Blair, Obama e a defesa do narcisista

por Chris Floyd [*]

Todos nós assistimos nos últimos dias a duas asquerosas erupções de nulidade moral que poriam à prova os poderes de um Voltaire ou de um Vidal, para lhes fazer a devida justiça; eles bem que exultaram com os meus pobres dotes jornalísticos. Mas mesmo assim vou esboçar algumas observações, nem que seja para juntar mais uma modesta voz aos que testemunham os males perpetrados pelos nossos inimputáveis líderes.

Estamos a falar, é claro, do discurso de aceitação do Prémio Nobel de Barack Obama e dos mais recentes comentários de Tony Blair sobre a Guerra do Iraque. Tratemos primeiro da personalidade menos importante.

I.

Desde que deixou o cargo oficial, Tony Blair meteu o seu focinho manchado de sangue em várias gamelas corporativas, acumulando milhões, enquanto simultaneamente se tornava num dos grandes sepulcros branqueados dos nossos dias, fazendo grande alarde da sua conversão ao Catolicismo, a sua "fé de base", e por aí adiante. Chegou mesmo a dar conferências na Yale Divinity School. Mas este piedoso vendedor ambulante parece cada vez mais assombrado. Os olhos brilhantes e esbugalhados, a abertura agitada do seu sorriso irónico – indistinguível do esgar de um homem em sofrimento – e a defesa cada vez mais estridente e alienada dos seus crimes de guerra são um testemunho emocionante dos fogos infernais que consomem a sua alma.

No próximo mês, Blair apresentar-se-á perante a Comissão de Inquérito Chilcot, um painel de sumidades da estrutura social do Reino Unido, encarregado da investigação das origens do papel britânico na invasão do Iraque. Embora estas sumidades tenham sido, até esta altura, extraordinariamente balbuciantes no seu interrogatório aos poderosos e aos bons – o cheiro da cal branqueadora está de facto no ar –, a investigação cumpriu pelo menos a útil função de trazer à memória do público a questão esquecida do Iraque, à medida que confrontava e confirmava, com base em declarações sob juramento, muito do que nos fomos apercebendo às pinguinhas ao longo dos anos sobre a repugnante e deliberada fraude por detrás desta catástrofe atroz. Um dos achados que surgiram do inquérito foi a revelação de que a atracção principal do argumento de Blair para uma guerra imediata – a pretensão de que Saddam Hussein poderia atingir a Europa com mísseis de destruição maciça apenas com um aviso de 45 minutos – veio de uma conversa não confirmada posta a circular por um taxista iraquiano.

À medida que se aproxima a reviravolta de Blair na bem enchumaçada almofada Chilcot, este lançou esforços frenéticos para manter secreto o seu testemunho, enquanto ao mesmo tempo tenta minar a base racional de toda a investigação sobre as origens da guerra, que tem realçado a pretensa justificação para a invasão:   tornar inofensivas a armas de destruição maciça (inexistentes) do Iraque. Então, a semana passada, Blair deu uma entrevista a um cordial e tímido apresentador na qual admitiu descaradamente – ou melhor, vangloriou-se orgulhosamente – de que teria encontrado uma forma de levar a Grã-Bretanha a entrar em guerra com o Iraque mesmo que tivesse a certeza de que Saddam Hussein não tinha armas de destruição maciça (ADM). (E, claro, dada a natureza dos "serviços secretos" que Blair usou no período antes da guerra nas suas pretensões de ADM, é certo que realmente estava convencido de que Saddam não tinha tais armas quando a invasão começou.)

Por isso, agora a convicção de Blair é que não existe acusação a refutar no que diz respeito às origens da guerra; todos estes disparates sobre as ADM não fazem sentido. Teria encontrado "outros argumentos" para convencer os britânicos a seguir George W. Bush para a guerra que os militaristas norte-americanos já há muito planeavam.

