Previsões erradas do governo justificam redução das
pensões de reforma
RESUMO DESTE ESTUDO
Em Novembro de 2005, quando se realizou o debate do Orçamento do Estado
de 2006 na Assembleia da República, o governo apresentou aquilo a que
chamou "Relatório de sustentabilidade da Segurança
Social". De acordo com esse relatório, o governo previa que o
regime geral da Segurança Social tivesse, a partir de 2006, saldos
negativos cada vez mais elevados (em 2006, um saldo nulo (zero); em 2007, um
saldo negativo de -159 milhões de euros; em 2008, um saldo negativo de
-259 milhões de euros, etc, etc). E foi com base nestas previsões
que o governo desenvolveu depois uma forte campanha de propaganda com o
objectivo de convencer os portugueses que se não fossem feitas as
"reformas" que pretendia realizar na Segurança Social, a
sustentabilidade financeira desta corria grave risco. E com esta
justificação o governo de Sócrates aprovou a
antecipação do cálculo da pensão com base em toda a
carreira contributiva e a aplicação do chamado "factor de
sustentabilidade". Estas duas medidas vão determinar uma
redução importante nas pensões dos trabalhadores que se
reformarem no futuro, a qual, segundo a OCDE, deverá atingir -40%.
O Orçamento do Estado para 2008, em debate na Assembleia da
República, contem já dados (pág. 145 do Relatório
do OE2008) que mostram que aquelas previsões feitas pelo governo em 2005
estavam totalmente erradas. Assim, o governo previa que o regime geral da
Segurança Social tivesse, em 2006, um saldo zero, no entanto o saldo que
se verificou foi positivo e de 787,4 milhões de euros; para 2007, o
governo previa um saldo negativo no valor de -151 milhões de euros, no
entanto o saldo estimado constante do OE2008 já é positivo e de
valor igual a 706 milhões de euros. Mesmo este valor poderá ser
ultrapassado pois, de acordo com o Boletim Informativo do mês de Outubro
de 2007 da Direcção Geral do Orçamento, até
Setembro deste ano o saldo positivo da Segurança Social já
atingia 1.096,4 milhões de euros. Para 2008, o governo previa em 2005 um
saldo negativo de -290 milhões mas no OE2008 já prevê que o
regime geral da Segurança Social terá um excedente de 696,7
milhões de euros. E estes resultados positivos não se devem
às duas medidas aprovadas pelo governo antecipação
no cálculo da pensão com base em toda a carreira contributiva e
aplicação do "factor de sustentabilidade - pois elas
só entrarão em vigor a partir de 1 de Janeiro de 2008.
Como a situação da Segurança Social é totalmente
diferente, no sentido positivo, da prevista pelo Governo no seu
"Relatório de sustentabilidade" de 2005, torna-se
necessário revogar, com urgência, o chamado "factor de
sustentabilidade". E isto por várias razões. Em primeiro
lugar, porque as previsões do governo estavam totalmente erradas; em
segundo lugar, porque a aplicação do chamado "factor de
sustentabilidade, determinará, só ele, uma redução
muito grande nos valores das pensões dos trabalhadores que se reformarem
no futuro que poderá atingir -20%; e, finalmente, porque os valores das
pensões pagos em Portugal continuam a serem muito baixos (em 2006,
segundo as Estatísticas da Segurança Social de Julho de 2007, a
pensão média de velhice era apenas 338,5 euros por mês).
A necessidade de revogar o chamado "factor de sustentabilidade" ainda
se torna mais evidente se se tiver presente que o aumento de receita da
Segurança Social que se obteria por meio de um combate muito mais eficaz
à evasão e fraude contributiva do que aquele que está a
ser realizado pelo governo seria grande pois a receita perdida continua a ser
enorme. Só em 2006, com base em dados divulgados pelo próprio
Ministério do Trabalho sobre remunerações declaradas
à Segurança Social e remunerações efectivas,
concluímos que a receita perdida pelo Segurança Social, devido
à evasão e fraude contributivo, foi superior a 3.100
milhões de euros. E isto em relação às
remunerações que as empresas não declararam à
Segurança Social porque, para além destas dividas, ainda se deve
adicionar as contribuições declaradas pelas empresas que depois
não são cobradas pela Segurança Social. E de acordo com
dados constantes do quadro que se encontra na pág. 278 do
Relatório do Orçamento do Estado para 2008 a divida declarada dos
contribuintes que não foi cobrada aumentou, entre 2005 e 2006, em 898
milhões de euros, pois passou de 1.287 milhões de euros para
2.185 milhões de euros. E destas duas dividas à Segurança
Social, o governo, em 2006, só conseguiu cobrar 238 milhões de
euros com o seu "Plano de combate à evasão e fraude
contributiva", o que é muito pouco, e que mostra os reduzidos
resultados obtidos devido à insuficiência dos meios afectos a esse
combate, apesar da campanha do governo, nos media, para convencer a
opinião pública do contrário.
