A redução brutal das remunerações da função pública
Instrumento para reduzir o Estado ao Estado mínimo neoliberal
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Um dos meios, não o único, que a "troika estrangeira" e o governo PSD/CDS estão a utilizar com o objectivo de reduzir o Estado ao "Estado mínimo" neoliberal, para assim transformar as suas funções sociais (saúde, educação, segurança social, etc) em áreas de negócio lucrativas para os grupos económicos privados é a redução brutal das remunerações dos trabalhadores da Administração Pública, com o objectivo de os levar a aposentarem-se prematuramente ou a sair. Para justificar utilizam a mentira afirmando que as remunerações no Sector Público são superiores às do sector privado. Como noticiou o Jornal de Noticias de 15/10/2011, e outros órgãos de informação, Passos Coelho justificou o confisco do subsídio de férias e de Natal aos trabalhadores da Função Pública dizendo " que em média os salários na Função Pública são 10 a 15 por cento superiores à média nacional". No entanto, o 1º ministro "esqueceu-se" de dizer, como consta do Boletim de Emprego Público do Ministério das Finanças que, em 2011, na Administração Central, 55,7% dos trabalhadores tinham o ensino superior, enquanto a nível do país essa percentagem era apenas 18,6%. Portanto, comparações com base em remunerações médias não são correctas, pois determinam conclusões falsas. Só a ignorância ou a intenção deliberada de enganar a opinião pública é que pode levar a utilizá-las. As comparações devem ser feitas entre remunerações de profissionais com níveis de escolaridade e de qualificação semelhantes. E se as comparações forem feitas entre as remunerações de idênticas categorias profissionais conclui-se que, em 2005, as dos trabalhadores da Administração Pública já eram inferiores às do sector privado e que, entre 2005 e 2012, com o congelamento e corte de remunerações no sector Público, e com o confisco do subsidio de férias e do Natal em 2012, o fosso entre a Administração Pública e o sector privado aumentou ainda mais. Para provar isso, vamos utilizar os resultados de um estudo mandado fazer pelo 1º governo de Sócrates a uma multinacional de consultoria que, pelo facto das conclusões não terem agradado ao governo, foi "metido na gaveta", como afirmou o anterior ministro das Finanças quando o confrontamos directamente na Assembleia da República, durante o debate do OE, perguntando por que razão o governo tinha ocultado o referido estudo. Assim com base nos resultados do estudo mandado fazer à multinacional Capgemini, pelo 1º governo de Sócrates, conseguimos calcular as remunerações para 27 categorias profissionais idênticas da Administração Pública e do sector privado em 2005 (quadro 1) que depois utilizamos para calcular as de 2012 (quadro 2) entrando com a variação de remunerações verificada no período 2005-2012 (até a 2010, os dados são os do Banco de Portugal, e de 2011 e 2012 são previsões com base em dados do Ministério do Trabalho). E as conclusões são as seguintes. Em 2005, as remunerações totais das chefias na Administração Pública (Director Geral a director de serviço) variavam entre 44,9% e 68,1% das do sector privado; as do Técnico Superior entre 57,1% e 95,1% das do sector privado; a do médico correspondia a 83,2% do sector do privado; a do enfermeiro a 68,5%; a dos administrativos variava entre 62,5% e 57,8% das do sector privado; as remunerações dos operários na Administração Pública correspondiam entre 54,1% e 71,8% das do sector privado; e as restantes categorias profissionais (guarda vigilante, auxiliar de limpeza, telefonistas e motoristas), as remunerações na Função Pública variavam entre 61,4% e 81,9% das do sector privado. E entre 2005 e 2012, com o congelamento e corte de remunerações na Administração Pública, e com o confisco do subsidio de férias e de Natal aos trabalhadores da Função Pública, em 2012, o fosso remuneratório entre o Sector Público e o Sector Privado ainda agravou-se mais. Assim, em 2012, as remunerações das chefias na Administração Pública (directores