Biocombustíveis: florestas pagam o preço
por Fred Pearce
O impulso para a "energia verde" no mundo desenvolvido está a
ter o efeito perverso de fomentar a destruição das florestas
húmidas tropicais. Desde as reservas de orangotangos no Bornéu
até à Amazónia brasileira, florestas virgens estão
a ser arrasadas a fim de produzir óleo de palma e soja para abastecer
automóveis e centrais de energia eléctrica na Europa e na
América do Norte. A escalada de preços provavelmente
acelerará a destruição.
A pressa em produzir energia a partir de óleos vegetais está a
ser impulsionada, em parte, por directivas da União Europeia que obrigam
a misturar biocombustíveis aos combustíveis convencionais, e
também por subsídios equivalentes a cerca de 20 pence (0,30
) por litro. Na semana passada, o governo britânico anunciou a
meta de que os biocombustíveis deveriam atingir 5% nos transportes
até
2010. O objectivo é ajudar a cumprir as metas do protocolo de Quioto
quanto à redução das emissões dos gases de efeito
estufa.
A procura crescente de energia verde levou a um aumento súbito do
preço internacional de óleo de palma com consequências
potencialmente danosas. "A expansão da produção de
óleo de palma é uma das principais causas de
destruição de florestas húmidas no sudeste
asiático. É um dos produtos que maior dano ambiental provoca no
planeta", afirma Simon Counsell, director da "Rainforest
Foundation" com sede no Reino Unido. "Mais uma vez, parece que
estamos a tentar resolver os nossos problemas ambientais despejando-os nos
países em vias de desenvolvimento, onde eles têm efeitos
devastadores sobre a população local".
A principal alternativa ao óleo de palma é o de soja. Mas a soja
é a maior causa de destruição da floresta húmida na
Amazónia brasileira. Apoiantes dos biocombustíveis argumentam que
eles podem ser "neutros" no ciclo do carbono porque o CO
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libertado na sua queima é reabsorvido na plantação
seguinte. O interesse é maior nos motores de ciclo diesel, que podem
funcionar sem modificações também com óleos
vegetais, e na Alemanha a produção de biodiesel duplicou desde
2003. Também há planos para a queima de óleo de palma em
centrais eléctricas. "Mais uma vez, estamos a tentar resolver os
nosso problemas ambientais empurrando-os para os países em vias de
desenvolvimento".
Até há pouco tempo, o pequeno mercado europeu de
biocombustíveis era dominado pela produção local de
óleo de colza (canola). Mas a procura acrescida no mercado alimentar
também fez aumentar o preço de óleo de colza. Isto levou
os fabricantes de combustível a optarem pelo óleo de palma e de
soja, em substituição. Os preços de óleo de palma
saltaram então 10% só no mês de Setembro e prevê-se
que subam 20% no próximo ano, enquanto a procura global por
biocombustíveis está agora a crescer à taxa de 25% ao ano.
Roger Higman, da associação "Amigos da Terra" do Reino
Unido, que apoia os biocombustíveis, diz: "Precisamos assegurar que
as colheitas usadas para fazer o combustível foram cultivadas de um modo
sustentável ou então teremos as florestas húmidas deitadas
abaixo para dar lugar a plantações de óleo de palma
destinado a fabricar biodiesel".
22/Novembro/2005
Ver também:
Estudo demonstra que a produção de etanol e biodiesel consome mais energia do que aquela proporcionada por estes combustíveis
.
O original encontra-se em
http://www.newscientist.com/article.ns?id=mg18825265.400
, revista
New Scientist
nº 2526, 22/Novembro/2005, pág. 19. Tradução
de Alexandre Leite.
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
.
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