Custos, malfeitorias e perigos do dólar
Aqueles que utilizam o dólar fora dos Estados Unidos pagam
permanentemente uma contribuição àquele país. Esta
consiste numa inflação de 1,25 milhão de dólares
por minuto. É o resultado do crescimento rápido da dívida
externa dos Estados Unidos. A metade das suas importações
é simplesmente acrescentada à dívida externa e é
paga pelos detentores de dólares no estrangeiro através da
inflação. Além disso, estes detentores não parecem
conscientes de que o curso do dólar não passa de
uma fachada fracturada. Se não compreenderem o que ainda a
retém de pé, arriscam-se a que esta lhes caia na cabeça de
surpresa. Entretanto, bem camuflado, o dólar está no centro de
diversos conflitos dos Estados Unidos.
1.
Procura mundial de dólares
2.
Compras gratuitas pelos Estados Unidos
3.
Falidos e ainda assim continuam
4.
Reservas de dólares do Japão e da China
5.
Conflitos camuflados
6.
Como se roubam reservas de petróleo?
7.
Euro versus dólar
8.
Células cancerígenas verdes
1. Procura mundial de dólares
Até 1971: dólar = ouro
Até 1971 cada dólar Americano representava um peso fixo em ouro.
Os Estados Unidos dispunham de enormes reservas de ouro, que cobriam a
totalidade da quantidade de dólares posta em circulação.
Quando bancos estrangeiros tinham mais dólares do que pretendiam, podiam
trocá-los por ouro. Esta era a razão mais importante porque o
dólar era aceite por toda a parte do mundo.
A partir de 1971: o petróleo da OPEP é pago em dólares
Em 1971, o valor do dólar foi separado do peso fixado em ouro. De
facto, isto foi uma medida da aflição do presidente Nixon. A
guerra do Vietnam havia esvaziado os cofres do Estado. Os Estados Unidos
haviam impresso mais dólares do que o permitiam as suas reservas de
ouro. Desde então, o valor do dólar é determinado pela
lei da oferta e da procura nos mercados de câmbio.
Nesta época os Estados Unidos ainda produziam bastante petróleo
para o seu consumo próprio. Para proteger suas empresas
petrolíferas, haviam instaurado limitações às
importações de petróleo. Em contra-partida do
levantamento destas limitações, os países da OPEP
prometiam não mais vender o seu petróleo senão em
dólares. Na época o dólar já era a moeda mais
utilizada no comércio mundial. Portanto, nada de especial?
Todos os países têm necessidade de dólares
A partir de 1971, todos aqueles que desejam importar petróleo devem
antes comprar dólares.
[1]
É aqui que começa a festa para os Estados Unidos. Quase todo o
mundo tem necessidade de petróleo, portanto todo o mundo quer
dólares.
Os compradores de petróleo do mundo inteiro dão os seus yens,
coroas, francos e outras moedas. Em troca recebem dólares, com os quais
podem comprar petróleo nos países da OPEP. A seguir, os
países da OPEP vão gastar estes dólares. Poderão
naturalmente fazer isso nos Estados Unidos, mas também em todos os
outros países do mundo. Com efeito, todo o mundo quer dólares,
pois todo o mundo terá novamente necessidade de petróleo.
2. Compras gratuitas pelos Estados Unidos
Neste comércio de petróleo, há necessidade de uma
quantidade importante de dólares. Muitos destes dólares
não servem senão no ciclo no exterior dos Estados Unidos, ou
seja, entre os outros países do mundo e os países da OPEP.
A princípio não existiam suficientes dólares para isso.
Eles deviam ser impressos nos Estados Unidos.
[2]
Isso lhes custava papel e tinta verde. A seguir, estes dólares deviam
ser postos à disposição no estrangeiro, nos lugares onde os
compradores de petróleo dele tinham necessidade. E é aqui que se
chega ao lucro gigantesco. Com efeito, não existe senão um modo
de colocar estes lindos bilhetes novos à disposição no
estrangeiro: os Estados Unidos vão fazer compras com eles. E uma vez
que esta quantidade de dólares fica em uso permanente no estrangeiro, os
Estados Unidos nada fornecem em troca. As suas compras portanto são
gratuitas!
