Informação aos associados do Montepio
por Eugénio Rosa
[*]
eleito da Lista C para os órgãos sociais do Montepio
Perante as noticias negativas divulgadas nos órgãos de
comunicação social sobre o Montepio, muitos associados, por email
ou mesmo por telefone, pediram-me informações sobre a
situação da Caixa Económica porque estão
preocupados pois têm as suas poupanças no Montepio. Por essa
razão e também porque tenho a responsabilidade de prestar contas
a todos que, confiando na Lista C que eu encabeçava, nos elegeram decidi
elaborar este comunicado com o objetivo de informar os associados do Montepio.
Sou membro do Conselho de Supervisão da Caixa Económica
Montepio Geral e estou impedido, por lei, de divulgar a
informação a que tenho acesso neste órgão (ela
é confidencial). Por isso, vou utilizar apenas a
informação que consta dos relatórios de contas de 2010,
2011, 2012 e 2013, assim como das contas do 1º Trimestre e do 1º
Semestre de 2014 da Caixa Económica-Montepio Geral que são
publicas e acessíveis a qualquer outra pessoa (estão
disponíveis no "site" do Montepio) que, se for devidamente
analisada e interpretada, permite compreender os problemas atuais que enfrenta
a Caixa Económica-Montepio Geral. A dificuldade é que cada um
desses documentos tem entre 400 a 500 páginas, é de
difícil leitura, e a informação útil está
dispersa e coberta por muita "palha" e é, por vezes, muito
técnica e de difícil interpretação para quem
não esteja familiarizado com ela. Para ajudar os associados a ficar a
saber qual é a verdadeira situação da Caixa
Económica elaboramos o quadro 1, com dados importantes das contas da
Caixa Económica. Desta forma cada associada poderá ele
próprio tirar as suas próprias conclusões sobre o que tem
sido dito sobre a Caixa Económica e sobre a sua situação.
Quadro 1- Dados dos relatórios e contas da Caixa
Económica-Montepio Geral
Quais são as conclusões mais importantes que se podem tirar dos
dados das contas, que são públicas, da Caixa Económica
Montepio Geral que constam deste quadro?
O IMPACTO NEGATIVO DA AQUISIÇÃO DO FINIBANCO PELO MONTEPIO
Em primeiro lugar, para que o associado consiga interpretar corretamente os
dados do quadro 1 precisa ter presente que o ano de 2011, é o ano da OPA
da AM-MG sobre o Finibanco, portanto o ano de aquisição e da sua
integração na Caixa EconómicaMG,
aquisição esta que nos opusemos tendo votado contra ela no
Conselho Geral da Associação Mutualista, como na altura demos a
conhecer a todos os associados. E é importante ter presente isso porque
essa aquisição teve um impacto negativo grande no Montepio, ainda
maior porque o país estava, e está, mergulhado numa grave crise
económica e social com consequências muito grandes em todos os
bancos
Observando os dados do quadro 1, constata-se que em 2011 (ano da OPA e de
incorporação do FINIBANCO), o crédito concedido sem
garantias disparou
(entre 2010 e 2011, passou de 976 milhões para 1.625
milhões , ou seja +66,5%)
, e as provisões/imparidades para fazer face a perdas no crédito
concedido e em operações financeiras aumentaram de 603
milhões para 878 milhões (+45,6%). As
consequências da aquisição são também
visíveis a nível de custos e do produto bancário. Segundo
os respetivos relatórios e contas, entre 2010 e 2011, os custos
operacionais da Caixa Económica aumentaram de 246 milhões
para 369,1 milhões (+50%), enquanto a Margem Financeira
(diferença entre os juros recebidos e os juros pagos)
subiu apenas de 270,9 milhões para 318,7 milhões
(+17,6%), e o Produto da Atividade, ou Produto bancário que corresponde,
grosso modo, ao valor acrescentado bruto da banca, aumentou de 422,3
milhões para 564 milhões (+33,7%). É
visível o impacto negativo da aquisição do FINIBANCO nas
contas da Caixa Económica, até porque o FINIBANCO era um banco
com um perfil de risco muito mais elevado do que o da Caixa Económica e
seria previsível que, com a persistência da atual crise, o
incumprimento disparasse com consequências negativas para o Montepio,
como se está a verificar. Em suma, a aquisição do
Finibanco constituiu, a nosso ver, um erro grave de gestão, não
criando valor para o Montepio, mas sim destruindo valor. Foi por estas
razões, que a realidade veio depois confirmar, que votamos contra a sua
aquisição.