geral, de serviços) variavam já entre 33,6% e 52,8 das do sector privado; as do Técnico Superior (juristas, economistas, engenheiros, arquitectos, etc.) entre 42,9% e 71,4% das do sector privado; a do médico correspondia a 62,3% do sector do privado; as dos administrativos correspondiam entre 32,7% e 36,8% das do sector privado; as remunerações dos operários na Administração Pública correspondiam entre 38,9% e 88,8% às do sector privado; e as dos restantes profissionais, que na Administração Pública, conjuntamente com os operários, pertencem actualmente à carreira de Assistentes Operacionais (guarda vigilante, auxiliar de limpeza, telefonistas), as remunerações na Função Pública variavam entre 51,7% e 80% das do sector privado. O fosso remuneratório entre o sector público e o sector privado aumentou significativamente entre 2005 e 2012 com o congelamento, cortes e confiscos de remunerações, nomeadamente em relação às categorias profissionais com maior responsabilidade e qualificação. Em termos reais, as remunerações destes trabalhadores reduziram-se em 24,5% entre 2005 e 2012, o que determina que a Função Pública deixou de ser atractiva aos profissionais altamente qualificados. Fica assim claro que os trabalhadores da Função Pública não são uns privilegiados como o governo pretende fazer crer . É evidente a intenção do governo ultraliberal de Passos Coelho de destruir, por esta via também, o Estado, reduzindo-o a um "Estado mínimo", tão de agrado dos " Chicago e FMI boys ", privatizando as funções sociais do Estado, e transformando-as em áreas de negócios lucrativos para os grandes grupos económicos privados. Como afirmou o presidente do Supremo Tribunal de Justiça, um governo que põe em causa direitos essenciais adquiridos dos trabalhadores põe em causa (rompe, afirmou ele) o contrato social em que assenta o funcionamento da sociedade e, consequentemente, direitos sacrossantos para os grupos económicos, como é o direito de propriedade. É uma matéria que merecia um debate nacional. |
Um dos objectivos centrais das medidas ultraliberais da "troika"
estrangeira e do governo PSD/CDS é a redução do Estado,
transformá-lo no "Estado mínimo" neoliberal, o que
visa, por um lado, diminuir a capacidade do Estado para intervir, deixando
assim o campo livre aos grupos económicos para obterem sobrelucros sem
qualquer controlo e, por outro lado, privatizar a maior parte das
funções sociais do Estado (saúde, educação,
segurança social, etc.) para assim criar áreas lucrativas de
negócios para os grandes grupos privados. Um dos instrumentos utilizados
pelo governo PSD/CDS para conseguir isso é também a
redução brutal das remunerações dos trabalhadores
da Função Pública. E isto com objectivo, por um lado, de
levar os melhores quadros, nomeadamente os mais qualificados, a
abandoná-la ou a pedirem a aposentação prematura e, por
outro lado, de desincentivar a entrada de novos quadros qualificados na
Função Pública, porque se tornou pouca atractiva. O novo
programa ultraliberal do PSD, que acabou de ser apresentado, confirma esse
objectivo.
Para ocultar os seus propósitos o governo e os seus defensores nos media
e em organismos oficiais (ex.: Banco de Portugal) têm procurado manipular
a opinião pública tentando fazer passar a mensagem que as
remunerações da Função Pública são
muito superiores às do sector privado, e que os trabalhadores da
Administração Público são um "grupo de
privilegiados". Passos Coelho, para justificar o confisco do
subsídio de férias e do Natal aos trabalhadores da
Função Pública teve o descaramento de afirmar, como consta
do
Jornal de Noticias
15/10/2011,
o seguinte:
"O primeiro-ministro justificou, este sábado, a
eliminação
dos subsídios de Natal e de férias apenas na Função
Pública, até 2013, pelo facto da média salarial ser
superior à que se regista no sector privado. "A verdade é
que em média os salários na Função Pública
são 10 a 15 por cento superior à média nacional",
disse Pedro Passos Coelho, salientando, contudo, que o mesmo já
não se passa nos "lugares cimeiros da administração
pública".