Estas compras gratuitas perpetuam-se. Uma vez que são precisos mais
dólares no comércio de petróleo, pela subida de
preços ou de volumes, estes são benefícios para os Estados
Unidos. Isto não se limita aos crescimentos no comércio de
petróleo, pois vale igualmente para a utilização do
dólar no resto do comércio mundial. A
globalização, o livre comércio mundial, a
privatização mundial dos serviços públicos, como
por exemplo os serviços de gás, água, electricidade,
telefone e transportes públicos, devoram quantidades enormes de
dólares. São sempre mais dólares que desaparecem nos
quatro cantos do mundo. E em primeiro lugar isto significa sempre compras
gratuitas para os Estados Unidos!
Dívida
Evidentemente, isto implica que os Estados Unidos criam dívidas com
todas estas compras gratuitas. Pois um dia o estrangeiro poderia vir fazer
compras nos Estados Unidos com todos estes dólares e então,
finalmente, os Estados Unidos deveriam fornecer alguma coisa em troca.
Balança comercial
Importações americanas 2004
|
US$
|
1 469 704 400
|
Exportações americanas 2004
|
US$
|
818.774.900
|
Compras menos vendas
|
US$
|
650.929.500
|
Para não correr risco, os Estados Unidos deveriam ter o cuidado de
manter o equilíbrio entre as suas importações e as suas
exportações. A partir de 1971, data em que uma quantidade
acrescida de dólares fora posta em circulação, só
em 1972 as vendas ultrapassaram as compras. A seguir começou a descida
e os Estados Unidos vivem cada vez mais pendurados no resto do mundo.
[3]
Só no ano 2004, o défice na balança comercial foi de 650
mil milhões de dólares!
[4]
Numa população de 300 milhões, isto quer dizer que cada
cidadão dos Estados Unidos comprou 2.167 dólares de mercadorias
estrangeiras, pelas quais não pagou.
Face a este défice da balança comercial, não houve
melhoria na balança de pagamentos. A dívida externa dos Estados
portanto aumentou em 650.929.500.000 dólares num ano. Isto equivale a
1,25 milhão de dólares por minuto!
O défice do comércio externo dos Estados Unidos é mais
importante no seu comércio com a China (162 mil milhões de
dólares), o Japão (76), o Canadá (66), a Alemanha (46), o
México (45), a Venezuela (20), a Coreia do Sul (20), a Irlanda (19), a
Itália (17), a Malásia (17).
[5]
O curso do dólar
Qualquer outro país que compra mais do que vende verá diminuir o
valor da sua moeda. Quando não se pode comprar grande coisa com uma
moeda, a procura baixa, tal como o seu curso no mercado de câmbios. Mas
o que vale para os outros países não vale para os Estados Unidos.
O mundo inteiro tem tanta necessidade de dólares para comprar
petróleo que há sempre procura.
Os Estados Unidos consomem ¼ da produção mundial de
petróleo. Quando o curso do dólar ascende, unicamente o
preço para os outros ¾ dos consumidores de petróleo é
que sobe. Para os Estados Unidos o preço não se move.
Quando o preço da OPEP sobe, é preciso acrescentar dólares
ao ciclo. Se o consumo permanece o mesmo, eles podem ser impressos e
acrescentados à circulação, sem que o curso do
dólar baixe.
Em 2004 os Estados Unidos produziam a metade do petróleo que consumiam,
a outra metade (1/8 do consumo mundial de petróleo) era importada. De
todos os dólares suplementares que são necessários aquando
de um aumento dos preços da OPEP, 7/8 são portanto
necessários no exterior dos Estados Unidos. A cada aumento dos
preços do petróleo os Estados Unidos podem financiar o seu
próprio aumento do sobrecusto graças a bilhetes novos e,
simultaneamente, fornecer sete vezes mais dólares ao estrangeiro.
