A educação inadequada
Apenas 9% dos licenciados são das áreas de engenharia e
informática
Nos três últimos anos o emprego de escolaridade elevada diminuiu
em 97 mil e o desemprego de licenciados aumentou 64%
RESUMO DESTE ESTUDO
A educação é um factor determinante quer do
desenvolvimento de um país, quer do nível de rendimento das
famílias. Segundo o INE, em 2006, a remuneração
média de um trabalhador com o ensino básico era apenas de
565; com o ensino secundário 758 (+34%) e com o ensino
superior 1.355 (+140%). Portugal, para além do problema do baixo
nível de escolaridade (cerca de 71% da população empregada
possui apenas o ensino básico ou menos), tem também um problema
de inadequação das saídas quer do ensino secundário
quer do ensino superior às necessidades de desenvolvimento do
País, problema este que é normalmente esquecido.
A falta de adequação das saídas tanto do ensino
secundário como do ensino superior às necessidades de
desenvolvimento do País, que resulta da ausência total de qualquer
planeamento nesta área fundamental, e da "fé" na
actuação do mercado, está a determinar custos elevados
para o País, para as famílias e para os próprios
afectados, e desemprego e atraso para Portugal.
A percentagem de alunos inscritos em Portugal no ensino secundário
profissional é significativamente inferior à dos países da
União Europeia. Em 2005, era de apenas 10,5% no nosso País,
enquanto a média na União Europeia atingia 56%, ou seja, 5,3
vezes mais. No ano lectivo de 2006/2007, portanto um ano muito recente, a
situação não se tinha alterado muito pois a percentagem de
alunos inscritos no ensino secundário profissional era apenas 13,3%, o
que correspondia praticamente a metade da registada no nosso País em
1998, que foi de 25,5%.
E não se pense que a reduzida importância do secundário
profissional é compensada por uma elevada participação de
adultos em formação e educação. A
participação anual de adultos em acções de
formação e de educação em Portugal continua a ser
muito inferior à media da União Europeia (menos de 2,5 vezes), e
tem diminuído com o actual governo pois, de acordo com o Eurostat,,
entre 2004 e 2006, baixou de 4,3% para apenas 3,8%
O ensino superior tecnológico, e aqui incluímos nomeadamente as
áreas de engenharia e informática, fundamental para
alcançar taxas de crescimento económico elevadas, continua a ter
em Portugal uma reduzida importância. Entre 2000 e 2006, licenciaram-se
em Portugal 404.268 portugueses. No entanto, deste total, apenas 9% (36.185)
foram nas áreas de engenharia e informática. Os licenciados em
ciências físicas e matemáticas foram muito menos, pois
representaram somente 2,9% do total (11.778). Os licenciados, associados
actualmente a maior desemprego, como são os das Ciências da
Educação, Artes, Humanidades, Sociologia, Psicologia, Jornalismo
e Direito representaram cerca de 40% de todos os licenciados que saíram
das Universidades neste período, ou seja, atingiram 161.201.
Apesar da percentagem da população empregada portuguesa com o
ensino superior (cerca de 14% no fim de 2007) ser inferior a menos de metade da
media europeia, as consequências negativas da distorção que
se verifica na saída de licenciados das Universidades portuguesas
é ainda agravada pelo facto da economia portuguesa não estar a
criar empregos suficientes que exigem nível escolaridade elevada para
absorver mesmo aquele o baixo número de licenciados saídos das
Universidades portuguesas; muito pelo contrário, verificou-se durante os
últimos três anos em Portugal uma redução do
número de empregos que exigem maior escolaridade e maior
qualificação. Assim, entre o 4º Trimestre de 2001 e o
4º Trimestre de 2004, os empregos que exigem
"Qualificação e escolaridade elevada", que inclui os
"quadros superiores", os "especialistas das profissões
intelectuais e cientificas" e os "técnicos e profissionais de
nível de intermédio", aumentaram em 226,7 mil, enquanto nos
três anos seguintes, ou seja, no período 4ºTrimestre 2004 a
4º Trimestre de 2007 com o actual governo, sucedeu precisamente o
contrário, pois este tipo de empregos (os que exigem maior escolaridade
e qualificação) diminuíram em 96,6 mil, sendo
fundamentalmente atingidos os quadros superiores.
