Emprego a tempo parcial, a prazo e a recibos verdes aumentou significativamente;
Trabalhadores precários recebem menos 37% do que aqueles com contratos
sem termo
RESUMO DESTE ESTUDO
O INE acabou de divulgar os dados do desemprego do 1º trimestre de 2008
cuja taxa foi de 7,6%. Apesar de o 1º ministro vir logo dizer que "o
País estava no bom caminho" e Vieira da Silva ter acrescentado que
"tinha esperanças que o desemprego continuasse a diminuir",
como se o problema do desemprego fosse uma questão de
"esperanças", é de prever que o desemprego aumente no
futuro pois a taxa de crescimento da economia no 1º trimestre deste ano
foi inferior a metade da registada no 1º trimestre de 2007. Os mesmos
dados do INE revelam duas situações importantes esquecidas pelo
governo que convém referir.
A primeira é que a taxa de desemprego corrigida, calculada utilizando
dados do INE e mais próxima da real do que a taxa oficial, ser, no
1º Trim.2008, 10,2%, portanto de dois dígitos, e quer se considere
o desemprego oficial quer o desemprego corrigido, o do 1º Trim.2008
continua a ser superior ao do 1º Trim.2005, data em que este governo tomou
posse.
A segunda situação, é que a diminuição do
desemprego verificada no 1º Trimestre de 2008 (menos 42,9 mil), foi
conseguida à custa de um aumento muito significativo do emprego
precário. Se considerarmos o período compreendido entre 1º
Trim.2007 e 1º Trim.2008, conclui-se que os contratos a prazo aumentaram
em 72,1 mil, ou seja, 11,1%. Mas se se considerar um período mais longo
o de funções deste governo conclui-se que, entre o
1º Trim.2005 e o 1º Trim.2008, o emprego a tempo parcial aumentou em
41,4 mil; os contratos a prazo em 154,8 mil; e os "trabalhadores por conta
própria" (recibos verdes) em 9,4 mil, o que somando dá um
aumento de 205,6 mil trabalhadores precários relativamente ao 1º
trim.2005.
Esta substituição de trabalhadores com contrato sem termo, cujo
número neste período diminuiu em 22,6 mil, por trabalhadores com
contratos precários está a determinar uma
diminuição significativa das remunerações de muitos
trabalhadores e, por arrastamento, da remuneração média do
País, o que tem consequências graves não só sociais
mas também a nível da reanimação do mercado
interno. Tomando como base os dados dos salários líquidos de
2006, constantes das Estatísticas do Emprego do 2º Trim.2007, que
são os mais recentes disponibilizados pelo INE, mas a
situação em 2008 não é certamente diferente,
conclui-se que o salário médio de um trabalhador a prazo
corresponde apenas a 77,8% do salário médio liquido de um
trabalhador com contrato sem termo; e o salário médio de um
trabalhador a tempo parcial corresponde somente a 45,5% do salário
médio de um trabalhador com contrato sem termo. Se calcularmos o
salário médio líquido ponderado destes dois grupos de
trabalhadores precários obtém-se, para 2006, 469 euros, o que
corresponde apenas a 63% do salário médio líquido do
trabalhador com contrato sem termo, ou seja, menos -37,1%. Repetimos, e a
situação em 2008 não é certamente melhor.
O número de desempregados, entre o 1ºTrim.2005 e 1ºTrim2008
aumentou, mas o apoio aos desempregados não tem parado de diminuir em
Portugal. Entre o 1º Trimestre de 2005 e o 1º Trimestre de 2008, o
desemprego oficial cresceu em 14.400 desempregados (+3,5%) e o desemprego
corrigido em mais 24.000 desempregados, tendo atingido no 1º Trim. de 2008
os 572,9 mil desempregados. No entanto, o número de desempregados a
receber subsidio (subsidio de desemprego + subsidio social de desemprego +
subsidio social subsequente) diminuiu, no mesmo período, em -60.580
(-19,3%) sendo em Março de 2008 apenas 254.136. Mas no último ano
verificou-se uma alteração qualitativa importante a nível
do subsidio de desemprego. Muitos desempregados deixaram de ter direito ao
subsídio de desemprego como consequência das
restrições no acesso impostas pela nova lei de subsídio de
desemprego aprovada por este governo (Decreto Lei 220/2006). Como não
têm recursos para poder sobreviver começaram a receber o
subsídio social de desemprego e o subsidio subsequente cujo valor
é inferior ao valor do subsidio de desemprego que recebiam. O valor do
subsídio de desemprego corresponde a 65% do salário que o
trabalhador recebia antes de ser despedido, mas o do subsídio social de
desemprego varia entre 407,4 euros (para os que têm agregado familiar) e
326 euros (para os que não têm). Entre Julho de 2007 e
Março de 2008 o número de desempregados a receber subsídio
de desemprego diminuiu em 9,7%, sendo apenas 173.108 desempregados a
recebê-lo, enquanto os que recebem o subsidio social de desemprego
cresceu em 13,3% (são já 81.117). É desta forma que este
governo diminui as despesas com o subsídio de desemprego para depois
poder apresentar propostas de redução da
contribuição dos patrões em -4,2% (-1 p.p.) para a
Segurança Social.
