Como garantir a sustentabilidade da Segurança Social sem ser à
custa de pensões de miséria
RESUMO DESTE ESTUDO
A Comissão Europeia acabou de publicar o seu
"Relatório de 2009 sobre o envelhecimento da população"
onde analisa a
evolução das despesas com pensões nos diferentes
países da União Europeia. E elogia o governo de Sócrates
pela "reforma da Segurança Social" ue está a
determinar que o crescimento das despesas com as pensões em Portugal
seja inferior ao verificado na generalidade dos países da U.E. Por
isso, interessa saber quem está a suportar os custos dessa
"reforma" tão elogiada pela Comissão Europeia e por
toda a direita em Portugal, e se não se podia garantir a
sustentabilidade da Segurança Social com muito menos custos para os
reformados cuja esmagadora maioria continuam a receberem pensões de
miséria.
Em Março de 2009, existiam em Portugal 2.817.520 reformados, recebendo
uma pensão média de apenas 333,29 euros por mês. Se a
análise for feita por tipo de pensões, conclui-se que os
reformados por velhice eram 1.830.651 e recebiam uma pensão média
de apenas de 385,63 euros por mês; os com pensão de
sobrevivência eram 685.226 e tinham uma pensão média de
somente 196,58 euros por mês; e os com pensão de invalidez eram
301.643 recebendo uma pensão média de apenas 301,16 por
mês. Se desagregarmos os pensionistas de velhice por regimes, constatamos
que existiam, em Março de 2009, 1.601.678 pensionistas do Regime Geral
com uma pensão média de 409,45 euros por mês; 194.773
pensionistas do Regime Regulamentar Rural com uma pensão média de
224,62 euros por mês; 26.981 do Regime de Pensão Social recebendo
apenas 187,18 euros por mês; e 7.219 reformados do Regime Rural
Transitório recebendo também uma pensão de 187,18 euros
por mês. Valores todos eles insuficientes para se poder ter uma vida com
um mínimo de dignidade.
Por outro lado, a formula de actualização das pensões pelo
governo de Sócrates, que consta da Lei 53-B/2006, está a provocar
que os reformados não tenham qualquer melhoria no seu poder de compra e,
se não for alterada, determinará que os reformados, em 2010,
sofrerão uma redução nas pensões nominais
(receberão menos em euros). Isto porque segundo o Banco de Portugal, a
taxa de inflação em 2009 será negativa, ou seja, de -0,2%.
Se esta previsão se verificar, e se for aplicada a Lei 53-B/2006 deste
governo, em 2010, as pensões inferiores a 628 euros diminuirão,
em euros, em 0,2%; as de valor compreendido entre 628 euros e 2.513 euros
baixarão, em euros, em 0,7%; e as de valor entre os 2.513 euros e 5.016
diminuirão, em euros, 0,95%; só as pensões de valor
superior a 5016 euros é que manterão o mesmo valor em euros.
É evidente que é uma situação socialmente
inaceitável, que só a lei absurda deste governo podia criar.
Uma medida para garantir a sustentabilidade financeira da Segurança
Social, sem ter de impor a degradação das condições
de vida dos reformados que recebem pensões de miséria, era
precisamente eliminar as múltiplas isenções e taxas
contributivas inferiores à Taxa Social Única que existem, e que o
projecto de Código Contributivo apresentado pelo governo não
elimina (pelo contrário até aumenta), assim como um combate mais
eficaz contra a evasão e fraude contributiva que continua a
verificar-se. Por ex., em 2008, isso teria dado um aumento de receita à
Segurança Social que estimamos entre 1.884 milhões de euros e
4.771 milhões de euros.
Outra medida para garantir a sustentabilidade financeira da Segurança
Social seria alterar a base de cálculo das contribuições
das empresas para a Segurança Social, deixando de ser com base nas
remunerações pagas, como é actualmente, passando a ser com
base em toda a riqueza liquida criada pelos trabalhadores das empresas.
