Sair do euro?

por Vicenç Navarro, Juan Torres López e Alberto Garzón [*]

. Até este ponto apostámos por reformas dentro da União Europeia que permitam construir uma verdadeira união da população europeia. Contudo, nem todos os economistas consideram que seja a única ou inclusive a melhor opção que resta aos países que agora estão a ser arrasados pelos planos de ajuste e pelos mercados financeiros que os impõem. Uma das visões alternativas é a da saída do euro.

Com efeito, não cabe a menor dúvida a ninguém das vantagens que dispor de uma união monetária na Europa pode trazer para todos. Mas são vantagens que só podem ser desfrutadas quando esta está bem concebida e quando dispõe dos necessários mecanismos compensatórios para evitar que as diferenças que costumam haver entre os países ou territórios que a componham se convertam numa ameaça para a própria união e numa fonte de desigualdades sociais e pessoais, de desequilíbrios territoriais, de conflitos económicos e, em suma, de empobrecimento para alguns deles.

Contudo, todos percebem que sair do euro é uma opção de custos extraordinários que levaria o país que o fizesse a sofrer agressões sem precedentes na Europa e a viver alguns anos de caos financeiro e de empobrecimento [3] . Nada mais certo.

Mas por acaso está a propiciar outra coisa melhor um euro ao serviço exclusivo do capital financeiro e das grandes empresas? Por acaso deu segurança e bem estar à Grécia, Portugal ou Irlanda? Por acaso a Espanha não fez os deveres do euro e não pôs sem reclamar nas mãos do capital alemão e europeu suas maiores empresas e centros de produção? Por acaso está a proteger-nos da extorsão e dos ataques especulativos? O euro não alentou, em benefício da banca europeia, o endividamento privado impondo os cortes salariais ao invés da estabilidade financeira?

"... E A SAÍDA DO EURO SERÁ A ÚNICA OPÇÃO"

Se se mantiverem as políticas que se têm aplicado e não se puser fim aos sofrimentos extraordinários que agora padecem países como a Grécia mas que em breve podem estender-se a outros mais, será impossível garantir a mínima estabilidade económica e social e a saída do euro será a única opção. Na nossa opinião, se não houver uma viragem urgente na política europeia, se não se impuser a cooperação, a harmonia e a repartição equitativa da riqueza, se não se admitir que quem deve governar a Europa é a cidadania mediante seus representantes e não os grupos de pressão e os poderes financeiros, não restará outro remédio senão reclamar a saída de um euro convertido num inferno para as classes trabalhadoras e que no futuro só serviria para que a Europa ficasse como parque de atracções dos endinheirados de outros continentes.

PARA ALÉM DA GLOBALIZAÇÃO NEOLIBERAL

A crise financeira voltou a por sobre a mesa, mais uma vez, a necessidade de enfrentar a situação de um planeta à deriva onde, segundo o Banco Mundial, hoje há 1.200 milhões de pessoas que vivem no umbral da pobreza, e mais ou menos o mesmo número de pessoas famintas, e onde não há maneira de os governos cumprirem seus compromissos de ajuda e reformas para evitar tudo isso.

Os resgates bancários destacaram o duplo critério para medir os poderes económicos dos países desenvolvidos, que sempre haviam justificado sua falta de acção contra a pobreza, a fome e a desigualdade com a falta de dinheiro. Só em 2007, o Banco Central Europeu injectou nas entidades financeiras um total de 645 mil milhões de euros e a Reserva Federal dos Estados Unidos. só no mesmo mês em que começou a crise, mais de 200 mil milhões de dólares – e não se importou em nacionalizar entidades com grandes custos para salvar o lixo dos banqueiros que arriscaram demasiado com o dinheiro alheio. Ainda que seja difícil calcular, entre a Europa e os Estados Unidos foram gastos mais de 15 milhões de milhões de dólares para enfrentar a crise ajudando as empresas e os bancos que a haviam provocado. Contudo, não se pode dizer que com isso se hajam solucionado os problemas porque, como comentámos, estes têm carácter estrutural e, além do dinheiro, necessitam reformas profundas.

(...)

[3] Na realidade, conforme as normas legais europeias, nenhum país pode sair do euro uma vez que esta possibilidade não é contemplada (o que por si mesmo diz muito do carácter do clube de que fazemos parte). Seria uma possibilidade que só poderia ser levada a cabo mediante procedimentos extraordinários.

[*] Excerto de Hay alternativas (pgs. 180-183), de Vicenç Navarro, Juan Torres López e Alberto Garzón Espinosa, ed. Sequitur , Madrid, 2011, 224 p., ISBN: 978-84-95363-94-7.

Para descarregar o livro clique com o botão direito do rato em Hay alternativas e faça Save As... (PDF, 1,7 MB).


Este excerto encontra-se em http://resistir.info/ .
13/Dez/12