Pretensões do Governo Sócrates para 2011
- aumentar o IVA em 1620 milhões ,
- cortar as remunerações da função pública
em mais de 450 milhões ,
- integrar o fundo de pensões da PT, que está subfinanciado em
650 milhões
- sustentabilidade da Segurança Social pode por ser posta em risco
Com os poucos dados que se dispõem não é ainda
possível avaliar total e rigorosamente as consequências de todas
as medidas anunciadas por Sócrates e pelo seu ministro das
Finanças, até porque elas ainda não foram passadas para
diplomas. No entanto, sem prejuízo de uma análise futura mais
completa e rigorosa, é possível quantificar algumas delas para se
poder avaliar não só as graves consequências sociais que
provocarão, mas também as económicas cuja gravidade
não é menor.
E isto porque as medidas anunciadas pelo governo vão provocar não
só uma agravamento grande das condições de vida dos
trabalhadores e dos pensionistas, mas também terão um impacto
enorme a nível económico no País, provocando certamente
uma forte retracção da economia, já que
determinarão uma redução drástica do consumo
(mercado interno) e do investimento, o que inevitavelmente causará a
falência de centenas de empresas, e o disparar ainda mais do desemprego.
Só a miopia deste governo, e do PSD e CDS, que não param de
exigir a redução drástica da despesa pública,
ignorando as consequências graves numa situação de grave
crise como é actual, é que parecem não compreender isso.
SÓ O IVA VAI AUMENTAR EM MAIS DE 1.600 MILHÕES EM 2011
Sócrates e o seu ministro das Finanças anunciaram que o IVA seria
aumentado em 2011 em dois pontos percentuais. Se essa subida for feita em todos
os escalões da mesma forma como foi feita a anterior, para além
de uma subida significativa dos impostos pagos pela população,
também se verificará um aumento muito grande da injustiça
fiscal como mostra o quadro 1.
Quadro 1 Aumento da receita do IVA em 2011 obtida com um aumento de dois
pontos percentuais nos diferentes escalões
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TAXAS
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ANO 2010
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ANO 211
|
AUMENTO 2010-2011
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Taxa
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Receita prevista
Milhões
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Taxa
|
Receita prevista
Milhões
|
Em Milhões
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Em %
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REDUZIDA
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6%
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1.409
|
8%
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1.879
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470
|
33,3%
|
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INTERMÉDIA
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13%
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1.158
|
15%
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1.336
|
178
|
15,4%
|
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NORMAL
|
21%
|
10.204
|
23%
|
11.176
|
972
|
9,5%
|
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SOMA
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12.771
|
|
14.391
|
1.620
|
12,7%
|
Tendo como base a estrutura da despesas e da receita do IVA em 2010, o aumento
de receita do IVA obtida com uma subida de dois pontos percentuais em todos
escalões de taxas deve rondar os 1.620 milhões em 2011, o
que corresponde a uma subida de receita, relativa à prevista em 2010, de
12,7%. No entanto, essa subida será muito maior nos bens de primeira
necessidade que atingirá 33,3%, pois a sua taxa passará de 6%
para 8%, o que atingirá mais gravemente as classes da
população com rendimentos mais baixos (reformados, trabalhadores
com baixos salários, desempregados, portugueses com rendimentos abaixo
do limiar da pobreza, etc), pois são nestas que as despesas com esses
bens têm maior peso no orçamento familiar. O aumento da receita
obtida nos bens sujeitos à taxa intermédia (actualmente 13% que
passará para 15%) será de 15,4%, e na taxa normal (actualmente
21% que subirá para 23%) será de 9,5%. Portanto, uma medida desta
natureza agravará muito mais a grave injustiça que se verificou
quando todas as taxas de IVA foram aumentadas, em 2010 , em um ponto percentual.
Mas não é só devido a esta medida que os impostos
vão aumentar. Sócrates também anunciou que o rendimento
dos reformados não sujeito a imposto (a chamada dedução de
pensões a nível do IRS) irá ser reduzida dos actuais
6.000 por ano para um valor que poderá ser apenas 3888, que
é dedução por rendimentos do trabalho. Portanto, se um
reformado receber uma pensão superior ao salário mínimo
nacional, mesmo que a sua pensão seja congelada em 2011, o IRS que
pagará aumentará, pelo menos, em 168,96, pois 2.112
do seu rendimento ficarão sujeitos a IRS, o que não acontecia em
2010.
