobre muitos países, assim
como sobre a Natureza e com a dimensão do nosso império militar,
foi surgindo um livro após o outro.
Profissionalmente, sou especialista em história e política de
Ásia Oriental. No ano 2000, publiquei
Blowback: The Costs and Consequences of American Empire
, porque as minhas pesquisas na China, no Japão, e nas duas Coreias,
persuadiram-me de que as políticas por nós desenvolvidas naquela
região teriam sérias consequências no futuro. O livro foi
notado na ocasião, mas só depois do 11 de Setembro é que o
expressão da CIA que adaptei como título
"blowback"
[1]
se tornou uma palavra corrente, e o meu livro um
"best-seller".
A minha intenção foi exactamente explicar a razão que
levou o nosso governo a ser tão odiado por todo o mundo. O
termo da gíria da CIA, "blowback", não significa apenas
retaliação por coisas que o nosso governo tenha feito para, ou
em, países estrangeiros. Diz respeito especificamente a
retaliação devida a operações ilegais efectuadas
no estrangeiro
que foram mantidas totalmente secretas para o público americano.
Estas operações incluíram o derrube clandestino de
governos que não eram do agrado da administração
norte-americana, o treino de exércitos estrangeiros em técnicas
de terrorismo estatal, a burla de eleições em países
estrangeiros, a interferência com a viabilidade económica de
países que pareciam ameaçar os interesses das
corporações norte-americanas influentes, assim como a tortura ou
assassínio selectivo de estrangeiros. O facto de estas
acções serem, pelo menos originalmente, secretas, significa que
quando surge uma reacção de retaliação como,
espectacularmente, aconteceu no dia 11 de Setembro de 2001 o
público americano é incapaz de avaliar estes acontecimento dentro
do contexto. Não surpreende então que os americanos tendam a
apoiar actos imediatos de vingança com a pretensão de punir os
verdadeiros, ou suspeitos, autores. Obviamente que estas reacções
violentas apenas preparam o terreno para iniciar um novo ciclo de
"blowback".
Um mundo de bases militares
Na continuação de minha odisseia analítica, comecei
então por pesquisar a rede das 737 bases do exército americano
que mantemos por todo o mundo (de acordo com o próprio inventário
oficial do Pentágono de 2005). Não considerando os conflitos do
Iraque e do Afeganistão, temos hoje em dia para cima de meio
milhão de tropas norte-americanas, espiões, contratados,
dependentes, e outros, em bases militares localizadas em mais de 130
países, muitos deles presididos por regimes ditatoriais que não
deram voz aos seus cidadãos na decisão de nos permitir a
instalação das nossas bases.
Vejamos um exemplo notável de uma política de base imperial:
Durante os últimos 61 anos, o exército norte-americano ocupou
militarmente a pequena ilha japonesa de Okinawa com 37 bases. Mais pequena do
que a ilha havaiana Kauai, Okinawa tem 1,3 milhão de habitantes que
coexistem com 17 mil militares da 3ª Divisão Naval e com a maior
instalação militar norte-americana na Ásia Oriental
a base aérea de Kadena. Registaram-se muitos protestos em Okinawa
devidos a estupros, crimes, acidentes, e poluição causados por
este tipo de concentração de tropas e armamento americano, no
entanto, no máximo o exército norte-americano com a
conivência do governo japonês ignorou-os. O resultado da
minha pesquisa está exposto em
The Sorrows Of Empire: Militarism, Secrecy, And The End Of The Republic
escrito no decurso da invasão de Iraque.
Na medida em que as nossas actividades no Afeganistão e no Iraque se iam
transformando em enormes fiascos, desacreditando a nossa liderança
militar, arruinando as nossas finanças públicas, e trazendo a
morte e a destruição a centenas de milhares de civis nesses
países, eu ia reflectindo sobre este assunto do império. Durante
estes últimos anos, tornou-se já claro que o George W. Bush, Dick
Cheney, e os seus partidários reivindicavam, e assumiam activamente,
poderes especificamente negados pela nossa constituição a
qualquer presidente. Tornou-se igualmente claro que o Congresso abdicou, quase
por completo, das suas responsabilidades de equilibrar o poder do governo.
