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							As privatizações agravaram o défice orçamental, o
							défice externo e as condições de vida em Portugal
						
 
								
									| RESUMO DESTE ESTUDO 
 A privatização de empresas estratégicas nacionalizadas,
												para além de representar uma perda de um importante instrumento de
												politica económica, o que foi agravada pela perda de instrumentos de
												politica macroeconómica (politica de câmbios, politica de juros,
												politica orçamental e mesmo de investimentos) que resultou da
												integração de Portugal na UE, teve também como
												consequência o agravamento do défice orçamental e externo.
 
 Se analisarmos um conjunto de 10 importantes empresas nacionalizadas que foram
												parcial ou totalmente privatizadas (EDP, GALP, PT, REN, Totta Açores e
												Crédito Predial, BPI, BES, CIMPOR, PORTUCEL, BRISA), concluímos
												que os lucros líquidos destas empresas, no período 2002-2006,
												totalizaram 14.843,8 milhões de euros. Se estas empresas não
												tivessem sido privatizadas, os seus lucros constituiriam receitas do OE, o que
												determinaria que, já em 2007, o Orçamento da
												Administração Pública apresentasse um saldo positivo
												(+0,2% do PIB), não podendo já o governo utilizar  o
												défice orçamental como argumento para impor sacrifícios
												aos portugueses e para estrangular a economia como está a suceder.
 
 Mas não foi apenas a nível do défice orçamental que
												a privatização teve consequências negativas. Também
												a nível das contas externas está a ter um impacto negativo muito
												grande. E isto porque uma parte significativa e crescente do capital dessas
												empresas já se encontra nas mãos de estrangeiros (EDP: 48%; GALP:
												39,3%; PT: 73%; PORTUCEL: 10%; REN: 25,6%; Tota+Credito Predial: 100%; BES:
												28%; BPI: 70,4%; CIMPOR: 27,3%; BRISA:31,7%)  E como consequência uma
												parte importante dos seus lucros revertem para estrangeiros (6.870
												milhões de euros só no período 2003-2006) sendo
												naturalmente transferidos para o exterior, agravando a situação
												da Balança de Pagamentos de Portugal, o que constitui um
												obstáculo importante ao desenvolvimento do País.
 
 É evidente, face a estes dados, que a renacionalização
												destas empresas  que são actualmente um instrumento importante de
												domínio dos grandes grupos económicos e de transferência de
												riqueza dos portugueses para esses grupos, pela via dos preços
												totalmente liberalizados, o que tem contribuído para agravar as
												desigualdades  teria um impacto extremamente positivo no défice
												orçamental e no externo assim como no desenvolvimento equilibrado e
												sustentado do País. No entanto, apesar da experiência ter mostrado
												que as privatizações estão a ter consequências
												negativas para o País e para os portugueses, o governo de
												Sócrates não parou este processo; pelo contrário
												até o acelerou, como prova a recente privatização de 19%
												do capital da REN, em que uma parte importante caiu imediatamente nas
												mãos de estrangeiros, assim como a anunciada privatização
												de uma parcela da pequena parte do capital que o Estado ainda detém na
												EDP e na GALP energia.
 
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							 Um dos argumentos mais utilizados pelos grupos económicos e pelos seus
							defensores para exigir a privatização das empresas nacionalizadas
							foi que isso geraria uma maior concorrência o que determinaria, segundo
							eles, a baixa de preços com grandes benefícios para a
							população. No estudo anterior provámos que isso
							transformou-se numa grande mentira, já que depois da
							privatização os preços dos bens e serviços dessas
							empresas aumentaram vertiginosamente em Portugal, sendo actualmente mesmo
							superiores aos preços médios comunitários (por ex, no
							sector de energia os preços são superiores entre 1,1% e 17,8%),
							embora os salários em Portugal sejam, em média, 2,4 vezes
							inferiores aos salários médios pagos na UE. A chamada autoridade
							da concorrência tem servido  para branquear a politica selvagem de
							preços das empresas que foram privatizadas, pois como não tem
							tomado qualquer medida para pôr um travão, funciona mais, com a
							sua existência, como um aval a essa politica o que tem determinado para
							as empresas lucros elevadíssimos á custa do agravamento das
							condições de vida dos portugueses.
							
 Mas as consequências negativas das privatizações não
							se limitam ao aspecto anterior. Neste estudo vamos analisar outros dois
							aspectos também com reflexos negativos na vida da
							população. São eles o impacto negativo das
							privatizações no défice orçamental e no
							défice externo, dois problemas graves com que se debate actualmente o
							País, sendo o primeiro utilizado pelo governo para impor uma politica de
							sacrifício, e o segundo gerando o endividamento crescente de Portugal ao
							estrangeiro, com graves problemas quer a nível de desenvolvimento quer
							da independência nacional. Para tornar esses efeitos mais facilmente
							compreensíveis vai-se procurar quantificar algumas conclusões das
							privatizações utilizando uma amostra constituída por 10
							das empresas já total ou parcialmente privatizadas.
 
