EDP, PT e GALP secam o crédito bancário
- As três empresas distribuíram 8.243 milhões de
lucros aos accionistas
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Os banqueiros e os defensores do pensamento económico neoliberal dominante dizem que o crédito está a ser cada vez mais difícil de obter e a banca aproveitou isso para fazer disparar o valor do spread aumentando os seus lucros. No entanto o credito existente continua a ser mal utilizado, e o crédito disponível é, em grande parte, canalizado para as grandes empresas que, no lugar de investirem os lucros que obtêm, distribuem a maior parte, descapitalizando as empresas, e depois pedem emprestado, reduzindo significativamente o crédito disponível para PMEs, etc. Num estudo anterior, utilizando dados do Banco de Portugal, mostramos a profunda distorção que existe na concessão do crédito em Portugal já que, entre 2000 e 2010, o credito concedido à agricultura, à pesca e indústria transformadora diminuiu de 11,3% para apenas 7,3% do credito total, enquanto o crédito concedido às empresas de construção, às actividades imobiliárias e à habitação, que tornou possível os preços inflacionados e a especulação que se verificou no sector imobiliário, aumentou de 62,3% para 71,7% do crédito total concedido pela banca. É evidente, a continuar este politica de crédito baseada na procura do lucro elevado e sem risco, em que a maior parcela dos recursos financeiros disponíveis do País não são aplicados em actividades produtivas, que são a base quer da satisfação das necessidades internas quer de uma actividade exportadora séria, o País não sairá certamente da situação de estagnação, de atraso e de crise em que se encontra mergulhado. A má utilização dos escassos recursos financeiros que o País dispõe parece não incomodar nem o governo, nem o Banco de Portugal, nem o pensamento económico neoliberal dominante, nem mesmo os partidos políticos pois ninguém fala disso. No período 2004-2009, a EDP, a PT e a GALP obtiveram 12.546 milhões de lucros líquidos, tendo os seus lucros aumentado em 84,4% entre 2004 e 2009. Em 2009, os seus lucros subiram 14% relativamente aos de 2008, o que mostra bem que a crise não está afectá-las muito. No entanto, no lugar de investir os lucros, estas empresas no período 2004-2009 distribuíram 8.243 milhões (65,7% dos lucros obtidos) aos accionistas, o que descapitalizou as empresas, obrigando-as depois a recorrerem maciçamente ao crédito. No fim de 2009, estas três empresas deviam 25.599 milhões , que era um valor superior a todo o credito concedido à agricultura, pesca e industria transformadora em Portugal que, no fim de Janeiro de 2010, somava apenas 17.784 milhões , ou seja, 69,5% do crédito obtido por aquelas três empresas. Uma medida que devia ser implementada para combater a distribuição exagerada de lucros em período de crise seria aprovar um imposto extraordinário com uma taxa, por ex., de 15% sobre os lucros distribuídos. Esta medida daria certamente uma receita três ou quatro vezes superior à que previsivelmente se obterá com o adicional no IRC de 2,5% (menos de 200 milhões em 2010), e teria ainda outras vantagens. Tomando como base os lucros obtidos no 1º Trimestre de 2010 por aqueles 8 grupos (5 bancários e 3 empresas não financeiras), e fazendo uma estimativa para todo o ano, obtém-se 4.176 milhões de lucros líquidos (11,4 milhões /dia). Se a percentagem de lucros de 2010 distribuídos for idêntica à verificada no passado em relação aos 3 grupos não financeiros em média 65,7% a receita obtida só destes 8 grupos com uma taxa extraordinária de 15% seria superior a 400 milhões , o que torna o adicional de 2,5% de IRC a aplicar às empresas com mais de 2 milhões de lucros fiscais, e não lucros reais (muitas com lucros inferiores a 2 milhões não são PMEs, como Sócrates pretendeu fazer crer); repetindo, o adicional no IRC de 2,5% terá um efeito meramente simbólico, porque o impacto nos lucros dos grupos económicos é reduzido. Para além disso aquele imposto extraordinário de 15% teria outras vantagens. Se a receita fiscal obtida fosse inferior à indicada, isso significaria que uma parte maior dos lucros não teria sido distribuída, o que teria duas vantagens. Em primeiro lugar, o investimento com base no auto-financiamento teria aumentado e, consequentemente, a criação de emprego e de riqueza. Em segundo lugar, teria ficado disponível mais crédito que podia ser aplicado em investimento em actividades produtivas, tão necessário para criar riqueza e emprego. |
O crédito está a faltar ao País, às empresas e
às famílias, afirma o governo, os banqueiros e os defensores do
pensamento económico neoliberal dominante. No entanto, o crédito
existente continua a ser mal utilizado ou então uma parte significativa
é absorvido pelas grandes empresas.