Portanto, mais uma vez, fazer compras gratuitas e criar dívidas
suplementares (a dependência das importações de
petróleo aumenta rapidamente; em 2006 os Estados Unidos já
deviam importar 60 por cento do seu consumo).
Os Estados Unidos dispõem de quantidades de truques de
prestidigitação para manter o curso do dólar. Quando, no
estrangeiro, a utilização do dólar aumenta, basta-lhe
esperar um pouco para reagir à procura acrescida para ver o curso subir.
Os Estados Unidos podem pôr mais dólares em
circulação
quando o curso sobe demasiado. Podem recomprar dólares eles
próprios quando a procura baixa. Por exemplo: vendendo
obrigações, como títulos do Tesouro. Para os Estados
Unidos isto entretanto implica despesas: os juros. Todos estes juros reunidos
já são de tal forma elevados que eles devem fazer sempre novos
empréstimos para pagá-los. A dívida dos Estados Unidos
cresce cada vez mais rapidamente.
3. Falidos e ainda assim continuam
Em
http://www.babylontoday.com/national_debt_clock.htm
pode ser vista a
última cifra da dívida e a rapidez com que ela ascende por
segundo
45% desta soma é devida a credores estrangeiros. A
dívida externa é de tal forma elevada que os Estados Unidos
já não podem reembolsá-la. Os Estados Unidos estão
falidos.
Apesar disso os dólares são comprados e vendidos como antes.
Para as compras de gás e de petróleo, eles são sempre
necessários. Enganado pelo curso do dólar, que parece de boa
saúde, o comércio mundial continua a fazer os seus
negócios em dólares.
Business as usual?
Seguindo a
lógica habitual da economia, um curso mais baixo deveria conduzir a mais
exportações e menos importações. É porque
os compradores estrangeiros podem comprar menos caro. Entretanto, enquanto os
vendedores estrangeiros forem bastante loucos para aceitarem dólares,
não é um problema para os Estados Unidos emitir um pouco mais
destes bilhetes verdes. Dar alguns dólares a mais por peúgas
chinesas ou por artigos electrónicos do Japão? Não
há problema algum. Os Estados Unidos deixam simplesmente que a sua
dívida externa suba um pouco mais rápido. Mais dólares
para um mesmo artigo significa inflação. E 1% de
inflação significa ao mesmo tempo que o valor da dívida
já existente diminui 1%. Portanto, os Estados Unidos não
têm qualquer interessem em travar suas importações.
No comércio do petróleo, uma baixa do dólar é
geralmente seguida da sua consequência lógica. A longo prazo os
exportadores de petróleo não aceitarão um valor menor
pelas suas vendas. Se o curso do dólar baixa 10%, é quase certo
que os preços do petróleo aumentarão 10% de modo a que o
valor permaneça pelo menos idêntico.
Se não houver mais necessidade de dólares para comprar
petróleo, o resto do mundo não terá nenhuma vantagem em
continuar a servir-se do dólar. Apenas desvantagens. O dólar
não representa mais equivalência em ouro e a dívida externa
gigantesca conduzirá à consequência lógica: o curso
do dólar cairá. E quando os estrangeiros não aceitarem
mais dólares, os Estados Unidos não poderão mais
imprimi-los para viver às custas do resto do mundo. Não
poderão mais manter o seu exército custoso. Perderão a
sua influência.
Dissolução da dívida
A queda do dólar terá um efeito secundário miraculoso para
os Estados Unidos. Quando o dólar já não valer mais nada,
a dívida externa terá ao mesmo tempo desaparecido. Com efeito,
esta é composta de dólares que se encontram no estrangeiro. No
limite, atingirão o valor do papel velho. Mas ai! A queda do
dólar será igualmente acompanhada pela falência de bancos,
empresas e organizações internacionais, cujo destino está
ligado ao do dólar.