A confissão de Blair originou uma resposta extraordinária de um outro mandarim do establishment, Sir Ken Macdonald, que esteve durante cinco anos na função de Acusador Público sob o governo de Blair – e agora trabalha no sector privado numa firma de advogados muito importante … junto com a esposa de Tony Blair, Cherie. A manchete do The Times não deixa dúvidas: "Embriagado pelo poder, Blair impingiu-nos a guerra". Na sua coluna, Macdonald escreve:

"A intensidade da fraude envolvida na nossa decisão de entrar na guerra do Iraque vai-se tornando aos poucos mais clara. Esta foi uma vergonha de proporções épicas para a política externa e andar a tocar alguém com os pés por debaixo da mesa num programa televisivo da manhã de Domingo nada faz para reparar os danos. Agora é muito difícil evitar a conclusão de que Tony Blair tomou parte de um preocupante subterfúgio com o seu parceiro George Bush e de que convenceu e enganou o povo britânico a entrar numa guerra mortal que estes tinham a perfeita consciência de não querer, e ainda por cima, apoiada num fundamento que é cada vez mais difícil de acreditar que o próprio Blair tenha considerado verdadeiramente crível.

"O principal problema do Sr. Blair foi o seu sicofantismo em relação ao poder. Isto poderá parecer estranho num homem que em casa bebeu tanta daquela cerveja estonteante. Mas Washington deu-lhe a volta à cabeça e Blair foi incapaz de resistir ao palco ou ao prestígio que lhe era oferecido. Neste sentido, foi um fraco e, como podemos ver, continua a ser. Desde esses tristes dias ouvimo-lo constantemente a repetir o mantra egoísta segundo o qual "Juro que apenas fiz o que considerei certo". Mas esta é a defesa de um narcisista e acreditar em si próprio não é resposta a um juízo erróneo: de qualquer forma nunca seria a resposta à morte. "Yo, Blair", provavelmente, era a sua verdadeira medida."

Macdonald também nos permite dar uma espreitadela furtiva no modo de funcionamento da elite, com observações que sem dúvida se aplicam igualmente bem ao outro lado do oceano:

"Na vida pública dos britânicos, a lealdade e o serviço ao poder podem por vezes ter mais valor para os insidiosos do que uma qualquer pergunta manhosa de reputação mais vasta. O que interessa, na verdade, é a forma como os teus pares te vêem, por isso a firmeza da expressão perante um ataque e uma ameaça de escândalo produz a sua própria rica hierarquia de honra e recompensa. A deslealdade, por outro lado, significa uma terrível expulsão, um exílio romano rochoso e árido que poucos têm a coragem de enfrentar. Então, para que lado vão saltar os nossos heróis?

"Só nos resta esperar que para o lado certo – pois é precisamente esta natureza secretamente combinada do poder do establishment britânico, inflexível para além de qualquer compreensão perante o mundo moderno, que fez com que a nossa política decaísse tanto. Se Chilcot não conseguir revelar a verdade sem medo desta história de violência e destruição do Médio Oriente, o inquérito será merecidamente olhado com desprezo".

É quase certo que o inquérito Chilcot irá produzir pouco mais do que o branqueamento habitual, salpicado aqui e ali por umas manchas de sangue. Tony Blair também não terá de enfrentar nenhum processo oficial pelos seus crimes; nem sequer deverá perder nenhum dos seus patrocinadores do mundo empresarial, ao contrário do abominável Tiger Woods , cuja intimidade sexual com maiores de idade é obviamente muito pior do que o assassinato de mais de um milhão de inocentes. (Agora nunca veremos Woods a dar conferências na Yale Divinity School!)

Mas continuem a olhar para Blair; observem, a cada ano, à medida que irá trazer à luz os frutos hediondos do inferno interior. Pois, como afirmou certo dia um dos seus conterrâneos: "O assassínio, embora não tenha língua, falará através de órgãos prodigiosos".

II.

"A defesa de um narcisista". Tal como a descrição do discurso de aceitação do prémio Nobel da Paz, a expressão de Macdonald dificilmente poderia ser mais acertada. Mas a intensa e quase patológica auto-estima presente no discurso não foi somente de Obama, claro; temos de lhe reconhecer o mérito de reconhecer que, quanto a isto, pelo menos, ele foi aquilo que nós muitas vezes queremos que os nossos governantes sejam: a corporização da nação. A sua ambiciosa declaração do carácter excepcional dos EUA, num espaço supostamente dedicado aos princípios universais da paz, foi impressionante no seu descaramento – mas completamente em harmonia com os sentimentos da vasta maioria dos seus conterrâneos e, acima de tudo, em harmonia com os sentimentos da elite.