Como consequência o desemprego de licenciados disparou em Portugal. Entre
o 1º Trimestre de 2005, data em que Sócrates tomou posse, e o
4º Trimestre de 2007, o desemprego total aumentou 6,5%, mas o desemprego
de licenciados cresceu 63,6%. Mesmo se compararmos o 4º Trimestre de 2004
com o 4º Trimestre de 2007, por ser tecnicamente mais correcto comparar
trimestres homólogos, conclui-se que desemprego total cresceu 12,8%,
enquanto o desemprego de licenciados aumentou 54%, ou seja, mais de quatro
vezes.
|
Alan Greenspan, o ex-presidente da Reserva Federal dos Estados Unidos, faz no
seu livro "A era da turbulência" uma defesa irracional do
"mercado", e da "desregulamentação"
considerando-os como os únicos instrumentos que garantem a
aplicação eficiente dos recursos de um país. E isto apesar
da experiência desmentir continuamente esta "teoria"
neoliberal. A prová-lo está o que se verifica actualmente nos
próprios Estados Unidos onde a crise financeira
(subprime),
que resultou precisamente da desregulamentação total que se
observa neste país, está a atirar a economia americana para a
recessão, e a provocar o abrandamento económico nos países
da União Europeia, com consequências graves também em
Portugal. O caso da educação no nosso País é mais
um exemplo comprovativo da falta de consistência científica
daquela "teoria" neoliberal, como vamos mostrar neste estudo
utilizando apenas dados oficiais.
A INSCRIÇÃO DE ALUNOS NO SECUNDÁRIO PROFISSIONAL É
EM PORTUGAL CINCO VEZES INFERIOR À MÉDIA DOS PÁISES DA UE27
O ensino secundário profissional é um dos pilares de crescimento
económico em qualquer país. Em Portugal, as
inscrições no ensino secundário profissional são
muito inferiores às verificadas nos países da União
Europeia, como mostram os dados do Eurostat constantes do quadro seguinte.
A percentagem de alunos inscritos no ensino secundário profissional
é, em Portugal, significativamente inferior à verificada nos
países da União Europeia. A percentagem no nosso País, no
ano de 2005, é 2,5 vezes inferior à de 1998. E, em 2005,
último ano de que se dispõem dados do Eurostat, a percentagem
portuguesa (10,5%) era 5,3 vezes inferior à média dos
países da União Europeia (56%)
Por outro lado, o fosso entre Portugal e a União Europeia aumentou
significativamente nos últimos anos pois, entre 1998 e 2005, passou de
29 pontos percentuais para 45 pontos percentuais como mostram também os
dados do quadro anterior.
A SITUAÇÃO A NIVEL DO SECUNDÁRIO PROFISSIONAL NÃO
MELHOROU NO ANO LECTIVO 2006/2007
O quadro seguinte, construído com dados do Ministério da
Educação, revela que a situação, neste campo,
não melhorou no ano lectivo 2006/2007.
No ano lectivo 2006/2007, apenas 13,3% dos alunos do ensino secundário
estavam inscritos em cursos profissionais, o que revela uma clara
subvalorização deste tipo de ensino em Portugal, que não
acontece nos países mais desenvolvidos da União Europeia.
A FORMAÇÃO PROFISSIONAL DE ADULTOS NÃO SUBSTITUI NEM
COMPENSA A REDUZIDA IMPORTÂNCIA DO SECUNDÁRIO PROFISSIONAL EM
PORTUGAL
E não se pense que a reduzida importância do secundário
profissional é compensada por uma elevada participação de
adultos em acções de formação profissional e de
educação. Por um lado, o secundário profissional
não é substituível pelos cursos de formação
profissional e, por outro lado, continua-se a registar em Portugal uma reduzida
participação de adultos nas acções de
formação como mostram os dados do Eurostat constante do quadro
seguinte.
A participação anual de adultos (25-64 anos) em
acções de formação e educação em
Portugal é cerca de 2,5 inferior à media da União
Europeia. E a percentagem de participações até diminuiu
durante os dois anos de governo de Sócrates de que se têm dados
disponibilizados pelo Eurostat pois, entre 2004 e 2006, baixou de 4,3% para
apenas 3,8%.
APENAS 9% DOS LICENCIADOS QUE SAEM DAS UNIVERSIDADES PORTUGUESAS SÃO
DAS ÁREAS DE INFORMÁTICA E ENGENHARIA
O ensino superior tecnológico, e aqui incluímos nomeadamente as
áreas de engenharia e informática, fundamentais para
alcançar elevadas taxas de crescimento económico, continua a ter
em Portugal uma reduzida importância, como mostram os dados do quadro
seguinte.