A juntar a tudo isto, e por pressão fundamentalmente do CDS, o governo
também anunciou na conferencia de imprensa que irá reduzir
administrativamente a despesa com o Rendimento Social de Inserção
em 20%, ou seja, uma redução de 116 milhões por
ano, o que só se conseguirá retirando o apoio social a mais de
100.000 portugueses com rendimento abaixo do limiar da pobreza, pois o subsidio
por pessoa é actualmente apenas de 88,92 por mês.
O GOVERNO PRETENDE REDUZIR AS REMUNERAÇÕES DA
FUNÇÃO PÚBLICA EM MAIS DE 450 MILHÕES E
AUMENTAR OS DESCONTOS PARA A CGA EM 124 MILHÕES
O governo de Sócrates pretende não só congelar mais uma
vez em 2011 (já o fez em 2010) as remunerações dos
trabalhadores da Função Pública que recebem até
1500 por mês, mas também reduzir as
remunerações dos trabalhadores que recebem mais de 1500 por
mês, entre 3% e 10%, de forma a obter uma redução do total
de remunerações pagas à Função
Pública em 5%. Se esse for objectivo do governo, e se ele se
concretizar, a redução em milhões nos vencimentos
dos trabalhadores será a que consta do quadro 2, a que se deve juntar o
aumento da taxa de contribuição para a CGA a aplicar a todos que
descontam para esta instituição também anunciada pelo
governo.
Quadro 2 Redução das remunerações e aumento
dos descontos dos trabalhadores da Administração Pública
em 2010 e em 2011
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MEDIDAS
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2010
Milhões
|
2011
Milhões
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Nº trabalhadores lesados
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Redução/Encargo médio anual por trabalhador
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Aumento da quotização para CGA de 10% para 11% (a acrescentar a
1,5% que pagam para a ADSE).
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41
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143
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603.840
|
237
|
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Redução nas remunerações superiores a 1500
entre 3% e 10%, de forma que se verifique uma redução nas
remunerações certas totais do Estado em 5%
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425
|
250.000
|
1.702
|
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SOMA
|
41
|
568
|
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O governo pretende aumentar em um ponto percentual o desconto dos trabalhadores
da Função para a CGA. Para se compreender a injustiça
desta medida é preciso ter presente que os trabalhadores da
Função Pública já sofrem descontos nos seus
salários que somam 11,5% (10% para a CGA e 1,5% para a ADSE). Portanto
para pagar a saúde e a reforma já descontam 11,5% dos seus
salários (os do sector privado descontam 11%). E como tudo isso
não fosse suficiente o governo pretende agora aumentar em mais 1 ponto
percentual, ou seja, para 12,5%, o que significa um novo corte nas
remunerações dos trabalhadores da Função
Pública em 124 milhões por ano. Como o número
actual de subscritores da CGA é de 603.840, isso significa uma
redução média anual nas remunerações de
237 por trabalhador. E ainda têm de pagar impostos como qualquer
trabalhador.
Durante a conferencia de imprensa o governo anunciou que tenciona aumentar a
taxa de desconto dos trabalhadores para a CGA já este ano, o que
poderá custar aos trabalhadores da Administração
Pública uma redução nas suas remunerações em
2010, que foram congeladas, estimada em 41 milhões .
Para além disso, o governo pretende ainda cortar nas
remunerações dos trabalhadores da Função
Pública que recebem mais de 1500 por mês entre 3% e 10%, de
forma que obtenha uma redução da massa salarial da
Função em 5%. Se essa redução tiver como base
apenas as remunerações certas e permanentes a
diminuição será de 425 milhões por ano, mas se for
de 5% das Despesas de Pessoal da Função Pública a
redução já será de 573 milhões por
ano.
