Os falsos argumentos para privatizar Empresas Públicas
- Entre 1987 e 2008 as privatizações deram ao Estado receitas de
28 mil milhões
- Mas a Divida Pública no mesmo período aumentou 5,8 vezes mais!
RESUMO DESTE ESTUDO
No passado, os governos do PSD e do PS utilizaram diversas razões para
justificar, perante a opinião pública, a
privatização de empresas públicas. A experiencia depois
mostrou que essas razões não eram válidas. Neste momento,
o governo defende a privatização de mais empresas
públicas, com o argumento de que isso é necessário para
reduzir a divida pública. No entanto, a experiência e a
análise objectiva mostram que não é com a venda de
empresas públicas que se consegue reduzir a divida. Muito
contrário, até se agrava como se prova neste estudo.
Entre 1987 e 2008, os governos de Cavaco Silva, Guterres, Durão Barroso
e Sócrates, procederam à privatização maciça
de inúmeras empresas públicas, obtendo uma receita de 28.039,6
milhões de euros a preços nominais. No entanto, no mesmo
período, a Divida Pública passou de 19.049,4 milhões de
euros para 110.346,6 milhões de euros, ou seja, aumentou 5,8 vezes (+
91.297,2 milhões de euros). Até 2013, o actual governo tenciona
privatizar totalmente cinco empresas (INAPA, Edisoft, EID, Empordef, Sociedade
Portuguesa de Empreendimentos) e parcialmente sete empresas (GALP, EDP, TAP,
CTT, ANA, Companhia de Seguros Fidelidade-Mundial e
Império-Bonança, e EMEF), e arrecadar desta forma cerca de 6.000
milhões de euros. No entanto, em 2013, o governo prevê no PEC:
2010-2013 que a Divida Pública atinja 89,8% do PIB o que corresponde a
cerca de 163.860 milhões de euros, ou seja, mais 53.513,5 milhões
de euros do que em 2008, e mais 144.811 milhões de euros do que em 1987.
É claro o fracasso desta politica de venda de empresas públicas
para resolver o problema do aumento rápido da divida pública.
Ao vender empresas públicas o Estado perde uma importante fonte de
receitas para o Orçamento do Estado. Só no período
compreendido entre 2004 e 2008, o Estado recebeu das empresas com capitais
públicos que ainda escaparam à fúria das
privatizações dos governos PSD, PSD/CDS e PS, de dividendos e de
remunerações de capital, 2.251,1 milhões de euros.
É uma parcela significativa desta fonte de lucros que o governo de
Sócrates pretende a gora vender aos grandes grupos económicos.
É evidente que, se o Estado abdicar desta fonte importante de receitas,
o défice orçamental e a divida pública certamente
aumentarão.
Muitas das empresas privatizadas eram uma fonte muito importante de receitas
para o Estado. Apenas três a GALP, EDP e PT obtiveram
lucros líquidos no período 2004-2009 que somados atingiram
13.384,9 milhões de euros. E estas três empresas valiam, em 12 de
Abril, com base no valor de cotação de bolsa, 30.620,2
milhões de euros. Entre 2004 e 2008, oito grupos económicos
privados, quatro deles estrangeiros, que controlam já 43% do capital da
Portugal Telecom receberam desta empresa 1.330,8 milhões de euros de
dividendos. Na EDP, oito grupos privados que controlam 32,96% do capital da EDP
receberam 864,6 milhões de euros de dividendos. Na GALP, também
entre 2004 e 2009, dois grupos económico, um parcialmente estrangeiro
(Amorim energia) e outro totalmente estrangeiro (a italiana ENI), que controlam
66,68% do capital desta empresa, receberam, de dividendos, 1017,4
milhões de euros.
Face a estes números retirados dos relatórios e contas publicados
por estas empresas, as quais representam apenas uma pequena amostra das
empresas privatizadas, conclui-se que as privatizações têm
representado um fabuloso negócio para os grandes grupos
económicos, incluindo estrangeiros, e um mau negócio para o
Estado que perdeu assim uma importante fonte de receitas que poderia aliviar as
dificuldades orçamentais e reduzir o défice orçamental.
