Em 2007 o preço do barril de petróleo aumentou em euros apenas
1,5%, mas os preços dos combustíveis em Portugal subiram entre
3,4% e 7,9%
RESUMO DESTE ESTUDO
Uma associação do sector de combustíveis afirmou recente e
publicamente que existia especulação na venda dos
combustíveis em Portugal, embora não provasse a
afirmação que fez. É importante analisar esta
questão com objectividade. Para isso vamos utilizar os dados oficiais da
Direcção Geral de Energia e Geologia (DGEG) do Ministério
da Economia e da própria GALP.
De acordo com os dados da DGEG, em 2006 o preço médio do barril
de petróleo importado por Portugal, em euros, foi de 51,90 euros e, em
2007, de 52,69 euros. Portanto, entre 2006 e 2007, o preço do barril de
petróleo em euros (é esta moeda que interessa utilizar pois os
combustíveis são vendidos internamente aos portugueses
também em euros), aumentou apenas em 1,5%, portanto uma subida
até inferior à taxa de inflação portuguesa que foi,
em 2007, de 2,5%.
Enquanto se registou um aumento de apenas 1,5% no preço médio do
barril de petróleo, segundo também a DGEG do Ministério da
Economia, em Portugal, entre 2006 e 2007, o preço médio da
gasolina 95 aumentou em 3,4%; o da gasolina 98 em 4,1%; o do gasóleo
rodoviário em 3,5%; e o do gasóleo de aquecimento em 7,9%;
portanto aumentos muito superiores aos verificados no preço do barril
de petróleo. Afirmar, como afirmam as petrolíferas, que os
aumentos dos preços dos combustíveis, com a dimensão que
se tem verificado em Portugal, se devem à subida do preço do
petróleo, não tem fundamento técnico como mostram os dados
oficiais da DGEG.
Se compararmos os preços dos combustíveis com e sem impostos
praticados em Portugal com os de outros países da UE, também
constatamos importantes anomalias no chamado mercado.
Assim, em 2007, de acordo também com dados divulgados pela DGEG do
Ministério da Economia, o preço da gasolina 95,
sem impostos
, era em Portugal superior ao preço médio da União
Europeia em 1,8%; mas, em relação, à Suécia, o
preço no nosso País era superior em 13,6%, à França
em 9,1%; à Inglaterra em 9,2%, etc. No mesmo ano, o preço da
gasolina 95,
com impostos
, era em Portugal superior em 5% ao preço médio da União
Europeia. Em relação à Espanha, era superior em +24,3%;
à Grécia + 29,2%; Luxemburgo +17,3%; etc..
Em 2007, igualmente de acordo com a DGEG do Ministério da Economia, o
preço de venda
sem impostos
do gasóleo em Portugal era superior ao preço médio
comunitário em 2,2%. No entanto, existiam países onde a
diferença era muito maior. Por ex., o preço em Portugal era
superior ao de Inglaterra em 13,1%; ao da França em 8,1%; ao da
Áustria em 6,2%; etc. No mesmo ano, o preço de venda do
gasóleo,
com impostos
, era inferior em Portugal apenas em -0,6% ao preço médio da
União Europeia. No entanto, e contrariamente ao que muitas vezes
é afirmado, a carga fiscal em Portugal sobre o gasóleo é
inferior à média comunitária, pois no nosso País
representa cerca de 50% do preço de venda, enquanto a média na
União Europeia atinge 51%. Existem países, em
relação aos quais o preço de venda do gasóleo com
impostos em Portugal era bastante superior. Por ex., o preço de venda
com impostos em Portugal era superior ao do Luxemburgo em +15%; ao da Espanha
em +11%; ao da Grécia em +9,4%; ao da Finlândia em +9,6%; etc.
Só o facto do preço da gasolina 95 e do gasóleo sem
impostos serem superiores ao preço médio da União Europeia
deu às petrolíferas portuguesas, em 2007, um lucro
extraordinário de 68,7 milhões de euros. É por isso que,
apesar de se verificar uma quebra nas vendas dos combustíveis em
Portugal, os lucros das petrolíferas não têm
diminuído; pelo contrário até têm aumentado. Em
2006, os resultados líquidos da GALP antes de impostos atingiram 962
milhões de euros e, em 2007, já foram de 1.011 milhões de
euros. É de prever que as petrolíferas tirem partido da actual
situação de crise para aumentar ainda mais os seus lucros se a
passividade, para não dizer mesmo a conivência, do governo e da
Autoridade da Concorrência continuar.
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Na semana passada, uma associação do sector de
combustíveis afirmou publicamente que existia especulação
na venda dos combustíveis em Portugal, embora não provasse a
afirmação que fez. Neste estudo, utilizando apenas dados oficiais
da Direcção Geral de Energia e Geologia e Combustíveis
(DGEG) do Ministério da Economia e da própria GALP vamos analisar
com objectividade esta matéria tão importante para milhões
de portugueses.
EM 2007, O PREÇO MÉDIO DO BARRIL DO PETRÓLEO AUMENTOU
APENAS 1,5%
As empresas petrolíferas utilizam quase sempre o argumento do aumento do
preço do barril do petróleo no mercado internacional para
imediatamente subir os preços a que vendem os combustíveis aos
portugueses. E fazem-no da forma como tem sido feito porque em Portugal
não existe qualquer controlo ao aumento dos preços dos
combustíveis. É um autêntico "maná" para
as grandes empresas. E isto por várias razões. Em primeiro lugar,
porque uma subida dos preços do petróleo no mercado internacional
não se reflecte no mesmo dia nem na mesma semana ou mês nos
preços internos. E isto porque as empresas petrolíferas têm
contratos de aquisição de petróleo a vários meses.
