Ao considerar o presidente Barack Obama, alguém recentemente escreveu que
atribuir a políticos o status de fracassado só porque eles
estão prestes a chegar ao fim dos seus mandatos é como assumir
que um leão idoso não tem dentes. Afinal de contas, Obama outrora
era poderoso.
Pelo menos na arena da política externa, ele recusa-se a ser
tímido embora, paradoxalmente, não sofra pressão
pública ou do Congresso. As conversas de Obama com líderes
europeus no fim de Novembro viram-no estabelecer a agenda dos discursos
transatlânticos para o seu sucessor Donald Trump. A seguir, a
reunião de ministros da NATO de ministros do exterior em Bruxelas, no
princípio desta semana, enfatizou que Obama pode ter assegurado que a
acomodação de Trump com a Rússia será infinitamente
mais complicada do que se poderia pensar. Numa curiosa inversão de
papéis, são os aliados da NATO dos EUA que tomaram ao
establishment estado-unidense a iniciativa de se oporem à abordagem de
Trump a relações com a Rússia.
Entretanto, Obama é selectivo. Ele flutua como uma borboleta sobre a
Ásia-Pacífico, evita a Baia de Guantanamo como a peste, mas pica
como uma abelha quando a questão é Vladimir Putin. O antagonismo
é visceral. É difícil definir como começou, mas a
Ucrânia e a Síria devem ter algo a ver com isso. Dito
simplesmente, Putin foi mais esperto do que ele em ambas as questões e,
pior ainda, fez Obama parecer um "perdedor".
A China pode ter esvaziado mortalmente o balão de Obama destinado
à Ásia e foi bastante hábil para
fazer parecer que este colapso se tenha devido a uma fuga numa válvula.
Por
sua vez, ninguém esfregou o nariz de Obama na areia recordando-lhe que
não manteve a palavra sobre o encerramento da Baia de Guantanamo. Mas
a Ucrânia e a Síria, ao contrário, destacam-se como
monumentos vivos do seu fracasso como homem de estado. Ele tornou-se o motivo
de gargalhadas na Rua Árabe, em Jerusalém, Istambul e Cairo.
Mas Obama não herdou do presidente George W. Bush os problemas na
Ucrânia e na Síria; foi ele próprio que os criou. Obama
não tinha de pressionar a "mudança de regime" na
Ucrânia, com o derrube de um governo eleito, simplesmente porque o
presidente em exercício não era suficientemente "pró
americano". Nem tinha ele de incitar a Turquia e os aliados americanos do
Golfo a sequestrarem a Primavera Árabe na Síria
mais uma vez, pressionando a "agenda de mudança de
regime" para remover do poder um dirigente não desejoso de servir
os interesses dos EUA naquela região.
Obama fracassou miseravelmente em realizar seus objectivos em ambos os
projectos. Naturalmente, ele foi suficientemente sensível para
não assumir riscos na Ucrânia armando Kiev ou colocar "botas
no terreno" na Síria. Mas o desastre em si é
fundamentalmente demasiado trágico dois países soberanos e
independentes que são estados membros das Nações Unidas
jazem em ruínas.
A Síria, em particular, é o fantasma de Obama. Ele agora
está a considerar um projecto de intensificar dramaticamente
fornecimentos de armas a grupos sírios da oposição. Estas
armas podem incluir mesmo mísseis anti-aéreos portáteis
fabricados nos EUA. Dito simplesmente, Obama pode obter daí o prazer
mórbido de estes sistemas avançados de mísseis poderem
alvejar os jactos russos. Mas a experiência passada mostra que as armas
americanas inevitavelmente chegam a grupos extremistas. Por que um acto
tão insano por parte de um presidente em fim de mandato?
Por outro lado, a Rússia alegou que os militares dos EUA providenciaram
a grupos de oposição coordenadas para que alvejassem um hospital
de campanha russo na região de Alepo, matando dois paramédicos e
um médico. Evidentemente a administração Obama espera atar
as mãos de Trump, o qual na semana passada disse pela enésima vez:
Nós (os EUA) cessaremos de correr para o derrube de regimes estrangeiros
de que não sabemos nada, com os quais não deveríamos estar
envolvidos. O nosso foco, ao invés, deve ser derrotar o terrorismo e
destruir o ISIS, e nós o faremos. Não queremos ter forças
armadas esgotadas porque estamos por toda a parte a combater em áreas
que não deveríamos estar a combater. Não vamos ser
esgotados nem mais um minuto... Construiremos nossa força militar
não como um acto de agressão, mas como um acto de
prevenção. Em suma, procuramos a paz através da
força.
A administração Obama quer manter a chama da guerra viva na
Síria de modo a que aliados regionais dos EUA entendam a
insinuação apesar da queda iminente de Alepo. Há muito
simbolismo no acto vil
(dastardly)
da administração cessante em levantar o embargo sobre o
fornecimento de armamento avançado a grupos sírios
[NR]
quando restam apenas 40 dias de mandato.
Encontramos uma atitude perversa semelhante também na frente
diplomática. O ministro russo do Exterior, Sergey Lavrov, pôs a nu
numa conferência de imprensa em Hamburgo na sexta-feira o que realmente
está a acontecer na rubrica das "consultas" russo-americanas.
Leia a notícia da TASS
aqui
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09/Dezembro/2016
[NR]
Presidential Determination and Waiver -- Pursuant to Section 2249a of Title 10, United States Code, and Sections 40 and 40A of the Arms Export Control Act to Support U.S. Special Operations to Combat Terrorism in Syria
O original encontra-se em
blogs.rediff.com/mkbhadrakumar/2016/12/09/how-lame-is-lame-duck-obama/
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
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