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O INE acabou de publicar os dados do emprego e do desemprego referentes ao
1º Trimestre de 2008. E logo o 1º ministro veio dizer que "o
País estava no bom caminho", e o ministro do Trabalho acrescentou
que "tinha a esperança de o desemprego continuar a diminuir".
Isto no mesmo dia em que o INE divulgava que a taxa de crescimento da economia
portuguesa no 1º trimestre de 2008 tinha sido apenas 0,9%, ou seja, menos
de metade do valor verificado no 1º trimestre de 2007. É evidente
que com uma taxa de crescimento desta natureza é impossível ter
esperanças que o desemprego diminua em Portugal. No entanto, analisemos
com maior rigor os dados divulgados pelo INE, fazendo um balanço do que
se tem verificado, a nível de desemprego e emprego, nestes três
últimos anos de governo de Sócrates.
NO 1º TRIMESTRE DE 2008, A TAXA DE DESEMPREGO CORRIGIDA FOI DE 10,2%
O quadro seguinte, construído com dados do INE, mostra a
variação do desemprego oficial e do desemprego corrigido, este
mais próximo do desemprego real, durante o governo de Sócrates.
Assim, no 1º trimestre de 2008, o número oficial de desempregados
era de 427.000, o que correspondia a uma taxa de desemprego oficial de 7,6%,
enquanto o desemprego corrigido, que inclui todos aqueles que embora
desempregados não são incluídos nos números
oficiais de desemprego (inactivos disponíveis que por não terem
procurado emprego na semana do inquérito já não são
considerados oficialmente desempregados; e o "subemprego
visível" que são os que trabalham menos de 15 horas por
semana por não terem emprego a tempo completo); repetindo, o desemprego
corrigido, que é um valor mais próximo do real, atingia, no
1ºTrm.2008, 572.900, que já corresponde a uma taxa de desemprego
de 10,2% .
Se analisarmos o período do governo de Sócrates
1ºTrim2005 a 1ºTrim2008 constata-se que mesmo o desemprego
oficial aumentou, pois passou de 412,6 mil para 427 mil, e o desemprego
corrigido cresceu, pois passou de 548,9 mil para 572,9 mil. Mas o mais grave
neste momento em termos de desemprego, é que o desemprego diminuiu como
consequência da animação, embora reduzida, da economia em
2007, mas agora com a descida acentuada do crescimento económico, para
menos de metade do verificado em idêntico período de 2007,
é de prever que o problema do desemprego se agrave de novo em Portugal.
É preciso ter presente que, de acordo com a experiência
empírica, só se verifica uma descida sustentada do desemprego no
nosso País com uma taxa de crescimento económico de pelo menos
2%. E a economia não se compadece nem com os "desejos" de
Sócrates nem com as "esperanças" de Vieira da Silva.
A DIMINUIÇÃO DO DESEMPREGO FOI CONSEGUIDA À CUSTA DO
AUMENTO SIGNFICATIVO DOS TRABALHADORES PRECÁRIOS
O quadro seguinte, construído com dados do INE, mostra que a pequena
redução verificada no desemprego foi conseguida à custa do
aumento significativo do emprego precário.
Entre o 1º trimestre de 2005 e o 1º trimestre de 2008, o emprego a
tempo parcial aumentou em 41,4 mil; os contratos a prazo em 154,8 mil; e os
"trabalhadores por conta própria" (os chamados "recibos
verdes") em 9,4 mil, o que somando dá mais 205,6 mil trabalhadores
precários relativamente ao 1º trimestre 2005, data em que o governo
de Sócrates tomou posse, enquanto o número de trabalhadores sem
termo diminuiu em 22,6 mil. Só no último ano
(1ºTrim2007/1ºTrim2008), os contratos a prazo aumentaram em 72,1 mil
, ou seja, 11,1%. Para além disso, o desemprego que diminuiu mais foi de
baixa escolaridade, cujo número de desempregados baixou, entre o 1º
Trim.2007 e o 1ºTrim.2008, em 36,2 mil, certamente com a passagem à
situação de reforma por muitos dos desempregados.