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Em Novembro de 20005, quando se debateu na Assembleia da República o
Orçamento do Estado de 2006, o governo apresentou anexo ao
Orçamento um documento a que chamou "Relatório sobre a
sustentabilidade da Segurança Social : cenários de longo prazo e
apresentação de medidas com efeito na sustentabilidade da
segurança social a longo prazo "(págs. 238 a 249 do
Relatório OE2006).
Na pág. 244 desse relatório encontra-se um mapa com a
designação "Quadro 4.16.7. Projecção
Financeira do Subsistema Previdencial", ou seja, do Regime Geral da
Segurança Social. E de acordo com os dados desse mapa, o governo previa
que se não fossem aprovadas as suas medidas, o Regime Geral da
Segurança Social apresentaria, a partir de 2006, saldos negativos
crescentes. Assim, segundo o governo, em 2006 o saldo deste regime, que tinha
sido sempre positivo, seria já nulo (zero), em 2007 o saldo seria
negativo sendo de -151 milhões de euros o que corresponderia a -0,1 do
PIB; em 2008 o saldo negativo atingiria -290 milhões o que
corresponderia -0,2% do PIB; etc., etc..
E foi com base nestas previsões constantes deste relatório que o
governo, depois, desencadeou uma forte campanha de propaganda para convencer
os portugueses que, para garantir a sustentabilidade financeira da
Segurança Social, seria necessário fazer reformas na
Segurança Social que passariam pela antecipação do
cálculo da pensão com base em toda a carreira contributiva e pela
introdução do chamado "factor de sustentabilidade".
Estas medidas que foram aprovadas pelo PS na Assembleia da República
determinarão uma diminuição significativa das
pensões dos trabalhadores que se reformarem no futuro, incluindo os da
Administração Publica, porque o sistema de cálculo da
pensão de reforma do Regime da Segurança Social passará de
uma forma crescente a se aplicar aos funcionários públicos.
No entanto, o que se constatou é que essas previsões
apresentadas pelo governo em 2005 estavam totalmente erradas. O quadro seguinte
construído com dados do referido "Relatório de
sustentabilidade da segurança social" apresentado pelo governo em
2005 e com dados constantes do Relatório do Orçamento do Estado
para 2008 mostram que o erro do governo foi muito grande e verifica-se em
relação a todos os anos.
Assim, o governo previa em 2005, no seu "Relatório de
sustentabilidade da Segurança Social", um saldo zero, no entanto o
saldo que se verificou foi positivo e atingiu 787,4 milhões de euros;
para 2007, o governo previa um saldo negativo no valor de -151 milhões
de euros, no entanto o saldo constante do Relatório do OE2008 é
já positivo e no montante de 706 milhões de euros, E mesmo este
valor deverá estar abaixo do que se registará no fim do ano pois,
de acordo com o Boletim Informativo do mês de Outubro da
Direcção Geral do Orçamento de 2007, o saldo positivo da
Segurança Social já atingia, em Setembro deste ano, 1.096,4
milhões de euros. Em relação ao ano de 2008, o governo
já abandonou a sua previsão de 2005 em que se verificaria um
saldo negativo de -290 milhões de euros, e avança no
Relatório do OE2008 com uma nova previsão, de um excedente de
696,7 milhões de euros..Portanto, os dados verificados nos anos 2006 e
2007 e os que agora se prevêem para 2008 são muito melhores do
que os anteriormente previstos (passam de negativos a positivos de muitos
milhões de euros ) representando até uma importante
contribuição para a redução do défice
orçamental das Administrações Públicas, já
que o excedente da Segurança Social compensa milhões de euros
negativos apresentados pela Administração Central do Estado.
E o governo não pode dizer, como muitas vezes pretende sugerir, que isso
deve-se já às medidas aprovadas porque isso não
corresponde à verdade. As medidas aprovadas por este governo só
entrarão em vigor em 1 de Janeiro de 2008. Efectivamente, a
antecipação do cálculo da pensão com base em toda a
carreira contributiva e a aplicação do chamado "factor de
sustentabilidade" só terá lugar a partir do início do
próximo ano. É evidente que os resultados positivos já
obtidos pela Segurança Social não se devem a medidas que ainda
não entraram em vigor,
Em resumo, e como se conclui com base nos próprios dados quer do
Ministério do Trabalho e da Solidariedade quer dos OE2006 e OE2008, as
previsões feitas pelo governo, constantes do chamado
"Relatório de sustentabilidade da Segurança Social"
estavam todas elas erradas. No entanto, foram estas previsões que o
governo depois utilizou na sua campanha de propaganda para justificar a
aprovação de medidas que determinarão, no futuro, uma
redução dos valores das pensões de reforma que
poderão atingir -40% segundo a OCDE.