Apesar da contundente vitória do Partido Democrata nas
eleições de 2006, está por ver se estas tendências
podem, a longo prazo, ser controladas sem falar em reverte-las.
Até às eleições presidenciais de 2004, qualquer
cidadão norte-americano poderia afirmar que, pelo menos a nossa
política externa, incluindo a nossa invasão ilegal do Iraque,
resultava das decisões da administração de George Bush que
não tinha sido eleito por nós. Afinal de contas, em 2000, Bush
perdeu o escrutínio popular, mas foi designado presidente graças
a uma decisão do Tribunal Supremo baseada numa votação de
5-4. No entanto, em Novembro de 2004, não obstante as
reclamações de fraude eleitoral, Bush ganhou na verdade o
escrutínio popular por mais de 3,5 milhões de votantes, tornando
nosso o seu regime e as suas guerras.
Acontece que actualmente, quer tenha ou não sido intenção
dos americanos, somos vistos por todo o mundo como aqueles que aprovam a
tortura dos prisioneiros em Abu Ghraib no Iraque, na base aérea de
Bagram em Kabul, na baía de Guantanamo em Cuba, e numa rede global de
prisões secretas da CIA, assim como somos vistos por termos aprovado as
alegações de Bush que, como comandante supremo em "tempo de
guerra", o coloca acima de todos os constrangimentos da
Constituição ou da lei internacional. Actualmente estamos
envolvidos com uma economia fraudulenta que tem por base défices
comerciais e fiscais recordes, com o governo mais secreto e intrusivo de que
há memória no nosso país, e com a
continuação de uma guerra "preventiva" como base da
nossa política externa. Também não nos devemos esquecer da
potencial epidemia que pode ser a proliferação nuclear, que
resulta da tentativa das outras nações se ajustarem e se
defenderem das guerras preventivas de Bush, enquanto o nosso já
surpreendente arsenal nuclear se vai expandindo para a primazia do primeiro
ataque, e vamos despendendo somas incalculáveis em ideias futuristas de
guerras espaciais.
A escolha pela frente
Quando escrevia
Nemesis,
já não duvidava que, para manter o nosso
império no estrangeiro, seriam exigidos recursos e compromissos que
inevitavelmente estavam diminuídos, ou eram simplesmente marginais, em
resultado da nossa democracia, que poderia em última instancia vir a
criar uma ditadura militar ou muito mais provavelmente o seu
equivalente civil. A combinação de grande quantidade de
forças militares permanentes, de guerras quase contínuas, de uma
sempre crescente dependência económica do complexo
industrial-militar e do fabrico de armamento, e de despesas militares ruinosas,
assim como de um orçamento de "defesa" vasto e engordado, para
não falar da criação de um completo segundo Departamento
de Defesa (conhecido por Department of Homeland Security), tem destruído
a nossa estrutura republicana de governo, em favor de uma presidência
imperial. Por estrutura republicana de governo, obviamente, entendo
separação de poderes e elaborados controlos e equilíbrios
que os fundadores de nosso país consignaram na
Constituição como os principais bastiões contra a ditadura
e a tirania que muito temiam.
Estamos à beira de perder a nossa democracia em virtude de querermos
manter o nosso império. Uma vez que uma nação tome este
caminho, a dinâmica aplicada a todos os anteriores impérios entra
em acção o isolamento, o forçar demasiado as
situações, a união das forças locais e globais que
se opõem ao imperialismo, e no final, a falência.
A História é bastante esclarecedora acerca deste dilema. Se
escolhermos manter o nosso império, como fez a república romana,
perderemos certamente a nossa democracia e esperaremos o eventual
"blowback" gerado pelo imperialismo. Existe no entanto uma
alternativa. Podemos, tal como fez o império britânico depois da
II Guerra Mundial, manter a nossa democracia deixando o nosso império.
Os britânicos não fizeram um trabalho particularmente brilhante de
liquidação do seu império, registando-se
situações concretas de os imperialistas britânicos, para
continuarem a usufruir dos privilégios no estrangeiro, chegarem a
pôr em causa o compromisso da nação para com a democracia.