Muitos já repararam na adopção por Obama do princípio de Bush de uma acção militar unilateral e preventiva, a qualquer momento, em qualquer lugar, sempre que um governante declare que a sua nação está sob ameaça. Esta abordagem – que Bush designava de "o trilho da acção" – era severamente desprezada pelos críticos do anterior regime, muitos dos quais actualmente lutam com unhas e dentes para elogiar o abraço "mais leve e delicado" de Obama à agressão. Mas novamente, reconheçamos o mérito onde ele existe; neste aspecto do discurso, Obama realmente foi mais longe do que a concepção rigorosamente nacionalista de Bush, afirmando: "Eu … como qualquer chefe de estado … reservo-me o direito de agir unilateralmente se for necessário defender a minha nação."

Então, Obama estaria, aparentemente, a estender o direito à acção militar unilateral a "qualquer chefe de estado" que sinta a necessidade de defender a sua nação. Mas é claro que estas não passam de palavras ocas, uma mentira descarada que nem mesmo Bush teria tentado utilizar. Será que Obama aceitaria um ataque unilateral e preventivo de Teerão contra Israel, onde legisladores de topo e funcionários do governo habitualmente falam sobre um ataque ao Irão? Será que Obama iria aplaudir o "direito" da Rússia de atacar unilateralmente a Polónia se o acordo com os EUA para a instalação de um escudo anti-míssil, presentemente interrompido, fosse subitamente consumado? Será que Obama iria apoiar um ataque unilateral da Índia ao Paquistão – ou vice-versa – no caldeirão fervoroso das tensões no subcontinente, onde ambas as nações se sentem legitimamente ameaçadas pela outra? Iria Obama apoiar o direito de Kim Jong-il em "defender a sua nação", atacando a Coreia do Sul assim que se verifique um incidente que ponha a fronteira em perigo?

Não, é óbvio que apenas os EUA – e os seus aliados, como Israel – têm o supremo privilégio da guerra unilateral. A passagem foi inserida no discurso apenas porque parecia bem naquele momento e criava uma reacção emocional temporária que poderia fazer os ouvintes esquecer a incongruência macabra subjacente a todo o acontecimento: a atribuição de um prémio da paz ao líder manchado de sangue de uma máquina militar, enterrada até à cintura no sangue derramado e coagulado de duas grandes guerras onde se assassinam civis.

Obama arrisca a sua ousada afirmação sobre o carácter excepcional dos EUA com uma passagem que retirou, quase literalmente, do seu discurso de West Point alguns dias antes, quando anunciou o seu segundo agravamento da guerra no Afeganistão:

"Independentemente dos erros que tenhamos cometido, a verdade é esta: há mais de 60 anos que os EUA têm ajudado a garantir a segurança global com o sangue dos nossos cidadãos e a força das nossas armas. O serviço e o sacrifício dos nossos homens e mulheres fardados têm promovido a paz e a prosperidade desde a Alemanha até à Coreia, e tem permitido que a democracia se estabeleça em lugares como os Balcãs. Suportámos o fardo não porque pretendemos impor a nossa vontade. Fizemo-lo por puro interesse esclarecido – porque procuramos um futuro melhor para os nossos filhos e netos e acreditamos que as suas vidas serão melhores se os filhos e os netos de outras pessoas puderem viver em liberdade e prosperidade."

Aqui está o descaramento – e a arrogância – elevados ao nível do sublime. Obama pegou nas palavras que usara para instigar a morte certa de milhares de seres humanos e a escalada de ódio, extremismo, caos e corrupção selvagem pelo mundo fora – e apresentou-as como justificação para a horrenda e imperturbável doutrina Orwelliana presente no âmago do seu discurso: a Guerra é Paz. Nesta perversa inversão de valores, Obama, enquanto senhor da guerra, é de facto um pacifista, estão a ver? – e daí um herdeiro legítimo do legado de Martin Luther King Jr., invocado em vários momentos do seu discurso.