OS SALÁRIOS DOS TRABALHADORES PRECÁRIOS SÃO EM
MÉDIA INFERIORES EM 37% AO DOS TRABALHADORES COM CONTRATO SEM TERMO
É evidente que este aumento tão grande da precariedade em
Portugal está associada a baixas remunerações e,
consequentemente, à redução da remuneração
média no País. E isto porque um trabalhador a tempo parcial, ou a
prazo, ou com recibo verde ganha muito menos que um trabalhador a tempo
completo e com contrato sem termo. O quadro seguinte, construído
também com dados do INE, referentes ao ano de 2006, dá uma ideia
da forma como se está a verificar a redução dos
salários de camadas crescentes da população trabalhadora.
Tomando como base os dados dos salários líquidos de 2006,
constantes das Estatísticas do Emprego do 2º Trimestre de 2007, que
são os mais recentes do INE, e a situação em 2008
não melhorou, conclui-se que o salário médio de um
trabalhador a prazo correspondia a 77,8% de um trabalhador com contrato sem
termo; e o salário médio de um trabalhador a tempo parcial
correspondia somente a 45,5% do salário médio de um trabalhador
com contrato sem termo. Se calcularmos o salário médio ponderado
destes dois grupos de trabalhadores precários 469 euros em 2006
conclui-se que ele representava apenas 63% do salário
médio de um trabalhador com contrato sem termo, ou seja, menos -37,1%.
Embora os dados dos salários sejam referentes a 2006, eles dão
uma ideia clara das consequências sobre a vida dos trabalhadores que
está a resultar da substituição, em larga escala, de
emprego com contrato sem termo por emprego precário. Ele também
mostra que desta forma se procura também perpetuar em Portugal um modelo
de crescimento económico baseado em baixos salários, que a
experiência empírica já provou a sua completa
falência.
APOIO AOS DESEMPREGADOS CONTINUA A DIMINUIR EM PORTUGAL
O apoio aos desempregados continua a diminuir em Portugal. Como revelam os
dados do INE constantes do quadro I, entre o 1º Trimestre de 2005 e o
1º Trimestre de 2008, o número de desempregados em Portugal
aumentou, no entanto, como mostram os dados publicados pelo Ministério
do Trabalho e Solidariedade constantes do quadro seguinte , o apoio aos
desempregados não tem parado de diminuir em Portugal.
Entre o 1º Trimestre de 2005 e o 1º Trimestre de 2008, o desemprego
oficial aumentou em 14.400 desempregados (+3,5%) e o desemprego corrigido em
mais 24.000 desempregados (+4,4%). No entanto, o número de desempregados
a receber subsidio (subsidio de desemprego + subsidio social de desemprego +
subsidio social subsequente) diminuiu, no mesmo período, em -60.580
desempregados (-19,3%).
Mas é fundamentalmente no período que vai de Julho de 2007 a
Março de 2008, que se verificou, por um lado, uma descida muito
acentuada nos desempregados a receber o subsidio de desemprego, cujo
número desceu em -9,7% e, por outro lado, uma alteração
qualitativa significativa no tipo de subsidio que passaram a receber. Muitos
dos desempregados deixaram de ter direito a subsidio de desemprego, como
consequência das restrições impostas pela nova lei de
subsidio de desemprego aprovada por este governo (Decreto Lei 220/2006). E como
não tinham recursos para poder sobreviver começaram a receber o
subsidio social de desemprego e o subsidio subsequente de valor inferior ao
valor do subsidio de desemprego que recebiam.
De acordo com o Decreto-Lei 220/2006, o subsidio de desemprego corresponde a
65% da remuneração recebida pelo trabalhador antes de ser
despedido, enquanto o subsidio social de desemprego é calculado com base
no chamado Indexante de Apoio Social (IAS), cujo valor é inferior ao
salário mínimo nacional. E isto apesar de o nº1 do
artº 30 daquele decreto-lei estabelecer que o subsidio social de
desemprego é calculado sobre o valor da remuneração
mínima garantida. Assim, os 81.117 desempregados que, em Março de
2008, estavam a receber subsidio social de desemprego ou subsidio subsequente
recebiam um valor mensal que correspondia a 407,41 euros (100% do IAS em 2008,
cujo valor é 407,41 , enquanto o valor do salário
mínimo é 426 ), no caso de terem agregado familiar; ou
apenas 325,93 euros (80% do IAS) no caso de não terem agregado familiar.
São valores por pessoa inferiores ao limiar de pobreza, o que mostra bem
para onde a "politica social" deste governo está a atirar os
trabalhadores que caiem no desemprego. Mas é desta forma que o governo
de Sócrates reduz significativamente as despesas com o subsidio de
desemprego e cria excedentes para depois poder apresentar propostas na
concertação Social de diminuição em - 4,2% (- 1
ponto percentual) das contribuições das entidades patronais para
a Segurança Social.
17/Maio/2008
[*]
Economista,
edr@mail.telepac.pt
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