4. Reservas de dólares do Japão e da China
Um grupo importante de compradores de dólares é
constituído pelos bancos centrais dos diferentes países. Os
bancos centrais guardam reservas estratégicas. São reservas em
moeda estrangeira, com as quais estes bancos podem recomprar a sua
própria moeda, se porventura grandes quantidades forem propostas nos
mercados de câmbio. Assim, eles podem impedir que o curso da sua moeda
caia. Eles guardam estas reservas na moeda mais aceite do mundo, até
agora o dólar. Mas na China, no Japão, e igualmente em Formosa e
na Coreia do Sul, estas reservas de dólares subiram muito acima do que
é estrategicamente necessário.
[6]
Não é tanto porque estes bancos gostem de guardar os
dólares, ao contrário. Estes países exportam muito e, em
consequência, massas de dólares afluem para eles. Elas devem ser
trocadas contra a moeda local para pagar os trabalhadores e as
matérias-primas. Se a procura de dinheiro local empurra o seu curso
para o alto, os produtos tornam-se mais caros para o estrangeiro. Assim, para
não por em perigo a posição exportadora do país, os
bancos centrais tentam manter o curso da moeda estável. E é por
isso que compram dólares maciçamente, evitando assim que o
curso da sua própria moeda aumente.
Para estes países isto é um grande problema. Por todos estes
dólares armazenados, os bancos centrais emitem dinheiro local.
Portanto, de facto, os trabalhadores recebem inflação em troca
dos seus produtos exportados.
[7]
Desta maneira exportam trabalho e matérias-primas em troca de nada.
Para os bancos centrais, estes dólares rendem quase nada. Os
dólares certamente podem ser trocados por obrigações, como
os títulos do Tesouro, e render algum juro. Mas mesmo estes juros
não pagam definitivamente senão a si próprios, uma vez que
os Estados Unidos pagam-nos simplesmente com um novo aumento da sua
dívida externa.
Durante este período, o valor de todos estes dólares armazenados
é tributário das flutuações de curso nos mercados
de câmbio. E além disso, devido à dívida externa
gigantesca dos Estados Unidos, o dólar ameaça implodir a qualquer
momento. Estes bancos centrais estão encalhados entre a necessidade de
se desfazerem
destas reservas de dólares, a necessidade de comprarem dólares
para manterem o curso da sua própria moeda e, eventualmente, de comprar
dólares quando o curso do mesmo arrisca-se a cair nos mercados mundiais
de câmbio. Enquanto isso, os Estados Unidos deixam subir a sua
dívida externa cada vez mais rapidamente. Por quanto tempo pode isto
ainda continuar?
Peritos do Asian Development Bank estimam que o curso do dólar deveria
descer de 30% a 40%. Tamanha baixa comporta o risco de que um número
importante de bancos e empresas vendam os seus dólares rapidamente e que
mesmo os bancos centrais não queiram ou não possam mais impedir a
queda total do dólar. Aquele que vende os seus dólares em
primeiro lugar safa-se, quem espera não tem senão de
calcular as suas perdas.
5. Conflitos camuflados
Para manter a procura permanente de dólares, as vendas de
petróleo devem continuar em dólares. É por isso que os
Estados Unidos tentam manter a maior influência possível, por um
lado sobre o mercado do petróleo, pelo outro sobre os dirigentes locais.
Deste modo asseguram simultaneamente o seu aprovisionamento em
petróleo. E, para os dirigentes locais, há contratos lucrativos
a obter com os quais se pode apropriar de um máximo de benefícios
na produção de petróleo.
O medo ganha sempre à razão
Mas quando estes dirigentes locais não quiserem mais vender seu
petróleo em dólares, os Estados Unidos terão um problema.
