Em 2008 aumentou a pobreza em Portugal
Baixos salários e desemprego, os factores determinantes
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A pobreza está a aumentar em Portugal, mesmo entre os trabalhadores com emprego, e também entre os desempregados, as famílias com filhos e os jovens. Mas só agora é que Sócrates descobriu que existem famílias a viver abaixo do limiar da pobreza e promete introduzir no programa eleitoral do PS, para obter votos, um subsídio para essas famílias como divulgaram os órgãos de informação. Segundo o INE, entre 2007 e 2008, a taxa de risco de pobreza, ou seja, pessoas que auferem um rendimento inferior ao limiar de pobreza (384,5 euros/mês 14 meses) aumentou em Portugal de 10% para 12% entre os empregados (+20%); e de 32% para 35% (+9%) entre os desempregados. Em relação à população empregada pode-se falar já com propriedade de "pobreza no trabalho", ou seja, trabalhadores que têm emprego, mas cujo salário que obtêm não é suficiente para viver com um mínimo de dignidade. Congelar salários ou reduzir salários, como defendem alguns, seria aumentar ainda mais a pobreza mesmo entre aqueles que têm emprego. O que é preciso é subir significativamente o salário mínimo, e fazê-lo cumprir, para combater o aumento da pobreza entre os que têm trabalho. Relativamente aos desempregados, a dimensão da pobreza é ainda maior do que aquela que revelam os dados anteriores do INE. Efectivamente, em Maio de 2009, a taxa de desemprego em Portugal atingia, segundo a OCDE, 9,3% o que correspondia a 520.316 desempregados. Nesse mês o número de desempregados a receberem subsídio de desemprego, segundo o Ministério do Trabalho e da Solidariedade Social, era apenas de 323.916, o que significava que 196.400 não tinham direito a subsídio de desemprego. Dos 323.916 a receber subsidio de desemprego em Maio de 2009, 101.546, ou seja, 31,3%, recebiam um subsídio inferior a 351 euros/mês, ou seja, abaixo do limiar da pobreza que era de 384,50 euros. Portanto, se adicionarmos estes 101.546 que recebiam um valor inferior ao limiar da pobreza aos 196.400 que não tinham direito ao subsídio de desemprego, obtém-se 297.946, o que corresponde a 57,3% do total de desempregados estimados pela OCDE. Isto significava que, pelo menos, 57 em cada 100 desempregados ou não recebiam subsídio de desemprego ou recebiam um valor inferior ao limiar da pobreza. E a situação real é ainda é pior pois o desemprego efectivo atingia já em Março 624.300 portugueses. É devido a estes números que afirmamos que a taxa de pobreza entre desempregados é superior aos 35% divulgados pelo INE. Perante a pressão da CGTP-IN e dos partidos políticos da oposição para que o governo alterasse a lei do subsidio de desemprego que publicou para abranger mais desempregados, já que a actual está a excluir um elevadíssimo numero de desempregados do direito ao subsidio de desemprego, o governo aprovou recentemente o Decreto-Lei 150/2009, que é uma autêntica burla, pois a alteração feita é claramente insuficiente, e não é no subsidio de desemprego mas sim no subsidio social de desemprego. Antes, um desempregado tinha direito ao subsidio social de desemprego se o rendimento mensal per-capita do agregado familiar fosse inferior a 80% do salário mínimo nacional; agora, devido a alteração feita pelo governo, o desempregado tem direito se o rendimento for inferior a 110% do IAS, que corresponde a 460 euros. Os efeitos desta medida são reduzidos. O próprio governo já admitiu que isso poderia beneficiar, quanto muito, 15.000 desempregados. Muda-se uma pequena coisa para que tudo, no essencial, fique na mesma. Este governo não se cansa de afirmar na propaganda oficial que está extremamente preocupado com o apoio às famílias e aos jovens. No entanto, os dados que o INE acabou de publicar desmentem também esse apoio às famílias e aos jovens. Entre 2007 e 2008, a taxa de pobreza, ou seja, com rendimentos inferiores a 384,5 euros /mês (14 meses), das famílias com filhos aumentou de 18% para 20%, e dos jovens com idade entre os 0-17 anos subiu de 21% para 23%. São dados oficiais do INE que confirmam o aumento de pobreza em Portugal, e desmentem a propaganda governamental veiculada acriticamente por órgãos de informação portugueses. |
A pobreza está a aumentar em Portugal, mesmo entre os trabalhadores com
emprego, e também entre os desempregados e entre as famílias com
filhos. São os próprios dados oficiais do INE divulgados em
15/07/2009 que revelam isso. Isto contrasta com a mensagem que alguns jornais
pretenderam fazer passar (ex. Diário Económico de 16.7.2009)
manipulando para isso apenas alguns dados seleccionados da
informação "Rendimento e Condições de Vida
2008" do INE.