É NECESSÁRIO REVOGAR O CHAMADO "FACTOR DE
SUSTENTABILIDADE"
A aplicação do chamado "factor de sustentabilidade"
aos trabalhadores que se reformarem a partir do inicio de 2008, vai determinar
uma redução importante e crescente no valor da pensão. O
quadro seguinte dá uma dimensão da redução que se
verificará nas pensões dos trabalhadores que se reformarem no
futuro.
No quadro anterior não estão os valores para todos os anos. No
entanto, o leitor poderá calcular facilmente a redução que
terá na sua pensão, devido à aplicação do
"factor de sustentabilidade" . Para calcular o "factor de
sustentabilidade" que se aplica ao seu caso terá apenas de dividir
a esperança de vida aos 65 anos em 2006 que, segundo o governo, era de
cerca de 17,5 pela esperança de vida aos 65 anos no ano anterior ao que
se reforma. O governo prevê que a esperança de vida aos 65 anos
aumente 1 ano em cada 10 anos, o que corresponde a um aumento médio
anual de 0,1. Portanto, para calcular o factor de sustentabilidade" que se
aplica à sua pensão terá que dividir os 17,5 anos pelo
valor que obtiver somando aos 17,5 anos 0,1 por ano até chegar ao ano
anterior àquele em que se vai reformar . Por ex., o leitor reforma-se
daqui a seis anos, então divide 17,5 anos por 18, pois terá de
adicionar a 17,5 o valor 0,5 , que é o valor que se obtém
multiplicando 0,1 pelo numero de anos que falta menos um que, neste exemplo,
são cinco.
No entanto, o factor de sustentabilidade não é calculado com base
em previsões do governo, mas sim em dados divulgados pelo Instituto
Nacional de Estatística em cada ano. E estes podem ser diferentes das
previsões do governo. Se a esperança de vida aos 65 anos do INE
for superior à previsão do governo, a redução da
pensão será ainda maior. Mas o "factor de
sustentabilidade" calculado com base nas previsões do governo,
cujos resultados se encontram no quadro II, já revelam uma
redução muito significativa da pensão devido apenas
à aplicação do chamado "factor de
sustentabilidade" . E isto porque depois de calculada a pensão ela
é então multiplicada pelo "factor de sustentabilidade"
e como ele corresponde a uma percentagem inferior a 100% , o valor obtido
é inferior ao valor da pensão sem aplicação daquele
"factor". E essa redução será tanto maior quanto
mais tarde se reformar o trabalhador como revelam também os dados do
quadro.
Como os resultados do Regime Geral da Segurança Social são muito
melhores do que as previsões realizadas pelo governo em 2005 (os
factos estão a mostrar que elas estavam totalmente erradas), por um lado
e, por outro lado, as pensões atribuídas à maioria
daqueles que se reformam continuam a serem muito baixas (mais de 70% dos novos
reformados é atribuída uma pensão inferior a um
salário mínimo nacional) é necessário revogar o
chamado "factor de sustentabilidade" pois, caso contrário, a
situação de miséria em que já vive a esmagadora
maioria dos reformados dos pensionistas em Portugal, tenderá a se
perpetuar.
Durante o debate do OE2008 na Assembleia da República confrontamos
directamente o ministro do Trabalho com o erro das previsões do governo
em relação aos resultados da Segurança Social e com a
necessidade de revogar rapidamente o chamado "factor de sustentabilidade.
Mas como é já habitual o ministro começou por se irritar,
e depois apresentou como justificação, já não
saldos negativos da Segurança Social, mas estudos internacionais que
indicavam um aumento da esperança de vida em Portugal.
UM COMBATE MAIS EFICAZ `DO QUE O REALIZADO PELO GOVERNO À EVASÃO
E FRAUDE CONTRIBUTIVA MELHORARIA AINDA MAIS A SITUAÇÃO DA
SEGURANÇA SOCIAL
Este governo tem um " Plano de combate à evasão e fraude
contributiva à Segurança Social" que está em vigor
desde 2003. Mas contrariamente ao que pretende fazer crer os resultados obtidos
têm sido muito escassos face ao que devia ser feito, devido ao facto de
continuar a afectar a esse plano meios insuficientes, diferentemente do que
sucedeu no Ministério das Finanças em relação
à fuga aos impostos.