Neste caso, o presidente dos Estados Unidos não explicará quanto
o seu país é dependente da procura de dólares. O conflito
será, pois, sempre camuflado. Para isso, sistematicamente, será
escolhido um tema emocional. Outrora era o perigo comunista, hoje é o
perigo terrorista, fundamentalista e outros medos populares tais como "o
inimigo tem armas de destruição maciça" ou "o
inimigo tenta fabricar armas nuclares". Que, racionalmente, não
exista qualquer prova é sem importância. As emoções
dominarão sempre. Mesmo o facto de as acusações serem
invertidas, com provas para demonstrar, não é notado por quase
ninguém: os Estados Unidos têm armas de destruição
maciça e já as utilizaram; os Estados Unidos têm armas
nucleares e já as utilizaram. Em 2006 ainda ameaçaram fazer uso
delas. Mas, mais uma vez, a partir do momento em que as
acusações são vertidas emocionalmente, o ser humano
desliga sua inteligência. A razão já não é
um argumento para manter a paz. O teatro já não se concentra
senão em torno das acusações. E uma vez que nenhum
especialista de armas de destruição em massa ou de armas
nucleares tem a palavra, praticamente ninguém descobre o problema real
dos Estados. Façamos uma ronda para ver alguns conflitos mais de perto.
A Venezuela
Na Venezuela os Estados Unidos tentam há vários anos fazer cair o
presidente Chavez, com o pretexto de que é um perigoso comunista.
Chavez nacionalizou a indústria do petróleo
[NR1]
e exporta uma parte
do óleo em transacções por troca, como por exemplo
petróleo contra os cuidados médicos de Cuba. Nas
transacções de troca não há necessidade de
dólares e assim os Estados Unidos não podem lucrar.
O Iraque
Até 1990 os Estados Unidos tinham contactos comerciais lucrativos com
Saddam Hussein. Saddam era um bom aliado, pois em 1980 havia tentado libertar
o pessoal da embaixada dos Estados Unidos em Teerão. Em 1989, Saddam
acusava o Kuwait de inundar o mercado de petróleo e fazer cair os
preços. Em 1990, Saddam anexava o Kuwait. Isto provocou uma viragem
imediata na atitude dos Estados Unidos. Com a anexação do
Kuwait, Saddam dispunha de 20% das reservas mundiais de petróleo. Os
iraquianos são portanto expulsos do Kuwait pelos Estados Unidos,
apoiados por uma coligação de 134 países, e postos a
pão e água durante dez anos no quadro de um embargo das
Nações Unidas.
Apesar de os Estados Unidos terem sonhado durante anos com uma maneira de
restabelecer a sua influência no Iraque, a passagem de Saddam ao euro, em
6 de Novembro de 2000
[9]
, devia tornar a guerra inevitável. O dólar afundava e em Julho
de 2002 a situação tornava-se de tal como crítica que o
Fundo Monetário Internacional advertia que a divisa dos EUA arriscava-se
a
soçobrar.
[10]
Alguns dias depois, em Downing Street (Londres), eram discutidos os planos de
ataque.
[11]
No mês seguinte, o vice-presidente Cheney proclamava que doravante era
certo que o Iraque dispunha de armas de destruição em massa.
[12]
Utilizando este pretexto, os Estados Unidos invadiram o Iraque a 19 de
Março de 2003. Dia 5 de Junho 2003 restabeleciam as vendas do
petróleo iraquiano em dólares.
[13]
O Irão
Com o Irão, os Estados estão em conflito desde 1979, quando
perderam influência sobre a sua produção de
petróleo. Segundo os Estados Unidos, o Irão é um
país de fundamentalistas perigosos.
A posição geográfica do Irão, entre o Mar
Cáspio e o Oceano Índico, complicava as ambições
dos Estados Unidos quanto à exploração das ricas reservas
de gás
e de petróleo da margem leste do Mar Cáspio. Para transportar
este gás e este petróleo com destino aos mercados mundiais, sem
passar
pela Rússia ou o Irão, deviam ser construídos pipelines
através do Afeganistão. Isto resultou em vários conflitos
de interesse com o Irão. George W. Bush ia usar a presença de
Osama bin Laden como pretexto para começar uma guerra contra o
Afeganistão.