Na conferência de imprensa nem Sócrates nem Teixeira dos Santos
foram claros. Portanto, teremos de esperar pelos projectos de diplomas para
saber ao certo. Mas o que ficou na conferência de imprensa claro, que
Teixeira dos Santos até corrigiu mesmo o 1º ministro, é que
os trabalhadores nunca serão no futuro compensados por este corte nas
suas remunerações. A gravidade desta medida só fica clara
se se tiver presente que a maioria dos trabalhadores atingidos por este corte
são os trabalhadores mais qualificados da Administração
Pública (médicos, enfermeiros, técnicos superiores, etc.),
que muitos deles já são insuficientes na
Administração Pública (recorde-se a situação
a nível de médicos, em que milhares de portugueses não
têm médico de família) e medidas como esta só
poderão levar ao agravamento da situação actual. Esta
é uma forma de destruição do SNS, e dos serviços
públicos, que Sócrates em palavras diz defender.
E esta situação ainda ganha foros mais graves se se tiver
presente outra medida anunciada também por Sócrates o
congelamento total das entradas na Administração Pública o
que determinará, por um lado, uma rápida degradação
dos serviços públicos prestados à população
e, por outro lado, o aumento desemprego ( a partir de agora, mais nenhum jovem
conseguirá arranjar emprego na Administração
Pública).
O FUNDO DE PENSÕES DA PORTUGAL TELECOM ESTÁ SUBFINANCIADO EM 650
MILHÕES , E O GOVERNO PRETENDE INTEGRÁ-LO NA
SEGURANÇA SOCIAL PODENDO PÔR EM PERIGO A SUSTENTABILIDADE
FINANCEIRA DESTA
A PT, para distribuir todos anos elevados dividendos aos seus accionistas,
não tem provisionado o Fundo de Pensões dos trabalhadores nas
importâncias necessárias. No fim de 2009, as responsabilidades do
Fundo de Pensões eram superiores a 2.265 milhões
(actualmente já devem rondar os 2.400 milhões ), e o valor
dos activos do Fundo, que servem para pagar as pensões, era apenas de
1617 milhões , ou seja, estavam em falta 648 milhões
. O valor do fundo nem dava para pagar as pensões dos
trabalhadores já reformados, e muito menos para pagar as pensões
correspondentes ao tempo de serviço prestado pelos trabalhadores no
activo.
Mesmo aquele valor do Fundo em 1617 milhões era pouco seguro pois
mais de 40% estava investido em acções, portanto um activo de
elevado risco, e ainda maior numa altura de grande instabilidade nos mercados
financeiros.
Apesar desta situação ser conhecida pela entidade reguladora, que
é o Instituto de Seguros de Portugal, ela nunca fez nada para obrigar a
PT a corrigir rapidamente a situação, o que prova que
também neste sector a entidade reguladora está refém dos
grandes grupos económicos.
E agora aparece o governo de Sócrates com a estranha decisão de
pretender integrar o Fundo de Pensões da PT na Segurança Social,
numa das suas habituais manobras de engenharia financeira para, assim, reduzir
artificialmente a divida Pública (recebe agora, e paga pensões no
futuro quando já Sócrates não estiver no governo, embora
não se saiba o certo o que se pagará). É certamente um bom
negócio para a PT que assim se livrará das pesadas
responsabilidades actuais e futuras do seu Fundo de Pensões, que
são muito grandes, transferindo-as para o Estado, ou melhor, para a
Segurança Social, mas é um negócio que poderá por
em perigo a sustentabilidade financeira da própria Segurança
Social, e as reformas de milhões de trabalhadores portugueses.
É necessário que os trabalhadores e as suas
organizações estejam muito atentos a esta questão, pois a
estabilidade financeira da Segurança Social poderá estar em
perigo, e é uma questão muito importante para todos os
trabalhadores portugueses. A experiência já mostrou
suficientemente aos portugueses que não se pode acreditar neste governo,
que um dia diz uma coisa para pouco depois fazer o contrário, e ele
naturalmente vai dizer que é "bom" para Segurança
Social. Mas só acredita quem quiser, e mesmo assim não deve
esquecer a experiencia recente para não poder dizer mais tarde que foi
enganado mais um vez. Uma coisa é certa: quem esteja familiarizado e
conheça quais são os riscos de um fundo de pensões sabe
bem que nunca se sabe ao certo a quantia necessária para se pagar no
futuro as pensões, portanto o risco é grande, e a PT, como boa
gestora defensora dos interesses dos seus accionistas, quer-se livrar dessa
responsabilidade, e o governo de Sócrates parece querer fazer o
"frete".
30/Setembro/2010
[*]
Economista,
edr2@netcabo.pt
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