Num estudo anterior, utilizando dados do Banco de Portugal, mostramos a
profunda distorção que existe na concessão do
crédito em Portugal já que, entre 2000 e 2010, o credito
concedido à agricultura, à pesca e indústria
transformadora diminuiu de 11,3% para apenas 7,3% do credito total, enquanto o
crédito concedido às empresas de construção,
às actividades imobiliárias e à habitação,
que tornou possível os preços inflacionados e a
especulação que se verificou no sector imobiliário,
aumentou de 62,3% para 71,7% do crédito total concedido pela banca.
É evidente, a continuar este politica de crédito (e ela continua,
perante a passividade geral), em que a maior parte dos recursos financeiros
disponíveis do País não são aplicados nas
actividades produtivas por excelência, que são a base quer da
satisfação das necessidades internas quer de uma actividade
exportadora séria, o País não sairá certamente da
situação de estagnação, de atraso e de crise em que
se encontra profundamente mergulhado. A má utilização dos
escassos recursos financeiros que o País dispõe parece ser uma
questão que não incomoda nem o governo, nem o Banco de Portugal
(o regulador), nem mesmo os partidos políticos pois ninguém fala
disto.
A politica dos grandes grupos económicos, que têm
posições dominantes nos diversos segmentos de mercado, acumulando
lucros gigantescos através dos elevados preços que impõem
à população perante a passividade do governo e dos
reguladores, e que depois distribuem a maior parte dos lucros obtidos pelos
accionistas, nomeadamente grandes accionistas, contribuiu também para
escassez de crédito. E isto porque a distribuição da
maior parte dos lucros descapitaliza as empresas, as quais depois recorrem ao
crédito, absorvendo uma parte importante do crédito
disponível. Os casos da EDP, PT e GALP, que analisaremos neste estudo,
são exemplos paradigmáticos do que tem acontecido à escala
nacional perante a passividade do governo.
EDP, PT E GALP OBTÉM EM CINCO ANOS 12.646 MILHÕES DE
LUCROS LIQUIDOS
A EDP, a PT e a GALP são três grandes grupos económicos com
posições dominantes nos mercados em que actuam. Aproveitado essa
posição de domínio impõem preços elevados
aos consumidores portugueses, mesmo superiores aos preços médios
praticados na União Europeia, perante a passividade ou mesmo
conivência do governo e do regulador, o que lhes tem permitido obter
elevadíssimos lucros. O quadro seguinte, construído com dados
publicados nos relatórios destas empresas, mostra de uma forma clara
isso.
QUADRO I Lucros líquidos da EDP, PT e GALP no período
2004-2009
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Milhões |
Milhões |
Milhões |
Milhões |
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2004 | 46 | 623 | 445 | 1.114 |
2005 | 1.112 | 654 | 701 | 2.467 |
2006 | 1.017 | 867 | 755 | 2.639 |
2007 | 1.020 | 742 | 720 | 2.482 |
2008 | 1.091 | 582 | 117 | 1.790 |
2009 | 1.023 | 684 | 347 | 2.054 |
SOMA | 5.309 | 4.152 | 3.085 | 12.546 |
Variação 2004-2009 | +2119,6% | +9,8% | -22,0% | +84,4% |
Variaç:ão 2008-09 | -6,2% | +17,5% | +196,6% | +14,7% |
1º Trim. 2010 | 354 | 100 | 98 | 552 |
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Milhões |
Milhões |
Milhões |
Milhões |
Milhões |
Milhões |
Milhões |
Milhões |
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2004 | 35,5 | 8.534,7 | 408,1 | 5.522,0 | 213,6 | 1.731,0 | 872,1 | 15.787,7 |
2005 | 378,0 | 9.463,2 | 536,3 | 7.584,2 | 336,5 | 1.349,0 | 1.368,5 | 18.396,4 |
2006 | 427,2 | 10.147,9 | 536,7 | 5.840,3 | 422,8 | 1.099,0 | 1.717,0 | 17.087,2 |
2007 | 510,0 | 12.671,1 | 589,9 | 6.216,8 | 432,2 | 841,0 | 1.684,1 | 19.728,9 |
2008 | 512,8 | 14.803,7 | 515,7 | 6.695,9 | 65,5 | 1.991,0 | 1.160,3 | 23.490,6 |
2009 | 562,7 | 16.372,9 | 503,4 | 7.046,0 | 194,3 | 2.171,0 | 1.441,0 | 25.589,9 |
SOMA | 2.426,1 | 3.090,0 | 1.664,9 | 8.243,0 | ||||
Variação 2009-05 | 91,8% | 27,6% | 25,4% | 62,1% |