Actualmente apenas 37% da riqueza criada pelas empresas, que corresponde
às remunerações pagas, é utilizada para calcular as
contribuições das empresas para a Segurança Social,
não contribuindo com nada 63% da riqueza líquida criada. Bastaria
uma taxa contributiva de 11% a pagar pelas empresas calculada com base na
totalidade da riqueza criada por elas para a Segurança Social ter
recebido, em 2008, mais 1.856 milhões de euros de
contribuições das empresas. Isto acabaria com a
concorrência desleal que existe actualmente entre as empresas, pois umas
contribuem com uma percentagem maior da riqueza criada do que outras ( por ex.,
as empresas do vestuário, por empregarem muitos trabalhadores,
contribuem com 18% da riqueza liquida que criam, enquanto as tabaqueiras
contribuem apenas com 5,9%), e as empresas deixariam de ser premiadas quando
despedem trabalhadores pois passam a pagar menos para a Segurança Social
já que as remunerações que pagam, que serve de base de
cálculo às contribuições, diminui com os
despedimentos. E deixaria de estar em perigo a sustentabilidade financeira
futura da Segurança Social, como sucede com a "reforma" do
governo de Sócrates. E isto porque mesmo que diminuísse a
percentagem que as remunerações representam no PIB ou no VAL,
como as contribuições das empresas deixavam de estar ligadas
às remunerações pagas, e passavam estar apenas dependentes
da totalidade da riqueza criada anualmente pelas empresas, como esta cresce
rapidamente, exceptuando nos períodos de crise, as receitas da
Segurança Social aumentariam ao mesmo ritmo.
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A Comissão Europeia acabou de publicar o seu "Relatório de
2009 sobre o envelhecimento da população" onde analisa a
evolução das despesas com pensões nos diferentes
países da União Europeia. E elogia o governo de Sócrates
pela sua "reforma da Segurança Social" que está a
determinar que as despesas com as pensões cresça muito menos do
que na generalidade dos países da União Europeia. Semelhante
atitude têm os media portugueses. Por ex., o Jornal de Negócios de 30/04/2009 escrevia
mesmo: "A reforma do sistema das pensões recebe nota positiva da
Comissão Europeia". E uma outra jornalista, com um
comentário pessoal, não se coibiu de reforçar
acrescentando o seguinte: " E ainda mais sobre o factor de
sustentabilidade. E aí reside o segredo do sucesso. Isso mesmo veio a
Comissão Europeia ontem comprovar".
No entanto, interessa saber quem está a suportar os custos dessa
"reforma" tão elogiada pela Comissão Europeia e por
toda a direita em Portugal e mesmo pelos media, e se não existe uma
forma de garantir a sustentabilidade da Segurança Social com muito
menores custos para os reformados cuja maioria continua a receber
pensões de miséria. São estas questões importantes
que, com este estudo, se procura responder, dando um contributo para o seu
esclarecimento. Naturalmente de uma forma diferente da defendida pelo
pensamento económico único.
AO FIM DE QUATRO ANOS DE GOVERNO DE SÓCRATES, AS PENSÕES EM
PORTUGAL CONTINUAM A TER VALORES SOCIALMENTE INACEITÁVEIS
O quadro seguinte, construído com dados divulgados pelo
Ministério do Trabalho e da Solidariedade em Março de 2009,
mostra os valores extremamente baixos das pensões que os reformados da
Segurança Social continuam a receber.
Em Março de 2009, existiam em Portugal 2.817.520 reformados, recebendo
uma pensão média de apenas 333,29 euros por mês.
Se a análise for feita por tipo de pensões, conclui-se que os
reformados por velhice eram 1.830.651 e recebiam uma pensão média
de apenas de 385,63 euros por mês; os com pensão de
sobrevivência eram 685.226 e tinham uma pensão média de
somente 196,58 euros por mês; e os com pensão de invalidez eram
301.643 recebendo uma pensão média de apenas 301,16 por
mês.
Se desagregarmos os pensionistas de velhice por regimes, constatamos que
existiam, em Março de 2009, 1.601.678 pensionistas do Regime Geral com
uma pensão média de 409,45 euros por mês; 194.773
pensionistas do Regime Regulamentar Rural com uma pensão média de
224,62 euros por mês; 26.981 do Regime de Pensão Social recebendo
apenas 187,18 euros por mês; e 7.219 reformados do Regime Rural
Transitório recebendo também uma pensão de 187,18 euros
por mês.
É precisamente à custa de reformados com este nível de
pensões que o governo de Sócrates, aprovou uma "reforma da
Segurança Social" que está determinar que o crescimento das
despesas com pensões seja inferior ao verificado na generalidade dos
países da U.E., de que tanto se ufana, e que é tão
elogiado pelo Comissão Europeia e por toda a direita em Portugal.