OS PROBLEMAS DA CAIXA ECONÓMICA NÃO RESULTAM APENAS DO FINIBANCO
No entanto, não pensamos que os problemas atuais da Caixa
Económica resultem apenas da aquisição do Finibanco. A
crise atual está a ter também um impacto grande na Caixa
Económica, como sucede com todas as instituições
financeiras, o que agrava os problemas resultantes de uma gestão pouco
adequada, e mesmo, a nosso ver, com erros graves. A prová-lo
está, por ex., o disparar do crédito concedido sem garantias,
cuja taxa de incumprimento é muto elevada e, depois, de muito
difícil recuperação (reembolso). Como mostram os dados do
quadro, entre 2010 e 2013, aumentou bastante tendo registado em 2012 uma quebra
(entre 2011 e 2012, passou de 1625 milhões para 1.445
milhões ), para novamente aumentar de uma forma muito
rápida. Entre 2010 e 2013, o crédito sem garantias aumentou de
976 milhões para 1.995 milhões (atualmente dever
ultrapassar largamente os 2.000 milhões ). E o risco deste
crédito de não ser pago é muito mais elevado do que o
restante crédito. Basta ter presente que, de acordo com o
Relatório e Contas de 2012, dos 902,7 milhões de
imparidades (provisões) 253,3 milhões (28%), diziam
respeito a imparidades para "crédito sem garantias", quando
este crédito representava apenas 8,5% do crédito total.
CONTRARIAMENTE AO QUE DIZEM OS BANQUEIROS AS IMPARIDADES SÃO GRAVES
Para disfarçar graves erros de gestão e para criar a
ilusão de que a sua gestão está a enfrentar com
êxito a grave crise económica, financeira e social que fez
disparar o incumprimentos e baixar drasticamente o crédito, com
consequências muito negativas na estabilidade do sistema financeiro, os
banqueiros afirmam, perante um caso de falência de um grande cliente, ou
do provável não reembolso de crédito concedido, como
é o caso do grupo Espírito Santo, que tal não
acarretará consequências para o seu banco, porque esse
crédito já estava provisionado. Num entanto, "
esquecem-se"
de informar os acionistas, os associados ou clientes, o que significa criar
uma provisão ou que é uma imparidade. Uma provisão ou uma
imparidade é um custo que reduz os lucros (se o banco os tiver) ou
aumenta os prejuízos (no caso de não ter lucros). Afirmar que
isso não determina problemas para o banco porque esse crédito
já está provisionado é ou tentar enganar a opinião
pública ou então dão uma ideia de ignorância do que
falam.
Foi precisamente pelo facto de ter de criar provisões/ imparidades para
prováveis perdas elevadas de crédito concedido que os
prejuízos da Caixa Económica dispararam tendo, fundamentalmente
devido a isso, os prejuízos operacionais de 2012 e 2013 somado 540
milhões de euros (168 milhões em 20'12 mais 372
milhões em 2013). E só nesses dois anos as
provisões/imparidades por prováveis perdas de crédito
concedido (inclui também as resultantes de operações
financeiras) somaram 629 milhões , determinando os elevados
prejuízos operacionais que a Caixa Económica Montepio
Geral teve nesses dois anos. E mesmo em 2014, só no 1º semestre, a
Caixa Económica já teve de criar 293 milhões de
provisões/imparidades por perdas prováveis de crédito
concedido, nomeadamente a empresas do grupo Espírito Santo que afetam os
resultados do Montepio, anulando praticamente os elevados ganhos (mais-valias)
que a Caixa Económica obteve no 1º semestre de 2014 (275
milhões com operações financeiras ver
contas), nomeadamente resultantes da venda de divida publica portuguesa.