Alex Jilbeto e Barbara Hogenboom mencionam na obra colectiva
Big Business and Economic Development
que se assistiu nas décadas 80 e 90 do
séc. XX, em muitos países a um gigantesco movimento de
privatizações maciças de empresas públicas, de
desregulamentação e de liberalização, iniciado nos
EUA de Reagan e na Inglaterra de Tatcher que depois se estendeu a muitos
países com o apoio do FMI e do Banco Mundial que deixou o Estado
fragilizado, submetido ao poder económico, incapaz de promover o
desenvolvimento e o crescimento sustentado, e que conduziu o mundo à
primeira grande crise global. Portugal também não escapou
àquele movimento, e o actual governo parece não ter aprendido
nada com essa experiencia e com a actual crise pois tenciona continuar a
politica de privatização de empresas públicas.
|
Os sucessivos governos têm utilizado justificações diversas
para privatizar as empresas públicas. Os argumentos utilizados pelos
governos de Cavaco Silva e Guterres, assim como pelos defensores das
privatizações, eram que as privatizações seriam
necessárias para criar grupos nacionais competitivos, o que seria bom
para o País, e para aumentar a concorrência interna o que
beneficiaria os consumidores porque levaria à baixa de preços. O
que efectivamente veio a acontecer foi precisamente o contrário. A
maioria das empresas privatizadas acabaram parcial ou mesmo totalmente por cair
sob o controlo de grandes grupos económicos estrangeiros, por um lado,
e, por outro lado, os preços praticados por essas empresas em Portugal
são actualmente superiores aos preços médios da
União Europeia (combustíveis, electricidade, telefones, etc.).
No PEC: 2010-2013 consta a intenção do actual governo de
privatizar total ou parcialmente mais 15 empresas (uma parte significativa das
que ainda restam). E a justificação agora é que isso
é necessário para reduzir a divida pública. Por isso, tem
interesse analisar se este argumento tem alguma coisa de verdadeiro É o
que se vai fazer seguidamente.
ENTRE 1987/2008 AS PRIVATIZAÇÕES DERAM AO ESTADO UMA RECEITA DE
28.039 MILHÕES , MAS A DIVIDA PÚBLICA AUMENTOU 91.297
MILHÕES (5,8 vezes mais)
Apesar das privatizações maciças de empresas
públicas no período 1987/2008, a Divida Pública não
parou de crescer. E de uma forma vertiginosa como revelam os dados oficiais
seguintes.
QUADRO I Receitas das privatizações e
evolução da Divida Pública em Portugal no período
1987/2013
|
ANO
|
Receitas geradas pelas privatizações
Milhões
|
DIVIDA PÙBLICA
Milhões euros
|
GOVERNOS
(que privatizaram)
|
|
1987
|
4,8
|
19.049,4
|
Cavaco Silva /PSD
|
|
1988
|
9,1
|
22.629,6
|
Cavaco Silva /PSD
|
|
1989
|
393,4
|
25.866,6
|
Cavaco Silva /PSD
|
|
1990
|
845,8
|
30.631,8
|
Cavaco Silva /PSD
|
|
1991
|
875,8
|
38.307,8
|
Cavaco Silva /PSD
|
|
1992
|
1.564,0
|
39.091,9
|
Cavaco Silva /PSD
|
|
1993
|
401,1
|
44.753,9
|
Cavaco Silva /PSD
|
|
1994
|
938,3
|
49.081,6
|
Cavaco Silva /PSD
|
|
1995
|
1.814,2
|
54.379,0
|
Cavaco Silva /PSD
|
|
1996
|
2.415,2
|
57.332,8
|
Guterres/PS
|
|
1997
|
4.324,6
|
54.920,8
|
Guterres/PS
|
|
1998
|
3.853,2
|
55.485,2
|
Guterres/PS
|
|
1999
|
1.607,9
|
58.695,0
|
Guterres/PS
|
|
2000
|
3.344,5
|
61.746,4
|
Guterres/PS
|
|
2001
|
555,6
|
68.404,1
|
Guterres/PS
|
|
2002
|
260,4
|
75.301,0
|
Barroso-PSD/CDS
|
|
2003
|
164,0
|
78.852,9
|
Barroso-PSD/CDS
|
|
2004
|
953,0
|
84.026,5
|
Barroso-PSD/CDS
|
|
2005
|
647,7
|
94.842,5
|
Sócrates - PS
|
|
2006
|
1.469,6
|
100.573,6
|
Sócrates - PS
|
|
2007
|
1.440,6
|
103.700,8
|
Sócrates - PS
|
|
2008
|
157,0
|
110.346,6
|
Sócrates - PS
|
|
Receitas Totais já obtidas, privatizações 1987-2008
|
28.039,6
|
|
|
|
Aumento Divida 1987/2008, em % e em Milhões
|
|
479,3%
( +91.297,2 Milhões )
|
|
|
2013 (Previsão: 89,8% do PIB, PEC:2010/2013)
|
|
163.860
|
Sócrates - PS(?)