[14]
Em 1999 o Irão anunciava publicamente que estava igualmente pronto a
aceitar
euros pelo seu petróleo. O Irão vende 30% do seu petróleo
à Europa, o resto sobretudo à Índia e à China, e
nem uma gota aos Estados Unidos após o embargo que os próprios
Estados Unidos estabeleceram. Apesar das ameaças de Bush, que
mencionava o país no seu famoso "eixo do mal", o Irão
começou a vender petróleo em euros a partir da primavera de 2003.
A seguir o Irão queria também estabelecer a sua própria
bolsa de petróleo, independente do IPE e do NYMEX. Ela devia abrir as
portas a 20 de Março de 2006. Tendo em conta a fraqueza do dólar
nesta época, um êxito desta bolsa conduziria ao desastre do
dólar e portanto dos Estados Unidos. No princípio de 2006 as
tensões cresceram seriamente. Finalmente, a abertura da bolsa foi
retardada. Rapidamente, o presidente Putine abriu então uma bolsa na
Rússia, o que fazia com que esta bolsa iraniana perdesse interesse.
[15]
Os Estados Unidos acusam o Irão de pretender fabricar bombas nucleares.
Isto não é novo. O Irão e outros países
árabes sentem-se efectivamente ameaçados pelo arsenal nuclear de
Israel, que não é membro do Tratado de Não
Proliferação. Em 1981 Israel havia bombardeado a central nuclear
quase pronta de Osirak, no Iraque. Desde então, vários
países árabes pensam em munir-se de armas nucleares para
contrapor-se à ameaça israelense.
[16]
Pode parecer estranho que um país dispondo de petróleo queira
energia nuclear. O Irão exporta petróleo bruto, mas importa
produtos petrolíferos refinados. Estes são necessários
para a iluminação, o aquecimento, o transporte e a
indústria da sua população em crescimento. Para muitos
iranianos, o preço real destes produtos seria demasiado elevado.
É por isso que são vendidos barato, com perdas para o Tesouro
iraniano. A passagem à electricidade deve proporcionar energia a todo o
país a um preço comportável. O Irão tem
necessidade dos rendimentos destas exportações de petróleo
a fim de financiar as importações dos muitos outros produtos de
que o
país tem necessidade.
As centrais iranianas parecem um alvo privilegiado para os seus
adversários. Se elas fossem destruídas, o Irão deveria
consumir seu petróleo ao invés de exportá-lo em euros.
Ultimamente, o responsável da AIEA, El Baradei, advertiu estes
adversários para não atacareem as centrais iranianas.
[17]
Hoje, tomando o Irão como pretexto e como teste, foi tramado um golpe
duplo. Juntamente com os outros países dotados de armas nucleares, mais
a Alemanha e o Japão, os Estados Unidos querem apossar-se do mercado
mundial dos combustíveis para centrais nucleares. Com este plano, a
procura de dólares seria assegurada por um longo período, mesmo
para além do ninho do petróleo.
[18]
A Rússia
Desde 2006 a Rússia também virou as costas ao dólar.
[19]
Ao vender o excedente de dólares aos bancos centrais, o presidente
Putine teve o cuidado de que isto não tivesse consequências sobre
o curso do dólar. Entretanto, a base para procura mundial de
dólares diminuiu bastante. Os Estados Unidos têm necessidade da
Rússia para o assalto ao mercados dos combustíveis nucleares,
portanto as represálias parecem pouco prováveis.
6. Como se roubam reservas de petróleo?
Ainda há um outro aspecto quanto ao abuso do dólar. Durante as
manifestações contra a invasão do Iraque pelos Estados
Unidos, a maior parte dos manifestantes compreendia que não se tratava
de armas de destruição em massa. O Iraque tem a segunda maior
reserva de petróleo do mundo. Os manifestantes percebiam que os
Estados Unidos estavam em busca do petróleo iraquiano. É
verdade, mas como se podem roubar reservas de petróleo que se encontram
debaixo da terra e são tão gigantesca que não se pode
levá-las?