EM 2010, SE A LEI DESTE GOVERNO NÃO FOR ALTERADA, O VALOR NOMINAL DAS
PENSÕES EM EUROS DIMINUIRÁ
A "reforma" da Segurança Social do governo de Sócrates,
para além de provocar a diminuição das pensões dos
trabalhadores que se reformam, através da alteração da
formula de cálculo da pensão que aprovou e do chamado
"factor de sustentabilidade", que é um factor de
redução continua das novas pensões que introduziu;
repetindo, para além disto tudo, a "reforma" do governo PS
também não garante qualquer melhoria nas pensões dos
reformados, determinando mesmo a redução do poder de compra de
muitas delas.
De acordo com a Lei 53-B/ 2006 aprovada por este governo, enquanto o
crescimento económico (PIB) não for superior a 2% (e esta
é a situação da economia portuguesa), as pensões
dos reformados são actualizadas da seguinte forma : (a) Pensões
inferiores a 628 euros são aumentadas de acordo com a subida verificada
no Índice de Preços no Consumidor no ano anterior, portanto
não têm qualquer aumento no seu poder de compra; (b)
Pensões de valor igual ou superior a 628 euros mas inferiores a 2.513
euros são actualizados de acordo com a taxa de inflação do
ano anterior menos 0,5 pontos percentuais, portanto sofrem
redução do poder de compra; (c) Pensões de valor igual
ou superior a 2.513 euros e inferiores a 5.012 euros serão actualizados
de acordo com o IPC menos 0,75 pontos percentuais, portanto também
sofrem uma redução do poder de compra; (d) As restantes
são congeladas.
Esta formula de actualização das pensões de reforma para
além de impedir qualquer melhoria no poder de compra das pensões,
mesmo as de valores mais baixos, determina situações absurdas e
socialmente inaceitáveis. Segundo o Banco de Portugal, a taxa de
inflação em 2009 será negativa de -0,2%. Se esta
previsão se verificar, e se for aplicada a Lei 53-B/2006 deste governo,
as pensões inferiores a 628 euros diminuirão, em euros, 0,2%; as
de valor compreendido entre 628 euros e 2.513 euros baixarão 0,7%; e as
de valor entre os 2.513 euros e 5.016 diminuirão, em euros, -0,95%;
só as pensões de valor superior a 5016 euros é que
manterão o mesmo valor em euros. É evidente que é uma
situação socialmente inaceitável, que só uma lei
absurda e um governo sem sensibilidade social podia criar.
AS RECEITAS PERDIDAS PELA SEGURANÇA SOCIAL EM 2008, DEVIDO À
FUGA, A EVASÃO CONTRIBUTIVA, E A ISENÇÕES VARIA ENTRE
1.884 MILHÕES DE EUROS E 4.771 MILHÕES DE EUROS
Uma medida importante para garantir a sustentabilidade financeira da
Segurança Social, sem ter de impor a degradação das
condições de vida dos reformados cuja esmagadora maioria
continuam a receber pensões de miséria, seria eliminar as
múltiplas isenções e taxas contributivas inferiores
à Taxa Social Única que continuam a gozar muitas entidade, e que
o projecto de Código Contributivo apresentado pelo governo não
elimina ( pelo contrário até aumenta), assim como desenvolver um
combate muito mais eficaz do que o deste governo contra a evasão e
fraude contributiva, como provam os dados constantes do quadro seguinte.
O número de trabalhadores por conta de outrem, sem incluir os
trabalhadores da Administração Pública que estão
inscritos e descontam para a CGA era, em 2008, de 3.449,7 mil. Segundo o
Ministério do Trabalhado e da Solidariedade Social (Boletim
Estatístico de Fevereiro de 2009), em Abril de 2008, em Portugal, a
remuneração base média mensal era de 891,4 euros e o ganho
médio mensal era de 1.063,4 euros. Se calcularmos a massa salarial
recebida pelos 3.449,7 mil trabalhadores com base na remuneração
media mensal (891,4) e com base no ganho médio mensal
(1.063,4) e a partir dos valores assim obtidos calcular as
contribuições potenciais para a Segurança Social, que se
obtêm multiplicando aqueles valores por 34,75 % obtemos respectivamente
14.960 milhões de euros e 17.847 milhões de euros. Em 2008, de
acordo com a Direcção Geral do Orçamento do
Ministério das Finanças, as receitas da Segurança Social
que tiveram como origem as contribuições das empresas e os
"descontos " dos trabalhadores foram apenas 13.067 milhões de
euros. Portanto a perda de receita pela Segurança Social atingiu, em
2008, 1.884 milhões se se utilizar como base de cálculo a
remuneração media mensal ou 4.771 milhões de euros se se
utilizar com base de cálculo o ganho médio mensal. É uma
montante muito elevado que poderia ser recuperado se se aumentasse a
eficácia do combate à evasão e fraude contributiva
à Segurança Social, que continua a ser enorme e este governo nada
tem feito para alterar verdadeiramente essa situação (o numero de
inspectores da Segurança Social e da IGT continua a ser manifestamente
insuficiente), e se se eliminasse as múltiplas isenções e
taxas de contribuição inferiores à TSU de que continuam a
gozar muitas entidades.