OS BAIXOS SALÁRIOS E O DESEMPREGO SÃO FONTE CRESCENTE DE POBREZA
EM PORTUGAL
Uma das mensagens que o governo e as entidades patronais, e os seus defensores,
têm procurado fazer passar é que quem tem emprego é um
privilegiado, como ter trabalho não fosse um direito que cabe ao Estado
garantir como estabelece a própria Constituição da
República. No entanto, como revelam os próprios dados do INE, em
Portugal o trabalho também é, para muitos trabalhadores, fonte
crescente de pobreza. O quadro seguinte, construído com dados constantes
da informação do INE "Rendimento e Condições
de Vida - 2008" em Portugal, revela que a pobreza aumentou não
só entre os desempregados mas também entre a
população empregada.
QUADRO I Taxa de risco de pobreza após transferências
sociais
(população com um rendimento mensal inferior ao limiar de pobreza
que é de 384,5 /mês 14 meses)
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Empregados | 10% | 12% | + 20% |
Desempregados | 32% | 35% | + 9% |
Segundo o INE, entre 2007 e 2008, a taxa de risco de pobreza, ou seja, pessoas
que auferem um rendimento inferior ao limiar de pobreza (384,5 euros/mês
considerando 14 meses) aumentou de 10% para 12% entre os empregados (+ 20%), e
de 32% para 35% (+9%) entre os desempregados.
Em relação à população empregada pode-se
falar com propriedade de "pobreza no trabalho", ou seja,
trabalhadores que têm emprego, mas cujo salário que obtêm
não é suficiente para viver com um mínimo de dignidade.
Segundo o INE, 12% dos empregados, que corresponde a 612.000 portugueses,
repetimos com emprego, auferem um rendimento inferior a 384,5 euros por
mês.
Dramática é também a situação dos
desempregados em que o risco de pobreza aumentou, entre 2007 e 2008, de 32%
para 35%. Portanto, em 2008, segundo o INE, 35 em cada 100 desempregados tinha
para viver um rendimento mensal inferior a 384,5 euros (14 meses), o que
é uma situação inaceitável sob o ponto de vista
social. Mas estes dados do INE ainda não traduzem a verdadeira
dimensão da pobreza neste sector da população
constituída por todos aqueles que perderam o emprego, que está
crescer de uma forma rápida, e que este governo nada tem feito para
atenuar as crescentes dificuldades que enfrentam para viver.
O DESEMPREGO É FONTE IMPORTANTE E CRESCENTE DE POBREZA EM PORTUGAL
O quadro seguinte, construído com dados divulgados pelo INE, pela OCDE e
pelo Ministério do Trabalho e da Solidariedade Social, revela que um
elevado numero de desempregados não têm direito a subsídio
de desemprego.
QUADRO II Total de desempregados e desempregados que recebem subsidio de
desemprego
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a receber subsidio (*) |
do subsidio de desemprego |
ao subsidio de desemprego |
1º Trimestre 2009 - Desemprego oficial - INE | 495.800 | 301.080 | 60,7% | 194.720 |
1º Trimestre 2009 - Desemprego efectivo - INE | 624.300 | 301.080 | 48,2% | 323.220 |
Março 2009 - Taxa desemprego : 9,1%- OCDE | 509.127 | 301.080 | 59,1% | 208.047 |
Maio 2009 - Taxa de desemprego: 9,3% - OCDE | 520.316 | 323.916 | 62,3% | 196.400 |
No fim do 1º Trimestre de 2009, o número de desempregados a receber
subsídio de desemprego era apenas 301.080 segundo o Ministério do
Trabalho e da Solidariedade Social. Isso significava que existiam 194.720
desempregado que não tinham direito ao subsídio de desemprego se
utilizarmos os números do desemprego oficial. Se utilizarmos o
desemprego efectivo, que incluem também os "inactivos
disponíveis" mais o "subemprego visível", o
número de desempregados sem direito a receber subsidio de desemprego
já subia para 323.220. Se utilizarmos a taxa de desemprego calculada
pela OCDE para Portugal 9,1% em Março o numero de
desempregados sem direito ao subsidio de desemprego já atingia os
208.047. Números esses que dão bem um ideia da dimensão da
pobreza que atinge os desempregados em Portugal.
MAIS DE 31% DOS DESEMPREGADOS COM DIREITO AO SUBSIDIO DE DESEMPREGO RECEBEM UM
VALOR INFERIOR AO LIMIAR DE POBREZA E VALOR DO SUBSIDIO DIMINUI ENTRE 2008 E
2009
Para além de existir um elevadíssimo numero de desempregados que
não recebem subsidio de desemprego, uma parcela ainda importante dos que
têm direito a subsidio de desemprego recebem um valor muito baixo, como
revela o quadro seguinte construído com dados divulgados pelo
Ministério do Trabalho e da Solidariedade Social.