Faz-se isso com a moeda. Ao impor que este petróleo não fosse
vendido senão em dólares, os Estados Unidos tornaram-se de uma
penada seus proprietários. Os Estados Unidos são os
únicos que têm o direito de imprimir dólares e
poderão dispor deles livremente a qualquer momento. Os outros
países que quiserem comprar petróleo do Iraque devem primeiro
comprar dólares. De facto, é neste exacto momento que eles o
pagam aos Estados Unidos. Os dólares que compram são direitos
para receberem uma certa quantidade de petróleo (como no Ikea quando se
compra um móvel: primeiro paga-se na caixa e recebe-se um documento,
com este papel pode-se buscá-lo na porta de mercadorias atrás da
loja).
Os dólares portanto são documentos para petróleo. E como
todo o mundo tem sempre necessidade de petróleo, todo o mundo quer
destes documentos.
A passagem ao euro de Saddam Hussein, no princípio de Novembro de 2000,
não era portanto apenas um ataque ao curso do dólar, mas
implicava igualmente que os Estados Unidos não mais poderiam dispor
livremente da segunda maior reserva de petróleo mundial. Os Estados
Unidos deveriam comprar euros para delas dispor. Desde o restabelecimento da
venda em dólares do petróleo iraquiano, a 5 de Junho de 2003
[20]
, os Estados Unidos têm novamente, pelo menos financeiramente, a livre
disposição do petróleo iraquiano. Mas ainda é
preciso homens de palha à frente do país e impedir que o
comércio do petróleo iraquiano não vire outra vez as
costas para o dólar. Isto é mais fácil de dizer do que de
fazer.
A economia do dólar
A economia do dólar não se limita às fronteiras dos
Estados Unidos. Não há apenas as reservas de petróleo
etiquetadas em dólares a dela fazer parte. Igualmente as empresas,
bancos e
investimentos pagos em dólares dela participam, pouco importa onde se
encontrem. São como ilhotas da economia do dólar. Os
benefícios e dividendos retornam aos seus proprietários.
Aliás, o valor destes investimentos é influenciado pelo curso da
troca do dólar. Os vendedores de petróleo, que vendem em
dólares, são actores na economia do dólar e comportam-se
geralmente como perfeitos representantes dos interesses dos Estados Unidos.
Consideram do seu próprio interesse.
7. Euro versus dólar
O euro está cotado desde Janeiro de 1993. Em Junho de 2005 o curso era
o mesmo do momento da sua introdução: US$ 1,22. A nova moeda
já experimentou flutuações múltiplas durante a sua
curta vida. A partir de 1998 o euro afundava-se cada vez mais, até que
Saddam Hussein passe ao euro. Apesar de o comércio de petróleo
iraquiano ter sido restabelecido em dólares em Junho de 2003, o
avanço do euro continuava. O Irão havia começado a vender
o seu petróleo em euros.
O euro tornou-se uma pequena moeda mundial. Entre Julho de 2004 e Julho
de 2005, a parte do dólar no comércio mundial desceu de 70% para
64%. Um pouco menos destes 64% referem-se à parte dos Estados Unidos no
comércio mundial. Mas se o euro quiser tornar-se tão importante
quanto o dólar, ainda tem muito caminho a percorrer.
Euro: mesmas desvantagens que o dólar
Em princípio, o euro apresenta os mesmos riscos do dólar.
Enquanto houver um motor permanente para uma procura de euros, como por exemplo
vendas de petróleo em euros, a zona euro poderia fazer dívidas e
deixá-las crescer infindavelmente.
Para evitar dívidas, a zona euro deveria guardar nos seus cofres uma
quantidade equivalente em moedas estrangeiras no valor dos euros fora da
Europa. Por que o faria? O truque da prestidigitação do
crédito sem fim funciona sem problemas para os Estados Unidos já
há mais de 30 anos!