|
|
Receitas Privatizações previstas, 2010-2013
|
6.000,0
|
|
Sócrates - PS(?)
|
|
Receitas Totais Privatizações, 1987/2013
|
34.039,6
|
|
|
|
Aumento Previsto Divida Pública, 1987/2013 (%)
|
|
+760,2%
|
|
|
Aumento Divida Pública 1987-2013, em Milhões
|
|
+144.810,6
|
|
Fonte: Divida Pública: 1987/1996 : Relatório OE1997; 1997/2008:
Eurostat; 2009/2013: PEC:2010-2013
Receitas das privatizações Sector Empresarial do Estado -
Direcção Geral do Tesouro - MFAP
As privatizações realizadas no período 1987/2008, pelos
governos de Cavaco Silva, Guterres, Durão Barroso e Sócrates,
deram uma receita ao Estado que, de acordo com dados divulgados pela
Direcção Geral do Tesouro do Ministério das
Finanças, atingiu, a preços correntes, 28.039,6 milhões
de euros, Durante esse período, isto é, entre 1987 e 2008, a
Divida Pública passou de 19.094,4 milhões de euros para 110.346,6
milhões de euros também apreços correntes, ou seja,
aumentou 5,8 vezes (mais 91.297,2 milhões de euros).
Apesar destes resultados, e de ser claro que não é através
da venda, muitas vezes aos desbarato, de empresas públicas a grandes
grupos económicos que se resolve o problema da divida pública, o
actual governo anunciou, no PEC:2010-2013, a intenção de
proceder a uma nova vaga de privatizações. Pretende arrecadar
desta forma mais 6.000 milhões de euros. Mas apesar desta receita o
governo também prevê, no PEC: 2010-2013, que a Divida
Pública atinja, no fim de 2013, 89,8% do PIB o que deverá
corresponder a cerca de 163.860 milhões de euros, ou seja, mais 53.513,5
milhões de euros do que em 2008, e mais 144.811 milhões de euros
do que em 1987. É claro o fracasso desta politica de venda de empresas
públicas para reduzir a divida.
AO VENDER AS EMPRESAS PÚBLICAS O ESTADO PERDE UMA IMPORTANTE FONTE DE
RECEITA
O quadro seguinte, com dados da publicação "Sector
Empresarial do Estado " da Direcção Geral do Tesouro do
Ministério das Finanças revela que as empresas públicas,
apesar das privatizações maciças, ainda são uma
importante fonte de receitas para o Orçamento do Estado.