Em segundo lugar, porque, embora vendendo internamente em euros, compram o
barril de petróleo no mercado internacional em dólares, e o
dólar vale cada vez menos em euros (por ex. na semana que terminou em
20/03/2008, um dólar valia 0,665 euros).
O quadro I, construído com dados divulgados pela Direcção
Geral de Energia e de Geologia do Ministério da Economia, mostra o
efeito da desvalorização do dólar em relação
ao euro no que se refere ao preço do barril de petróleo adquirido
por Portugal em 2006 e 2007.
Em 2006 o preço médio do barril de petróleo importado por
Portugal foi de 65,14 dólares e, em 2007, de 72,55 euros, portanto
sofreu um aumento de 11,4% em dólares. Mas se fizermos a
comparação com base em euros, e é nesta moeda que
interessa fazer a comparação pois é em euros que as
empresas petrolíferas vendem depois os combustíveis aos
portugueses, o aumento do preço médio do barril de
petróleo foi apenas de 1,5%, portanto até inferior à taxa
de inflação interna que atingiu 2,5%.
EM 2007, OS PREÇOS DOS COMBUSTIVEIS EM PORTUGAL AUMENTARAM ENTRE 3,2% E
7,9%
Embora o preço do barril de petróleo em euros tenha aumentado, em
2007, apenas 1,5%, os preços dos combustíveis de maior consumo
aumentaram, em euros, muito mais, como mostram os dados da
Direcção Geral de Energia e Geologia constantes do quadro
seguinte.
Entre 2006 e 2007, o preço da gasolina 95 aumentou, no nosso
País, em 3,4%; o da gasolina 98 em 4,1%; o do gasóleo
rodoviário em 3,5%; e o do gasóleo de aquecimento em 7,9%;
portanto aumentos muito superiores aos verificados no preço do barril de
petróleo. Afirmar, como afirmam as petrolíferas, que os aumentos
dos preços dos combustíveis, tão elevados como se
têm verificado em Portugal, se devem à subida do preço do
barril do petróleo, tal facto não é confirmado pelos
próprios dados da Direcção Geral da Energia e Geologia. A
confirmar que também isso não é verdade , estão os
elevados lucros obtidos pelas empresas ligadas à produção
e comercialização dos combustíveis.. Em 2007, os
resultados líquidos da GALP antes dos impostos atingiram 1.049
milhões de euros quando, em 2006, tinham sido de 962 milhões
.
OS PREÇOS DOS COMBUSTIVEIS EM PORTUGAL COM E SEM IMPOSTOS CONTINUAM A
SER SUPERIORES AOS DE MUITOS PAISES DA UNIÃO EUROPEIA
Os preços dos combustíveis em Portugal continuam a ser superiores
aos preços a que são vendidos em muitos dos países da
U.E., como mostram os dados dos dois quadros seguintes.
Em 2007, o preço da gasolina 95 sem impostos era em Portugal superior ao
preço médio da União Europeia em 1,8%; mas , em
relação, à Suécia o preço no nosso
País era superior em 13,6%; à França em 9,1%; à
Inglaterra em 9,2%, etc.. Também em 2007, o preço da gasolina 95
com impostos era, em Portugal, superior em 5% ao preço médio da
União Europeia. Em relação à Espanha ele era
superior em +24,3%; à Grécia + 29,2%; Luxemburgo +17,3%; etc..
Em relação ao gasóleo, a situação era
semelhante como mostram os dados do quadro seguinte.
Em 2007, o preço de venda sem impostos do gasóleo em Portugal era
superior ao preço médio comunitário em 2,2%. No entanto,
existiam países onde a diferença era muito maior. Por ex., o
preço em Portugal era superior ao de Inglaterra em 13,1%; ao da
França em 8,1%; ao da Áustria em 6,2%; etc..No mesmo ano, o
preço de venda do gasóleo com impostos, era inferior apenas em
-0,6% ao preço médio da União Europeia. No entanto, e
contrariamente ao que muitas vezes é afirmado, a carga fiscal em
Portugal sobre o gasóleo é inferior à média
comunitária pois, no nosso País, representa cerca de 50% do
preço de venda, enquanto a média na União Europeia atinge
51%. Existem países, em relação aos quais o preço
de venda do gasóleo com impostos em Portugal era bastante superior. Por
ex, , o preço de venda com impostos em Portugal é superior ao do
Luxemburgo em +15%; ao da Espanha em +11%; ao da Grécia em +9,4%;; etc..
Em resumo, apesar dos baixos salários em Portugal, o preço sem
impostos quer da gasolina quer do gasóleo, ou seja, o preço que
reverte para as empresas, é superior ao preço médio da
U.E., o que determinou, só em 2007, um lucro extraordinário para
as petrolíferas que se estima em 68,7 milhões de euros. É
de prever que, com o aumento da instabilidade internacional, e perante a
passividade, para não dizer mesmo a conivência, do governo e,
nomeadamente do Ministério da Economia, e da Autoridade da
Concorrência, aquela situação se agrave ainda mais em 2008..
24/Março/2008
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Economista,
edr@mail.telepac.pt
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