O quadro seguinte, construído apenas com dados divulgados pelo
próprio Ministério do Trabalho e da Solidariedade Social, mostra
a dimensão da evasão e fraude contributiva que continua a
verificar-se em Portugal
O salário declarado é aquele com base no qual são
calculadas as contribuições para a Segurança Social. E
como mostram os dados do quadro, o salário médio declarado
à Segurança Social, de acordo com as Estatísticas da
Segurança Social, em 2006 foi apenas de 645 euros por mês. No
entanto, segundo o Boletim Estatístico do Gabinete de
Estratégia e Planeamento do Ministério do Trabalho e da
Solidariedade Social, em 2006, o salário médio efectivo pago em
Portugal era de 836 euros e o ganho efectivo, no mesmo ano, era de 992 euros
por mês, portanto valores ambos superiores ao valor do salário
médio declarado à Segurança Social com base no qual
são calculadas as contribuições que devem ser pagas
à Segurança Social (11% pelo trabalhador, 23,75% pela empresa).
Assim, em 2006, as contribuições a pagar à
Segurança Social referentes aos trabalhadores por conta de outrem
calculadas com base nos salários declarados atingiam 10.523
milhões de euros. No entanto, também em 2006, se elas fossem
calculadas com base nos salários efectivos seriam já de 13.649
milhões de euros, ou seja, mais 3.126 milhões de euros; e se
fossem calculadas com base no ganho médio efectivo recebido por cada
trabalhador por conta de outrem elas somariam 16.183 milhões de euros,
ou seja, mais 5.660 milhões de euros do que aquelas recebidas pela
Segurança Social calculadas com base nos salários declarados.
Estes valores, calculados todos eles com base em dados divulgados por
serviços do Ministério do Trabalho e da Solidariedade Social,
mostram que a evasão e a fraude contributiva à Segurança
Social continua a ser enorme em Portugal. Estes valores também provam
que o chamado "Plano de combate è evasão contributiva
à Segurança Social" tem sido manifestamente incapaz para
inverter esta grave situação. Para concluir isso basta recordar
que, de acordo com dados que estão disponíveis no
"site" do Ministério do Trabalho, a divida cobrada em 2006 foi
apenas de 238 milhões de euros. E tenha-se presente que os valores
referidos anteriormente dizem respeito a salários não declarados
porque ainda existe a divida declarada pelas empresas à Segurança
Social que depois não é cobrada, a qual tem também
aumentado vertiginosamente com este governo com provam os dados do quadro
seguinte.
Portanto, entre 2004 e 2006, ou seja, com o actual governo, as dividas
declaradas pelas empresas à Segurança Social que não foram
cobradas aumentaram em 1.202 milhões de euros. Se considerarmos um
período de um ano (2005-2006) o aumento é de 898 milhões
de euros. Esta evolução na divida declarada reforça a
conclusão que o "Plano de combate à evasão e fraude
contributiva à Segurança Social" do governo não
está a ter resultados significativos, apesar da propaganda governamental
que pretende fazer crer a opinião pública do contrário.
É evidente que só se alcançariam resultados mais
significativos se fossem afectos à inspecção da
Segurança Social muitos mais meios para poder fazer uma
fiscalização mais eficaz nomeadamente a nível das
empresas. Esta insuficiência de meios afectados pelo Ministério do
Trabalho e Solidariedade Social ao combate à evasão e fraude
contributiva ficou clara durante o debate do OE2008 na Assembleia da
República, pois quando perguntamos ao ministro do Trabalho quantos
inspectores da segurança Social existiam ele não respondeu, ou
por não saber ou por querer esconder a realidade, tendo apenas dito que
tinham sido afectos 60 técnicos superiores, mas não especificou
se eram ou não inspectores da Segurança Social para trabalhar
dentro das empresas.
Os dados apresentados quer em relação a salários
não declarados cujas contribuições para a Segurança
Social não são depois pagas quer relativamente a
contribuições declaradas mas que depois não são
cobradas, prova que se existisse um combate verdadeiramente eficaz à
evasão e fraude contributiva as receitas de contribuições
referentes aos trabalhadores (11% dos salários) e das empresas (23,75%
do valor dos salários) poderiam aumentar significativamente, o que
reforça a conclusão anterior de que é urgente revogar o
chamado " factor de sustentabilidade" porque a situação
da Segurança Social é muito melhor que a prevista pelo governo,
por um lado, e, por outro lado, porque uma luta mais eficaz contra a
evasão e fraude contributiva faria aumentar significativamente as
receitas da Segurança Social, tornando a situação desta
muito mais sólida, sem haver necessidade de reduzir os já baixos
valores das pensões de reforma o que acontecerá se for aplicado
o chamado "factor de sustentabilidade (em 2006, segundo as
Estatísticas da Segurança Social de Julho de 2007, a
pensão média de velhice era apenas de 338,50 por mês).
18/Novembro/2007
[*]
Economista,
edr@mail.telepac.pt
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