A guerra contra os Kikuyus no Quénia nos anos cinquenta e a
invasão anglo-franco-israelense do Egipto, em 1956, são exemplos
particularmente selvagens disso mesmo. Mas o conjunto de acontecimentos da
história britânica pós-guerra, em termos globais, é
muito claro: as pessoas das Ilhas Britânicas escolheram a democracia em
lugar do imperialismo.
No livro da filósofa política Hannah Arendt,
The Origins of Totalitarianism,
pode-se ler o seguinte resumo acerca do imperialismo britânico e do seu
destino:
"De um modo geral foi um fracasso em virtude da dicotomia existente entre
os princípios legais do estado-nação e os métodos
necessários para oprimir de modo permanente os outros povos. Este
fracasso não foi nem necessário nem devido a ignorância ou
a incompetência. Os imperialistas britânicos sabiam perfeitamente
que os "massacres administrativos" poderiam manter a Índia na
escravidão, mas também sabiam que a opinião pública
inglesa não apoiaria tais medidas. O imperialismo poderia ter sido um
sucesso se o estado-nação se dispusesse a pagar o preço de
suicidar-se e transformar-se numa tirania. O facto de se ter preferido acabar
com o império, representa uma das glórias de Europa, mas muito
especialmente da Grã Bretanha".
Concordo com este julgamento. Quando se observa o desnecessário e
fútil apoio do primeiro-ministro Tony Blair à invasão de
Bush e à ocupação do Iraque, só se pode concluir
que esse apoio não foi mais do que uma resposta atávica,
representando um desejo britânico para reviver as glórias e
as crueldades de um passado que deveria pertencer a uma história
já antiga.
O imperialismo, como uma forma de governo, não procura nem requer o
consentimento dos governados. É uma forma pura de tirania. A tentativa
americana de combinar democracia interna com o controlo tirânico sobre
povos estrangeiros, é desesperadamente contraditória e
hipócrita. Um país pode ser democrático ou imperialista,
mas não pode ser ambas as coisas.
O caminho para a falência imperial
O regime político americano não impediu que esta
combinação se desenvolvesse e agora pode já
não ser capaz de corrigir esta situação. Existem fortes
evidências de que, em presença da presidência imperial, as
vias legislativas e judiciais de nosso governo tornaram-se tão servis
que perderam, em grande parte, a capacidade de responder com princípios
e com independência. Inclusivamente com o actual momento de animo que se
vive no Congresso, parece haver ali um profundo sentido de desamparo.
Vários congressistas já tentaram explicar que apesar do evidente
poder que detêm para cortar fundos destinados a programas
desastrosos não estão actualmente preparados para o usar.
Assim a pergunta que se coloca é a de saber se o povo é, por ele
próprio, capaz de restabelecer o governo constitucional, uma vez que
não se pode contar com o Congresso para esse efeito. Um movimento de
base para abolição do governo secreto, trazer a CIA e outras
operações ilegais de espionagem e exércitos privados para
fora do armário do poder imperial e expô-lo à luz do dia,
romper as ligações com o complexo industrial-militar, e
estabelecer um financiamento público genuíno dos processos
eleitorais, pode ser pelo menos teoricamente concebível. Mas dado o
controlo exercido pelo conglomerado dos nossos meios de
comunicação de massas, e as dificuldades de mobilizar a nossa
grande e diversificada população, como seja para se optar por uma
democracia popular, tal como foi feito no passado, parece bastante
improvável vir a acontecer tal movimento.
É possível que, em algum momento futuro, o exército
norte-americano possa realmente assumir o governo e declarar uma ditadura
(ainda que os seus comandantes encontrassem uma designação mais
suave, mais amigável para isso). Afinal de contas, foi assim que a
Republica Romana terminou transformando-se num general populista,
Júlio César acabou por ser declarado ditador vitalício.