E aqui chegámos àquela que considero a parte mais repugnante do discurso. E talvez a de maior alcance. Todo este palavreado sobre o altruísmo norte-americano e do "interesse esclarecido" na matança de milhões de pessoas (a Indochina foi uma das convenientes lacunas na pesquisa histórica de Obama) para o bem de todas as crianças no mundo (vermelhas e amarelas, pretas e brancas, todas são preciosas aos nossos olhos), não passou de retórica. Nada que já não tivesse sido repetido vezes sem conta, incluindo as referências – tão elogiadas pelos apologistas liberais de Obama – e até mesmo os "erros" involuntários que os EUA aparentemente continuam a cometer, resultado de uma superabundância de boas intenções, sem dúvida. Mas acho que nunca antes um presidente norte-americano tenha de forma tão notória e directa difamado o trabalho de Martin Luther King Jr. e de Mohandas Gandhi. (E fê-lo, nada mais nada menos, ao aceitar o prémio Nobel da Paz! Oh, que extraordinário bocado de metal ….)

Embora adornado com os habituais formas oratórias hiper-mas-flácidas e floridas-mas-falsas que se tornaram a marca registada de Obama, as suas palavras sobre King e Gandhi revelam desdém e condescendência. Fui de facto apanhado de surpresa ao ler estas passagens:

"Faço esta afirmação [sobre a justificação moral para a guerra] consciente do que disse Martin Luther King nesta mesma cerimónia uns anos atrás: "A violência nunca traz a paz permanente. Não resolve nenhum problema social: apenas cria problemas novos e mais complicados". Como pessoa que está agora perante vós como uma consequência directa do trabalho do Dr. King, sou a prova viva da força moral da não-violência. Sei que não há nada de fraco, de passivo e de inocente na crença e nas vidas de Gandhi e King.

"Mas enquanto chefe de estado que jurou sobre a Bíblia proteger e defender a minha nação, não posso guiar-me somente pelos seus exemplos. Enfrento o mundo tal qual ele é e não posso ficar impassível perante as ameaças ao povo norte-americano. Não tenham dúvidas: o Mal existe verdadeiramente no mundo. Um movimento de não-violência não teria impedido os exércitos de Hitler. As negociações não servem para convencer os líderes da al-Qaeda a depor as armas."

A incoerência intelectual e o sarcasmo arrogante por detrás desta passagem supostamente laudatória são espantosos. Após ter-se proclamado como a encarnação pessoal das filosofias de acção não-violenta de King e Gandhi, Obama mostra o seu jogo com este excerto: "Eu enfrento o mundo tal qual ele é". Os outros dois eram apenas sonhadores, eram pouco realistas, não eram para ser levados a sério; eles não "enfrentaram o mundo tal qual ele é", não eram espertos e pragmáticos como eu. Tenho de fazer guerra porque sou um chefe de estado "que jurou sobre a Bíblia proteger e defender a minha nação".

[Chegado a este ponto, Obama cede a um tropo que grassa como uma pandemia entre os seus apologistas: a ideia de que foi de certa forma obrigado a tornar-se o chefe de estado de uma nação militarista que trava uma guerra interminável pelo mundo fora, e que de certo modo acordou e deu-se de conta que era "o comandante-supremo de uma nação no meio de duas guerras". Mas é óbvio que Obama escolheu este tipo de poder neste sistema em particular – escolheu-o, buscou-o e lutou que nem um louco para o ganhar. Foi o que sempre quis. Porém, persiste ainda a noção de Obama como uma vítima indefesa do destino – perdido num mundo que não ajudou a construir.]

Depois continua com a mentira da sua já referida admiração por Gandhi e King: "Um movimento de não-violência não teria impedido os exércitos de Hitler. As negociações não servem para convencer os líderes da al-Qaeda a depor as armas". Então, King, Gandhi e qualquer seguidor da resistência não-violenta ao mal são, em última análise, ingénuos, ineficazes – fracos.