QUADRO II Dividendos e remunerações de capital
estatutário recebidos pelo Estado das empresas com capitais
públicos
|
ANO
|
Milhões euros
|
|
2004
|
482,7
|
|
2005
|
120,2
|
|
2006
|
532,8
|
|
2007
|
556,3
|
|
2008
|
559,0
|
|
SOMA
|
2.251,1
|
Fonte: Sector Empresarial do Estado -2005-2009 - Direcção Geral
do Tesouro
Só no período 2004´-2008, o Estado recebeu das empresas com
capitais públicos que ainda escaparam à fúria das
privatizações dos governos PSD, PSD/CDS e PS, de dividendos e de
remunerações de capital, 2.251,1 milhões de euros.
É uma parcela significativa desta fonte de lucros que o governo de
Sócrates pretende agora vender aos grandes grupos económicos.
É evidente, que o Estado se vender esta fonte importante de receitas, o
défice orçamental e a divida pública certamente
aumentarão. E tenha presente que é uma fonte continua de lucros e
não apenas num ano. É como "matar a galinha de ovos de
ouro" da fábula popular.
SÓ A EDP, GALP E A PORTUGAL TELECOM DERAM AOS SEUS ACCIONISTAS 13.384,9
MILHÕES DE LUCROS LIQUIDOS EM 6 ANOS E VALIAM NA BOLSA, EM ABRIL
DE 2010, 30.620,2 MILHÕES
Para que fique claro como tem sido utilizadas as empresas publicas que foram
privatizadas, vamos analisar três casos paradigmáticos: EDP, GALP
e PT. O quadro seguinte construído com dados constantes dos seus
Relatórios e Contas mostra de uma forma clara como elas estão a
ser utilizadas pelos grupos económicos para acumular riqueza.
QUADRO III Lucros Líquidos e capitalização bolsista
da EDP, GALP e PT
|
ANOS
|
LUCROS LIQUIDOS - milhões
|
|
EDP
|
GALP
|
PT
|
|
2004
|
271,6
|
331,1
|
623,0
|
|
2005
|
1.971,1
|
442,0
|
654,0
|
|
2006
|
940,8
|
754,8
|
866,8
|
|
2007
|
907,3
|
776,6
|
741,9
|
|
2008
|
1.212,0
|
116,9
|
576,1
|
|
2009
|
1.168,0
|
347,0
|
683,9
|
|
SOMA LUCROS LIQUIDOS (2004/2009)
|
6.470,8
|
2.768,4
|
4.145,7
|
CAPITALIZAÇÃO BOLSISTA
(Valor da empresa calculada com base na cotação da bolsa de
12/04/2010)
|
11.866,2
|
11.232,3
|
7.521,7
|
Fonte: Relatórios e Contas -2004/2009, e informação
disponível no "site de cada empresa
Em seis anos, os lucros líquidos da EDP somaram 6470,8 milhões de
euros; a GALP, no mesmo período, obteve 2.768,4 milhões de euros
de lucros líquidos, e a Portugal Telecom 4.145,7 milhões de
euros. Só estas três empresas que foram privatizadas deram, no
período 2004/2009, lucros líquidos que somaram 13.384,9
milhões euros. Por esta pequena amostra fica-se já com uma ideia
clara da importância como fonte de receitas para o Estado que eram estas
empresas. E elas são apenas três de um conjunto grande de empresas
públicas que foram privatizadas pelos governos de Cavaco Silva,
Guterres, Durão Barroso Sócrates. Basta lembrar toda a banca e
seguradoras, com poucas excepções, que foram também
privatizadas que constituem actualmente para os grupos económicos,
incluindo estrangeiros, um instrumento importante de exploração e
de acumulação de riqueza. Só a PT distribuiu aos seus
accionistas, no período 2004/2009, dividendos no valor de 3102,2
milhões de euros. E cerca de 43% desses lucros foram parar às
mãos de apenas 8 grupos económicos, sendo metade estrangeiros.