 O AUMENTO DOS LUCROS DAS EMPRESAS JÁ PARCIAL OU TOTALMENTTE PRIVATIZADAS
 
 Para avaliar os efeitos das privatizações nos dois aspectos
							referidos anteriormente  défice orçamental e défice
							externo  seleccionamos apenas dez empresas de sectores fundamentais para
							o desenvolvimento do País já parcial ou totalmente privatizadas.
							Essas empresas assim como os lucros líquidos que obtiveram nos
							últimos anos constam do quadro seguinte.
 
 
   
							Como mostram os dados, uma parcela muito importante do capital das empresas
							nacionalizadas que foram privatizadas, e que constam do quadro anterior,
							já se encontra nas mãos estrangeiros, nomeadamente de grandes
							grupos económicos. Desta forma perdeu-se o controlo de instrumentos de
							política económica e de independência nacional que eram
							estas empresas.  Para além disso, considerando apenas as 10 empresas
							constantes do quadro anterior (mas foram muitas mais as privatizadas), elas
							obtiveram em 5 anos  2002/2006  14.843,8 milhões de euros de
							lucros líquidos, o que corresponde a cerca de 2.976 milhões de
							contos na moeda antiga.
							
 Analisemos quais seriam os efeitos em termos de défice orçamental
							e de défice externo se estas empresas não tivessem sido
							privatizadas e, consequentemente, uma parcela importante do seu capital
							não tivesse caído em mãos estrangeiras como aconteceu.
 
 O EFEITO POSITIVO NO DÉFICE ORÇAMENTAL SE AS 10 EMPRESAS
								NÃO TIVESSEM SIDO PRIVATIZADAS
 
 Se as empresas não tivessem sido ou não fossem privatizadas, os
							seus lucros constituiriam no essencial receitas do Orçamento do Estado.
							O quadro seguinte permite avaliar quais seriam as consequências da
							transferência daqueles lucros para o Orçamento do Estado em termos
							de redução do défice orçamental..
 
 
   
							Se os lucros líquidos destas 10 empresas tivessem sido transferidos para
							o Orçamento do Estado, constituindo receitas deste, o que certamente
							aconteceria se elas não tivessem sido privatizadas, em 2007 o
							défice orçamental teria desaparecido, sendo substituído
							por um saldo positivo igual a +0,2% do PIB, como mostram os dados do quadro.
							Desta forma, já não existiram razões para impor mais
							sacrifícios aos portugueses e para estrangular o desenvolvimento do
							País, como o governo de Sócrates está a fazer.
							
 O DÉFICE CRESCENTE DAS CONTAS EXTERNAS PORTUGUESAS
 
 Um dos problemas mais graves que está silenciosamente a se acumular, com
							implicações negativas no futuro do País, incluindo a
							nível da independência nacional, é o défice
							crescente da Balança de Pagamento de Portugal. O quadro seguinte,
							construído com dados divulgado pelo Banco de Portugal, mostra a
							crescente gravidade da situação.
 
 
   
							Assim, tem-se registado em Portugal um crescimento contínuo do
							défice da Balança de Pagamentos que, entre 1996 e 2006, aumentou
							548,2%, o que determinou que tenha passado de 2,3% do PIB para 8,7% do PIB
							entre aqueles dois anos.
							
 Como se sabe, a Balança de Rendimentos do País, que inclui as
							transferências de lucros, é uma parcela da Balança de
							Pagamentos. E o défice da primeira tem aumentado ainda mais do que o da
							Balança de Pagamentos (entre 1996-2006 verificou-se uma subida de 683%
							no défice da de Rendimentos e 548% na de Pagamentos), o que leva
							á conclusão que o aceleramento do défice da Balança
							de Pagamentos tem sido determinado muito pelo elevado crescimento do
							défice na Balança de Rendimentos. O quadro seguinte mostra a
							variação do défice da Balança de Pagamentos, medido
							em percentagem do PIB, sem a transferência dos lucros dos estrangeiros
							nas empresas privatizadas e com a transferência desses lucros.
 
 
   
							A privatização destas 10 empresas nacionalizadas, e o consequente
							domínio de uma parte do seu capital por estrangeiros determinou que o
							défice da Balança de Pagamentos se tenha agravado em cerca de
							17%, pois se forem transferidos para o estrangeiro a parcela dos lucros destas
							10 empresas correspondente à percentagem de capital já nas
							mãos de estrangeiros, o que certamente está a suceder, o
							défice da Balança de Pagamentos passará, em média,
							de 5,8% do PIB, o que sucederia se isso não acontecesse, para 7%, o que
							está a suceder. E como mostram os dados do quadro, aquelas percentagens
							são as médias do período 2003-2006, pois está-se a
							verificar um agravamento crescente desta situação nos
							últimos anos com o governo de Sócrates (por ex. em 2006, sem
							transferência de lucros o défice seria 7% do PIB, mas com
							transferência já aumenta para 8,7% do PIB).
							
 
								21/07/2007
							[*]
								Economista, 
								 edr@mail.telepac.pt 
 Este artigo encontra-se em
								 http://resistir.info/
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