È PRECISO ALTERAR A BASE DE CÁLCULO DAS
CONTRIBUIÇÕES PARA A SEGURANÇA SOCIAL DAS EMPRESAS PARA
GARANTIR A SUSTENTABILIDADE FINANCEIRA DA SEGURANÇA SOCIAL
Uma outra medida importante para garantir a sustentabilidade financeira, que
este governo se tem recusado aplicar porque reduziria os lucros das entidades
patronais, era alargar a base de cálculo das
contribuições das empresas para a Segurança Social,
já que as remunerações pagas, que é a actualmente
utilizada, representa uma percentagem cada vez mais pequena da riqueza liquida
criada pelas empresas como mostra o quadro seguinte.
Em 2008,a riqueza liquida criada pelas empresas (não inclui a
Administração Pública), ou seja, o VAL (valor Acrescentado
Liquido) rondou os 101.539 milhões de euros. As
remunerações declaradas à Segurança Social,
utilizando como base de cálculo as contribuições cobradas
pela Segurança Social em 2008, estimaram-se em 37.629 milhões de
euros. Isto significa que 63.910 milhões de euros de riqueza
líquida criada pelas empresas em 2008, ou seja, 63% do total, não
contribuíram, com nada, para a Segurança Social. Bastaria uma
taxa contributiva de 11%, portanto muito inferior aos 23,75% pagos actualmente
pelas empresas, aplicada à totalidade da riqueza liquida criada pela
empresas em 2008, para a Segurança Social ter obtido uma receita que
estimamos em 11.169 milhões de euros em 2008, que é superior em
1.856 milhões de euros ao valor das contribuições pagas
pelas empresas nesse mesmo ano (2008). E tinha a vantagem de, fosse qual fosse
o número de trabalhadores empregados, e fosse qual fosse o número
de trabalhadores despedidos, as empresas pagariam a mesma percentagem da
riqueza que criassem em cada ano para a Segurança Social. Este
cálculo das contribuições das empresas para a
Segurança Social com base na riqueza criada, e não com base nas
remunerações que pagam, tinha também outras vantagens.
Acabaria com a concorrência desleal que existe actualmente entre as
empresas, pois umas contribuem com uma percentagem mais pequena da riqueza que
criam para a Segurança Social do que outras (por ex., as empresas do
vestuário, por empregarem muitos trabalhadores, contribuem com 18% da
riqueza que criam, enquanto as tabaqueiras, por empregarem poucos contribuem
apenas com 5,9%). Por outro lado, as empresas deixariam de ser premiadas quando
despedem trabalhadores pois passam a pagar menos para a Segurança Social
já que as remunerações pagas, que servem de base de
cálculo das contribuições para a Segurança Social,
diminuem com os despedimentos de trabalhadores. Para além disso deixaria
de estar em perigo a sustentabilidade financeira futura da Segurança
Social, o que a "reforma" de Sócrates não garante, pois
mesmo que diminuísse a percentagem que as remunerações
representam do PIB ou do VAL, como as contribuições das empresas
deixavam de estar ligadas às remunerações que pagam, e
passavam a estar dependente da totalidade da riqueza criada anualmente pelas
empresas, quando esta aumenta, o que sucede habitualmente exceptuando os
períodos de crise, as receitas da segurança social aumentariam
proporcionalmente. É esclarecedor dos interesses de classe que defende o
governo de Sócrates o facto de no projecto de Código Contributivo
que apresentou ter alargado os descontos dos trabalhadores a praticamente todos
os seus rendimentos e não ter feito o mesmo relativamente à
totalidade da riqueza liquida criada pelas empresas.
02/Maio/2009
[*]
Economista,
edr@mail.telepac.pt
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