É desonesto tanto intelectualmente como politicamente utilizar
médias de salários como fez Passos Coelho porque os níveis
de escolaridade e, consequentemente, de qualificação dos
trabalhadores da Função Pública e do sector privado
são muitos diferentes em Portugal como mostra o gráfico 1
Em 2011, na Administração Central, 55,7% dos trabalhadores tinham
o ensino superior, enquanto a nível do país essa percentagem era
apenas 18,6%; e inversamente, na Administração Pública
Central apenas 22,1% tinha o ensino básico, enquanto a nível de
todo o país essa percentagem atingia 61,5%. Basta ter presente isto para
se saber que as comparações como as feitas por Passos Coelho
não são correctas e que as conclusões tiradas são
falsas. No entanto, como se vê o governo não olha a meios para
justificar os seus fins, que é atacar os trabalhadores da
Função Pública para assim reduzir o Estado, a fim de criar
áreas de negócios lucrativas para os grupos económicos
privados.
EM 2005, AS REMUNERAÇÕES DAS PRINCIPAIS CATEGORIAS DE
TRABALHADORES DA FUNÇÃO PÚBLICA JÁ ERAM INFERIORES
ÀS DO SECTOR PRIVADO
Contrariamente à mensagem que os sucessivos governos, e nomeadamente o
actual, pretendem fazer passar junto da opinião pública, as
remunerações na Administração Pública
são inferiores às do Sector Privado, se a análise for
feita para idênticas categorias profissionais. Para provar isso, vamos
utilizar um estudo mandado fazer em 2006, pelo 1º governo de
Sócrates, à empresa de consultoria internacional Capgemini, uma
das maiores empresas desta área, com 115.000 trabalhadores e presente em
40 países
(do site desta multinacional
www.capgemini.com
retiramos a seguinte informação sobre esta empresa que
é bastante esclarecedora :
"Introduction to Capgemini: global leader in consulting, technology,
outsourcing, and local professional services - Capgemini is headquartered in
Paris, France and operates in 40 countries. We are, above all, a people
companyaround 115,000 people in North America, Europe, South America and
the Asia-Pacific").
Este estudo foi "metido na gaveta" porque as conclusões a
que chegou não eram as que o governo pretendia, como afirmou o
ex-ministro Teixeira dos Santos quando o confrontamos, na Assembleia da
República, sobre as razões que levaram o governo a ocultar este
estudo à opinião pública. Ele também contradiz as
afirmações recentes de Passos Coelho. As
remunerações que se apresentam no quadro foram calculados por
nós respeitando os resultados obtidos pela Capgimini.
Quadro 1- Remunerações médias na
Administração Pública e no sector privado
(empresa média) - 2005
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Total Compensation (*) |
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(empresa média) |
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Para um horário de 35H/semana |
Para um horário de 40H/semana |
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| Director Geral | 4.215 | 4.808 | 9.377 | 44,9% | 51,3% |
| Subdirector geral | 3.539 | 4.035 | 7.209 | 49,1% | 56,0% |
| Director de serviços | 3.118 | 3.555 | 5.597 | 55,7% | 63,5% |
| Chefe de divisão | 2.665 | 3.037 | 3.785 | 70,4% | 80,2% |
| Director Financeiro | 3.118 | 3.554 | 5.323 | 58,6% | 66,8% |
| Director R. Humanos | 3.118 | 3.555 | 4.659 | 66,9% | 76,3% |
| Director informática | 3.118 | 3.554 | 4.580 | 68,1% | 77,6% |