QUADRO IV Lucros da PT no período 2004/2009 distribuídos,
sob a forma de dividendos, aos grupos económicos
PRINCIPAIS ACCIONISTAS
(grupos económicos)
|
% Capital da PT pertencente aos grupos económicos
|
Dividendos recebidos pelos grupos económicos
Milhões
|
Dividendos recebidos por grupos estrangeiros
Milhões
|
|
Telefónica (Espanhola)
|
10%
|
310,2
|
310,2
|
|
Brandes Investments
|
7,52%
|
233,3
|
233,3
|
|
Grupo BES
|
7,99%
|
247,9
|
|
|
Ongoing S. Inv.
|
8,74%
|
271,1
|
|
|
Grupo Visabeira
|
2,01%
|
62,4
|
|
|
Black Rock
|
2,35%
|
72,9
|
72,9
|
|
Controlinvest
|
2,28%
|
70,7
|
|
|
Norges BanK
|
2,01%
|
62,4
|
62,4
|
|
8 GRUPOS PRIVADOS
|
43%
|
1.330,8
|
678,8
|
|
CGD
|
7,30%
|
226,5
|
|
Fonte: Relatórios e Contas da PT e informação
disponível no seu sítio web
Portanto, oito grandes grupos económicos privados, sendo quatro
estrangeiros, receberam dividendos da Portugal Telecom no valor de 1.330,8
milhões de euros (deste total 678,8 milhões de euros de
dividendos foram recebidos por grupos económicos estrangeiros). O
accionista Estado, por possuir, através da CGD, uma
participação de apenas 7,3% recebeu somente 226,5 milhões
de euros de dividendos. Situação semelhante também se
verificou na GALP e na EDP, assim como em todas as outras empresas que foram
privatizadas, as quais deixaram de ser fonte de receitas para o
Orçamento do Estado, e passaram a ser para os grupos económicos
privados um instrumento importante de acumulação de riqueza e de
domínio sobre o poder politico.
QUADRO V Lucros da EDP e da GALP no período 2004/2009
distribuídos, sob a forma de dividendos, a grupos económicos
|
EDP
|
GALP
|
|
Accionistas
|
% Capital
da EDP
|
Dividendos recebidos
Milhões
|
Accionistas
|
% Capital
da GALP
|
Dividendos recebidos
Milhões
|
|
Iberdrola
|
9,50%
|
249,2
|
Amorim Energia
|
33,34%
|
508,7
|
|
Caja Ahorros Astúrias
|
5,01%
|
131,4
|
ENI
|
33,34%
|
508,7
|
|
Jose Mello, SGPS
|
4,82%
|
126,4
|
2 GRUPOS PRIVADOS
|
66,68%
|
1017,4
|
|
Grupo BCP
|
3,39%
|
88,9
|
|
|
|
|
BES
|
3,05%
|
80,0
|
|
|
|
|
Picket Asset Management
|
2,86%
|
75,0
|
|
|
|
|
Sonatrach
|
2,33%
|
61,1
|
|
|
|
|
International Petroleum Investments
|
2,00%
|
52,5
|
|
|
|
|
8 GRUPOS PRIVADOS
|
32,96%
|
864,6
|
|
|
|
|
PARPÚBLICA
|
20,49%
|
537,5
|
PARPÚBLICA
|
7,00%
|
106,8
|
|
CGD
|
9,50%
|
249,2
|
CGD
|
1,00%
|
15,3
|
|
ESTADO
|
29,99%
|
786,7
|
ESTADO
|
8,00%
|
122,1
|
Fonte: Relatórios e Contas - 2005-2009 - EDP e GALP
Entre 2004 e 2009, na EDP oito grupos económicos privados (Iberdrola,
Caja Ahorros Astúrias, José de Mello, BCP, BES, PAM, PIPIC),
receberam 864,6 milhões de euros de dividendos e na GALP, durante o
mesmo período, dois grupos económicos privados (Amorim Energia e
a italiana ENI) receberam também de dividendos 1017,4 milhões de
euros. O Estado, devido às participações que ainda tem
nestas duas empresas, através da PARPÙBLICA e da CGA, recebeu na
EDP 786,7 milhões de euros de dividendos, e na GALP 122,1 milhões
de euros no período 2004 e 2009. Mas é uma parte destas
participações já minoritárias que, apesar de tudo,
ainda dão elevados lucros, que o actual governo pretende privatizar
até 2013.