Reparem na incoerência – ou talvez na elisão deliberada – presente nesta passagem. Obama afirma que tem de dominar as "ameaças ao povo norte-americano" – e depois refere os exércitos de Hitler, juntando imediatamente, e igualando-os retoricamente, com a mão-cheia de fugitivos dispersos e clandestinos da al-Qaeda. Então agora o povo norte-americano encontra-se sob ameaça dos exércitos de Hitler? Serão as insignificantes forças da al-Qaeda – menos do que 100 no Afeganistão, a julgar pelos próprios fazedores de guerra de Obama – iguais aos exércitos de milhões de soldados de Hitler?

Mas por detrás destes ordinários truques retóricos, existe uma falsidade mais profunda. Porque é obviamente falso afirmar que "um movimento de não-violência não teria impedido os exércitos de Hitler." Antes de mais, não se pode fazer tal observação porque esta abordagem nunca foi tentada. Por isso, não se pode afirmar categoricamente que não teria resultado. Teria sem dúvida custado milhões de vidas; mas como o próprio Gandhi salientou, a resistência violenta aos exércitos de Hitler também custou dezenas de milhões de vidas. Mas a formulação de Obama – que é de facto um lugar-comum – apenas aborda uma visão da resistência não-violenta a Hitler; ou seja, de fora, resistindo aos exércitos à medida que invadiam as fronteiras. Existe uma outra forma em que um movimento de resistência não-violento poderia sem dúvida ter "impedido os exércitos de Hitler": se se tivesse implantado e expandido por toda a Alemanha, incluindo entre as forças armadas e as suas indústrias de apoio.

Na realidade, isto não aconteceu. Mas não era, e não é, impossível que a humanidade procure levar a cabo uma abordagem deste género. Por isso, é imbecil e falso afirmar aquilo que é impossível provar: se a resistência não-violenta teria impedido o nazismo e se esta abordagem teria sido mais ou menos dispendiosa do que por meios violentos.

Da mesma forma, é falso dizer que "as negociações não servem para convencer os líderes da al-Qaeda a depor as armas." A única resposta possível a esta afirmação descarada é: Como sabes? Já alguém tentou? Não. Por isso, não se pode dizer que é impossível – e depois usar esta "impossibilidade" hipotética e não testada como justificação para devastar países inteiros. Poderia dizer que seria injusto negociar com a al-Qaeda, que aqueles que usam de violência atroz para atingir os seus fins deveriam ser pura e simplesmente mortos ou levados a tribunal. (Então onde é que estariam os exaltados, excepcionais e unilaterais governantes dos EUA?) Mas, claro, foi precisamente isto o que Gandhi fez: sentou-se e negociou com os representantes de um império que causara a morte a milhões dos seus concidadãos. Negociou com eles de boa fé, de boa vontade, apesar do que haviam feito e continuavam a fazer ao seu povo – e apesar do facto de que muitos dos seus interlocutores, tais como Winston Churchill, o odiarem com uma fúria cega e racista. E foi bem sucedido – embora, novamente, com custos associados, tanto antes como depois da libertação. Mas Gandhi, e King, sabiam quais eram os custos da não-violência – porque eram sábios de verdade e genuinamente realistas acerca da natureza do mal.

De qualquer forma, pondo de parte os pormenores de uma qualquer situação real ou hipotética, o discurso é um exemplo flagrante do desprezo enraizado (e talvez inconsciente) de Obama pelo trilho da paz e pelos seus defensores. Também é uma manifestação do seu próprio inferno, da necessidade desesperada em justificar – a si próprio e ao mundo – a sua escolha livre e deliberada para dar continuidade ao "trilho de acção" sufocado em sangue, enquanto comandante-supremo de uma máquina de guerra excessiva e selvagem.

Ninguém obrigou Obama ou Blair a tomar estas decisões – ou a dar estas justificações ilusórias e escandalosas. O seu próprio narcisismo – a sua própria ânsia por poder e o seu amor pelo sistema que lhes deu esse poder – cobriu-os com o sangue e a vergonha que actualmente mancham cada uma das suas palavras e acções.

[*] Escritor, estado-unidense. O seu blogue, Empire Burlesque, encontra-se em www.chris-floyd.com .

O original encontra-se em www.counterpunch.org/floyd12152009.html . Tradução de EC.


Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .
30/Dez/09