| Engenheiro SI-1º-4º escalões | 2.678 | 3.052 | 3.756 | 71,3% | 81,2% |
| Arquitecto -Técnico superior | 2.043 | 2.326 | 2.149 | 95,1% | 108,2% |
| Arquivista/Documentalista | 2.606 | 2.970 | 3.792 | 68,7% | 78,3% |
| Consultor jurídico | 2.607 | 2.970 | 3.781 | 69,0% | 78,6% |
| Contabilista | 2.171 | 2.472 | 2.512 | 86,4% | 98,4% |
| Economista | 2.044 | 2.327 | 2.439 | 83,8% | 95,4% |
| Engenheiro II | 1.893 | 2.155 | 3.316 | 57,1% | 65,0% |
| Inspector/Auditor superior | 2.563 | 2.920 | 2.229 | 115,0% | 131,0% |
| Médico | 2.706 | 3.084 | 3.252 | 83,2% | 94,8% |
| Enfermeiro | 1.759 | 2.002 | 2.570 | 68,5% | 77,9% |
| Técnico apoio s/licenciatura | 1.128 | 1.280 | 2.015 | 56,0% | 63,5% |
| Assistente administrativo | 770 | 871 | 1.467 | 52,5% | 59,4% |
| Assistente adm. Principal | 861 | 975 | 1.489 | 57,8% | 65,5% |
| Electricista-Operário principal | 876 | 993 | 1.281 | 68,4% | 77,5% |
| Electricista -Operário | 736 | 832 | 848 | 86,7% | 98,1% |
| Mecânico -Operário principal | 876 | 993 | 1.620 | 54,1% | 61,3% |
| Mecânico -Operário | 736 | 832 | 1.025 | 71,8% | 81,2% |
| Guarda vigilante | 598 | 674 | 729 | 81,9% | 92,5% |
| Auxiliar de limpeza | 556 | 627 | 806 | 69,0% | 77,8% |
| Telefonista | 618 | 697 | 714 | 86,5% | 97,6% |
| Motorista ligeiros | 645 | 728 | 1.050 | 61,4% | 69,4% |
Em 2005, as remunerações totais das chefias na
Administração Pública (Director Geral a director de
serviço) variavam entre 44,9% e 68,1% das do sector privado; as de
Técnico Superior (juristas, economistas, engenheiro, arquitectos, etc.)
entre 57,1% e 95,1% das do sector privado; a do médico correspondia a
83,2% do sector do privado; a do enfermeiro a 68,5%; a dos administrativos (os
actuais assistentes técnicos) na Administração
Pública entre 62,5% e 57,8% das do sector privado; as
remunerações dos operários na Administração
Pública correspondiam entre 54,1% e 71,8% das do sector privado; e as
restantes categorias profissionais, que na Administração
Pública, conjuntamente com os operários, estão actualmente
na carreira de Assistentes Operacionais (guarda vigilante, auxiliar de limpeza,
telefonistas e motoristas), as remunerações na
Função Pública variavam entre 61,4% e 81,9% das do sector
privado. E mesmo que calculássemos as remunerações na
Administração Pública tendo como base um horário
semanal de 40 horas, e não de 35 horas como é actualmente, as
remunerações na Administração Pública para a
generalidade das categorias profissionais continuavam a ser bastante inferiores
às dos sector privado: director geral: 51,3% da do sector privado;
engenheiro: entre 65% e 81,2%; consultor jurídico: 78,6%; médico:
94,8%; enfermeiro 77,9%; administrativo: 59,4%; operário entre 61,3%
98,1% da do sector privado; auxiliar de limpeza; 77,8%; telefonista: 97,6%. E
entre 2005 e 2012, com o congelamento e corte de remunerações na
Função Pública, e com o confisco do subsidio de
férias e de Natal na Administração Pública em 2012,
o fosso remuneratório entre o Sector Público e o Sector Privado
ainda agravou-se mais em prejuízo da Administração
Pública.
O FOSSO DAS REMUNERAÇÕES ENTRE O SECTOR PÚBLICO E O SECTOR
PRIVADO AUMENTOU AINDA MAIS ENTRE 2005 E 2012
Observem-se os dados do quadro 2, calculados com base nos de 2005 (qd.1), e
entrando com a variação de remunerações verificadas
entre 2005 e 2012 no Sector Público e no sector privado.