Finalmente há ainda um outro aspecto que interessa também
referir. É o valor actual destas três empresas com base no valor
de bolsa. De acordo com as cotações da bolsa de 12.4.2010,
só estas três empresas (EDP, GALP, PT) valiam 30.620,2
milhões de euros (quadro I), portanto certamente um valor muito superior
ao obtido pelo Estado com a sua privatização
Não resta dúvida que os grupos económicos fizeram um
grande negócio com a privatização destas três
empresas. Elas são uma fonte permanente de elevados rendimentos anuais
para eles, por um lado, e, por outro lado, quando quiserem vender
obterão por elas certamente um valor gigantesco. Para a maioria da
população as privatizações das empresas publicas,
transformou estas em instrumentos importantes de exploração a que
está submetida, através dos preços elevados que têm
de pagar pelos bens essenciais produzidos por essas empresas.
UMA ONDA DE LIBERALISMO E DE PRIVATIZAÇÕES QUE ATINGIU E AINDA
ATINGE PORTUGAL
Alex Jilbeto e Barbara Hogenboom na obra colectiva
Big Business and Economic Development
verificam que nas décadas 80 e 90 do
séc. XX se assistiu, em muitas partes do mundo, a um gigantesco
movimento de privatizações maciças de empresas
públicas, acabando muitas destas empresas por serem adquiridas imediata
ou pouco tempo depois por grupos multinacionais. Só entre 1988 e 1995,
estes autores calcularam que num total de 88 países desenvolvidos ou em
vias de desenvolvimento, cerca de 3.801 empresas públicas acabaram por
serem vendidas a grupos multinacionais. Isto também se verificou em
Portugal
Este movimento global de privatizações em larga escala, de
desregulamentação e de liberalização
económica e financeira, que se verificou inicialmente nos EUA com
Reagen e na Inglaterra com Tatcher, que rapidamente se alastrou por quase todo
o mundo, apoiada pelo FMI e pelo Banco Mundial, com base nos mitos da
auto-regulação e da eficiência dos mercados, como os
instrumentos mais adequados para fazer uma afectação eficiente
dos recursos e para garantir um crescimento económico elevado, deixou os
Estados, os países e as populações totalmente indefesas ,
mas permitiu aos grandes grupos multinacionais consolidar o seu domínio
à escala global, e impor uma globalização capitalista que
agravou as desigualdades a uma escala nunca antes vista, e que conduziu o mundo
capitalista a uma das suas maiores crises da sua história.
Portugal não conseguiu escapar a esta onda de neoliberalismo, de
desregulamentação, de privatizações maciças,
sendo os sucessivos governos meros instrumentos desta politica neoliberal
global, que aumentou o poder dos grandes grupos económicos no nosso
País deixando o Estado profundamente enfraquecido, submetido ao poder
económico e incapaz de defender os interesses da
população trabalhadora e de promover o desenvolvimento e o
crescimento económico sustentado. Infelizmente, o actual governo parece
não ter aprendido nada com a experiencia do passado e com a grave crise
actual, e teima em continuar a politica de privatizações que
não resolve os problemas, até os agrava e enfraquece ainda mais o
poder de intervenção do Estado.
O governo actual ao tencionar continuar a politica de
privatizações, significa que Estado vai abdicar de um instrumento
importante de politica económica e de defesa dos interesses da
população e do País, ficando ainda mais à
mercê e submetido ainda mais ao poder dos grandes grupos
económicos, permitindo a estes controlarem os instrumentos mais
importantes no mundo actual, por um lado, para imporem um crescimento
económico de acordo com os seus interesses e, por outro lado, para
submeterem a maioria da população a uma exploração
desenfreada com base em preços leoninos de bens essenciais, como
são a electricidade, os combustíveis, as
telecomunicações, etc., que se assiste neste momento em Portugal.
14/Abril/2010
[*]
Economista,
edr2@netcabo.pt
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
.
|