O que pode sair errado?
Que ele possa não ser "qualificado" é pouco importante.
Que nunca tenha estado num governo ou numa posição electiva
é pouco importante.
Que ao nível pessoal ele possa ser um tolo é pouco importante.
Para mim o que conta nesta etapa preliminar é que ele ao
contrário da querida Hillary provavelmente não
iniciará uma guerra contra a Rússia. O seu questionamento do
carácter sagrado da NATO, chamando-a de "obsoleta", e a sua
reunião com a congressista democrata
Tulsi Gabbard
, uma crítica declarada da política estado-unidense de
mudança de regimes, especificamente na Síria, são sinais
encorajadores.
Ainda mais encorajador é a sua nomeação do general Michael
Flynn como Conselheiro de Segurança Nacional. No ano passado Flynn
jantou em Moscovo com Vladimir Putin numa celebração de gala da
RT
(Russia Today),
o canal de TV em inglês do estado russo. Flynn agora carrega o estigma,
nos media americanos, de ser um indivíduo que não vê a
Rússia ou Putin como diabólicos. É realmente
notável como jornalistas americanos podem considerar de modo indiferente
a possibilidade de uma guerra com a Rússia, mesmo uma guerra nuclear.
(Posso agora aguardar uma barragem de emails dos meus leitores excessivamente
politicamente correctos acerca do alegado aspecto anti-Isão de Flynn.
Mas mesmo que seja verdade isso é irrelevante para esta discussão
acerca do evitar uma guerra com a Rússia.)
Penso que com Trump a influência americana também poderia inspirar
uma solução para a sangrenta crise russo-ucraniana, a qual
é o resultado do derrube americano do governo ucraniano democraticamente
eleito em 2014 a fim de, mais uma vez, avançar o cerco EUA/NATO da
Rússia. Depois disso ele poderia finalizar as sanções dos
EUA impostas contra a Rússia, com as quais dificilmente alguém na
Europa se beneficia ou deseja. E então finalmente! por um
fim ao embargo contra Cuba. Será um grande dia para
celebração! É pena que Fidel não estará
presente para desfrutá-lo.
Podemos ter outros dias de celebração se Trump perdoar ou de
alguma maneira libertar
Chelsea Manning, Julian Assange e/ou Edward Snowden. Nem Barack Obama nem
Hillary Clinton fariam isto, mas penso que há pelo menos uma
possibilidade com o Donald. Imagine uma reunião deles todos juntos em
algum maravilhoso dia futuro.
Trump provavelmente também não evitará
acções militares contra radicais islâmicos devido a
qualquer receio de ser chamado anti-Islão. Ele é suficientemente
repelido pelo ISIS para querer destruí-los, algo que nem sempre se pode
dizer do sr. Obama.
Acordos internacionais de comércio, escritos por juristas corporativos
em benefício dos seus patrões, com pouca
preocupação acerca de nós restantes, podem ter uma
tramitação mais árdua na Casa Branca de Trump do que
é habitual com tais acordos.
Os críticos convencionais da política externa de Trump deveriam
estar embaraçados, mesmo humilhados, pelo que apoiaram no
Afeganistão, Iraque, Líbia e Síria. Ao invés disso,
o que os incomoda quanto ao presidente eleito é a sua falta de desejo de
fazer o resto do mundo à imagem da América. Ele, ao
contrário, parece estar mais preocupado em que o mundo não
faça a América à
sua
imagem.
No capítulo mais recente de Alice na Trumplandia ele agora diz que
não pretende processar Hillary Clinton, que tem uma "mente
aberta" acerca do acordo sobre alterações
climáticas
[NR]
do qual prometera retirar os Estados Unidos e que não está mais
certo de que torturar suspeitos de terrorismo seja uma boa ideia. Assim, seja o
que for que você possa temer acerca de algumas das estranhas
políticas que manifestou ... simplesmente espere ... elas podem ser
deixadas de lado muito facilmente, embora eu ainda pense que a um nível
pessoal ele é uma toupeira.
A necessidade de Trump por aprovação, aparentemente enraizada de
modo profundo, pode sucumbir à crítica e protestos generalizados.
Pobre Donald ... tão poderoso ... mas ainda assim vulnerável.
O dilema de Trump, assim como toda a confusão com Hillary Clinton,
talvez pudesse ter sido evitado se Bernie Sanders tivesse sido nomeado. Esse
grande "se" histórico está quase ao mesmo nível
dos democratas que em 1944 escolheram Harry Truman para substituir Henry
Wallace como o vice-presidente de Roosevelt já doente. Truman trouxe-nos
uma coisa encantadora chamada a Guerra-fria, a qual por sua vez nos deu o
macartismo. Mas Wallace, tal como Sanders, era um tanto demasiado à
esquerda para os refinados patrões do Partido Democrata.
30/Novembro/2016
[NR]
A denúncia da impostura do aquecimento global é um dos
aspectos positivos de Trump. Seria uma pena se ele desse o dito por não
dito.
Ver também:
'New era of peace': Trump vows to stop US toppling of regimes during 1st stop of 'Thank You' tour
(Trump promete travar o derrube de regimes durante a 1ª paragem da sua
viagem de agradecimentos), 02/Dez/2016
[*]
Autor de
Killing Hope: U.S. Military and CIA Interventions Since World War II
e
Rogue State: A Guide to the World’s Only Superpower
O original encontra-se em
williamblum.org/aer/read/147
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
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