Depois do seu assassinato e de um curto interregno, foi o seu sobrinho-neto
Otávio que o sucedeu tornando-se no primeiro imperador romano, Augusto
César. Não é provável que o exército
americano vá por esse caminho. Mas não se pode ignorar o facto de
os oficiais militares profissionais terem tido uma responsabilidade
preponderante na liberdade de acção adquirida pelo seu
chefe-supremo civil, o secretário da Defesa Donald Rumsfeld. Os novos
directores da CIA, dos seus principais departamentos, da Agência de
Segurança Nacional, e de muitos outros órgãos fundamentais
da "instituição de defesa", são presentemente,
oficiais militares (ou ex-militares), o que sugere que o exército
não precisa de assumir o governo para controlar a
situação. Por outro lado, os militares voluntários emergem
como se fossem uma instituição cada vez mais separada da nossa
sociedade, com um perfil cada vez menos de acordo com a população
em geral.
No entanto, golpes militares, mesmo decorosos, não fazem parte da
tradição americana nem do corpo de oficiais, que deveria ficar
bastante preocupado com a reacção colectiva dos cidadãos a
um movimento que tendesse para uma ditadura militar aberta. Além disso,
as acusações a militares que exerceram torturas de baixo
nível na prisão de Abu Ghraib, e o assassínio de civis no
Iraque, mostraram às tropas que obedecer a ordens ilegais pode resultar
numa penalidade pesada, não atingindo os de elevada patente.
Ninguém sabe se o soldado comum, considerando mesmo que já
não possui o normal sentido de um exército de cidadãos,
deveria obedecer sem hesitação a ordens para desalojar um governo
eleito, ou se o corpo de oficiais teria já suficiente confiança
para emitir tais ordens. Além disso, o presente sistema já
oferece bastante ao alto comando militar em fundos, prestígio, e
emprego futuro pela afamada "porta rotativa" do complexo
industrial-militar e uma transição perigosa para qualquer
coisa equivalente a um envolvimento militar directo, teria pouco sentido em
condições razoavelmente normais.
Independentemente dos desenvolvimentos que se venham a registar, a minha forte
convicção é de que os EUA vão continuar a manter um
governo constitucional de fachada, até serem surpreendidos pela
falência financeira. Claro que a falência não
significará o fim literal dos EUA tal como não foi para a
Alemanha em 1923, para a China em 1948, ou para a Argentina em 2001/2002. Na
realidade, poderia abrir o caminho para uma inesperada
restauração do sistema americano ou das leis militares, ou
para a revolução, ou simplesmente para algum novo desenvolvimento
que ainda não conseguimos vislumbrar.
Certamente, uma tal bancarrota significaria a redução
drástica do nosso padrão de vida, a perda do controlo nos
assuntos internacionais, uma necessidade súbita de se ajustar à
ascensão protagonismo de outras potências, incluindo a China e a
Índia, e um maior descrédito da noção de que, em
comparação com outros países, os EUA são de algum
modo excepcional. Teremos de aprender o que significa ser um país
extremamente pobre assim como as atitudes e modos gerados por essa
situação. Como observou
Anatol Lieven
, autor de
America Right or Wrong: An Anatomy of American Nationalism:
"O poder global norte-americano, como é presentemente concebido
pela maioria opressora da elite no poder, é insustentável... O
império já não pode aumentar, para um nível que lhe
seja suficiente, nem os impostos nem o número de soldados, está
crescentemente endividado, e os estados vassalos chave já não
são confiáveis... O resultado disto é que o império
já não pode pagar o suficiente às tropas profissionais que
necessita para cumprir as suas auto-assumidas tarefas imperiais".
Em Fevereiro de 2006, a administração Bush submeteu ao Congresso
um orçamento de defesa de 439 mil milhões de dólares para
o ano fiscal de 2007. Assim que o país entrou em 2007, a
administração apresentou de novo ao Congresso um pedido
suplementar de quase 100 mil milhões de dólares só para as
guerras do Iraque e do Afeganistão. Enquanto isso, o défice de
transacções correntes do país o
desequilíbrio no comércio de bens e serviços, assim como
nas receitas do estrangeiro de juros de aplicação de capitais, e
a dividendos e lucros devidos a rendimentos sofreu já a sua mais
rápida deterioração trimestral de sempre. Para 2005, o
défice de transacções correntes era 805 mil milhões
de dólares, 6,4% do PIB nacional. Em 2005, o défice do
comércio norte-americano, o maior componente do défice de
transacções correntes, disparou para o défice mais elevado
de sempre, 725,8 mil milhões de dólares, o quarto ano consecutivo
em que a dívida comercial dos EUA bateu recordes. Só com a China,
o défice comercial atingiu 201,6 mil milhões de dólares, o
valor mais elevado alguma vez registado com um país estrangeiro.