Quadro 2 Remunerações médias na
Administração Pública e no sector privado em 2012
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Total Compensation (*) |
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(empresa média) |
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35H/semana |
40H/semana |
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| Director Geral | 3.746 | 4.268 | 11.158 | 33,6% | 38,3% |
| Subdirector geral | 3.149 | 3.585 | 8.579 | 36,7% | 41,8% |
| Director de serviços | 2.777 | 3.160 | 6.660 | 41,7% | 47,4% |
| Chefe de divisão | 2.376 | 2.702 | 4.504 | 52,8% | 60,0% |
| Director Financeiro | 2.777 | 3.160 | 6.335 | 43,8% | 49,9% |
| Director R. Humanos | 2.777 | 3.160 | 5.545 | 50,1% | 57,0% |
| Director informática | 2.776 | 3.160 | 5.450 | 50,9% | 58,0% |
| Engenheiro SI-1º-4º escalões | 2.388 | 2.715 | 4.470 | 53,4% | 60,7% |
| Arquitecto-Técnico superior | 1.826 | 2.074 | 2.558 | 71,4% | 81,1% |
| Arquivista/Documentalista | 2.324 | 2.643 | 4.512 | 51,5% | 58,6% |
| Consultor juridico | 2.325 | 2.643 | 4.499 | 51,7% | 58,8% |
| Contabilista | 1.939 | 2.203 | 2.989 | 64,9% | 73,7% |
| Economista | 1.827 | 2.074 | 2.902 | 62,9% | 71,5% |
| Engenheiro II | 1.693 | 1.922 | 3.946 | 42,9% | 48,7% |
| Inspector/Auditor superior | 2.286 | 2.599 | 2.652 | 86,2% | 98,0% |
| Medico | 2.412 | 2.743 | 3.870 | 62,3% | 70,9% |
| Enfermeiro | 1.575 | 1.787 | |||
| Técnico apoio s/licenciatura | 1.145 | 1.295 | 3.058 | 37,4% | 42,3% |
| Assistente administrativo | 784 | 883 | 2.398 | 32,7% | 36,8% |
| Assistente ad. Principal | 875 | 987 | 1.746 | 50,1% | 56,5% |
| Electricista Operário principal | 891 | 1.005 | 1.772 | 50,3% | 56,7% |
| Electricista - Operário | 750 | 843 | 1.525 | 49,2% | 55,3% |
| Mecânico -Operário principal | 891 | 1.005 | 1.009 | 88,3% | 99,6% |
| Mecânico -Operário | 750 | 843 | 1.927 | 38,9% | 43,7% |
| Guarda vigilante | 630 | 707 | 1.219 | 51,7% | 58,0% |
| Auxiliar de limpeza | 587 | 658 | 868 | 67,7% | 75,8% |
| Telefonista | 651 | 731 | 959 | 67,9% | 76,2% |
Em primeiro lugar, vamos explicar como actualizamos as
remunerações de 2005 para 2012. Segundo o Banco de Portugal, as
remunerações médias no sector privado aumentaram, entre
2005 e 2010, em 16,8%.Considerando um aumento de 1% em 2011 e 2012
obtém-se para o período 2005-2012 uma subida das
remunerações no sector privado de cerca de 19%. E foi este o
valor que utilizamos para actualizar as remunerações do sector
privado para 2012. Em relação ao sector público
consideramos as variações anuais constantes das respectivas
portarias (2006 e 2007, um aumento de 1,5% em cada ano; em 2008 de 2,1%; em
2009, ano de eleições, de 2,9%, em 2010, congelamento total, em
2011, um corte médio nas remunerações superiores a
1500 de 5%; e em 2012, o confisco de um subsidio nas
remunerações entre 600 e 1100 (o que dá uma
redução de 7% em média), e do subsidio de férias e
de Natal nas remunerações superiores a 1100
(redução no rendimento anual que ronda os 14%). Os resultados
obtidos constam do quadro 2, e embora possam se considerados como indicativos
(daqui faço um desafio ao governo para que peça à
Capgemini, para actualizar o estudo que fez em 2006, utilizando a mesma
metodologia pois alguns dados obtidos para 2012 são dramáticos e
exigem confirmação; seria aconselhável que os sindicatos
fizessem estudos comparativos das remunerações entre o sector
privado e público para desmontar as mentiras do governo); repetindo, os
resultados obtidos para 2012, por um lado, revelam um fosso
remuneratório grande entre o sector publico e o sector privado e, por
outro lado, desmentem as afirmações do governo, e nomeadamente de
Passos Coelho, de que as remunerações na
Administração Pública são superiores às dos
sector privado.