QUADRO III Repartição dos desempregados a receber subsidio
por tipo em Maio de 2009
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Euros |
Subsídio de desemprego | 222.370 | 68,7% | 514,61 |
Subsidio Social de desemprego inicial | 60.086 | 18,5% | 323,67 |
Subsidio social de desemprego subsequente | 41.380 | 12,8% | 350,74 |
Prolongamento subsídio social desemprego | 80 | 0,0% | 320,74 |
TOTAL | 323.916 | 100,0% | 458,21 |
VALOR MÉDIO TOTAL DO SUBSIDIO | |||
Abr-08 | 464,54 | ||
Dez-08 | 463,16 | ||
Jan-09 | 457,17 | ||
Abr-09 | 461,43 | ||
Mai-09 | 458,21 |
Em Maio de 2009, segundo o Ministério do Trabalho e da Solidariedade
Social, existiam 323.916 desempregados a receber subsídio de desemprego,
sendo o subsídio médio de apenas 458,21 euros. No entanto, 31,3%,
ou seja, 101.546 recebiam um subsídio inferior a 351 euros, ou seja, ao
limar da pobreza que era de 384,50 euros. Portanto, se adicionarmos estes
101.546 que recebiam um valor inferior ao limiar da pobreza aos 196.400 que
não tinham direito ao subsidio de desemprego estimados com base nos
dados da OCDE (ver última linha do quadro II), obtém-se 297.946,
o que correspondia a 57,3% do desemprego estimado pela OCDE. Isto significava
que, pelo menos, 57 em cada 100 desempregados ou não recebiam
subsídio de desemprego ou recebiam um valor inferior ao limiar da
pobreza.
Por outro lado, e como revelam também os dados do Ministério do
Trabalho e da Solidariedade Social tem-se verificado uma redução
do valor do subsidio médio que passou, entre Abril de 2008 e Maio de
2009, de 464,54 euros para 458,21 euros, o que agravou as
condições de vida mesmo dos desempregados com direito a subsidio
de desemprego .
A BURLA DA ALTERAÇÃO FEITA PELO GOVERNO À LEI DO SUBSIDIO
DE DESEMPREGO
Perante a pressão da CGTP-IN e dos partidos políticos da
oposição para que o governo alterasse a lei do subsidio de
desemprego que publicou (Decreto-Lei 220/2006) que está a excluir um
elevadíssimo numero de desempregados do direito ao subsidio de
desemprego o governo aprovou o Decreto-Lei 150/2009, que é uma
autêntica burla, pois altera não o subsidio de desemprego mas
apenas o subsidio social de desemprego. E a alteração feita
é muito pequena pois limita-se mudar a chamada condição de
recursos. Um desempregado, em certas condições tinha direito ao
subsidio social de desemprego se o rendimento mensal per-capita do agregado
familiar fosse inferior a 80% do salário mínimo nacional; agora,
depois da alteração, passou a ser inferior a 110% do IAS, que
corresponde a 460 euros. Os efeitos desta medida são reduzidos. O
próprio governo já admitiu que isso poderia beneficiar, quanto
muito, 15 mil desempregados.
A POBREZA AUMENTOU ENTRE AS FAMILIAS COM FILHOS E ENTRE OS JOVENS
Este governo não se cansa de afirmar na propaganda oficial que
está extremamente preocupado com o apoio às famílias e aos
jovens. No entanto, os dados que o INE acabou de publicar desmentem esse apoio
às famílias e aos jovens
QUADRO IV Taxa de risco de pobreza das famílias com filhos e dos
jovens
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Total, com crianças dependentes | 20% | 18% | 18% | 20% |
1 adulto c/ pelo menos 1 criança | 30% | 41% | 34% | 39% |
2 adultos com 1 criança | 14% | 12% | 12% | 16% |
2 adultos com 2 crianças | 23% | 19% | 17% | 21% |
2 adultos com 3 + crianças | 42% | 38% | 43% | 32% |
Outros agregados, com crianças | 16% | 16% | 16% | 18% |
Jovens com idade entre 0-17 anos | 24% | 21% | 21% | 23% |
De acordo com os dados divulgados pelo INE, entre 2007 e 2008, a taxa de
pobreza (rendimentos inferiores ao limiar de pobreza que é de 384,5
euros /mês) das famílias com filhos aumentou de 18% para 20%, e
dos jovens com idade entre os 0-17 anos subiu de 21% para 23%. São dados
oficiais que confirmam o aumento de pobreza em Portugal, e desmentem a
propaganda governamental veiculada de uma forma acrítica por muitos
órgãos de informação portugueses.