Acerca das reservas petrolíferas do Médio Oriente
por Ali Samsam Bakhtiari
É agora do conhecimento geral que a fatia de leão das reservas remanescentes de
petróleo convencional estão concentradas no Médio Oriente (MO). Todos os
grandes avaliadores de reservas concordam neste ponto crucial, tal como se
verifica na Tabela 1.
Tabela 1- Fracção das reservas globais de petróleo convencional no Médio Oriente
Avaliador
|
Percentagem das reservas globais no MO
|
Oil & Gas Journal
|
57.5%
|
BP Statistical Review
|
61.7%
|
Dr. Colin Campbell
|
51.8%
|
Se os avaliadores anteriores concordam em geral na posição relativa do MO,
tendem a discordar nas estimativas concretas quer das reservas globais quer das
do MO.
É bom frisar que para avaliar as reservas de petróleo do MO há que proceder com
cautela. Por um lado estimar reservas petrolíferas é igualmente uma ciência e
uma arte; por outro lado, do ponto de vista da maioria dos países do MO as
reservas petrolíferas são mais políticas que geológicas. Portanto, as visões
não científicas estão à frente da ciência e aumentam ainda mais as sombras que
tem levado a uma situação opaca na generalidade do MO.
RESERVAS DO MÉDIO ORIENTE
A atenção aqui vai para os cinco maiores países produtores do MO, os chamados
'Cinco do MO' [NT: do inglês 'ME Five'] – nomeadamente: Irão, Iraque, Kuwait,
Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos. Quatro das mais recentes estimativas
disponíveis para estes produtores estão apresentadas na Tabela 2.
Tabela 2- Reservas remanescente provadas de petróleo nos 'Cinco do MO',
de acordo com os principais avaliadores, em Giga-barris (Gb)
País
|
Oil & Gas Journal
|
BP Statistical Review
|
Colin Campbell
|
Intervalo deste autor
|
Irão
|
132.5
|
132.5
|
69.0
|
35 – 45
|
Iraque
|
115.0
|
115.0
|
61.0
|
80 – 100
|
Kuwait
|
101.5
|
99.0
|
54.0
|
45 – 55
|
Arábia Saudita
|
264.3
|
262.7
|
159.0
|
120 – 140
|
Emirados Árabes Unidos
|
97.7
|
97.8
|
44.0
|
40 – 50
|
TOTAL
|
711.0
|
707.0
|
387.0
|
320 - 390
|
Enquanto que Oil & Gás Journal e a BP confiam nos números ‘oficiais’ publicados
(que são usualmente inflacionados e altamente políticos), o Dr. Campbell tem
baseado as suas estimativas em evidências geológicas. Em consequência, ele
corta mais ou menos pela metade os números ‘oficiais’. No computo geral, as
suas estimativas são as melhores disponíveis mundialmente e provaram o seu
valor no meu modelo Capacidade Mundial de Produção de Petróleo - WOCAP (do
inglês 'World Oil Production Capacity').
KUWAIT
No caso específico do Kuwait, os números do Dr. Campbell foram recentemente
confirmados, quando a Petroluem Intelligence Weekly (20 de Janeiro) relatou que
um alto responsável petrolífero do Kuwait deu a entender que as reservas do
país se cifram em ‘apenas’ 48 Gb – em claro contraste com os 99 Gb declarados
oficialmente. Esta nova estimativa surge do somatório das seguintes reservas:
Campo de Burgan : 20 Gb
Campos do Norte : 17 Gb
Campos do Oeste : 8.5 Gb
Zona Neutra : 2.5 Gb [para uma partilha de 50%]
Indubitavelmente este corte pela metade das reservas do Kuwait é uma revisão
bem vinda, e todos os outros produtores do MO deviam ser encorajados a fazer o
mesmo.
ARÁBIA SAUDITA
O caso saudita foi magistralmente exposto por Matthew Simmons no seu livro
“Twilight in the Desert”, e a estimativa de 159 Gb do Dr. Campbell parece bem
mais realista que a oficial de 260 Gb. A minha opinião fica ainda abaixo disso
– mais ou menos a meio dos valores oficiais.
IRÃO
Quanto ao Irão, os 132 Gb oficiais usualmente aceites estão quase 100 Gb acima
de qualquer avaliação realista. Se o valor inflacionado oficial fosse
verdadeiro, a sua industria petrolífera não se bateria dia a dia por manter a
produção entre 3,0 e 3,5 milhões de barris por dia (incluindo a exploração
marítima no Golfo Pérsico).
IRAQUE
Ao contrário da minha estimativa para o Irão, que é inferior à do Dr. Campbell,
a do Iraque é marcadamente superior. As razões desta divergência são duas: 1)
Os onze campos iraquianos que aguardam desenvolvimento, liderados pelos três
gigantes de ‘Majnoun’, ‘West Qurna II’ e ‘Nahr Umar’. 2) O quase intacto
‘Deserto Ocidental’ que pode revelar grandes surpresas – baseando-me na teoria
da ‘Ferradura Dourada’ sobre a qual escrevi no
Oil & Gas Journal
(07/Julho/2003).
O OCASO DAS RESERVAS
Sem menosprezar a importância das reservas de petróleo convencional, os seus
dias podem estar contados (tanto no MO como no resto do mundo).
As estimas das reservas de petróleo foram úteis na era anterior ao ‘Pico do
Petróleo’. Mas na ressaca do grande Pico (como por exemplo no presente período
da ‘Transição Um’), tendem a tornar-se obsoletas e pouco úteis, à medida que as
análises e estimativas campo-a-campo se tornarem padrão (eg. Ghawar,
Cantarell). Então não demorará muito até que tenhamos de dizer adeus a todas
estes fantásticos números de reservas e mandemos o ficheiro inteiro das
reservas para o grande ‘caixote-do-lixo da história’
Outros artigos do autor em
http://www.sfu.ca/~asamsamb/
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
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