Entre 2000 e 2006, licenciaram-se em Portugal 404.268 portugueses. No entanto,
deste total, apenas 9% (36.185) foram nas áreas de engenharia e
informática. Os licenciados em ciências físicas e
matemáticas representaram somente 2,9% do total (11.778). Os licenciados
associados actualmente a maior desemprego, como são os das
Ciências da Educação, Artes, Humanidades, Sociologia,
Psicologia, Jornalismo e Direito é que tiveram maior importância,
pois representaram cerca de 40% de todos os licenciados que saíram das
Universidades neste período (161.201).
E a situação não se está a alterar muito
rapidamente, como provam os dados de licenciados no ano lectivo 2005-2006, em
que apenas 9,2% eram das áreas de engenharias e informáticas,
continuando os das áreas de Ciências da Educação,
Artes, Jornalismo, Sociologia , Psicologia e Direito a representar a maioria,
com 35,4% de todos os licenciados.
EMPREGO DE ESCOLARIDADE MAIS ELEVADA TEM DIMINUIDO DURANTE O GOVERNO DE
SÓCRATES E O DESEMPREGO DE LICENCIADOS DISPAROU
Apesar da percentagem da população empregada portuguesa com o
ensino superior (apenas 14% no fim de 2007) ser inferior a metade da media
europeia, as consequências negativas da distorção na
saída de licenciados das Universidades portuguesas é ainda
agravada pelo facto da economia portuguesa não estar a criar empregos
suficientes de nível escolaridade elevada para absorver aquele
número insuficiente numero de licenciados; muito pelo contrário,
durante o governo de Sócrates até verificou uma
redução do número de empregos que exigem maior
escolaridade e maior qualificação, como mostram os dados do INE
constantes do quadro seguinte.
Entre o 4º Trimestre de 2001 e o 4º Trimestre de 2004, os empregos
que exigem "Qualificação e escolaridade elevada", que
inclui os "quadros superiores", os "especialistas das
profissões intelectuais e cientificas" e os "técnicos e
profissionais de nível de intermédio", aumentaram em 226,7
mil, enquanto nos três anos seguintes, ou seja, no período
4ºTrimestre 2004 a 4º Trimestre de 2007, os empregos de
profissões que exigem maior escolaridade e qualificação
diminuíram em 96,6 mil, sendo fundamentalmente atingidos os quadros
superiores. Em relação ao emprego de escolaridade média e
mais baixa verificou-se precisamente o contrário, como revelam os dados
do quadro anterior
Esta maior destruição do que criação de empregos
que exigem maior escolaridade e qualificação que se está a
verificar em Portugal há três anos a esta parte, associada
à distorção que se verifica a nível de
saídas das Universidades portuguesas determinou que o desemprego de
licenciados tenha disparado como mostram os dados do quadro seguinte.
Entre o 1º Trimestre de 2005, data em que o governo de Sócrates
tomou posse, e o 4º Trimestre de 2007, o desemprego total aumentou 6,5%,
mas o desemprego de licenciados cresceu 63,6%. Mesmo se compararmos o 4º
Trimestre de 2004 com o 4º Trimestre de 2007, por ser tecnicamente mais
correcto comparar trimestres homólogos, conclui-se que desemprego total
cresceu 12,8%, enquanto o desemprego de licenciados aumentou 54%, , ou seja,
quatro vezes mais.
A livre actuação do mercado, de que são exemplos as
universidades privadas (em 2004, os licenciados saídos das universidade
privadas representaram 29,5% do total de licenciados, mas na área das
Ciências da Educação corresponderam a 34,6%; na de
sociologia e psicologia a 40,7%; na de jornalismo a 38,8%; na de direito a
46,2%; na das ciências sociais a 67,3%, etc.; são as conhecidas
"universidades do lápis e papel" mais interessados em obter
lucros, por isso escolhem cursos com menores investimentos); repetindo, a
actuação do mercado mesmo nesta área e a ausência
total de planeamento que se verifica na área da educação
em Portugal está a ter consequências nefastas para o País
e para as famílias.
16/Fevereiro/2008
[*]
Economista,
edr@mail.telepac.pt
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
.
|