Se os países produtores de petróleo venderem seus óleo em
duas ou três divisas diferentes, como foi encarado, isto significa
somente que os três países em causa poderão fazer o mesmo
truque de prestidigitação que os Estados Unidos. A longo prazo
isto multiplicaria os problemas por três. A única
solução para isto seria que os países produtores de
petróleo aceitassem todas as divisas existentes no mercado.
Teerão já considerou aceitar mais do que uma única moeda.
Passo a passo.
8. Células cancerígenas verdes
O facto de os Estados não não deixarem senão crescer a sua
"dívida externa" e de chegarem até a utilizar a
força militar para prolongar esta exploração faz com que
não se possa mais falar de uma dívida externa normal, tal como
aquela que se conhece no comércio internacional entre os demais
países do mundo. No que se refere aos Estados Unidos, pode-se falar de
roubo. Também se pode falar até mesmo de burla
ou de taxa imperial que os Estados Unidos impõem aos utilizadores
estrangeiros do dólar. Mas há mais.
Cada bilhete de dólar é um reconhecimento de dívida dos
Estados Unidos, uma promessa de que entregarão alguma coisa em troca.
Pela quantidade enorme destes reconhecimentos de dívida postos
em circulação, os Estados Unidos não estão mais em
condições de reembolsar as suas dívidas desde há
muito tempo. Estão em falência. A obrigação de
pagar o gás e o petróleo em dólares mantém uma
procura permanente. O curso do dólar é entretanto mantido de
modo artificial, como através do armazenamento dos dólares nos
bancos centrais da China, do Japão, de Formosa e de outros
países. Como isto significa um empobrecimento da
população destes países e como os Estados Unidos fazem
crescer a sua dívida externa cada vez mais rápido, chegará
um momento em que estes bancos centrais terão de parar de
armazená-los. A questão portanto não é de que o
dólar deverá cair, e sim de QUANDO cairá.
Como o mundo está enganado com a aparente boa saúde do curso
de câmbio, muitos operadores do comércio mundial ainda aceitam
estes bilhetes que se aninham em todas as economias do mundo como
células cancerosas. A questão é incontornável.
Todas as economias infectadas serão arrastadas no dia em que a procura
de dólares cair e o império dos Estados Unidos soçobrar.
06/Março/2007
[1] Exceptuadas as importações de petróleo provenientes do
Iraque entre 6 de Novembro de 2000 e 5 de Junho de 2003, do Irão desde a
Primavera de 2003 e da Rússia desde 8 de Junho de 2006.
[2] "Imprimir dólares" é um modo de falar. A maior
parte dos dólares não existe senão como cifras em contas
bancárias.
[3]
Balanços Import-Export 1960- 2002
[4]
Défice commercial 2004
[5]
Pays 2004
NOTA :
grandes différences entre chiffres des E-U et de la Chine pour importations US!
(p. 9)
[6]
Washington Post
[7]
Epoch Times
[8]
International Herald Tribune
[9]
Petróleo iraquiano em euros
[10]
Advertência do Fundo Monetário Internacional de que o dólar corre o risco de entrar em colapso
[11]
Downing Street Memo
[12] Cheney
[13]
How can the dollar collapse in Iran?
(Ver : Irak)
[14]
Pipelines vers le 11 septembre
[15]
Anúncio RTS
; Accélération RTS & Ouverture RTS
[16]
Attaque israélienne contre centrale nucléaire irannienne en 1981
, Avertissement ElBaradei
[17]
ElBaradei
[18]
Hold-up sur le marché des combustibles nucléaires
& artigo completo em inglês:
Raid on Nuclear Fuel Market
[19]
Financial Times,
5 de Junho de 2003
[20]
RTS opening
[NR1]
Continua a haver transnacionais de petróleo a operarem na Venezuela,
além da empresa estatal PDVSA (nota de resistir.info).
[*]
Analista económico, holandês,
rudoderuijter@wanadoo.nl
O original encontra-se em
http://www.europe2020.org/spip.php?article402&lang=fr
. Tradução de JF.
Este artigo encontra-se em
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