A aquisição do FINIBANCO assim como os elevados prejuízos
da Caixa Económica em 2012 e 2013, obrigou a uma elevada
recapitalização da Caixa Económica para que os
rácios de capital fossem respeitados. Assim, entre 2010 e 2013, o
chamado capital institucional da Caxa Económica sofreu vários
aumentos tendo passado de 800 milhões para 1500 milhões
, ou seja, aumentou em 700 milhões . E este aumento de
capital foi feito pela Associação Mutualista, ou seja, com o
dinheiro que os 600 mil associados entregam a ela. E é esta a realidade
que todos os associados devem saber. Para além deste dinheiro posto na
Caixa Económica devido à compra do Finibanco e também por
causa de elevados prejuízos, aqueles que adquiriram unidades de
participação de 200 milhões também
contribuíram para a recapitalização da Caixa
Económica.
AS MINHAS POUPANÇAS ESTÃO SEGURAS NA ASSOCIAÇÃO
MUTUALISTA?
As minhas poupanças estão seguras na Associação
Mutualista?
É esta a pergunta que muitos associados me colocam e não
quero fugir a ela. A Caixa Económica está umbilicalmente ligada
à Associação Mutualista
(quase 2/3 das poupanças dos associados colocadas na
Associação Mutualista estão aplicadas na Caixa
Económica)
, e a Caixa Económica conseguiu até a este momento, e espero que
aconteça no futuro (e eu estou empenhado nisso), absorver os efeitos
negativos que esta grave crise económica, financeira e social
está a ter em todas na instituições financeiras e,
consequentemente, também na Caixa Económica assim como os erros
de gestão cometidos, a meu ver, que referi anteriormente.
Mas para que isso aconteça é também necessário uma
gestão mais profissional, e uma fiscalização mais eficaz
não só por parte do Banco de Portugal sobre a Caixa
Económica
(que se esforça embora com atraso)
e pelo Ministério da Solidariedade sobre a Associação
Mutualista (que não faz) mas também pelos órgãos de
fiscalização internos da Caixa Económica, nomeadamente
pelo Conselho Geral e de Supervisão. E é importante que os
associados saibam que da Lista C apenas eu estou neste conselho, sendo ele
dominado pelos membros eleitos na lista A do presidente do conselho de
administração do Montepio, que têm a maioria absoluta
(dos 11 membros, apenas 3 não pertencem à lista A)
que está sempre com o presidente.
Para que os associados possam ter uma ideia da cultura de autoritarismo do
presidente que existe no Montepio basta relatar o seguinte episódio.
Aquando da emissão dos 200 milhões de unidades de
participação, eu fiz uma informação aos associados
que os esclarecia de aquele produto não garantia nem um rendimento certo
(dependia dos lucros da Caixa Económica que têm sido reduzidos)
nem estava garantido o reembolso da totalidade do capital investido
(se o associado quiser obter o capital terá de vender as unidades de
participação no mercado secundário e recebe o que for
oferecido em 17/8/2014 os 200 milhões valiam 188
milhões ver Euronext
europeanequities.nyx.com/...
(o valor varia quase todos os dias).
Por ter informado os associados, e após um ataque pessoal a mim pelo
presidente todos aprovaram uma moção em que me ameaçavam
com um processo no tribunal. Foi só quando disse que se
avançassem com tal processo iria defender-me não só em
tribunal mas também junto dos associados é que o bom senso acabou
por imperar pois o risco reputacional era grande.
Este episódio mostra bem as dificuldades que enfrento.
Embora minoritário não me vergam
, como já me ameaçaram, e vou continuar a lutar para fiscalizar,
e pela transparência e segurança das poupanças dos
associados, recorrendo aos supervisores (ex.:BdP) sempre que julgar
necessário. Para levar tal tarefa a bom porto necessito do apoio ativo
dos associados, com que espero contar.
Saudações mutualistas e um abraço de
consideração e amizade para todos.
18/Agosto/2014
[*]
Membro do conselho geral do Montepio, da Assembleia Geral e do Conselho Geral e
de Supervisão da Caixa Económica eleito na Lista C pelos
associados.
Peço que enviem a vossa opinião para
eugeniorosa@zonmail.pt
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
.
|