Entretanto, desde meados de 2000, o país perdeu quase três
milhões de postos de trabalho na indústria.
Para tentar conter estes desequilíbrios, em 16 de Março de 2006 o
Congresso elevou o limite de dívida interna de 8.200 para 8.960 mil
milhões de dólares. Desde que o George W. Bush entrou em
funções, foi já a quarta vez que este limite teve de ser
elevado. A dívida pública é o total em dívida da
responsabilidade do governo e não deve ser confundida com o
défice do orçamento federal, isto é, o montante
líquido anual pelo qual as despesas federais excedem as receitas. Se o
Congresso não tivesse elevado o limite, o governo norte-americano
não poderia pedir emprestado mais dinheiro, tornando-se incapaz de fazer
face ao pagamento das suas enormes dívidas.
Os dois maiores credores que financiam estas somas sem precedentes são
os bancos centrais da China (com 853,7 mil milhões de dólares em
reservas) e do Japão (com 831,58 mil milhões de dólares em
reservas), que são os administradores dos enormes excedentes comerciais
com os Estados Unidos. Isto ajuda a entender porque o nosso fardo da
dívida ainda não despoletou o que a teoria económica
padrão determinaria: um declínio agudo do valor do dólar
norte-americano seguido por uma severa contracção da economia
americana quando descobrirmos que não podemos mais dispor dos bens
estrangeiros de que tanto gostamos. Até agora, tanto o governo
chinês como o japonês continuam dispostos a serem pagos em
dólares a fim de sustentar as compras americanas das suas
exportações.
A bem do seu próprio nível de emprego interno, ambos os
países emprestam enormes quantias ao Tesouro americano, mas não
existe qualquer garantia de por quanto tempo mais eles quererão, ou
poderão, continuar a fazê-lo. Marshall Auerback, um estratego
financeiro internacional, diz que nos tornámos numa "economia
Blanche de Dubois" (assim nomeada pelo estilo de liderança da
peça de Tennessee Williams:
Uma rua chamada desejo, A Streetcar Named Desire
) fortemente dependente da "bondade de estranhos". Infelizmente, no
nosso caso, como no de Blanche, há cada vez menos estranhos dispostos a
suportar as nossas ilusões.
Assim a minha esperança é de que se o povo americano
não encontrar uma forma de optar pela democracia ao invés do
império ao menos a nossa aventura imperial não termine
com uma explosão nuclear e sim com um desastre financeiro.
Deste ponto de vista, para qualquer presidente (ou Congresso) de qualquer dos
partidos, é certamente um tremendo desafio iniciar a tarefa de
desmantelar o complexo industrial-militar, terminar com a mortalha do segredo
da "segurança nacional" e dos "orçamentos
negros" que fazem omissão pública daquilo que nos parece
impossível que o nosso governo possa fazer, e trazer o exército
secreto do presidente, a CIA, para debaixo do controlo democrático.
É evidente que Nemesis em mitologia grega, a deusa da
vingança, a castigadora do orgulho e da arrogância é
já uma visitante do nosso país, simplesmente a aguardar o momento
para tornar conhecida a sua presença.
[*]
Professor jubilado de Estudos Asiáticos da
Universidade de Califórnia, San Diego. De 1968 a 1972, serviu
como consultor do Office of National Estimates da Central Intelligence
Agency.
Nemesis: The Last Days of the American Republic
, o último volume da Trilogia da sua
Blowback Trilogy,
foi publicado em Fevereiro de 2007. Em 2006 participou no documentário
premiado
Why We Fight.
[1]
Blowback: literalmente, explosão para trás. Também
poderia ser traduzido por "tiro pela culatra".
Livros encomendados à Amazon.fr através dos links nesta página permitem
que resistir.info receba uma pequena comissão.
Este artigo encontra-se em
http://www.commondreams.org/views07/0131-27.htm
Tradução de MJS.
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
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