Assim, em 2012 (quadro 2), as remunerações médias das
chefias na Administração Pública (Director Geral a
director de serviço) variavam entre 33,6% e 52,8 das do sector privado;
as de Técnico Superior (juristas, economistas, engenheiro, arquitectos,
etc.) entre 42,9% e 71,4% das do sector privado; a do médico
correspondia a 62,3% do sector do privado; a dos administrativos (os actuais
assistentes técnicos) na Administração Pública
entre 32,7% e 36,8% das do sector privado; as remunerações dos
operários na Administração Pública correspondiam
entre 38,9% e 88,8% das do sector privado; e as restantes profissionais, que na
Administração Pública, com os operários, pertencem
actualmente à carreira de Assistentes Operacionais (guarda vigilante,
auxiliar de limpeza, telefonistas e motoristas), as remunerações
na Função Pública variavam entre 51,7% e 80% das do sector
privado. E mesmo que calculássemos as remunerações na
Administração Pública tendo como base um horário
semanal de 40 horas, e não de 35 horas, as remunerações na
Administração Pública para a generalidade das categorias
profissionais continuavam a ser bastante inferiores às dos sector
privado (director geral: 38,3% da do sector privado; engenheiro: entre 48,7% e
60,7%; consultor jurídico: 58,9%; médico: 70,9%; trabalhador
administrativo: 36,8%; operário entre 43,7% 99,6% da do sector privado;
auxiliar de limpeza; 75,6%; telefonista: 76,2% da do sector privado). Portanto,
contrariamente à ideia que o governo pretende fazer passar junto da
opinião os trabalhadores da Função Pública
não são privilegiados.
No período 2005 e 2012, as remunerações nominais, portanto
sem o efeito da inflação, sofreram uma forte
redução que é tanto maior quanto mais elevada é a
a qualificação e a responsabilidade (categoria profissional) do
trabalhador. E entre 2005 e 2012, de acordo com o INE e com as previsões
do governo sobre a taxa de inflação em 2012 (3,2%), os
preços aumentam em 16%, o que determina que, relativamente aos
trabalhadores mais qualificados e com maior responsabilidade, a
redução do poder de compra das suas remunerações,
entre 2005 e 2012, atinja 25,4%. Se juntarmos a isto, primeiro, a
destruição das carreiras dos trabalhadores da
Função Pública e, depois, o seu congelamento; a
destruição do vinculo público que acabou com as
condições que garantiam independência da
Administração Pública e o tratamento igual todos os
cidadãos; as alterações continuas no Estatuto da
Aposentação, que criaram uma forte e continuada
insegurança nos trabalhadores; o arbítrio das chefias agora
legalizado pela Lei 12-A/2008; etc; é fácil de concluir que o
objectivo do governo PSD/CDS é tornar a Administração
Pública pouco atractiva para os trabalhadores mais qualificados, levar
os que existem na Função Pública a se aposentarem
prematuramente ou a abandoná-la; por outras palavras, o objectivo claro
do governo PSD/CDS, com o apoio da "troika" estrangeira, é
destruir o Estado, reduzi-lo ao Estado mínimo neoliberal, a fim de
privatizar um parte do Estado, nomeadamente as suas funções
sociais, e transformá-las em áreas de negócios lucrativas
para os grupos económicos privados.
A confirmar que esta tentativa de destruição do Estado,
através do ataque aos direitos dos trabalhadores, ainda não
terminou está a convocatória feita pelo secretário de
Estado da Administração Pública, logo depois do acordo
"UGT/patrões/governo", enviada aos sindicatos da Frente Comum
para uma reunião no dia 17/02/2012, com a seguinte ordem de trabalhos:
(1) Sistema de Avaliação de Desempenho; (2) Revisão de
Carreira; (3) Regime de Contrato de Trabalho em Funções
Públicas; (4) Mobilidade geográfica. É evidente que o
governo pretende agora alterar estas matérias visando agravar ainda mais
as condições de vida e de trabalho dos trabalhadores da
Função Pública. Como afirmou o presidente do Supremo
Tribunal de Justiça, um governo que destrói os direitos
adquiridos e essenciais dos trabalhadores, rompe o contrato social em que
assenta a existência da sociedade, e põe em causa também os
direitos adquiridos dos exploradores e dos grupos económicos,
nomeadamente o sacrossanto direito de propriedade. È uma questão
que deve merecer uma reflexão séria.